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sexta-feira, 31 de agosto de 2012
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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

A ética calvinista é baseada na revelação. A distinção entre certo e errado não se resolve por meio de uma descoberta empírica da lei natural, como foi o caso de Aristóteles e de Tomás de Aquino, nem pelo formalismo lógico de Kant e, certamente, nem pelo cálculo impossível do utilitarismo do maior bem para maior número, mas pela revelação de Deus nos Dez Mandamentos. Essa revelação vem, primeiro, do ato de Deus de criar o homem à sua própria imagem e dos princípios morais básicos implantados no seu coração, mais tarde violados pelo pecado; segundo, das instruções específicas dadas a Adão e a Noé, que sem dúvida ultrapassavam e expandiam a doação inata; terceiro, da revelação mais compreensiva dada a Moisés; e mais, quarto, dos diversos preceitos subsidiários dados no restante da Bíblia.

Embora a igreja medieval conhecesse os dez mandamentos – Pelágio, em sua defesa do livre arbítrio ensinou até mesmo que era possível obedecê-los perfeitamente, e a maior parte da igreja passou a crer que a observação desses preceitos dava mérito para a salvação – Calvino foi quem iniciou um estilo quase completamente novo do uso sistemático dos Dez Mandamentos como base ética. Em suas Institutas, II 8, ele faz uma Exposição da Lei Moral, para o que utiliza, aproximadamente, cinquenta páginas. Sua defesa, numa longa exposição, é de que “os mandamentos e as proibições sempre deixam implícito mais do que as palavras expressam… Em todos os mandamentos… se expressa uma parte e não o todo… A melhor regra, então, é que a exposição seja direcionada ao desígnio do preceito… como o final do quinto mandamento é que honra seja dada a aqueles a quem Deus determina a honra…” (II.vii.8).

Na parte principal da exposição, Calvino escreve sobre o sexto mandamento como se segue:

“O propósito desse preceito é que, como Deus uniu a humanidade numa certo tipo de unidade, todo homem deve considerar-se responsável pela segurança de todos. Em suma, portanto, toda violência e injustiça e toda espécie de mal que possa ferir o corpo de nosso próximo, é-nos proibido… O Legislador Divino… pretende que a regra governe a alma… Portanto o homicídio mental é igualmente proibido… ‘Aquele que odeia seu irmão é assassino’” (II.viii.39).

 Seguindo essa direção de Calvino, os estudiosos de Westminster dedicaram as questões 91-151 do catecismo Maior à lei moral. Tomemos como exemplo a pergunta 139:
P. 139. Quais são os pecados proibidos no sétimo mandamento?
R. Os pecados proibidos no sétimo mandamento, além da negligência dos deveres exigidos, são: adultério, fornicação, rapto, incesto, sodomia e todas as concupiscências desnaturais, todas as imaginações, pensamentos, propósitos e afetos impuros; todas as comunicações corruptas ou torpes, ou o ouvir as mesmas; os olhares lascivos, o comportamento impudente ou leviano; o vestuário imodesto; a proibição de casamentos lícitos e a permissão de casamentos ilícitos; o permitir, tolerar ou ter bordéis e a frequentação deles; os votos embaraçadores do celibato; a demora indevida de casamento; o ter mais que uma mulher ou mais que um marido ao mesmo tempo; o divórcio ou o abandono injusto; a ociosidade, a glutonaria, a bebedice, a sociedade impura; cânticos, livros, gravuras, danças espetáculos lascivos e todas as demais provocações à impureza, ou atos de impureza, quer em nós mesmos, quer nos outros.
Isso faz sobressair a diferença de padrões morais entre o Calvinismo e o fundamentalismo. Nos Estados Unidos, igrejas arminianas muitas vezes exigem de seus membros que evitem o cinema por causa da lascividade de Hollywood. À vezes, o cinema é pior do que isso: é pornografia explícita. Nesse caso, então, alguns livros e revistas são, igualmente, pornográficos. Deve, uma igreja, então, proibir todos os livros e revistas? O calvinismo se mantém com a Bíblia e não proíbe nem cinema nem livros em geral, mas proíbe “Cânticos, livros, gravuras, danças, espetáculos lascivos”. Lendo adiante no Catecismo Maior vemos, para surpresa de alguns, como é ampla e detalhada a Lei de Deus. Assim sendo, pastores e escritores calvinistas têm feito, com regularidade, exposições dos Dez Mandamentos. Um exemplo anglicano é o de Ezekiel Hopkins, Bispo de Derry (1633-1689), cuja exposição ocupa dezenas de páginas.

Essas exposições das aplicações detalhadas da lei moral são uniformemente prefaciadas por alguns comentários sobre pecado, graça e moralismo. O sistema de méritos católico romano tornou isso necessário. Hoje outros dois pontos de vista necessitam o mesmo pano de fundo teológico. Primeiro, há uma visão petista que depende da direção ou de instruções diretas do Espírito Santo. As diretrizes das Escrituras são vistas como sendo insuficientes ou até mesmo como inaplicáveis “numa era de graça”. Assim sendo, a pessoa precisa receber uma resposta de oração para saber se determinado ato é certo ou errado. O calvinismo fica com a Bíblia e não aceita declarações de revelação especial tardia. O segundo fator que necessita o pano de fundo teológico é a nova definição de legalismo oferecida pelo liberalismo (q.v.). Antigamente, o legalismo era a teoria de que o homem poderia merecer a salvação completa ou parcial mediante o cumprimento da lei; a fé, portanto, não era o único meio de justificação. Mas o liberalismo contemporâneo define o legalismo como qualquer tentativa de distinguir o certo do errado por meio de regras, preceitos ou mandamentos. O argumento é que nenhuma regra cabe em todos os casos, pois sempre há exceções; ou, até mesmo, que toda situação é totalmente singular, tornando sempre impossível o uso de regras. Assim, toda situação deve ser percebida (não julgada) singularmente, e (geralmente) o amor decide o que fazer. Então, o amor naturalmente sanciona o aborto, a homossexualidade e qualquer coisa que seja feita com amor. O Apóstolo Paulo escreveu aos coríntios sobre essa espécie de ideia.

O calvinismo define o pecado como qualquer falta de conformidade para com, ou transgressão da lei de Deus. Salvo pela graça, ou seja, salvo do pecado e de seus efeitos, o cristão é santificado por meio de uma obediência cada vez mais completa aos Mandamentos de Deus.

