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domingo, 29 de abril de 2007
A obra preservadora de Deus necessita ser diferenciada da obra da criação, ainda que sejam inseparáveis. A preservação é uma obra divina grande e grandiosa, não menor do que criar novas coisas do nada. A criação produz a existência; a preservação é persistência na existência. A providência é conhecida por todas as pessoas de alguma forma, ainda que não como o cuidado misericordioso e amoroso de um Pai Celestial. A providência não é meramente presciência, mas envolve a vontade ativa de Deus governando todas as coisas e inclui a preservação, a concorrência e o governo. A noção de concorrência foi desenvolvida para se prevenir do Panteísmo por um lado, e do Deísmo por outro. No primeiro, a providência coincide com o curso da natureza como uma necessidade cega; no último, a providência acontece por pura casualidade e Deus é removido do mundo. Dessa forma, se intenta exaltar a autonomia humana; para que a humanidade tenha liberdade, Deus deve estar ausente ou ficar sem poder. A soberania de Deus é vista como uma ameaça para a humanidade.

Ainda que a doutrina da providência de Deus cubra de maneira lógica o alcance total de todos os decretos de Deus, estendendo-se a todos os tópicos cobertos na dogmática, é preferível limitar a discussão à relação de Deus com Sua criação e Suas criaturas. A providência inclui o cuidado de Deus através da causalidade secundária de ordem da lei criada, tal e como Ele o sustenta. Assim, pois, o milagre não é uma violação da lei natural, posto que Deus não está menos envolvido em manter a ordem ordinária do mundo natural criado. É o elevado respeito que o Cristianismo tem pela ordem natural da criação que alentou a ciência e a tornou possível.

A postura Cristã para com a ordem da criação nunca é um fatalismo; a astrologia é superstição vergonhosa. A providência de Deus não anula as causas secundárias ou a responsabilidade humana. O governo aponta para a meta final da providência: a perfeição do governo majestoso do Rei. Ainda que seja correto em certas ocasiões falar em “permissão” divina, esta não deve ser interpretada de tal maneira que negue a soberania ativa de Deus sobre o pecado e o juízo. Ainda que sobrem enigmas para o entendimento humano da providência, esta doutrina oferece consolação e esperança ao crente. Deus é o Pai Todo-Poderoso: Ele é capaz, e está desejoso, de fazer com que todas as coisas cooperem para o nosso bem.

Quando Deus completou a obra que tinha feito, Ele descansou no sétimo dia de toda Sua obra (Gênesis 2:2; Êxodo 20:11; 31:17). Desta maneira, a Escritura descreve a transação da obra da criação para obra da preservação. Como a Escritura também esclarece (Isaías 40:28), este descanso não foi ocasionado por fatiga, nem consistia em que Deus estava ali fazendo nada. O criar, para Deus, não é trabalho, e o preservar não é descanso. O “descanso” de Deus indica unicamente que Ele cessou de produzir novas classes de coisas (Eclesiastes 1:9,10); que a obra da criação, no sentido limitado e verdadeiro de produzir coisas do nada (productio rerum ex nihilo), havia terminado; e que Ele se deleitava em Sua obra completada com satisfação divina (Gênesis 1:31; Êxodo 31:17; Salmos 104:31). [1] A criação agora passa a ser preservação.

