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domingo, 27 de outubro de 2013
Como deve ser o culto. Embora se permita a todos os homens lerem as Escrituras particularmente em casa, pela instrução edificando-se mutuamente na verdadeira religião, no entanto, para que a Palavra de Deus seja anunciada convenientemente ao povo, e se façam publicamente orações e súplicas, bem como sejam os sacramentos administrados de modo próprio, e se levantem ofertas para os pobres e para o pagamento de todas as despesas da Igreja, e para a conservação das relações sociais, é muito necessário que se mantenham as reuniões de culto ou da Igreja. Pois, é certo que na Igreja apostólica e primitiva, havia tais assembléias, freqüentadas por todos os piedosos.

As reuniões para culto não devem ser negligenciadas. Todos quantos negligenciam as reuniões de culto, delas ficando ausentes, desprezam a verdadeira religião, devendo ser exortados pelos pastores e magistrados piedosos para não continuarem ausentes dos cultos.

As reuniões devem ser públicas. As reuniões da Igreja não devem ser ocultas ou às escondidas, mas públicas e bem freqüentadas, a não ser que a perseguição movida pelos inimigos de Cristo e da Igreja não permita que sejam públicas. Pois, sabemos como sob a tirania dos imperadores romanos, as reuniões da Igreja Primitiva realizavam-se em lugares secretos.

Lugares decentes de reunião. Além disso, os lugares onde os fiéis se congregam devem ser decentes, e em tudo próprios para a Igreja de Deus. Portanto, devem-se escolher prédios com bastante espaço ou templos, mas expurgados de tudo o que não seja adequado a uma Igreja. E tudo deve concorrer para o decoro, a necessidade e a piedosa decência, a fim de que nada fique faltando, nada que seja indispensável ao culto e às obras necessárias da Igreja.

Nas reuniões, devem-se observar a modéstia e a humildade. E como cremos que Deus não habita em templos feitos por mãos, também sabemos que, por causa da Palavra de Deus e do uso sagrado, os lugares dedicados a Deus e ao seu culto não são profanos, mas sagrados, e os que neles estão presentes devem conduzir-se com reverência e com modéstia, reconhecendo que se encontram em lugar sagrado, na presença de Deus e de seus santos anjos.

A verdadeira ornamentação dos santuários. Portanto, todo aparato, orgulho e tudo o que seja impróprio à humildade, à disciplina e à modéstia cristãs, deve ser banido dos santuários e lugares de oração dos cristãos. Pois, a verdadeira ornamentação das igrejas não consiste em marfim, ouro e pedras preciosas, mas na frugalidade, na piedade e nas virtudes daqueles que estão na Igreja. Que todas as coisas sejam feitas com decência e ordem na igreja e, finalmente, que todas as coisas concorram para a edificação.

Culto na linguagem comum. Calem-se, pois, todas as línguas estranhas nas reuniões de culto, e sejam todas as coisas expressas na língua do povo, compreendida por todas as pessoas presentes.
quarta-feira, 23 de outubro de 2013

segunda-feira, 21 de outubro de 2013
“Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência” (Dt 30.19)
A doutrina do livre-arbítrio não conta com nenhuma declaração explícita nas Escrituras. A expressão em si não ocorre na Bíblia e a busca por um sinônimo se revela igualmente vã. No entanto, várias passagens são apresentadas como prova ou evidência de que o homem tem um livre-arbítrio, as quais são mencionadas como desafios à posição calvinista. Em todas elas, porém, o livre arbítrio é presumido ou inferido, jamais expressado. O versículo acima é dos mais utilizados com o propósito de demonstrar que o homem tem um arbítrio livre e vamos analisar se ele apresenta alguma dificuldade ao sistema calvinista.

Onde está o problema?

Antes de mais nada, posto que o verso não traz o termo livre-arbítrio ou um equivalente, quem primeiro tem que explicá-lo são os que enxergam livre-arbítrio nele. Suponho que se aponte para o verbo “escolhe” para provar o livre-arbítrio. Mas escolha e livre-arbítrio não são exatamente a mesma coisa. Se são, podemos ir para casa, pois o calvinista não nega, pelo contrário, defende que o homem faz escolhas, que tais escolhas podem ser livres de coerção externas e que o mesmo é sempre responsável por elas. Para que o texto representasse de fato um problema para o calvinista, o mesmo teria que dizer que o homem é capaz de escolher igualmente entre a bênção e a maldição, entre a morte e a vida, além de sustentar essa escolha em suas implicações textuais. Mas ele diz exatamente o contrário.

O que o texto diz

O livro de Deuteronômio significa “repetição da lei” e é formado basicamente por quatro discursos de Moisés. No primeiro (Dt 1:1-4:43) Moisés relembra a história de rebeldia de Israel, no segundo (Dt 4:44-26:19) ele repassa a história da legislação dada a Israel, no terceiro (Dt 27:1-28:68) promulga solenemente a Lei e, finalmente, no quarto (Dt 29:1-30:20) Deus faz uma nova aliança com o povo. O verso em questão está no final do discurso e trata das consequências da obediência e da desobediência e apela para uma boa escolha por parte do povo. O mesmo deve ser interpretado à luz do contexto deuteronômico.

O que significa escolher a bênção e a vida? Significa cumprir a Lei: “Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal; se guardares o mandamento que hoje te ordeno, que ames o SENHOR, teu Deus, andes nos seus caminhos, e guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, então, viverás e te multiplicarás, e o SENHOR, teu Deus, te abençoará na terra à qual passas para possuí-la” (Dt 30.15–16). É uma escolha bem diferente levantar a mão no culto, no apelo após a pregação. A questão a ser feita, então, é se os judeus de outrora e os pecadores de hoje são capazes de viver e ser abençoados sob a condição de obediência irrestrita à Lei. A resposta, é um sonoro não. 