Hoje, com a falha do modernismo em prover ordem moral separada de Deus e fundada na razão, o pós-modernismo (que não é outro, mas uma continuidade) alterou o pensamento ético moral transferindo da discussão entre o bem e o mal para uma discussão entre bens conflitantes. Para o homem pós-moderno, não há qualquer pressuposição, qualquer revelação nem qualquer absoluto(a não ser que não há proposições nem revelação nem absolutos…). Tudo consiste de narrativas, de liberdades individuais e de programas políticos para proteger a pessoa da imposição de valores morais. O pensamento ético-moral de Calvino se opõe diametralmente, à proposta ética pós-moderna, pressupondo a Criação, a Queda, a Redenção e a esperança bíblicas, pressupondo a revelação natural e a revelação específica de Deus, e pressupondo a derivação de todos os aspectos da realidade, incluindo os mais elevados – estético, moral e ético – do aspecto maior da fé.

Gordon H. Clark
In: Dicionário de Ética Cristã, Carl Henry, Cultura Cristã
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
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Sendo que os homens morrem porque eles querem, deixem-me persuadi-los a concordar que seus desejos podem ser renovados. O homem não tem um inimigo pior do que sua própria vontade, até que haja uma transformação nela. E para que essa mudança possa ser efetivada, observem estas orientações:

1. Julguem a si mesmos em função de sua natureza pervertida. Enquanto não forem sensíveis a isso, não poderão ser submissos da maneira correta. O fato de terem pecado muito, por muito tempo, deveria afetar e afligi-los muito diante de Deus, contudo o desejo que vocês têm de pecar dez mil vezes mais, pecar até a eternidade, não fosse pela restrição da graça, oh, quanta confusão e tristeza isto deveria causar!

2. Analisem o quanto o tentador e o mundo são enganosos. Então seus corações não ficarão ansiosos em serem ludibriados e separados de Deus. O mundo é vão e vexatório, e satanás é um mentiroso e assassino. Vocês têm muito poucas razões para entregar-se a qualquer um dos dois.

3. Coloquem diante de seus olhos a bênção da vida eterna e a miséria da morte eterna para que possam escolher a vida e o caminho que dá acesso a ela.

4. Sejam fervorosos nas orações para que o Senhor, de acordo com a Sua promessa, possa lhes dar um novo coração e operar em vocês para desejarem Sua boa vontade. (Ez. 36:26 e Fil. 2:13). E se o Senhor fizer os seus corações desejarem graça e glória, Ele satisfará tais desejos que Ele tenha originado em vocês. Se o Senhor operar em vocês o querer e o realizar, a despeito de toda oposição, vocês porão em prática sua própria salvação, e lhes será dado o amplo direito de entrada no reino eterno. Daí a segunda doutrina: a razão por que os homens morrem e morrem para sempre, é porque eles querem.

Nathaniel Vincent
In: Os puritanos e a conversão
terça-feira, 28 de agosto de 2012

O apóstolo também afirma que o plano de Deus — mesmo quando o Senhor estende sua salvação a grandes grupos de pessoas, como Israel, no passado, e os gentios, no presente —, também chama pela resposta individual de judeus e de gentios. Esse é o ponto que ele tentou mostrar na segunda parte do versículo 6: nem todo indivíduo da nação de Israel vivenciou a salvação como também nem todos das nações gentias a vivenciavam atualmente. Essa seletividade também faz parte do plano de salvação de Deus.

Essa escolha divina de algumas pessoas para a salvação, em geral, chamada de eleição (9.11), era (e é) compreensivelmente perturbadora para as pessoas e levanta perguntas sobre a justiça e a eqüidade de Deus. Sensível a essa preocupação, Paulo apresenta duas perguntas nessa passagem para tratar do assunto (w. 14,19). Primeiro, ele pergunta com candura: “Que há injustiça da parte de Deus?” (v. 14). A sugestão por trás dessa pergunta fundamenta-se na descrição dos versículos precedentes (w. 10-13) da escolha por parte de Deus de Jacó, e não de Esaú. Neles, Paulo afirma de forma corajosa que o plano de Deus foi feito “não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama)”. Em outras palavras, a escolha de Deus não se baseou no tipo de vida que os irmãos tinham ou viveriam. Paulo não afirma que Deus, por assim dizer, examina os túneis do tempo e escolhe o mais nobre dos dois irmãos com base nas decisões e obras que caracterizariam a vida de cada um deles. Sem dúvida, nem Paulo nem seus leitores fariam nenhuma pergunta a respeito da justiça e eqüidade de Deus, se Ele tivesse feito suas escolhas dessa maneira. Contudo, parece que Paulo acredita que, de fato, exatamente o oposto é a verdade, a saber, que a escolha de Deus não se baseou nos méritos nem deméritos perceptíveis da vida de cada irmão. E, assim, levanta-se o óbvio ponto de tensão na pergunta: “Que há injustiça da parte de Deus?” (v. 14).

A resposta de Paulo é consistente com sua antropologia, sua visão de que todas as pessoas se encontram em um caminho correndo para longe de Deus e em direção à destruição certa e garantida. Paulo encontra na antiga Israel uma ilustração dessa tendência e uma afirmação da resposta de Deus que é sua resposta para a questão da eleição. Depois da libertação de Israel de sua escravidão no Egito, eles foram para a península do Sinai, onde Deus transmitiu a Moisés sua vontade para o povo. Enquanto Moisés estava ausente do povo e na presença de Deus, o Senhor disse-lhe que o povo se voltara para a idolatria (Ex 32.7-9). A seguir, Ele disse a Moisés: “Agora, pois, deixa-me, que o meu furor se acenda contra eles, e os consuma; e eu farei de ti uma grande nação” (Êx 32.10). Contudo, Moisés intercedeu pelo povo e apelou para a misericórdia de Deus em favor deles. Paulo encontrou na resposta de Deus para Moisés, a resposta para a questão da eleição: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer” (Ex 33.19; Rm 9.15).

A descrição de Paulo em relação a sociedade humana no capítulo 1 de Romanos, faz paralelo com o comportamento de Israel descrito em Êxodo. Em ambos os casos, as pessoas rejeitam a verdade de Deus e se voltam para a idolatria (Rm 1.18-23), e, nos dois casos, isso quer dizer que eles se põem na situação de pessoas condenadas de forma justa: “Eles fiquem inescusáveis” (v. 20). A solução de Paulo para essa situação desesperadora é a intervenção de Deus na salvação. Em outras palavras, da perspectiva de Paulo, a justiça é feita se todos forem condenados. No entanto, há misericórdia e graça na intervenção de Deus para salvar os pecadores.