As duas coisas são tão fundamentalmente distintas que podem ser comparadas como labor e descanso. Ao mesmo tempo estão tão intimamente relacionadas e unidas uma a outra, que a própria preservação pode ser chamada “criação” (Salmos 104:30; 148:5; Isaías 45:7; Amós 4:13). A própria preservação, no final das contas, é também uma obra divina, não menor e nem menos gloriosa do que a criação. Deus não é um Deus ocioso (deus otiosus). Ele sempre trabalha (João 5:17) e o mundo não tem existência por si mesmo. Desde o momento que chegou a existir, tem existido somente em e através e para Deus (Neemias 9:6; Salmos 104:30; Atos 17:28; Romanos 11:36; Colossenses 1:15; Hebreus 1:3; Apocalipse 4:11). Ainda que distinto do Seu Ser, não tem uma existência independente; a independência equivale à não-existência. Todo o mundo com tudo o que há e ocorre nele, está sujeito ao governo divino. O verão e o inverno, o dia e a noite, os anos frutíferos e os não frutíferos, a luz e as trevas — tudo é Sua obra e tudo é formado por Ele (Gênesis 8:22; 9:14; Levítico 26:3ss; Deuteronômio 11:12ss; Jó 38; Salmo 8, 29, 65, 104, 107, 147; Jeremias 3:3; 5:24; Mateus 5:45, etc.). A Escritura nada conhece de criaturas independentes; isso seria uma incongruência. Deus cuida de todas as Suas criaturas: dos animais (Gênesis 1:30; 6:19; 7:2; 9:10; Jó 38:41; Salmos 36:7; 104:27; 147:9; Joel 1:20; Mateus 6:26, etc.) e particularmente dos seres humanos. Ele contempla todas elas (Jó 34:21; Salmos 33:13, 14; Provérbios 15:3); forma o coração de todas elas e observa todos os seus feitos (Salmos 33:15; Provérbios 5:21); todas elas são a obra de Suas mãos (Jó 34:19), o rico tanto quanto o pobre (Provérbios 22:2). Ele determina os limites de Sua habitação (Deuteronômio 32:8; Atos 17:26), inclina os corações de todos (Provérbios 21:1), dirige os passos de todos (Provérbios 5:21; 16:9; 19:21; Jeremias 10:23, etc.), e opera, segundo Sua vontade, com os exércitos do céu e os habitantes da terra (Daniel 4:35). Eles são em Sua mão como barro nas mãos do oleiro, e como uma serra na mão de quem a usa (Isaías 29:16; 45:9; Jeremias 18:5; Romanos 9:20, 21).

O governo providencial de Deus se estende mui particularmente sobre Seu povo. Toda a história dos patriarcas, de Israel, da Igreja, e de cada crente, é prova disto. O que outras pessoas explicam como sendo um mau contra elas, Deus o transforma em bem (Gênesis 50:20; nenhuma arma forjada contra eles prosperará (Isaías 54:17); até o cabelo de sua cabeça estão todos contados (Mateus 10:20); todas as coisas cooperam para o seu bem (Romanos 8:28). Assim, todas as coisas criadas existem pelo poder e debaixo do governo de Deus; nem a casualidade nem a sorte são conhecidas pelas Escrituras (Êxodo 21:13; Provérbios 16:33). É Deus quem faz com que todas as coisas operem segundo o conselho de Sua vontade (Efésios 1:11) e faz com que todas as coisas estejam ao serviço da revelação de Seus atributos, para a honra de Seu nome (Provérbios 16:4; Romanos 11:36). A Escritura resume tudo isto de maneira formosa ao falar repetidamente de Deus como um Rei que governa todas as coisas (Salmos 10:16; 24:7, 8; 29:10; 44:5; 47:7; 74:12; 115:3; Isaías 33:22, etc.). Deus é Rei: o Rei dos rei e Senhor dos senhores; um Rei que em Cristo é um Pai para Seus súditos e um Pai que é ao mesmo tempo um Rei sobre Seus filhos. Entre as criaturas, no mundo dos animais, os humanos e os anjos, tudo o que se encontra na forma de cuidado, amor e proteção de uns para com outros, é uma sombra leve da ordem providencial de Deus sobre todas as obras de Suas mãos. Seu poder absoluto e Seu perfeito amor, por conseguinte, são o verdadeiro objeto da fé na providência refletida na Sagrada Escritura.


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NOTAS:

[1] - Agostinho, A Cidade de Deus, XI, 8, XII, 17; idem, O Significado Literal de Gênesis, IV, 8ss.; P. Lombardo, Sent.,II, dist. 15; T. Aquino, Summa Theol., I, qu. 73; J. Calvino, Comentário de Gênesis, trad. por J. King (Grand Rapids: Baker, 1979), 103-5 (sobre Gênesius 2:2); J. Zanchi, Op. Theol., III, 537.