Vejamos o histórico do povo de Israel: “rebeldes fostes contra o SENHOR, desde o dia em que vos conheci” (Dt 9.24). O Senhor lamenta “quem dera que eles tivessem tal coração, que me temessem e guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos” (Dt 5.29). A verdade é que ninguém tem um coração assim, até que o Senhor lhe dê um, “porém o SENHOR não vos deu coração para entender, nem olhos para ver, nem ouvidos para ouvir, até ao dia de hoje” (Dt 29.4). Depende do Senhor o ter um novo coração, o abrir olhos e ouvidos. É verdade que o povo tinha uma escolha diante de si. Mas já não tinha sido capaz de cumprir os mandamentos no passado. E não o era no presente, conforme atesta Moisés, ao se despedir com as palavras “conheço a tua rebeldia e a tua dura cerviz. Pois, se, vivendo eu, ainda hoje, convosco, sois rebeldes contra o SENHOR, quanto mais depois da minha morte?” (Dt 31.27). Ele estava ecoando as palavras do próprio Deus, de que no futuro o povo não seria capaz de viver pela Lei: “este povo se levantará, e se prostituirá, indo após deuses estranhos na terra para cujo meio vai, e me deixará, e anulará a aliança que fiz com ele” (Dt 31.16).

O dever de cumprir a lei como condição para a prosperidade na terra forma um paradoxo com a incapacidade do povo de atender aos mandamentos do Senhor. Isso parece injusto às pessoas que presumem que dever implica poder. Mas o objetivo da Lei não é salvar, e sim revelar a natureza má do pecador e servir de testemunha contra ele: “Tomai este Livro da Lei e ponde-o ao lado da arca da Aliança do SENHOR, vosso Deus, para que ali esteja por testemunha contra ti” (Dt 31.26). A solução divina é a graça do Senhor, manifesta na segunda aliança, quando “o SENHOR, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração de tua descendência, para amares o SENHOR, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas.” (Dt 30.6), o que posteriormente será melhor explicado pelos profetas Jeremias e Ezequiel e revelado completamente no Novo Testamento.

O calvinismo não vê dificuldade nesse texto porque ensina, de acordo com a Bíblia, que a Lei expressa o caráter santo de Deus e que se constitui no padrão de santidade que devemos cumprir. Crê, ainda de acordo com a Bíblia, que nenhum homem foi, é ou será capaz de cumprir de forma perfeita a Lei, e que por conta disso, estamos todos sob maldição. Não vemos a escolha de Dt 30:19 como mera faculdade, e sim como mandamento, ao qual estamos obrigados a despeito de nossa incapacidade. E que a solução para o dilema não se encontra no esforço humano em cumprir a Lei, mas na manifestação da graça por meio de Jesus, que de um lado cumpre a Lei vicariamente por nós, e de outro, nos dá um novo coração, capaz de amar a Deus e viver em santidade para glória dEle, “porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (João 1.17).

Soli Deo Gloria
domingo, 20 de outubro de 2013
A Ceia do Senhor. A Ceia do Senhor - também chamada Mesa do Senhor e Eucaristia, isto é, Ação de Graças - é em geral chamada ceia porque foi instituída por Cristo em sua última ceia, e ainda a representa, e porque nela os fiéis são espiritualmente alimentados e dessedentados.

O autor e consagrador da Ceia. O autor da Ceia do Senhor não é nenhum anjo ou homem, mas o próprio Filho de Deus, nosso Senhor Jesus Cristo, que primeiro a consagrou para sua Igreja. Essa consagração ou bênção ainda permanece entre todos quantos celebram não outra ceia, mas aquela mesma, que o Senhor instituiu e na qual eles recitam as palavras da Ceia do Senhor, e em tudo voltam o olhar com verdadeira fé para o único Cristo, e recebem, como de suas mãos, aquilo que recebem pelo ministério dos ministros da Igreja.

Um memorial das bênçãos de Deus. Por este rito sagrado o Senhor deseja manter em viva lembrança a maior bênção que concedeu aos mortais, a saber, que pelo dom do seu corpo e pelo derramamento do seu sangue ele perdoou todos os nossos pecados e nos redimiu da morte eterna e do poder do Diabo, e agora nos alimenta com a sua carne e nos dá a beber o seu sangue, os quais, recebidos espiritualmente com verdadeira fé, nos alimentam para a vida eterna. E essa bênção tão grande se renova tantas vezes quantas é celebrada a Ceia do Senhor. Eis o que disse o Senhor: “Fazei isto em memória de mim”. Esta santa Ceia sela, também, para nós, que o próprio corpo de Cristo foi verdadeiramente entregue por nós, e seu sangue vertido para remissão dos nossos pecados, a fim de que em nada a nossa fé venha a vacilar.

O sinal e a coisa significada. E isto é visivelmente representado de modo exterior por este sacramento pelo ministrante e, como que exposto aos olhos para ser contemplado, aquilo que pelo Espírito Santo é concedido interiormente na alma de maneira invisível. O pão é exteriormente oferecido pelo ministro, e ouvem-se as palavras do Senhor: “Tomai, comei; este é o meu corpo”; e “Recebei e reparti entre vós. Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue”. Portanto, os fiéis recebem o que é dado pelo ministro do Senhor, e comem o pão do Senhor e bebem do cálice do Senhor. Ao mesmo tempo, pela obra de Cristo por meio do Espírito Santo, interiormente recebem também a carne e o sangue do Senhor e deles se alimentam para a vida eterna. Pois a carne e o sangue de Cristo são o verdadeiro alimento e a verdadeira bebida para a vida eterna; e Cristo mesmo, desde que foi entregue por nós e é nosso Salvador, é o principal elemento na Ceia, e não permitimos que nenhuma outra coisa seja colocada em seu lugar.