Roy B. Zuck
IN: Teologia do Novo Testamento
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
“Porém ele lhe disse: como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios” Jó 2:10
"Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal” (Jó 1:1). Assim começa a história do homem a quem Deus havia abençoado com uma esposa e "sete filhos e três filhas" (Jó 1:2). Além da bela família, Deus o havia feito prosperar, pois "o seu gado era de sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas juntas de bois e quinhentas jumentas; eram também muitíssimos os servos a seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do oriente" (Jó 1:3). Jó tinha motivos de sobra para louvar a Deus. Ele reconhecia que todo o bem que lhe sucedia, era dádiva divina: "o Senhor o deu" (Jó 1:21), dizia.

Mas, o que aconteceria se ele experimentasse o mal? Sabemos o que aconteceu. Num só dia Jó perdeu todos os seus bens e, mais trágico ainda, um vento derrubou a casa em que estavam seus dez filhos, matando a todos. Ao receber a notícia Jó "se levantou, e rasgou o seu manto, e rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou" (Jó 1:20). A profunda dor o levou à adoração imediata: "nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor O deu, e o Senhor O tomou: bendito seja o nome do Senhor" (Jó 1:21). Adorar não reverteu a situação, pelo contrário, ficou ainda pior. Acometido de "úlceras malignas, desde a planta do pé até ao alto da cabeça" (Jó 2:7) ouve sua esposa dizer "ainda reténs a tua sinceridade? Amaldiçoa a Deus, e morre" (Jó 2:9). Sua firme resposta é: "como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal? Em tudo isto não pecou Jó com os seus lábios" (Jó 2:10).

O que aprendemos com a história e atitude de Jó? Aprendemos que:

1. Tanto o bem como o mal provém das mãos de Deus. Deus ordena todas as coisas, nada acontece fora de Seu conselho. Inclusive as coisas ruins, que chamamos de mal, procedem de Deus. A Bíblia faz inúmeras afirmações do tipo “a mão do Senhor era contra eles para mal” (Jz 2:15), “eis que suscitarei da tua própria casa o mal sobre ti” (2Sm 12:11), “trouxe o Senhor sobre eles todo este mal” (1Rs 9:9), “eis que este mal vem do Senhor” (2Rs 6:33), “trouxe o nosso Deus todo este mal sobre nós” (Ne 13:18), “eu trago do norte um mal, e uma grande destruição” (Jr 4:6), “sucederá algum mal na cidade, sem que o Senhor o tenha feito?” (Am 3:6) e “desceu do Senhor o mal até à porta de Jerusalém” (Mq 1:12). Todas as coisas, sejam boas ou más, estão sob o governo soberano de Deus, que delas dispõe como Lhe agrada. Apesar disso, Deus não é o autor do pecado, pois "longe de Deus esteja o praticar a maldade e do Todo-Poderoso o cometer a perversidade!" (Jó 34:10). O mal, ou melhor dizendo, o sofrimento ocasionado por Deus não é pecaminoso, mas cumpre Seus propósitos santos.

2. O mais santo dos homens pode ser o mais afligido deles. Apesar do mal trazido pelo Senhor geralmente ser expressão do juízo de Deus sobre o pecado e a rebeldia, não significa que todo sofrimento é causado pelo pecado na vida da pessoa afligida. Vemos o caso de Jó. Era “homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal” (Jó 1:1). No entanto, sabemos o quando sofreu. E o que dizer de Jesus? Jamais pecou, no entanto “era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53:3-5). Ser um crente fiel não é garantia de bênçãos e prosperidade, e experimentar o mal não é evidência de que a pessoa vive em pecado ou tem falta de fé.

3. Devemos receber as coisas boas e as más como vindas de Deus. O dualismo que atribui a Deus as bênçãos e a Satanás o mal que nos advém não é menos que impiedade e loucura. “Como fala qualquer doida, falas tu; receberemos o bem de Deus, e não receberíamos o mal?” (Jó 2:10), reponde Jó à sugestão de sua mulher. A loucura a que Jó se refere não é deficiência intelectual, mas impiedade grosseira, como em Sl 14:1: "Disse o néscio no seu coração: Não há Deus. Têm-se corrompido, fazem-se abomináveis em suas obras, não há ninguém que faça o bem". O crente fiel irá receber de boa mente tudo o que Deus lhe enviar, seja bom ou ruim, pois sabe “que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28). Sendo assim, o crente jamais maldiz a sua sorte, mas louva a Deus que ordena o mal para seu bem final. Como José, reconhece: “Vós bem intentastes mal contra mim; porém Deus o intentou para bem, para fazer como se vê neste dia” (Gn 50:20).

Diante dessas lições percebemos a malignidade da teologia da prosperidade. Ao pregar que Deus nos dá coisas boas, negam o controle e o uso soberano que Deus faz do mal. Ao profetizar apenas saúde e bênçãos materiais para os que são fiéis, não preparam as pessoas para o sofrimento que certamente virá sobre o crente e algum momento de suas vidas e, pior, atribuirão tais males ao pecado e falta de fé. Ao dizerem que todo sofrimento é obra do Diabo, promovem um dualismo que dá mais glória ao Diabo que pode fazer o que bem entender do homem, enquanto que para que Deus possa frear a ação do inimigo é preciso que o homem realiza coisas em favor de Deus. A cura para essa doença é uma teologia que exalte a soberania de Deus e reconheça a Sua providência em tudo o que acontece, seja bom, seja ruim.

Soli Deo Gloria
domingo, 26 de agosto de 2012

Todos os servos de Cristo são chamados para fora, a fim de apresentar seus corpos e almas e os dons que Deus lhes deu. Assim apresentados, eles se encontram em seu devido lugar, sendo entrelaçados e compactados segundo o funcionamento de cada um, para a edificação da Igreja em amor.

Artigo 35
Primeira Confissão Londrina, 1642/44
sábado, 25 de agosto de 2012

Atualmente o mundo precisa de novo, desesperadamente, de um avivamento espiritual. Esta é a única esperança para a sobrevivência da raça humana.