Extraído de “Dogmática Reformada”, de Herman Bavinck. Traduzido para o espanhol por Donald Herrera Terán. Fonte: www.monergismo.com
segunda-feira, 9 de abril de 2007
"Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? - diz o SENHOR; eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel". Jeremias 18.6

No presente, existe grande controvérsia a respeito da vontade de Deus. Sobre este assunto surgem muitas perguntas. A principal delas refere-se à conexão entre a vontade de Deus e a vontade do homem. Qual a relação entre elas? Qual a ordem que uma ocupa em relação a outra? Qual delas está em primeiro lugar?

Não existe qualquer debate sobre a existência dessas duas vontades. Deus possui uma vontade, e, igualmente, o homem. Elas se encontram em constante exercício - Deus quer, e o homem quer. Nada ocorre no universo sem a vontade de Deus. Todos admitem isso; mas surge a pergunta: a vontade de Deus é o primeiro fator em todas as coisas? Eu respondo "sim". Não pode haver qualquer coisa boa que Deus não desejou que existisse; não pode haver qualquer coisa má que Deus não desejou permitir.

A vontade de Deus vem antes de todas as outras vontades. Aquela não depende destas, mas estas dependem daquela. O exercício da vontade de Deus regula as outras vontades. O "Eu quero" de Jeová é aquilo que põe em atividade todas as coisas no céu e na terra; é a fonte e a origem de tudo que, grande ou pequeno, ocorre no universo, entre as coisas animadas ou inanimadas. Este "Eu quero" trouxe os anjos à existência e os sustem até agora. Este "Eu quero" originou a salvação para um mundo perdido, providenciou um Redentor e realizou a redenção. Este "Eu quero" começa, desenvolve e conclui a salvação de cada alma redimida; abre os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos; desperta aquele que dorme e ressuscita os mortos.

Horatius Bonar

sexta-feira, 6 de abril de 2007
Quer a Lei, João: "Vai logo, anda!".
Mas nem pés, nem mãos a Lei te manda.
Melhor nova no Evangelho há:
faz alçar vôo, e as asas dá.

(John Bunyan, tradução Fabiani Medeiros)
quinta-feira, 5 de abril de 2007
Amado irmão,

Visto que por sua excelente doutrina e maravilhosa graça em falar tem merecido (e com toda justiça) ser tido em grande admiração e estima entre os sábios de nosso tempo, me desgostaria sobremaneira ver-me obrigado por esta minha réplica e queixa (que agora poderá escutar) a tocar publicamente, ainda que sem ferir, este seu bom nome e reputação.

"Tenho aversão pelas idéias de Calvino"

A respeito de minha doutrina, ensinei fielmente e Deus me deu a graça de escrever. Fiz isso de modo mais fiel possível e nunca corrompi uma só passagem das Escrituras, nem conscientemente as distorci. Quando fui tentado a requintes, resisti à tentação e sempre estudei a simplicidade. Nunca escrevi nada com ódio a alguém, mas sempre coloquei fielmente diante de mim o que julguei ser a glória de Deus.

"Se ele fosse meu contemporâneo, eu o amaria com amor cristão, mas seria seu ferrenho opositor e o resistiria na cara, como Paulo resistiu ao apóstolo Pedro na cara, quando por um instante este último se tornou repreensível (Gálatas 2:11)."

Onde os homens amam a disputa, estejamos plenamente certos de que Deus não está reinando ali.

"Bom, quero explicar meu problema com Calvino"

Só porque afirmo e mantenho que o mundo é dirigido e governado pela secreta providência de Deus uma multidão de homens se ergue contra mim alegando que apresento Deus como sendo o autor do pecado.


"A Bíblia, a Palavra escrita de Deus serve-nos para que todo homem conheça o coração de Deus, que é puro amor."


Não será bastante que formulemos uma vaga idéia de Deus, senão que que temos que discernir quem é o Deus verdadeiro. Que proveito teríamos em inventar um ídolo, e em seguida atribuir-lhe a glória divina? Não podemos compreender plenamente a Deus em toda a sua grandeza, mas há certos limites dentro dos quais os homens devem manter-se, embora Deus acomode à nossa tacanha capacidade toda declaração que Ele faz de si mesmo. Portanto, somente os estultos é que buscam conhecer a essência de Deus.