 Mas, para que se compreenda mais retamente e com clareza corno a carne e o sangue de Cristo são o alimento e a bebida dos fiéis, e são recebidos pelos fiéis para a vida eterna, acrescentaríamos estas poucas coisas. Há mais de uma espécie de comer. Há o comer corporal, pelo qual o alimento é posto pelo homem na boca, mastigado com os dentes e deglutido para o estômago. No passado, os cafarnauenses acharam que a carne do Senhor devia ser comida desse modo, mas são refutados pelo próprio Senhor, em João, cap. 6. Desde que a carne de Cristo não pode ser comida corporalmente, sem infâmia e selvageria, assim ela não é alimento para o estômago. Todos os homens são obrigados a admitir isso. Desaprovamos, portanto, o cânon nos decretos do papa, Ego Berengariust (De Consecrat., Dist. 2). Nem a piedosa antiguidade cria, nem cremos nós que o corpo de Cristo possa ser corporalmente e essencialmente comido pela boca.

O comer o Senhor espiritualmente. Há também um comer espiritual do corpo de Cristo; não que pensemos que, por isso, o próprio alimento se mude em espírito, mas o corpo e o sangue do Senhor, embora permanecendo em sua própria essência e propriedade, nos são espiritualmente comunicados, certamente não de modo corporal, mas espiritual, pelo Espírito Santo, que aplica em nós e nos confere estas coisas que nos foram preparadas pelo sacrifício do corpo e do sangue do Senhor por nós, a saber, a remissão de pecados, o livramento e a vida eterna; de tal modo que Cristo vive em nós e nós vivemos nele, sendo que ele nos possibilita recebê-lo pela verdadeira fé para que possa tornar-se, para nós, esse alimento e bebida espirituais, isto é, nossa vida.

Cristo como nosso alimento sustenta-nos a vida. Assim como o alimento e a bebida corporal não só refazem e fortalecem nossos corpos, mas também os conservam vivos, também a carne de Cristo, entregue por nós e seu sangue vertido por nós não só refazem e fortalecem nossas almas, mas também as conservam vivas, não na medida em que sejam corporalmente comidos e bebidos, mas na medida em que nos são comunicados espiritualmente pelo Espírito de Deus, como diz o Senhor: “O pão que darei pela vida do mundo, é a minha carne” (João 6.51), e “a carne” (sem dúvida, corporalmente comida) “para nada aproveita; o espírito é o que vivifica” (v. 63). E mais: “As palavras que eu vos tenho dito, são espírito e são vida”.

Cristo recebido pela fé. E como devemos, pelo comer, receber alimento em nossos corpos para que ele atue em nós e prove a sua eficácia em nós - visto que ele não é de comum proveito quando retido fora de nós - assim é necessário que recebamos Cristo pela fé, para que ele se torne nosso e viva em nós e nós nele. Pois, ele diz: “Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede” (João 6.35); e também: “Quem de mim se alimenta, por mim viverá... permanece em mim e eu nele” (vs. 57, 56).

Alimento espiritual. De tudo isto, fica claro que por alimento espiritual não queremos dizer algum alimento imaginário que não se sabe bem o que seja mas o próprio corpo do Senhor dado por nós, que entretanto é recebido pelos fiéis não corpórea, mas espiritualmente pela fé. Nesta questão seguimos o ensino do próprio Salvador, Cristo o Senhor, segundo João, cap. 6

O comer é necessário à salvação. E este comer da carne e beber do sangue do Senhor é tão necessário à salvação, que sem ele, nenhum homem pode ser salvo. Mas este comer e beber, espiritualmente, ocorrem também à parte da Ceia do Senhor, sempre e onde quer que o homem creia em Cristo. A isto talvez se aplique a frase de Santo Agostinho: “Por que preparas os dentes e o estômago? Crê e terás comido”.

O comer sacramental do Senhor. Além do comer altamente espiritual há também o comer sacramental do corpo do Senhor, pelo qual o crente participa não só espiritual e interiormente do verdadeiro corpo e sangue do Senhor, mas também, pela aproximação à Mesa do Senhor, recebe externamente o sacramento visível do corpo e do sangue do Senhor. Sem dúvida alguma, já antes, quando creu, recebeu o crente o alimento que lhe dá a vida, e ainda o usufrui. Portanto, quando ele agora recebe o sacramento não é que não receba algo. Pois ele progride na comunicação contínua do corpo e do sangue do Senhor, e assim sua fé se aviva e se desenvolve mais e mais, sendo revigorada pelo alimento espiritual. Enquanto vivemos, nossa fé aumenta continuamente. Ora, aquele que, externamente, recebe o sacramento com verdadeira fé, não recebe apenas o sinal, mas também, como dissemos, desfruta a própria realidade. Além disso, obedece ele à instituição e ao mandamento do Senhor, e com mente alegre rende graças pela própria redenção e a da humanidade toda, realizando uma fiel comemoração da morte do Senhor, dando testemunho diante da Igreja, de cujo corpo é membro. Assegura-se também, aos que recebem o sacramento que o corpo do Senhor foi dado e seu sangue derramado, não apenas pelos homens em geral, mas, particularmente por todo fiel comungante, para quem ele é alimento e bebida para a vida eterna.

Os incrédulos recebem o sacramento para seu julgamento. Mas, aquele que se aproxima da sagrados da Mesa do Senhor sem fé, participa somente do sacramento e não recebe a essência do sacramento, de onde provém vida e salvação; e tais pessoas participam indignamente da Mesa do Senhor. Ora, os que comem o pão e bebem o cálice do Senhor de modo não digno, tornam-se culpados do corpo e do sangue do Senhor comendo e bebendo para si mesmo condenação (I Co 11.26-29). Não se aproximando com verdadeira fé, desonram a morte de Cristo e, conseqüentemente, comem e bebem condenação para si mesmos.