Em meio aos problemas sem fim que o mundo enfrenta, os cristãos estão estranhamente silenciosos e impotentes, quase vencidos pelas ondas do secularismo. Mas os cristãos devem ser o "sal da terra" (Mt 5:13), protegendo o mundo em decadência de mais podridão. Eles devem ser a "luz do mundo" (Mt 5:14), iluminando a escuridão que o pecado produz, servindo de guia para um mundo que se perdeu do caminho. Nós devemos ser: "Filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo" (Fp 2:15).

Por que não somos "sal" e "luz", como deveríamos? Por que não estamos fazendo muito mais para levar o reino de Deus aos corações e às vidas das pessoas? Sem dúvida temos muitos exemplos de cristãos que foram tocados por Deus e estão, por sua vez, tocando a vida de outros para levá-los a Cristo. Mas para cada exemplo destes há muito mais cristãos que vivem derrotados e sem alegria. Não têm vitória sobre o pecado nem sucesso no testemunhar. Causam pouco impacto sobre os que vivem ao seu redor, quanto ao Evangelho.

Então, se a maior necessidade no nosso mundo é sentir os efeitos de um avivamento, a maior necessidade da Igreja de Cristo no mundo todo hoje é experimentar o toque do Espírito Santo, trazendo "reavivamento" e "renovação" verdadeiros à vida de incontáveis cristãos.

Billy Graham
O poder do Espírito Santo
sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Precisamos pensar em Cristo em termos elogiosos. Irmãos, é adequado que vocês pensem em Cristo como pensam em Deus — como o Juiz dos vivos e dos mortos. E não nos convém pensar levianamente de nossa salvação; se pensamos pouco nEle, também esperaremos obter senão pouco dEle. E aqueles de nós que ouvem falar negligentemente destas coisas, como se fossem de pequena monta, pecam, não sabendo de onde fomos chamados, por quem e para que lugar, e o quanto Jesus Cristo se submeteu para sofrer por nossa causa. 

Que retorno lhe daremos, ou que fruto será digno do que Ele nos deu? Pois quão grandes são os benefícios que lhe devemos! Ele nos tem dado luz graciosamente; como Pai, Ele nos chamou de filhos; Ele nos salvou quando estávamos prestes a perecer. Que louvor lhe ofereceremos, ou que lhe daremos pelas coisas que recebemos?

Éramos deficientes no entendimento, adorando pedras, madeira, ouro, prata e metal, trabalhos das mãos de homens; e nossa vida era nada mais que morte. Envolvidos em cegueira e com tais trevas diante dos olhos, recebemos visão e, por sua vontade, pusemos de lado aquela nuvem em que estávamos envolvidos. Ele teve compaixão de nós e misericordiosamente nos salvou, observando os muitos erros nos quais estávamos emaranhados, bem como a destruição a qual estávamos expostos e da qual não tínhamos esperança de salvação, exceto a que nos deu. 

Ele nos chamou quando ainda não existíamos e nos quis para que do nada alcançássemos uma existência real.

Segunda Epístola de Clemente
quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A necessidade de direção divina nunca é mais profundamente sentida do que quando uma pessoa assume a tarefa de dar instrução sobre a obra do Espírito Santo — o assunto é tão indizivelmente delicado que toca os segredos mais íntimos de Deus e os mistérios mais profundos da alma. 

Nós instintivamente protegemos a intimidade de nossos parentes e amigos do escrutínio inoportuno, e nada fere mais o coração sensível do que a exposição impertinente daquilo que não é para ser revelado, sendo bonito apenas no círculo familiar. Muito maior delicadeza condiz com nossa aproximação ao santo mistério da intimidade de nossa alma com o Deus vivo. Na verdade, nós dificilmente podemos encontrar palavras para expressá-la, pois ela toca um domínio muito além da vida social onde a linguagem é formada e o uso determina o signifi cado das palavras. 

Lampejos dessa vida foram revelados, mas a maior parte está oculta. É como a vida daquele que não clamou, nem gritou nem fez ouvir sua voz na praça. E o que se ouviu foi sussurrado, mais do que propriamente falado — um sopro da alma, suave, mas silente, ou mais uma irradiação do calor da própria alma. Algumas vezes a quietude foi quebrada por um brado ou um grito extasiado, mas houve principalmente um trabalho silencioso, uma ministração de repreensão severa ou de um doce conforto por aquele maravilhoso Ser da Santa Trindade que, com língua balbuciante, nós adoramos como o Espírito Santo. 

A experiência espiritual não pode fornecer nenhuma base para instrução, pois tal experiência repousa sobre o que se passou em nossa própria alma. Certamente que isso tem valor, infl uência, voz no assunto. Mas o que garante a precisão e a fi delidade ao interpretarmos tal experiência? E, novamente, como podemos distinguir suas várias fontes — de nós mesmos, de fora ou do Espírito Santo? A dupla questão será sempre pertinente: Nossa experiência é compartilhada por outras pessoas? Ela pode ser adulterada pelo que é em nós pecaminoso e espiritualmente anormal? 

Embora não haja nenhum assunto em cujo tratamento a  alma se incline mais para extrair sua própria experiência, não há nenhum que demande mais que nossa única fonte de conhecimento seja a Palavra dada a nós pelo Espírito Santo. Em decorrência disso, a experiência humana pode ser ouvida, atestando o que os lábios confessaram, até mesmo dando uma passada de olhos nos abençoados mistérios do Espírito, que são indizíveis, e dos quais as Escrituras, portanto, não falam. Mas não podemos nos basear nela para dar instrução a outros.

A Igreja de Cristo certamente apresenta abundante pronunciamento espiritual em hinos e cânticos espirituais; em homílias exortatórias e consoladoras; em confissão sóbria ou explosões de almas quase submersas pelas enchentes de perseguição e martírio. Mas nem mesmo isso pode ser a base do conhecimento da obra do Espírito Santo.

Abraham Kuyper
quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Por um lado costumamos considerar a emoção como sendo da alma, e em conseqüência rapidamente catalogamos como sendo da alma aos que se emocionam ou se entusiasmam com facilidade. Por outro lado esquecemos que ser racional não faz absolutamente ninguém espiritual. Este entendimento errôneo de espiritualizar uma vida racional deve ser evitado, da mesma maneira que também terá que evitar o julgamento errôneo de confundir uma vida predominantemente emocional com espiritualidade.

E outra coisa mais: não devemos jamais reduzir a função de nossa alma a uma inatividade mortal. Antes, possivelmente, nunca tínhamos contemplado nosso sentimento e nossa emoção como sendo da alma com um pouco de interesse e vivemos de acordo com esse fato.