"Está escrito que Ele é Amor, todavia Calvino não enxergou isto, não alcançou isto, e criou ensinos frios, gelados e de uma profunda insensibilidade"

O amor que Deus nutre por nós é sem paralelo. Não há nada no mundo inteiro que nos faça cair em desespero, seja o que for e seja qual for a oposição que se nos faça, se estivermos plenamente persuadididos de sermos amados por Deus. Deus jamais encontrará em nós algo digno do seu amor, senão que Ele nos ama porque é bondoso e misericordioso. Que outra coisa poderá Deus encontrar em nós, que o induza a amar-nos, a não ser aquilo que Ele já nos deu?

Deve observar-se que somos convidados ao conhecimento de Deus, não àquele que, contente em vã especulação, simplesmente voluteia no cérebro, mas àquele que, se é de nós retamente percebido e finca pé no coração, haverá de ser sólido e frutuoso. Ora, nosso saber não deve ser outra cousa senão abraçar com branda docilidade e, certamente sem restrição, tudo quanto foi ensinado nas Santas Escrituras. Só conhecemos verdadeiramente a Deus em nossa alma quando nos rendemos a ele, quando nos submetemos à Sua autoridade e quando os seus preceitos e mandamentos regulam todos os pormenores de nossa vida.


"Calvino jamais descortinou o coração de Deus. Passou longe dele."


Deus, ao criar o homem, deu uma demonstração de sua graça infinita e mais que amor paternal para com ele, o que deve oportunamente extasiarnos com real espanto; e embora, mediante a queda do homem, essa feliz condição tenha ficado quase que totalmente em ruína, não obstante ainda há nele alguns vestígios da liberalidade divina então demonstrada para com ele, o que é suficiente para encher-nos de pasmo.

"Dizem que quem não tem um pai amoroso aqui na terra, tem dificuldade de entender o Pai Amoroso que temos no céu. Transferem o referencial da terra para o céu e Aquele Pai torna-se um Juiz com um enorme dedo apontando para a pessoa. Não sei se foi isso que aconteceu com Calvino, pois o Pai que ele descortinou na Palavra, é frio, insensível e até maldoso."

Com que confiança, de outra sorte, Pai chamaria alguém a Deus? Quem a isto de temeridade prorromperia, que a si usurpasse a honra do Filho de Deus, salvo se houvéssemos sido em Cristo adotados por filhos da graça, Cristo, que como seja o verdadeiro Filho, dado nos foi de Si próprio por irmão, para que o que próprio tem Ele de natureza nosso se faça por benefício de adoção, se com fé segura abraçarmos tão grande benevolência. O espantoso poder de Deus se exibe quando somos trazidos da morte para a vida e quando, sendo nós filhos do inferno, somos transformados em filhos de Deus e herdeiros da vida eterna.

Davi não podia descobrir nenhuma outra causa pela qual pudesse valer-se da paternidade divina, senão que Deus é bom, e desse fato segue-se não há nada que induza Deus receber-nos em seu favor senão o Seu próprio beneplácito. Embora a bondade divina às vezes se mantenha oculta e, por assim dizer, sepultada à vista humana, ela jamais poderá ser extinta.


"Se fosse um advogado de defesa e Calvino o promotor, derrotaria facilmente seus argumentos usando tão somente o profundo amor de Deus pelo homem, coroa de sua criação."

Orgulho e autoglorificação é a causa e o ponto de partida de todas as controvérsias, quando cada um, reinvindicando para si além de sua capacidade, está ávido para ter outros sob seu poder.

"Certa vez, estando numa cidade a negócios e tendo que passar o domingo por lá, peguei um táxi e pedi que o motorista dele me levasse numa 'igreja dos crentes'. O homem o fez (não é o caso de dizer em qual ele parou), entrei e sentei num dos últimos bancos. Enquanto orava de cabeça abaixada, alguém me tocou e amorosamente me levou mais para frente. Na pregação, na ausência do titular, um obreiro assumiu. Tropeçava no português e com certeza nunca fez uma faculdade de teologia. Mas...Pregou chorando do começo ao fim da palavra. Falou do amor de Deus pelo homem, descortinando de tal maneira Seu coração, que eu diria que, não ficou no meu coração o ensino, mas sim a profunda impressão. Ficou sentimento. Ficou aquela coisa de saber que se é profundamente amado pelo Pai."