A presença de Cristo na Ceia. Nós, pois, não identificamos o corpo do Senhor e seu sangue com o pão e o vinho a ponto de dizer que o próprio pão é o corpo de Cristo, exceto no sentido sacramental; ou que o corpo de Cristo está oculto corporeamente sob o pão, de modo que deve ser adorado sob a forma de pão; ou ainda que, quem quer que receba o sinal, recebe também a própria realidade. O corpo de Cristo está nos céus, à mão direita do Pai; e, portanto, nossos corações devem elevar-se para o alto e não se fixarem no pão, nem deve o Senhor ser adorado no pão. Contudo, o Senhor não está ausente de sua Igreja, quando esta celebra a Ceia. O sol, que está afastado de nós, nos céus, encontra-se, entretanto, efetivamente presente em nosso meio. Quanto mais o Sol da justiça, Cristo, embora estando ausente de nós nos céus, pelo seu corpo, não estará presente conosco, não corporal, mas, espiritualmente, pela sua operação vivificadora, como ele mesmo declarou, por ocasião da última Ceia, que haveria de estar presente conosco (João, caps. 14, 15 e 16). Decorre dai que não temos uma Ceia sem Cristo, mas uma Ceia incruenta e mística, como foi universalmente chamada pela antiguidade.
Outros propósitos da Ceia do Senhor. Além do mais, na celebração da Ceia do Senhor, somos admoestados a estarmos conscientes de cujo corpo nos tornamos membros, e portanto, a sermos uma só mente com todos os irmãos; a viver uma vida santa e a não nos corrompermos com a iniqüidade e com religiões estranhas; mas, perseverando na verdadeira fé até o fim da vida, esforçarmo-nos para alcançar a excelência da santidade de vida.

Preparação para a Ceia. Convém, portanto, que tendo de participar da Ceia, primeiro examinemo-nos a nós mesmos, segundo o mandamento do apóstolo, especialmente quanto à fé que temos, se cremos que Cristo veio para salvar os pecadores e chamá-los ao arrependimento, e se cremos que pertencemos ao número dos que foram libertados e salvos por Cristo; e se estamos resolvidos a mudar nossa vida ímpia, a fim de levarmos uma vida santa e, com o auxílio do Senhor, a perseverar na verdadeira religião e na harmonia com os irmãos, e a render graças devidas a Deus pelo seu livramento.

A observância da Ceia com pão e vinho. Julgamos que o rito, a maneira ou forma da Ceia mais simples e excelente seja aquela que mais se aproxime da primeira instituição do Senhor e da doutrina dos apóstolos. Consiste na proclamação da Palavra de Deus, em orações piedosas, na ação do Senhor mesmo, e em sua repetição, comendo do corpo do Senhor, e bebendo de seu sangue; relembrando a morte do Senhor e ele fiel ação de graças; e numa santa participação na união do corpo da Igreja. 

Desaprovamos, pois, os que privaram os fiéis de um dos elementos do sacramento, a saber, do cálice do Senhor. Estes pecam seriamente contra a ordem do Senhor, que diz: “Bebei dele todos”; o que ele não disse de modo tão expresso a respeito do pão.

Não estamos discutindo, agora, que espécie de missa existiu outrora entre os antigos, se deve ser tolerada ou não. Mas, dizemos isto abertamente: a missa agora usada em toda a Igreja Romana foi abolida em nossas igrejas por muitas e boas razões, as quais, para sermos breve, não enumeramos agora em pormenores. Não poderíamos aprovar a mudança de uma ação salutar em um espetáculo inútil, e num meio de alcançar mérito, e celebrado por um preço. Nem poderíamos aprovar a afirmação de que na mesma, o sacerdote efetua o próprio corpo do Senhor, e realmente o oferece pela remissão dos pecados dos vivos e dos mortos, e ainda para a honra, veneração e lembrança dos santos no céu, etc.
segunda-feira, 14 de outubro de 2013

domingo, 13 de outubro de 2013
A instituição do batismo. O batismo foi instituído e consagrado por Deus. Primeiro João batizou, tendo imergido Cristo na água do Jordão. Dele passou para os apóstolos, que também batizavam com água. Ordenou-lhes expressamente o Senhor que pregassem o Evangelho e batizassem “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mat 28.19). E nos Atos disse São Pedro aos judeus que perguntaram o que deviam fazer: “... e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (At 2.38). Em conseqüência disso, o batismo é chamado por alguns, sinal de iniciação para o povo de Deus, visto que por ele os eleitos de Deus são consagrados a Deus.

Um só batismo. Há um só batismo na Igreja de Deus; e é suficiente ser uma só vez batizado ou consagrado a Deus. Pois o batismo, uma vez recebido, continua por toda a vida; e é o selo perpétuo de nossa adoção.

O que significa ser batizado. Ser batizado em nome de Cristo é ser arrolado, incluído e recebido na aliança e na família, e assim na herança dos filhos de Deus; sim, e nesta vida ser chamado segundo o nome de Deus, isto é, ser chamado filho de Deus; ser purificado também da impureza dos pecados, e receber a multiforme graça de Deus para uma vida nova e inocente. O batismo, portanto, retém na memória e renova o grande benefício que Deus dispensou à raça dos mortais. Pois todos nascemos na impureza do pecado e somos filhos da ira. Mas Deus, que é rico em misericórdia, nos purifica gratuitamente dos nossos pecados pelo sangue de seu Filho, e, nele nos adota como seus filhos, e por uma santa aliança nos une a si mesmo e nos enriquece com inúmeros dons, para podermos viver uma nova vida. Todas estas coisas são consignadas pelo batismo. Internamente, somos regenerados, purificados e renovados por Deus mediante o Espírito Santo; e exteriormente recebemos o selo dos maiores dons na água, pela qual são também representados os maiores benefícios, e como que colocados diante dos nossos olhos para serem observados.