Entretanto, mais adiante percebemos nosso engano e então suprimimos estas emoções por completo. Uma atitude semelhante pode parecer-nos muito boa mas não nos fará mais espirituais. Se meu leitor entender erroneamente este ponto — e pouco importa se pouco ou muito —, sei que sua vida «se secará». Por que? Porque seu espírito, sem nenhuma oportunidade de expressar-se, ficará aprisionado por uma emoção amortecida. E depois disto há outro perigo: que ao suprimir em excesso sua emoção, o crente terminará convertendo-se em um homem racional, não espiritual, e desta maneira continuará sendo da alma, embora de uma forma diferente. Entretanto, a emoção da alma, se expressa o sentimento do espírito, é muito valioso, e, por sua vez, o pensamento da alma, se revela o pensamento do espírito, pode ser muito instrutivo.

Watchman Nee
In: O Homem Espiritual
terça-feira, 21 de agosto de 2012

"Quem nos separará do amor de Cristo?" Rm 8:35

A ênfase desta última seção é sobre a segurança do cristão. Não precisamos temer o passado, o presente ou o futuro, pois estamos seguros no amor de Cristo. Paulo oferece cinco argumentos para provar que o cristão não pode ser separado de seu Senhor.

Deus é por nós (v. 31). O Pai é por nós e provou esse fato entregando seu Filho (Rm 8:32). O Filho é por nós (Rm 8:34) e o Espírito também (Rm 8:26). Deus faz todas as coisas cooperarem para nosso bem (Rm 8:28). Deus é por nós em sua Pessoa e em sua providência. Por vezes, lamentamos como Jacó: "Todas estas coisas me sobrevêm" (Gn 42:36), quando, na verdade, tudo está trabalhando em nosso favor. A conclusão é óbvia: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?".

O cristão precisa começar cada dia ciente de que Deus é por ele. Não há nada a temer, pois o Pai amoroso deseja apenas o que é melhor para seus filhos, mesmo quando precisamos passar por provações para receber o que ele tem de melhor a oferecer. "Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais" (Jr 29:11).

Cristo morreu por nós (v. 32). Vemos aqui uma argumentação em ordem crescente. Se, quando éramos pecadores, Deus nos deu seu melhor, agora que somos filhos de Deus, acaso ele não nos dará tudo de que precisamos? Jesus empregou essa mesma argumentação quando tentou convencer as pessoas de que era inútil se preocupar e temer. Se Deus cuida dos pássaros e das ovelhas, e até mesmo dos lírios, certamente cuidará de nós! Deus se relaciona com seus filhos com base na graça do Calvário, não com base na Lei. Deus concede todas as coisas em abundância aos que lhe pertencem!

Deus nos justificou (v. 33). Isso significa que nos declarou justos em Cristo. Satanás deseja nos acusar (Zc 3:1-7; Ap 12:10), mas, em Cristo Jesus, somos justos diante de Deus. Somos os eleitos de Deus - escolhidos em Cristo e aceitos em Cristo. Uma vez que é Deus quem nos justifica, por certo não nos acusa. Para ele, acusar os seus seria o mesmo que dizer que sua salvação falhou e que continuamos vivendo em nossos pecados.

Podemos experimentar paz no coração quando entendemos o significado da justificação. Quando Deus declara que o pecador que crê foi justificado em Cristo, trata-se de uma declaração inalterável. Nossas experiências com Cristo mudam cada dia, mas a justificação é sempre a mesma. Podemos nos acusar a nós mesmos ou sofrer a acusação de outros, mas Deus jamais nos acusa. Jesus já pagou o castigo, e estamos seguros nele.

Cristo intercede por nós (v. 34). A segurança do que crê em Cristo se deve a uma intercessão dupla: o Espírito intercede (Rm 8:26, 27) e o Filho de Deus intercede (Rm 8:34). O mesmo Salvador que morreu por nós intercede por nós no céu. Como nosso Sumo Sacerdote, pode nos dar a graça de que precisamos para superar a tentação e derrotar o inimigo (Hb 4:14-16). Como nosso Advogado, pode perdoar nossos pecados e restaurar nossa comunhão com Deus (1Co 1:9 - 2:2). Essa intercessão significa que Jesus Cristo nos representa diante do trono de Deus e que não precisamos nos defender.

Paulo deixa esse ministério de intercessão subentendido em Romanos 5:9, 10. Não apenas somos salvos por sua morte, mas também por sua vida. "Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (Hb 7:25). Pedro pecou contra o Senhor, mas foi perdoado e restaurado à comunhão por causa de Jesus Cristo. "Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo! Eu, porém, roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça; tu, pois, quando te converteres, fortalece os teus irmãos" (Lc 22:31,32). Ele está rogando por todos nós, e esse ministério garante que estamos seguros.

Cristo nos ama (vv. 35-39). Em Romanos 8:31-34, Paulo prova que Deus não falha conosco; mas será que podemos falhar com ele? E se vacilarmos em meio a alguma grande provação ou tentação? O que será de nós? Paulo trata desse problema nesta última seção e explica que nada nos separará do amor de Jesus.

Em primeiro lugar, Deus não nos protege das dificuldades da vida, porque precisamos delas para nosso crescimento espiritual (Rm 5:3-5). Em Romanos 8:28, Deus garante que as dificuldades da vida trabalham a nosso favor, não contra nós. Deus permite que venham as provações, a fim de usá-Ias para nosso bem e para a sua glória. Uma vez que suportamos as provações por amor a ele (Rm 8:36), é possível nos abandonar? De modo algum!

Antes, quando passamos pelas dificuldades da vida, ele está mais próximo de nós. Além disso, ele nos dá o poder de conquistar a vitória (Rm 8:37). Somos "mais que vencedores"; literalmente, somos "supervencedores" por meio de Jesus Cristo! Ele nos dá vitória sobre vitória! Não precisamos temer a vida nem a morte, nem as coisas do presente, tampouco as do futuro, pois Jesus Cristo nos ama e deseja nos dar a vitória.

Não se trata de uma promessa condicional: "Se fizermos isso, Deus fará aquilo". Essa garantia em Cristo é um fato comprovado, e nos apropriamos dele porque estamos em Cristo. Nada pode nos separar de seu amor!

Podemos crer nessa verdade e nos regozijar!