O Espírito está unido à Palavra, porque, sem a eficácia do Espírito, a pregação do evangelho de nada adiantará, mas permanecerá estéril.

"De outra feita, fui à outra igreja em outra cidade, que também não é o caso de dizer o nome, mas por sinal, isto se pode dizer com certeza, uma das mais acirradas denominações seguidoras da doutrina calvinista. Sentei atrás e ninguém me tocou e nem me convidou para ir para frente. Aliás, nem notaram minha presença. O pregador? Um teólogo, o pastor titular. Meu Senhor, que frieza, que emaranhado de idéias! Que distância do coração de Deus."


Não existe nada de grandioso em alguém ser adepto de uma elocução fluente quando o tal nada emite senão sons vazios. É quase impossível exagerar o prejuízo causado pela pregação hipócrita, cujo único alvo é a ostentação e o espetáculo vazio. Os cristãos deveriam detestar aqueles que tem o evangelho nos lábios, mas não em seus corações.

"Não se trata de argumentos, mas de sentimentos. É questão de saber quem melhor interpretou ou ainda interpreta, não as palavras em si, mas os sentimentos de Deus manifestado nas palavras que Ele nos deixou."

De nenhum efeito é a Palavra sem a iluminação do Espírito Santo. O Espírito de Deus, de quem emana o ensino do evangelho, é o único genuíno intérprete para no-lo tornar acessível. É Ele que nos ilumina com Sua luz para nos fazer entender as grandezas da bondade de Deus, que em Jesus Cristo possuímos. Tão importante é o Seu ministério que com justiça podemos dizer que Ele é a chave com a qual são abertos para nós os tesouros do reino celestial, e que sua iluminação são os olhos do nosso entendimento, que nos habilitam a contemplar os mencionados tesouros.

"Ainda bem que a coisa não é com ele, e é por isso que vejo em cada ser humano, por mais miserável que seja a sua situação, um alvo certo do amor do meu Deus, que só não irá aos céus, se não quizer."

O acesso à salvação a ninguém é vetado, por mais graves e ultrajantes sejam os seus pecados. Deus tem no coração a salvação de todos os homens, porquanto Ele chama a todos os homens para o conhecimento de sua verdade. Visto que a pregação do evangelho traz vida, o apóstolo corretamente conclui que Deus considera a todos os homens como sendo igualmente dignos de participar da salvação.


Observemos aqui que a vontade humana é em todos os aspectos oposta à vontade divina, pois assim como há uma grande diferença entre nós e Deus, também deve haver entre a retidão e a depravação. Quando a alma se encontra envolta em desejos carnais, busca sua felicidade nas coisas desta terra. Pelo pecado estamos alienados de Deus.

Em toda a Escritura se faz evidente que não existe outra fonte de salvação exceto a graciosa mercê divina. É deveras verdade que é unicamente Deus que salva e que nem mesmo uma ínfima porção de Sua glória é transferida para os homens. Nossa salvação é dom de Deus, visto que emana exclusivamente dele e é efetuada unicamente pelo Seu poder, de modo que Ele é o seu único Autor.

Genebra, inverno de 1539.

Seu conservo em Cristo,

João Calvino
PS.: As respostas de Calvino foram retiradas de seus escritos.
domingo, 1 de abril de 2007
O que segue é uma resposta, por email, a um irmão que enviou um texto adventista que afirmava que o crente "uma vez salvo sempre salvo enquanto permanecesse salvo" (sic):
"Tenho acompanhado as "95 teses" de Morris L. Venden, não com a regularidade devida, pois por força da restrição de tempo, tenho pulado algumas, sempre com a promessa de depois lê-las todas no livro. Às vezes tenho pensando em responder algumas, mas sempre a pressão do tempo me impede. Porém, farei alguns comentários sobre a tese 44.

A começar pelo título, algo enganoso. Pois diz "a Bíblia ensina que..." para depois, já no primeiro parágrafo atribuir a frase a "um pregador da Igreja do Nazareno". Seria mais honesto Venden dizer logo de cara que o ensino é de um pregador de tradição wesleyana e que acredita achar suporte bíblico para ele. Mas ao tornar bíblica a frase dita por um pregador, deixa alguém que leu apenas o título em confusão.