Somos batizados com água. Por isso, somo batizados, isto é, lavados ou aspergidos com a água visível. Pois a água lava as impurezas, resfria e refresca os corpos quentes e cansados. E a graça de Deus realiza estas coisas para as almas, e o faz de modo invisível ou espiritual.

A obrigação do batismo. Deus também nos separa de todas as religiões e povos estranhos pelo símbolo do batismo, e nos consagra a si mesmo como sua propriedade. Confessamos, portanto, nossa fé quando somos batizados, e sujeitamo-nos a Deus pela obediência, mortificação da carne e novidade de vida, e, com isso, alistamo-nos na santa milícia de Cristo para lutarmos durante toda a nossa vida contra o mundo, Satanás e nossa própria carne. Ademais, somos batizados no corpo da Igreja para, com todos os seus membros, podermos de modo distinto, participar de uma só e da mesma religião e dos serviços mútuos.

A forma do batismo. Cremos que a mais perfeita forma de batismo é aquela pela qual Cristo foi batizado e pela qual os apóstolos batizaram. Aquilo, portanto, que pelo expediente do homem foi acrescentado posteriormente, e usado na Igreja, não consideramos necessário à perfeição do batismo. Por exemplo, o exorcismo, o uso de velas acesas, óleo, sal, cuspo e outras coisas semelhantes como a idéia de que o batismo deve ser administrado duas vezes por ano com um grande número de cerimônias. Cremos que um só batismo da Igreja foi santificado na primeira instituição realizada por Deus, e que ele é consagrado pela Palavra, e é também eficaz ainda hoje, em virtude da primeira bênção de Deus.

O ministro do batismo. Ensinamos que o batismo não deve ser administrado na Igreja por mulheres ou por parteiras. São Paulo vetou à mulher os ofícios eclesiásticos. E o batismo pertence aos ofícios eclesiásticos.

Anabatistas. Condenamos os anabatistas, que negam que as criancinhas recém-nascidas dos fiéis devam ser batizadas. Mas, segundo o ensino evangélico, “dos tais é o Reino de Deus”, e as mesmas se encontram na aliança de Deus. Por que, então, não deve o sinal da aliança de Deus ser conferido a elas? Por que não devem aqueles que são propriedade de Deus e estão na sua Igreja ser iniciados pelo santo batismo? Condenamos os anabatistas em outras das suas doutrinas peculiares, que eles sustentam em oposição à Palavra de Deus. Não somos, portanto, anabatistas e nada temos em comum com eles.

NE. Conquanto não invalidemos o batismo realizado em crianças, cremos que o batismo correto é precedido de confissão de fé e, portanto, administrado a crentes.
domingo, 6 de outubro de 2013
Os sacramentos (são) adicionais à Palavra e o que são eles. Deus, desde o princípio, acrescentou à pregação da Palavra em sua Igreja os sacramentos ou sinais sacramentais. É o que a Sagrada Escritura claramente testifica. Sacramentos são símbolos místicos, ou ritos santos, ou atos sagrados instituídos pelo próprio Deus, consistindo segundo a sua Palavra, de sinais e de coisas significadas, por meio das quais ele, na Igreja, conserva a memória dos grandes benefícios por ele concedidos ao homem - renovando-a freqüentemente - por meio dos quais, também, ele sela as suas promessas e, externamente as representa e, como que nos põe diante dos olhos aquelas coisas que internamente ele nos concede, e assim fortalece e aumenta a nossa fé pela operação do Espírito de Deus em nossos corações. Finalmente, por meio deles, ele nos separa de todos os outros povos e religiões, e nos consagra e nos liga a si só, e nos dá a entender o que ele requer de nós.

Alguns são sacramentos do Velho, outros do Novo Testamento. Alguns sacramentos são do velho povo, outros do novo. Os sacramentos do velho povo eram a Circuncisão e o Cordeiro Pascal, que era imolado; por essa razão, ele se relaciona com os sacrifícios celebrados desde o princípio do mundo.

O número dos sacramentos do novo povo. Os sacramentos do novo povo são o Batismo e a Ceia do Senhor. Alguns há que reconhecem sete sacramentos do novo povo. Destes, reconhecemos que o arrependimento, a ordenação de ministros - não a ordenação papista, mas a apostólica - e o matrimônio são instituições úteis de Deus, não porém sacramentos. A confirmação e a extrema unção são simples invenções dos homens, que a Igreja pode dispensar sem nenhum prejuízo. Na verdade, não as temos em nossas igrejas, pois elas contêm certas coisas que de modo nenhum podemos aprovar. Acima de tudo, detestamos todo o comércio que exercem os romanistas na dispensação dos sacramentos.

O autor dos sacramentos. O autor de todos os sacramentos não é nenhum homem, mas Deus somente. Os homens não podem instituir sacramentos. Estes fazem parte do culto de Deus. E não é da competência do homem estabelecer e prescrever o culto de Deus, mas receber e preservar o que por Deus foi entregue. Além disso, os símbolos têm juntas as promessas que requerem fé. E a fé se apóia exclusivamente na Palavra de Deus; e a Palavra de Deus assemelha-se a escritos ou cartas, e os sacramentos a selos, que somente Deus coloca nas cartas.