Warren W. Wiersbe
Comentário Bíblico Expositivo
domingo, 19 de agosto de 2012

A esta Igreja Cristo fez suas promessas e a ela apresentou os sinais de seu Pacto, sua presença, amor, bênção e proteção. Aqui se encontram todas as fontes e mananciais de sua Graça celestial que continuamente fluem. Para a Igreja devem todos os homens vir, de toda classe, para confessarem a Cristo como seu Profeta, Sacerdote e Rei e para serem arrolados entre os servos da Casa, para estarem sob seu governo, e para viverem dentro do redil, dentro do jardim regado, para terem aqui comunhão com os santos, e para serem participantes da herança no Reino de Deus.


Artigo 34
Primeira Confissão Londrina, 1642/44

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

A estes poderosos feitos de Deus (o Deus criador e o Deus da aliança),  os cristãos acrescentam o ato de Deus mais poderoso do que todos os demais:  o nascimento, a vida, a morte e a glorificação de Jesus; o seu Dom do Espírito  Santo; e a sua nova criação, a Igreja.

Esta é a história do Novo Testamento, e  é por isso que tanto os textos do Velho como do Novo Testamento, juntos,  com uma exposição bíblica, constituem hoje uma parte indispensável do culto  cristão.
Somente quando de novo ouvimos sobre o que Deus já fez encontramo-nos em condições de retribuir-lhe com a nossa adoração e o nosso culto. É  também por este motivo que a leitura e a meditação da Bíblia são uma parte  muito importante na devoção pessoal do cristão.

Todo culto cristão, seja ele  público ou pessoal, deve ser uma resposta inteligente à auto-revelação de  Deus, por suas palavras, e suas obras registradas nas Escrituras.

É neste contexto que, de passagem, se pode fazer uma referência ao  “falar em outras línguas”. Qualquer que tenha sido a glossolalia no Novo  Testamento - se um Dom de línguas estanhas ou a expressão de sons em  êxtase - o certo é que as palavras eram ininteligíveis a quem as proferia. Por  isso mesmo foi que Paulo proibiu falar em línguas em público, se não  houvesse quem traduzisse ou interpretasse; e desencorajou a sua realização ou  devoção pessoal, se a pessoa permanecesse sem entender o que dizia.  Escreveu ele: “Pelo que, o que fala em outra língua, ore para que a possa  interpretar. Porque, se eu orar em outra língua, o meu espírito ora de fato, mas  a minha mente fica infrutífera. Que farei, pois? Orarei com o espírito, mas  também orarei com a mente...

“Noutras palavras, Paulo não podia admitir nenhuma oração, nenhum  culto, em que a mente permanecesse estéril ou inativa. Ele insistiu que em  todo culto verdadeiro a mente tem de ser completamente empenhada, de  modo a dar frutos. O prazer dos coríntios para com o culto ininteligível era  algo infantil. Quanto ao mal, disse-lhes para serem como crianças e inocentes  o quanto fosse possível, mas acrescentou: “no modo de pensar, sejam  adultos”.

O culto cristão não será perfeito senão no céu, pois até então conheceremos a Deus como Ele é, e daí somente então teremos condições de adorá-lo de maneira própria.

John Sttot
In: Crer é também pensar
quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Bem, agora que já falamos sobre as origens do Teísmo Aberto, vamos conhecer seus pilares.

O Teísmo Aberto ou Teologia Relacionai ensina, basicamente, cinco coisas:

1) 0 maior atributo de Deus é o amor — Na Teologia Relacionali ou Teísmo Aberto, este atributo divino é normalmente enfatizado em detrimento a todos os demais atributos de Deus. Todos os atributos divinos, mesmo sua imutabilidade, sua onisciência e sua onipotência, são diminuídos e reinterpretados para favorecer o atributo do amor. Porém, a Bíblia nos apresenta todos os atributos divinos coexistindo em equilíbrio. Deus não é amor e mais ou menos onisciente e onipotente. Ele é amor e plenamente onisciente e onipotente (Gn 17.1; Jó 42.2; SI 139; Is 46.10). A Bíblia não apresenta incoerência na coexistência dos atributos de Deus.

O crente deve saber em quem tem crido. Ele precisa saber e aceitar as qualidades naturais e morais de Deus, para que tenha uma idéia correta a respeito de seu Senhor, e não uma concepção com base apenas na intuição e no “achismo”, uma concepção frágil e deformada.

Deus é onipotente e justo ao mesmo tempo. O que é onipotência? É a qualidade de ter todo o poder. O vocábulo oni significa “tudo” ou “todo”. Logo, quando dizemos que Deus é onipotente, não estamos dizendo simplesmente que Ele é poderoso, mas afirmando que só Ele detém todo o poder. Há muitas passagens na Bíblia que realçam esse atributo divino (Gn 18.14; 2 Cr 20.6; Jó 42.2; SI 62.11; 147.5; Is 14.27; 43.13; Dn 4.35; Lc 1.37). Deus se apresentou como o Onipotente a Abraão (Gn 17.1) e a Jó (Jó 40.1-2). Jesus, Deus encarnado, afirmou que “todo o poder” lhe foi dado “no Céu e na Terra” (Mt 28.18). Ele “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hb 1.3). E mais: “Todas as coisas foram feitas por Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3).

Porém, apesar de a onipotência divina ser asseverada inúmeras vezes nas Sagradas Escrituras, há pessoas que tentam filosoficamente desacreditá-la, usando de um infantil silogismo para tentar provar que é impossível algum ser no universo deter todo o poder. O teólogo norte-americano Russell E. Joyner ressalta e desfaz esse logro: “Um antigo questionamento filosófico indaga: ‘Deus é capaz de criar uma rocha tão grande que Ele não possa mover? Se Ele não consegue movê-la, logo Ele não é todo-poderoso. E se Ele não é capaz de criar uma rocha tão grande assim, isso também comprova que Ele não é todo-poderoso’. Essa falácia da lógica simplesmente brinca com as palavras e desconsidera o fato de que o poder de Deus está relacionado com seus propósitos”. “A pergunta mais honesta seria: Deus é poderoso para fazer tudo quanto pretende, e que esteja de acordo com o seu propósito? De acordo com os seus decretos, Ele demonstra que realmente tem a capacidade de realizar tudo quanto desejar: ‘Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem pois o invalidará? E a sua mão estendida está; quem, pois, a fará voltar atrás?’, Is 14.27” (Teologia Sistemática — uma perspectiva pentecostal, editor Stanley M. Horton, CPAD, 1996).

