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sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
Enquanto ainda estava em L'Abri, aproximei-me de outro estudante e exigi que ele explicasse por que se convertera ao cristianismo. O rapaz pálido e magro, com forte sotaque sul-africano, apenas respondeu: "Eles venceram todos os meus argumentos".

Continuei olhando para ele de modo um pouco desdenhoso, esperando algo mais dramático. "Nem sempre é uma experiência emocional", acrescentou com um sorriso apologético. "Só vim para saber defender melhor o cristianismo, mais do que as outras idéias de quando cheguei aqui".

Era a primeira vez que encontrava alguém cuja conversão fora estritamente intelectual, e na ocasião nem me passou pela cabeça que minha conversão seria igual. De volta aos Estados Unidos, enquanto testava as idéias de Schaeffer em sala de aula, também lia as obras de C. S. Lewis, G. K. Chesterton, Os Guinness, James Sire e outros apologistas.

Mas, em meu interior, também tinha a fome de um jovem pela realidade, e certo dia apanhei o livro de David Wilkerson, A Cruz e o Punhal, e o li. Esta era uma história muito emocionante para satisfazer o gosto por drama; histórias de cristãos enfrentando, de modo corajoso, os bairros pobres e testemunhando libertações sobrenaturais de viciados em drogas. Empolgada pela esperança de que talvez Deus fizesse algo igualmente espetacular em minha vida, pedi-lhe naquela noite que, se Ele fosse real, me fizesse algum sinal sobrenatural — prometendo acreditar nEle, caso atendesse ao meu pedido. Pensando que este tipo de coisa funcionasse melhor com uma abordagem agressiva, prometi ficar acordada a noite inteira até que Deus me desse um sinal.

A meia-noite passou, depois uma hora, duas horas, quatro horas... Meus olhos estavam se fechando contra minha vontade, e ainda não ocorrera nenhum sinal espetacular. Por fim, bastante desgostosa por ter me engajado em tal atitude teatral exagerada, abandonei a vigília. E quando o fiz, de repente percebi que estava falando diretamente com Deus sobre as profundezas do meu espírito, sentindo a sua presença de maneira muito íntima. Reconheci que não precisava de sinais e maravilhas externos porque, do fundo do meu coração, tive de admitir (com decepção e pesar) que já estava convencida de que o cristianismo era verdadeiro. Pelas discussões em L'Abri e leituras sobre apologética, percebi que havia argumentos bons e suficientes contra o relativismo moral, o determinismo físico, o subjetivismo epistemológico e muitos outros "ismos" com os quais eu estivera enchendo a cabeça. Como dissera meu amigo sul-africano, todas as minhas idéias foram vencidas. O único passo que restava era reconhecer que eu fora convencida e, depois, entregar minha vida ao Senhor da verdade.

Assim, mais ou menos às 4h30min daquela manhã, admiti, em silêncio, que Deus vencera a discussão.

Nancy Pearcey
In: Verdade Absoluta
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Considerando que a maioria dos comentadores deste blog são cristãos que zelam por um linguajar condizente com o cristianismo que professam e contribuem com seus argumentos e contra-argumentos para uma melhor compreensão das verdades bíblicas, este blog não modera comentários antes de sua publicação e aceita postagens anônimas;

Considerando, contudo, que uns poucos comentadores, que não se portam como cristãos e não representam o catolicismo, protestantismo, arminianismo, calvinismo ou pentecostalismo, pelo contrário, envergonham aqueles que assumem uma dessas posições e as defendem aqui de forma educada, resolveram baixar a linguagem dos debates para níveis inaceitáveis num ambiente cristão, os comentários do blog passarão a ser moderados;

Considerando o fato gerador dessa medida, excluirei todos os comentários que contenham termos ofensivos;

Contudo, esta medida será adotada de forma excepcional e tão logo as ofensas gratuitas cessem, sem aviso prévio os comentários voltarão a ser postados sem moderação.

É lamentável que tenhamos chegado a esse ponto.
Muitas vezes me perguntei por que, na grande sabedoria previdente de Deus, o início do pecado não foi impedido; pois assim, pensava, tudo teria acabado bem. Então o Senhor disse: "o pecado tem um papel a desempenhar, mas tudo acabará bem".

Depois disso, o Senhor lembrou-me dos anelos que eu tinha por ele antecipadamente, e eu vi que nada me impedia de avançar, exceto o pecado. Olhei então para o resto da humanidade e pensei: "se não fosse o pecado, todos seríamos puros como o nosso Senhor, exatamente como ele na origem nos criou".