Logo em seguida, mantendo o costume de caricaturizar a fé calvinista, o autor diz que um "vasto segmento do mundo cristão evangélico crê que tudo quanto é necessário para se salvar é acenar com a cabeça olhando para o Céu uma vez na vida". Se alguém ensina a salvação a partir de um aceno de cabeça, um levantar de mão ou um "ir para a frente", esse alguém não é um calvinista, mais provavelmente seja um arminiano inclinado aos métodos finneyanos de fazer apelos. O início e o que torna a salvação segura para todo o sempre é a regeneração, obra secreta e monergística do Espírito Santo no interior do homem. Na mesma linha de má representação da fé calvinista ele diz que ensinamos que "não importa que escolha faça, ou a direção de sua vida após o ponto de decisão inicial por Cristo" no final a pessoa estará salva. Se ele tivesse lido um pouco do autor do qual plagiou o título de seu livro, não afirmaria tal coisa.

O autor adventista lança mão de algumas escrituras na vã tentativa de provar a contradição "por enquanto salvo para sempre". Nenhum teólogo tem licença para ensinar uma doutrina que viole a lei da não contradição, pois a Bíblia não faz isso e não somos melhores nem temos mais liberdade que ela. A lei da não contradição afirma que "A não pode ser não-A". Então uma pessoa que está "salvo para sempre por enquanto" é tão absurdo e contraditório quanto um Deus eterno que morre. Mas vamos aos textos utilizados (Mt 24:12-13; Jo 15:6; Mt 22:13 e 2Tm 4:7-8) para ver se ensinam uma salvação "temporariamente eterna".

No evangelho de Mateus Jesus diz que "por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos" (Mt 24:12). Não podemos afirmar a partir dessa declaração de que os crentes tem uma salvação ambíguamente eterna e efêmera. Fala apenas que o amor "de quase todos" se esfriará, o que nos permite afirmar que o de alguns permanecerá "quente". No verso seguinte Jesus afirma que "aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo" (Mt 24:12). Interessante como muitos fazem uma leitura negativa de uma declaração positiva de Jesus. Ele afirma que os perseverantes serão salvos e se apressam em dizer que há alguns verdadeiros crentes de hoje não perseverarão amanhã. No mínimo, vão além da afirmação do Senhor. O que Jesus declara textualmente nessa passagem é que há alguns que a despeito do recrudescimento da iniquidade não esfriarão em seu amor, pelo contrário, perseverarão até o final. Mas quem são esses? Não precisamos ir longe, aliás, a resposta está no mesmo capítulo. Embora no tempo final "surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (Mt 24:24). Os que não esfriarão e perseverarão certamente são agora nominados: os eleitos. Num contexto de enganos e mentiras espirituais, eles não serão enganados. Ora, então os eleitos tem características especiais que faz com que não sejam enganados? Não, a sua segurança não está neles, está no Senhor que os escolheu. Pouco antes o Senhor havia dito "não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados" (Mt 24:22). O Senhor abreviará os dias para que nenhum que foi uma vez salvo venha a se perder, antes "Ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus" (Mt 24:31). Aleluia!

Eu reconheço a dificuldade de João 15 para a doutrina da preservação eterna da salvação do crente. Mas é uma dificuldade, e não uma impossibilidade. Jesus faz uma analogia de nossa união com Ele através da palavra "Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" (Jo 15:5). O princípio estabelecido é que a evidência de que se está ligado a Cristo é a produção de frutos. Se alguém não produz fruto, é por uma razão: "como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim" (Jo 15:4). O princípio firmemente estabelecido é: a) Se está em Cristo, produz frutos; b) Se não está em Cristo, não produz frutos. Segue-se que os que são cortados e lançados ao fogo são os que aparentavam, mas de fato não estavam unidos organicamente à videira verdadeira, pois se estivessem apresentariam o frutos resultantes dessa união. Um pouco mais adiante, no mesmo capítulo, o Senhor estabelece que o produzir frutos é resultado da sua escolha soberana ao dizer "não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça" (Jo 15:16). Finalmente, usar essa palavra para atemorizar os crentes com a ameaça da perda da salvação contraria a intenção do Senhor, que disse "tenho-vos dito estas coisas para que o meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo" (Jo 15:11). Se nossa segurança é tal como a dos anjos no céu, igual deve ser nossa alegria na terra.