Um exemplo claro dessa afirmação de Joyner está no Plano de Salvação em Cristo. Um dos propósitos de Deus é salvar os seres humanos (1 Tm 2.3-4). Em Marcos 10.25-27, Jesus falou a seus discípulos que é impossível ao ser humano salvar-se a si mesmo, mas isso não é impossível para Deus, porque “para Deus todas as coisas são possíveis”. Deus proveu nossa salvação por meio de Cristo (Jo 3.16). Portanto, todos quantos quiserem aceitá-lo sinceramente como Salvador e Senhor de suas vidas podem ser salvos hoje e agora (Jo 1.11-12). Em outras palavras, podemos e devemos louvar a Deus não só pela sua onipotência, mas também por seus sublimes propósitos, que nos garantem a Salvação.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

As cadeias que me prendiam foram soltas ao vento,
Pelo grande amor de Deus eu, pobre escravo, foi liberto;
e a graça do céu com frescura em minh'alma sopra, é certo
Tal como são os bons ventos do verão que ao mar dão alento.

Não há no mundo algo tão escuro, coisas tão más,
Como a escravidão do pecado que a minh'alma prendia;
Nada mais abjeto que a astúcia e a malícia que eu sentia,
E essas vis paixões, sob o controle de Satanás.

Por vários anos suportei o inferno em meu coração;
Ao pensar em Deus, o que eu via era só escuridão;
De noite eu não tinha descanso, e prazer nenhum de dia,
E a dura sombra de um destino infeliz eu temia.

E somente aquela luz é que poderia adentrar
Num calabouço tão profundo assim como era o meu!
Criar um mundo seria mais fácil que libertar
Este escravo da prisão, esta alma que adormeceu.

Que haja luz, disse a Palavra, dirigindo-se a mim.
Em minh'alma uma aflição profunda logo então passou;
Foi só olhar ao Salvador, a escura noite sem fim
Como um sonho esquecido, do meu coração despencou.

Clamei então por misericórdia; e os joelhos dobrei,
Com o coração compungido e mui triste confessei.
Numa ação momentânea, o mal de anos saiu então,
Da minh'alma, tal como as palavras que eu falo se vão.

E agora, glória a Deus e ao amado Senhor que morreu!
Nem o cervo montanhês, nem o pássaro na altura,
Nem onda de prata que se quebra na maré escura,
E uma criatura tão livre e feliz quanto eu.

Aclamem todos o Precioso Sangue tão amado,
Que operou em mim essas doces maravilhas do amor;
Que a cada dia multidões tenham se purificado
Para a glória de Deus, e a libertação do pecador.

Frederic W. Faber
In: Este mundo: lugar de lazer ou campo de batalha?
terça-feira, 14 de agosto de 2012

Meu argumento contra Deus era o de que o universo parecia injusto e cruel. No entanto, de onde eu tirara essa ideia de justo e injusto? Um homem não diz que uma linha é torta se não souber o que é uma linha reta. Com o que eu comparava o universo quando o chamava de injusto? Se o espetáculo inteiro era ruim do começo ao fim, como é que eu, fazendo parte dele, podia ter uma reação assim tão violenta? 

Um homem sente o corpo molhado quando entra na água porque não é um animal aquático; um peixe não se sente assim. E claro que eu poderia ter desistido da minha ideia de justiça dizendo que ela não passava de uma ideia particular minha. Se procedesse assim, porém, meu argumento contra Deus também desmoronaria - pois depende da premissa de que o mundo é realmente injusto, e não de que simplesmente não agrada aos meus caprichos pessoais. 

Assim, no próprio ato de tentar provar que Deus não existe - ou, por outra, que a realidade como um todo não tem sentido -, vi-me forçado a admitir que uma parte da realidade - a saber, minha ideia de justiça- tem sentido, sim. Ou seja, o ateísmo é uma solução simplista. Se o universo inteiro não tivesse sentido, nunca perceberíamos que ele não tem sentido - do mesmo modo que, se não existisse luz no universo e as criaturas não tivessem olhos, nunca nos saberíamos imersos na escuridão. A própria palavra escuridão não teria significado.

C. S. Lewis
Cristianismo puro e simples
domingo, 12 de agosto de 2012

Cristo tem aqui na terra um Reino espiritual, que é a Igreja que ele adquiriu e redimiu para si, como uma herança particular. Esta Igreja, como nós a vemos, é uma companhia de santos visíveis, chamados e separados do mundo pela Palavra e o pelo Espírito de Deus, para a confissão visível da fé no Evangelho, sendo batizados pela fé e incorporados ao Senhor e unidos uns com os outros, por um acordo mútuo, na prática das Ordenanças estabelecidas por Cristo sua Cabeça e Rei.

Artigo 33
Primeira Confissão Londrina, 1642/44
sexta-feira, 10 de agosto de 2012

O Calvinismo, com outras visões da predestinação, ensina que o decreto de Deus foi feito tanto antes da Queda, como à luz da dela. Por que isto é importante? Por que a visão calvinista da predestinação sempre acentua o caráter gracioso da redenção de Deus. Quando Deus predestina pessoas à salvação, Ele está predestinando, para serem salvas, as pessoas que Ele sabe que realmente necessitam de salvação. Elas precisam ser salvas porque são pecadoras em Adão, e não porque Ele as forçou a serem pecadoras. O Calvinismo vê Adão pecando por seu próprio livre arbítrio, e não por coação divina.

Com certeza Deus sabia, antes da Queda, que certamente ela aconteceria, e agiu para redimir alguns. Ele ordenou a Queda no sentido de escolher permiti-la, mas não no sentido de escolher coagi-la. Sua graça predestinadora é graciosa precisamente porque Ele escolheu salvar pessoas que sabia de antemão que estariam espiritualmente mortas.

R. C. Sproul
In: Eleitos de Deus
quinta-feira, 9 de agosto de 2012

É verdade que a doutrina de uma providência especial (particular, deixando de ser providência a que não é particular) está absolutamente fora de moda na Inglaterra, e um autor prudente poderia escrever isto para ganhar o favor de seus delicados leitores. No entanto não direi que isto seja realmente prudência porque ele poderá perder mais com isso do que lucrar, visto que a maioria, mesmo dos britânicos, ainda tem algum respeito pela Bíblia. 