Cristo ainda opera nos sacramentos. E sendo Deus o autor dos sacramentos, assim ele continuamente opera na Igreja, em que os sacramentos são devidamente celebrados; de modo que os fiéis, quando recebem dos ministros os sacramentos, reconhecem que Deus opera em sua própria instituição, e portanto, recebem os sacramentos como da mão do próprio Deus; e os defeitos do ministro (ainda que sejam muito grandes) não podem prejudicá-lo, se eles reconhecem que a integridade dos sacramentos depende da instituição do Senhor.

Deve-se distinguir entre o autor e o ministro dos sacramentos. Por conseguinte, na administração dos sacramentos distinguem eles, também claramente, entre o Senhor mesmo e o ministro do Senhor, confessando que a substância dos sacramentos lhes é dada pelo próprio Senhor e os símbolos pelos ministros do Senhor.

A essência ou coisa principal nos sacramentos. Mas, a coisa principal que Deus propõe em todos os sacramentos e para a qual todos os piedosos de todos os tempos voltam a atenção que outros chamam substância e matéria nos sacramentos é Cristo o Salvador, o sacrifício único, o Cordeiro de Deus morto desde a fundação do mundo, a rocha, também, da qual todos os nossos pais beberam, por quem todos os eleitos são circuncidados não por mãos, pelo Espírito Santo, e são lavados de todos os seus pecados e alimentados com o próprio corpo e sangue de Cristo para a vida eterna.

Semelhança e diferença dos sacramentos do velho e do novo povo de Deus. Com respeito ao que é o principal e a própria matéria, os sacramentos de ambos os povos são iguais. Pois Cristo, o único Salvador e Mediador dos fiéis, é o principal elemento e a própria substância dos sacramentos em ambos; porquanto o mesmo Deus é o autor dos dois sacramentos.

Eles foram dados aos dois povos como sinais e selos da graça e das promessas de Deus, para que tragam à mente e renovem a lembrança dos grandíssimos benefícios de Deus e para que distinguissem os fiéis de todas as outras religiões do mundo; finalmente, para que fossem recebidos espiritualmente pela fé e ligassem à Igreja os participantes, e os lembrassem dos seus deveres. Nesses e em outros pontos semelhantes digo que os sacramentos de ambos os povos não são diferentes como parecem, embora exteriormente o sejam. E, na verdade. no que diz respeito aos sinais, fazemos uma maior distinção. Os nossos são mais firmes e mais duradouros, visto que nunca serão mudados até o fim do mundo. Mais ainda, os nossos testificam que tanto a substância como a promessa foram cumpridas ou consumadas em Cristo; os anteriores significavam o que estava para ser cumprido. Os nossos são também, mais simples e menos complicados, menos pomposos e menos envolvidos com cerimônias. E ainda mais, pertencem a um povo mais numeroso, disperso por toda a face da terra. E, porque são mais excelentes e pelo Espírito Santo despertam maior fé, resultam ainda, em maior abundância do Espírito.

Nossos sacramentos sucedem aos antigos, que foram abolidos. Certamente, visto que Cristo, o verdadeiro Messias, nos é apresentado e a abundância da graça é derramada sobre o povo do Novo Testamento, os sacramentos do velho povo de Deus foram abolidos e cessaram; e em seu lugar colocaram-se os símbolos do Novo Testamento - o Batismo em lugar da Circuncisão, a Ceia do Senhor em lugar do Cordeiro Pascal e dos sacrifícios.

Em que consistem os sacramentos. E como outrora os sacramentos consistiam da palavra, do sinal e da coisa significada, assim também agora eles se compõem, por assim dizer, dessas mesmas partes. Pois, a Palavra de Deus os faz sacramentos, o que antes não eram. A consagração dos sacramentos. São consagrados pela Palavra e declarados santificados por aquele que os instituiu. Santificar ou consagrar uma coisa a Deus é dedicá-la a usos sagrados isto é, retirá-la do uso comum ou profano e destiná-la a uso sagrado, pois, os sinais nos sacramentos se derivam do uso comum, de coisas externas e visíveis. No Batismo, o sinal externo é o elemento da água e a ablução visível, feita pelo ministro; a coisa significada é a regeneração e purificação de pecados. Na Ceia do Senhor, o sinal externo é o pão e o vinho, tomados do uso comum do comer e do beber; a coisa significado é o corpo do Senhor que foi entregue, e seu sangue vertido por nós, ou a comunhão do corpo e do sangue do Senhor. Por isso, a água, o pão, o vinho, segundo sua natureza e à parte da instituição divina e do uso sagrado, são somente aquilo que são chamados, e que experimentamos. Mas, quando a Palavra do Senhor lhes é acrescentada, com a invocação do nome divino e a renovação de sua primeira instituição e santificação, então esses sinais são consagrados e se mostram santificados por Cristo. A primeira instituição de Cristo e a consagração dos sacramentos permanece sempre eficaz na Igreja de Deus, de tal modo que aqueles que celebram os sacramentos, não de modo diferente daquele que o Senhor mesmo estabeleceu desde o princípio, ainda hoje desfrutam daquela primeira e sobre-excelente consagração. E por isso, na celebração dos sacramentos, são repetidas as próprias palavras de Cristo.

Os sinais recebem o nome das coisas significadas. Porque aprendemos da Palavra de Deus que estes sinais foram instituídos para outro fim, diverso do uso comum, ensinamos que eles agora, em seu santo uso, assumem em si os nomes das coisas significados e não são mais chamados apenas água, pão ou vinho, mas também, regeneração ou o lavar com água e o corpo e sangue do Senhor, ou símbolos e sacramentos do corpo e sangue do Senhor. Não que os símbolos se transformem nas coisas significados ou cessem de ser o que são por sua natureza. Pois de outro modo não poderiam ser sacramentos. Se fossem apenas a coisa significado, não seriam sinais.