Agora, utilizar Mateus 22 para infundir dúvida quanto à salvação eterna é o extremo da tentativa de fazer as Escrituras servas de nossos pressupostos. Já no início da parábola a má predisposição do homem para a salvação é declarada nas palavras "enviou os seus servos a chamar os convidados para as bodas; mas estes não quiseram vir" (Mt 22:3), palavras que acoam "não quereis vir a mim para terdes vida" (Jo 5:36). Na passagem paralela de Lucas, a chamada eficaz é declarada de forma cristalina, nas palavras "sai pelos caminhos e atalhos e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa" (Lc 14:23). A justificação pela graça somente é evidenciada nas expressões "Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa, notou ali um homem que não trazia veste nupcial" (Mt 22:11) e "perguntou-lhe: Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu" (Mt 22:12). O problema do sujeito não era que uma vez tinha sido salvo mas não havia perseverado. O problema dele era não estar vestindo a veste nupcial, que sendo fornecida pelo pai do noivo, representa a justiça de Cristo imputada ao crente quando de sua salvação. A aplicação que Jesus dá a todo o contexto, que vai do convinte geral para as bodas, passa pela rejeição natural dos homens, da introdução "forçada" de bons e maus, da tentativa de infiltração, ou seja, justificação própria e chegando ao juízo do que não estava vestido adequadamente é, mais uma vez, a eleição soberana: "porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos" (Mt 22:14). O sujeito lançado nas trevas exteriores não era um desviado, era um irregenerado. Ele era um dos muitos chamados, e não um dos poucos escolhidos.

Finalmente, a última passagem utilizada diz "Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda" 2Tm 4:7-8. Como tal passagem pode ser utilizada por um adventista para apoiar palavras de um metodista contra a promessa de que o Senhor guardaria seguro os seus é algo que não consigo entender, menos ainda explicar! Se ficássemos nesses dois versiculos apenas, diríamos que a coroa garantida não era apenas a de Paulo, mas a de "todos quantos amam a Sua vinda", ou seja, todos os crentes verdadeiros de todas as épocas! Paulo não se jactava de sua própria perseverança, mas confiava que "o Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial. A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!" (2Tm 4:18). Ele já havia dito na mesma carta que Deus "nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus, antes dos tempos eternos" (2Tm 1:9). Portanto, Paulo não escorava a sua salvação num esforço próprio para se manter fiel, mas cria que mesmo "se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo" (2Tm 2:13) por isso podia alegrar-se "na esperança da vida eterna que o Deus que não pode mentir prometeu antes dos tempos eternos" (Tt 1:2) aos "eleitos de Deus" (Tt 1:1).

O que dizer dos exemplos citados por Venden (Caim, Saul, Balaão e Judas Iscariotes)? Seriam eles exemplos de crentes verdadeiros? A Escritura diz que Caim "era do maligno" (1Jo 3:12), de Saul que "um espírito maligno o atormentava" (1Sm 16:14), Jesus dizia que Judas "é diabo" (Jo 6:70) e Balaão é visto por Pedro, Judas e João como desencaminhador dos filhos de Deus (2Pe 2:15; Jd 1:11 e Ap 2:14). Será que um que é do maligno, outro que é atormentado por espírito do mal, outro um verdadeiro diabo e ainda um último que é ensinador de idolatria é a idéia que Vanden faz de crentes verdadeiros? Não há na Bíblia exemplos melhores de crentes verdadeiros que pecaram contra Deus, foram restaurados e finalmente salvos por Deus? Há, e de caçambada!

Enfim, Venden conclui sua tese dizendo "ser salvo uma vez é importante. Continuar a aceitar a salvação é igualmente importante". Eu diria, ser salvo uma vez é obra de Deus na vida do crente. Continuar salvo é a continuação da obra de Deus. E ser levando salvo para a glória é a conclusão da obra de Deus. E por isso, com Paulo exclamamos em júbilo: "A ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!" 2Tm 4:18"