John Wesley
Diário: 6 de julho de 1781
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
Posso falar de minha própria experiência e, com base nisso, contar-lhe a dificuldade de orar a Deus como eu deveria. Isso é suficiente para fazer homens carnais, pobres e cegos entreterem pensamentos estranhos a meu respeito. Quanto ao meu coração, quando vou orar, acho-o tão relutante em buscar a Deus; e quando ele está na presença de Deus, se mostra tão relutante em permanecer com Ele, que muitas vezes sou forçado, em minha orações, a primeiramente implorar a Deus que pegue o meu coração e fixe-o nEle mesmo, em Cristo; e, quando meu coração está ali, peço a Deus que o mantenha ali (Sl 86:11). Ora, muita vezes, não sei pelo que orar (sou tão cego), nem sei como orar (sou tão ignorante). Somente o Espírito (bendita graça) nos assiste em nossas fraquezas (Rm 8:26).

Oh!, quantas dificuldades iniciais o coração experimenta no tempo de oração! Ninguém sabe quantas distrações e desvios levam o coração a se afastar da presença de Deus. Quanto orgulho também há, se somos capacitados com passividade? Quanta hipocrisia, se estamos diante dos outros? E quão pouca consciência temos da oração entre Deus e a alma, em secreto, se o espírito de súplica (Zc 12:10), não estiver ali para ajudar?

(...)

Somente quando o Espírito entra no coração, há oração verdadeira, e não antes.

John Bunyan
In: I wil pray with the Spirit
domingo, 5 de agosto de 2012
O único poder pelo qual seja possível para os santos enfrentar toda oposição e resistir as aflições, tentações, perseguições e provas, recebem-no de Jesus Cristo, o qual é o Capitão de sua salvação, sendo feito perfeito pelo sofrimento e quem tem colocado seu poder para ajudá-los em todas suas aflições e para sustentá-los sob as tentações e para salvaguardá-los por seu Poder para seu Reino Eterno.

Artigo 32
Primeira Confissão Londrina, 1642/44
sábado, 4 de agosto de 2012
E se dizeis que nossa doutrina é inimiga da liberdade humana, vos apontamos para Oliver Cromwell e seus bravos Ironsides, calvinistas até o último homem.

Se dizeis que ela leva à inação, vos apontamos aos Pais Peregrinos e o deserto que domaram. Podemos pôr nosso dedo sobre cada pedaço de terra em todo o mundo e dizer: ― Aqui está algo feito por um homem que creu nos decretos de Deus, e, em fazê-lo, é prova de que essa crença não o tornou inativo, não o ninou à preguiça.

A melhor forma, porém, de provar este argumento, é em que cada um de nós que defendemos estas verdade, sejamos mais prontos a orar, mais vigilantes, mais santos, mais ativos do que fomos antes, e, ao fazê-lo, silenciaremos a contradição dos tolos. Um argumento vivo é um argumento que comunica a cada homem; não podemos negar o que vimos e sentimos. 

Caiba a nós, se atingidos e caluniados, desprestigiá-los por uma vida inculpável, e ocorrerá que nossa Igreja e seus sentimentos também emergirão ― belos como a lua, claros como o sol e terrível como um exército em estandartes.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Alguns cristãos estão procurando por alguns métodos espirituais. Certa vez depois de ter entregue uma mensagem concernente à vitória através de Cristo e não através de nós mesmos, um irmão pegou a mão do irmão que pregou e disse, “Por muitos anos eu tenho sido persistentemente derrotado, mas hoje tudo esta bem”. Então o irmão pregador perguntou, “Como pode ser isto?”. Para o que ele respondeu, “Porque eu acho que agora consegui um caminho para a vitória. Agradeço ao Senhor por hoje ter encontrado um método! A vitória através do Senhor, não por mim mesmo”. Mas o irmão pregador disse-lhe francamente em resposta, “se tudo o que você encontrou é o caminho da vitória, então você será derrotado outra vez”.

Porque ele disse isto? Porque o Senhor Jesus Cristo nos disse, “Eu sou o caminho”. Em outras palavras, só Ele é o caminho, o método. O caminho não está fora Dele, pois Ele mesmo é o caminho. Se tudo o que conseguimos é meramente um método, cedo descobriremos sua ineficiência. Deus não nos deu um método; Ele nos deu Seu próprio Filho.

Freqüentemente escutamos a experiência de outros e sentimos sua preciosidade, mas vemos apenas um método que uma outra pessoa tenha tocado ao invés de ver o Senhor. Como resultado, sofremos derrotas após derrotas. A principal razão é porque não conhecemos o Senhor como o caminho.

Procuremos entender que crer na pessoa do Senhor, e crer em uma fórmula, são duas propostas realmente diferentes. Pela graça de Deus, o cristão tem seus olhos abertos para ver que tipo de pessoa é; por esta razão põe a si mesmo de lado e crê no Senhor, confiando nEle para fazer em seu interior o que ele mesmo não pode fazer. Como conseqüência, ele obtêm liberdade e está plenamente satisfeito diante de Deus.

Watchman Nee
In: Cristo, a soma de todas as coisas
quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Ir ao púlpito é pisar em terra santa. Ter diante de si uma Bíblia aberta exige não tratar as coisas sagradas com leviandade. Ser um porta-voz de Deus requer a máxima preocupação e cuidado no uso e na proclamação da Palavra. As Escrituras advertem: “Meus irmãos, não vos torneis, muitos de vós, mestres, sabendo que havemos de receber maior juízo” (Tg 3.1).

Entretanto, infelizmente vivemos numa geração que tem depreciado o chamado para pregar. A exposição da Palavra está sendo substituída por entretenimento, a pregação, por espetáculos teatrais, a doutrina, por obras dramáticas, e a teologia por manifestações artísticas. A igreja moderna precisa desesperadamente retomar o rumo certo e voltar a um púlpito que seja alicerçado na Bíblia, centrado em Cristo e capaz de transformar vidas. Deus sempre se alegra em honrar sua Palavra — especialmente a pregação de sua Palavra. 

Os períodos mais notáveis da história da igreja — aqueles tempos de propagação das doutrinas reformadas e de grandes avivamentos — têm sido épocas em que homens tementes a Deus tomaram a Palavra inspirada e pregaram-na com ousadia, no poder do Espírito Santo. A igreja imita a atitude do púlpito. Somente um púlpito reformado torna possível uma igreja reformada. Este é o momento em que os pastores precisam ter seus púlpitos novamente marcados pela pregação expositiva, pela clareza doutrinária e pelo senso de reverência em relação às coisas eternas. Esta, na minha opinião, é a maior necessidade do momento.

Steven J. Lawson
In: A arte expositiva de João Calvino