A união sacramental. Portanto, os sinais adquirem os nomes das coisas, porque são símbolos místicos de coisas sagradas, e porque os sinais e as coisas significados estão sacramentalmente ligados; ligam-se, digo, ou unem-se pela significação mística e pela vontade e conselho daquele que instituiu os sacramentos. A água, o pão e o vinho não são sinais comuns, mas sagrados. E aquele que instituiu a água no batismo não a instituiu com a vontade e intenção de que os fiéis apenas fossem aspergidos pela água do batismo; e aquele que mandou comer o pão e beber o vinho na ceia não queria que os fiéis recebessem apenas pão e vinho sem qualquer mistério, da maneira como comem pão em suas casas, mas, que participassem espiritualmente das coisas significados, sendo pela fé verdadeiramente lavados de seus pecados e participantes de Cristo.

As seitas. Portanto, não podemos absolutamente aprovar os que atribuem a santificação dos sacramentos a não sei que propriedades e fórmulas ou ao poder de palavras pronunciadas por alguém que é consagrado e o que tem a intenção de consagrar, ou por outros acidentes quaisquer, que nem Cristo nem os apóstolos nos entregaram por palavras ou exemplo. Nem aprovamos tampouco a doutrina daqueles que falam dos sacramentos apenas como sinais comuns, não santificados nem eficazes. Nem aprovamos os que desprezam o aspecto visível dos sacramentos por causa do invisível, e assim crêem que os sinais são supérfluos porque pensam que já gozam as próprias coisas significados, como dizem que os messalianos sustentavam.

A coisa significada não está incluída nos sacramentos nem a eles ligada. Não aprovamos a doutrina daqueles que ensinam que a graça e as coisas significadas estão de tal modo ligadas aos sinais e neles incluídas que, todos aqueles que participarem externamente dos sinais, não importando que espécie de pessoas sejam, são também interiormente participantes da graça e das coisas significados.

No entanto, como não julgamos o valor dos sacramentos pela dignidade ou indignidade dos ministros, assim também não os avaliamos pela condição daqueles que os recebem. Pois, sabemos que o valor dos sacramentos depende da fé e da veracidade e exclusiva bondade de Deus. Assim como a Palavra de Deus permanece a verdadeira Palavra de Deus que, em sendo pregada, não são meras palavras repetidas, mas ao mesmo tempo, as coisas significadas ou anunciadas em palavras são oferecidas por Deus, embora os ímpios e incrédulos as ouçam e compreendam, contudo não aproveitam as coisas significadas, porque não as recebem pela verdadeira fé, assim os sacramentos, que pela Palavra consistem de sinais e de coisas significadas, continuam sendo sacramentos verdadeiros e invioláveis, significando não somente coisas sagradas mas, pelo oferecimento de Deus, as próprias coisas significadas, embora os incrédulos não percebam as coisas oferecidas. Neste caso, a culpa não é de Deus que as dá e as oferece, mas dos homens que as recebem sem fé e de modo ilegítimo, cuja incredulidade, porém, não invalida a fidelidade de Deus (Rom 3.3 ss).

O fim para o qual os sacramentos foram instituídos. Desde que o fim para o qual os sacramentos foram instituídos foi também explanado, de passagem, quando logo no começo de nossa exposição se mostrou o que eles são, não há necessidade de se fazer a repetição molesta daquilo que já foi dito. Conseqüentemente, portanto, falaremos agora, separadamente, dos sacramentos do novo povo.
quarta-feira, 2 de outubro de 2013
“Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?” (Is 5.4)

Algumas passagens bíblicas são tidas como inexplicáveis à luz do entendimento calvinista. Eu as chamo de “versículos arminianos” ou anticalvinistas. Certamente que vários calvinistas fizeram exegese dessas passagens, com grande êxito, diga-se. Sendo assim, ao considerá-las não pretendo preencher alguma lacuna, nem intenciono oferecer uma análise melhor, apenas expressar meu entendimento delas.

No caso de Isaías 5:4, a primeira coisa a ser feita é descobrir é “problema calvinista”, se é que ela apresenta algum. Considerando o verso isoladamente, ele não oferece dificuldade ao esquema calvinista. Senão vejamos. A depravação total não é negada, pelo contrário, a vinha produziu “uvas bravas”. Não trata da eleição soberana, nem da redenção particular. Se alguma tentativa de levantar versículo como objeção ao calvinismo, deve ser quanto à graça irresistível e a perseverança dos santos. Mas será que temos um problema real aqui?

A graça eficaz significa que nos eleitos a graça de Deus vence a resistência do homem, não por força violenta, mas renovando sua vontade e o inclinando às coisas de Deus. A doutrina da preservação dos santos diz que um regenerado será guardado pelo poder de Deus de modo a ser certamente salvo no final. Para que essas duas doutrinas sejam negadas pela passagem em apreço, a vinha referida na parábola deve ser eleita, ter sido regenerada e perdido a salvação no final. Vejamos se é o caso.

A explicação da parábola diz que “a vinha do SENHOR dos Exércitos é a casa de Israel, e os homens de Judá são a planta dileta do SENHOR; este desejou que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor” (Is 5.7). Porém, devemos considerar que “nem todos os de Israel são, de fato, israelitas” (Rm 9.6). Poucos versos antes o Senhor se refere aos “de Israel que forem salvos” (Is 4:2), dizendo que “os restantes de Sião e os que ficarem em Jerusalém serão chamados santos; todos os que estão inscritos em Jerusalém, para a vida” (Is 4.3). Não são todos os de Israel que serão salvos, pois “no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o SENHOR prometeu; e, entre os sobreviventes, aqueles que o SENHOR chamar” (Jl 2.32). Desses que foram inscritos para a vida e chamados pelo Senhor se diz que “o que escapou da casa de Judá e ficou de resto tornará a lançar raízes para baixo e dará fruto por cima” (Is 37.31), o fruto requerido pelo Vinhateiro.