Assim, na minha loucura,  muitas vezes me perguntava por que  a grande sabedoria previdente de Deus não impedia o pecado de entrar no mundo; pois assim, pensava, tudo estaria bem. No entanto, essa linha de raciocínio levava apenas a lamentações e tristeza, mas não a uma solução do problema, e por isso eu deveria abandoná-la.

Mas Jesus revelou-me tudo o que eu precisava entender, e aqui está o que ele disse: "o pecado tem um papel a desempenhar no meu plano, mas tudo estará bem, tudo estará bem, todas as coisas estarão bem".

Com essa palavra nua, pecado, nosso Senhor trouxe-me à mente tudo o que é ruim e vergonhoso, a total maldade que Ele carregou por nós tanto no espírito como no corpo ao longo de Sua vida, paixão e morte. Tudo isso me foi mostrado num momento, pois nosso Senhor não quis assustar-me com essa terrível visão.

Assim, o sofrimento tem duração definida. Seu papel é purificar-nos, fazer com que conheçamos a nós mesmos e levar-nos até o Senhor para implorar misericórdia. A paixão de nosso Senhor e o conhecimento de que a sua vontade de fato será feita nos dão forças para suportar tudo isso.

Juliana de Norwich
In: Revelações do amor de Deus
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
A árvore que tem as raízes mais fracas e menos profundas são as que balançam mais e que caem primeiro. Quanto mais profundas forem as raízes, maior será o crescimento. O edifício que não tiver um alicerce profundo, logo será abalado e derrubado. Cristo é o nos­so alicerce; e é a humilhação que cava profundamente e o estabelece em nosso coração. 

O orgulho sempre foi tido como o primeiro ou principal pecado do diabo. Eu estou certo de que foi o orgulho foi a causa da sua condenação. O orgulho de nossos primeiros pais, pre­tendendo ser com deuses quanto ao conhecimento, foi a porta de entrada de todo o nosso pecado e miséria; e o tentador continua a insistir no mesmo caminho pelo qual foi tão bem sucedido. É o orgulho que, como uma tempestade, lançou o mundo no furor, contenda e confusão em que se encontra. Foi o orgulho que encheu a igreja com divisões; e é o orgu­lho que causa a apostasia da maioria dos que se apartam da fé. Quanto mais o homem tem dele, menos consegue discerni-lo e menos o odeia e lamenta. 

Embora pudéssemos pensar que recém-convertidos e crentes fracos, os quais têm pouco do que se orgulhar, estivessem fora do perigo dessa tentação, a experiência nos mostra que são eles que caem nela, mais do que crentes mais sábios e fortes, os quais teriam mais em que se gloriar. Pois quanto mais o homem cresce em sabedoria, mais reconhece sua indignidade, inutilidade, igno­rância e pecados os mais variados. Quanto mais eles conhecem da santidade e do zelo de Deus, mais conhecem da pecaminosidade do pecado e da abundância do conhecimento da graça ainda por conhecer; de modo que, quanto maior for a santa sabedoria e experiência, menor será o orgulho. 

Richard Baxter
Conselhos a crentes fracos
Nós vivemos em um mundo estranho, um mundo que nos apresenta tremendos contrastes. O alto e o baixo, o grande e o pequeno, o sublime e o ridículo, o bonito e o feio, o trágico e o cômico, o bem e o mal, a verdade e a mentira; tudo isso é encontrado em um inter-relacionamento insondável. A seriedade e a vaidade da vida se agarram a nós. Em um momento nós estamos inclinados ao otimismo, e no momento seguinte ao pessimismo. O homem que chora está constantemente dando motivos ao homem que ri. O mundo todo conserva o bom humor, que poderia ser melhor descrito como um sorriso entre lágrimas.

A causa mais profunda desse presente estado de coisas é essa: por causa do pecado do homem Deus está constantemente manifestando a Sua ira e, ao mesmo tempo, movido por Seu próprio prazer, revelando também a Sua graça. Nós somos consumidos pela Sua ira e saciados com Sua benignidade (Sl 90:7,14). Não passa de um momento a Sua ira; o Seu favor dura a vida inteira. Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã.

A maldição e a bênção são tão singularmente interdependentes que às vezes uma parece transformar-se em outra. Trabalhar no suor do rosto é maldição e também é bênção. Tanto a maldição como a bênção apontam para a cruz, que é, ao mesmo tempo o mais alto julgamento e a Graça mais rica. Isso acontece porque a cruz é o centro da história e a reconciliação de todas as antíteses.