A falibilidade da graça é alegada sob o falso argumento de que Deus fez tudo o que podia ser feito para salvar Israel. “Que mais se podia fazer ainda à minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a produzir uvas bravas?” (Is 5.4). O que o Senhor estava dizendo era que no juízo, e é disso que se trata a parábola, Israel não poderia alegar que não produziu justiça por falta de condições adequadas. Ela produziu uvas bravas não por que a terra era ruim, mal preparada, tomada por pragas e vítima de invasões, mas porque era uma árvore má, pois “não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons” (Mt 7.18), por melhor adubada que seja. E Deus tratou Israel com distinguido cuidado. “São israelitas. Pertence-lhes a adoção e também a glória, as alianças, a legislação, o culto e as promessas; deles são os patriarcas, e também deles descende o Cristo, segundo a carne” (Rm 9.4–5). De Israel, mais do que qualquer outro povo sobre a terra, era justo esperar “que exercessem juízo, e eis aí quebrantamento da lei; justiça, e eis aí clamor” (Is 5.7). Mas afirmar que Deus não tinha poder para fazer mais é desonrar o Onipotente Senhor.

O juízo “tirarei a sua sebe, para que a vinha sirva de pasto; derribarei o seu muro, para que seja pisada” (Is 5.5) não implica perda da salvação, pelo fato já referido de que Israel não foi eleito como nação étnica para a salvação. Portanto, é desnecessário responder à objeção de que a parábola nega a segurança eterna dos salvos. Farei apenas a citação de uma passagem do Novo Testamento que corrobora o que foi dito anteriormente e deixa claro que o abandono da vinha por parte do Senhor não significa que os eleitos e eficazmente chamados perdem a salvação recebida e garantida gratuitamente:

“Deus não rejeitou o seu povo, a quem de antemão conheceu. Ou não sabeis o que a Escritura refere a respeito de Elias, como insta perante Deus contra Israel, dizendo: Senhor, mataram os teus profetas, arrasaram os teus altares, e só eu fiquei, e procuram tirar-me a vida. Que lhe disse, porém, a resposta divina? Reservei para mim sete mil homens, que não dobraram os joelhos diante de Baal. Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça. E, se é pela graça, já não é pelas obras; do contrário, a graça já não é graça. Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos” (Rm 11.2–7). 

Soli Deo Goria 
terça-feira, 1 de outubro de 2013
Aiden Wilson Tozer (1897 - 1963)
A aspiração por ver a Cristo que queimava o peito daqueles primeiros cristãos parece ter-se queimado toda. Tudo que resta são cinzas. É precisamente o "anseio" e o "desvanecimento" pelo retorno de Cristo que distingue entre a esperança pessoal e a teológica. O mero conhecimento da doutrina correta é pobre substituto de Cristo, e a familiaridade com a escatologia do Novo Testamento nunca tomará o lugar do desejo inflamado de amor de fitar Sua face.

Se o ardoroso anelo desapareceu da esperança do advento hoje, deve haver razão para isto; acho que sei qual é, ou quais são, pois há um bom número delas. Uma é simplesmente que a teologia fundamentalista popular tem dado ênfase à utilidade da cruz, e não à beleza dAquele que nela morreu. A relação do salvo com Cristo é apresentada como contratual, em vez de pessoal. Tem-se acentuado tanto a "obra" de Cristo, que esta eclipsou a pessoa de Cristo. Permitiu-se que a substituição tomasse o lugar da identificação. O que Ele fez por mim parece mais importante do que o que Ele é para mim. Vê-se a redenção como uma transação de negócio direto que "aceitamos"; e à coisa toda fica faltando conteúdo emocional. Temos de amar muito a alguém, para ficarmos despertos esperando a sua vinda, e isso talvez explique a ausência de vigor na esperança do advento entre aqueles que ainda crêem nela.

Outra razão da ausência de real anseio pelo retorno de Cristo é que os cristãos se sentem tão bem neste mundo que têm pouco desejo de deixá-lo. Para os líderes que regulam o passo da religião e determinam o seu conteúdo e a sua qualidade, o cristianismo tornou-se afinal notavelmente lucrativo. As ruas de ouro não exercem atração muito grande sobre aqueles que acham fácil amontoar ouro e prata no serviço do Senhor cá na terra. Todos queremos reservar a esperança do céu como uma espécie de seguro contra o dia da morte, mas enquanto temos saúde e conforto, por que trocar um bem que conhecemos por uma coisa a respeito da qual pouco sabemos? Assim raciocina a mente carnal, e com tal sutileza que dificilmente ficamos cientes disso.

Outra coisa; nestes tempos a religião passou a ser uma brincadeira boa e festiva neste presente mundo, e, por que ter pressa quanto ao céu, seja como for? O cristianismo, contrariamente ao que alguns pensaram, é forma diversa e mais elevada de entretenimento. Cristo padeceu todo o sofrimento. Derramou todas as lágrimas e carregou todas as cruzes; temos apenas que desfrutar os benefícios das suas dores em forma de prazeres religiosos modelados segundo o mundo e levados adiante em nome de Jesus. É o que dizem pessoas que ao mesmo tempo afirmam que creem na segunda vinda de Cristo.

A história revela que os tempos de sofrimento da igreja têm sido igualmente tempos de alçar os olhos. A tribulação sempre deu sobriedade ao povo de Deus e o encorajou a buscar e a esperar ansiosa¬mente o retorno do seu Salvador. A nossa presente preocupação com este mundo pode ser um aviso de amargos dias por vir. Deus fará com que nos desapeguemos da terra de algum modo — do modo fácil, se possível; do difícil, se necessário. 

É a nossa vez.

A. W. Tozer
In: O melhor de A. W. Tozer