Hermann Bavinck
In: Teologia Sistemática, SOCEP, p. 48
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
“Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre” Sl 136:1

Ao se aproximar do final do ano, é oportuno falar sobre dar graças a Deus. Não que este seja o momento para isso, mas porque quase sempre essa época enseja um balanço de nossas vidas nos últimos meses. E isso deve nos levar a agradecer a Deus por tudo o que tem sido em nós e que tem feito por nós.

O salmista diz “rendei graças”. É um imperativo, uma ordem. Sei que humanistas de plantão logo dirão gratidão é sincera somente se for espontânea. Controvérsia à parte, o fato é que a ingratidão revela uma natureza pecaminosa e rebelde. “Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm 1:21). E na medida que o tempo passa, os homens vão se tornando cada vez menos agradecidos, pois “nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes” (2Tm 3:1-2).

Do cristão espera-se que seja agradecido, pois tem um estilo de vida baseado na dependência divina. “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp 4:6). Sendo as ações de graças incorporadas ao seu modo de vida, o crente não é agradecido ocasionalmente, mas em todo tempo, lugar ou situação, pois reconhece como verdadeiro o mandamento “em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” (1Ts 5:18). E o faz louvando a Deus, com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, com gratidão, em vosso coração” (Cl 3:16).

O salmista especifica “rendei graças ao Senhor”. A Bíblia é um livro de ações de graças, pois registra pelo menos 175 agradecimentos sendo feitos. Desses, apenas duas vezes é para pessoas, a absoluta maioria Deus é o objeto das ações de graça. Não se trata, pois, de apenas de dizer “dou graças” ou “muito obrigado”, e mas enfatizar que se dá graças a Deus. Não é mera atitude de gratidão ou cortesia, mas de reconhecimento de quem Ele é e de que governa todas as coisas pelo Seu poder.

Devemos dar graças “porque Ele é bom”. E neste ponto devemos nos guiar mais pelo que a Bíblia diz do que pela avaliação que fazemos do que nos acontece. A Bíblia repete 23 vezes que Deus é bom, e isto deveria por fim a qualquer dúvida quanto a isso. Mesmo assim, a Bíblia nos convida dizendo “Oh! Provai e vede que o SENHOR é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia” (Sl 34:8). Porém, mesmo Deus sendo bom, coisas ruins podem acontecer, e acontecem, com os que são objetos de Sua bondade. E não devemos duvidar, em meio ao sofrimento, da bondade do Senhor. Pois em meio a pior das adversidades, o Pai está controlando todas as coisas em nosso favor, tendo a eternidade como horizonte. “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28) e por isso sempre rendemos graças ao Senhor, que é bom, sempre.

Devemos dar graças porque “a sua misericórdia dura para sempre”. Deus não apenas em bom em si, mas é bom para conosco. E misericórdia é Sua bondade manifesta a nós enquanto indignos de qualquer favor. Creio que a misericórdia é mencionada aqui porque muitas vezes pensamos que Deus nos abandonará por causa de nossas falhas. Pensamos Deus é bom enquanto formos bons. Mas a misericórdia é amor dirigido a quem não tem mérito algum. E para acentuar isso de forma a não deixar dúvida, o salmista repete a sua misericórdia dura para sempre” 26 vezes neste salmo!

Misericórdia é especialmente aplicável em referência ao nosso destino eterno. Ao ser eterna, a misericórdia do Senhor nos é dispensada da eternidade passada à eternidade futura, incluindo aí nossa história na terra. Podemos e devemos ser sempre gratos ao Senhor, pois mesmo que tribulações intensas nos sobrevenham, seremos guardados no amor de Deus para a eternidade, pois Sua misericórdia dura para sempre. Sejamos agradecidos todos os dias, tornemos pública nossa gratidão a Deus. “Rendei graças ao SENHOR, porque ele é bom, porque a sua misericórdia dura para sempre” (Sl 136:1).

Soli Deo Gloria
domingo, 25 de dezembro de 2011
O Senhor não só declarou que aprova o cargo dos magistrados e que lhe resulta agradável, senão que além disso o elogia calorosamente, e honra a dignidade dos magistrados com formosos títulos de honra.

O Senhor afirma que são obra de sua Sabedoria: "Por mim reinam os reis, e os príncipes decretam o que justo. Por mim governam os príncipes e os nobres, sim, todos os juízes da terra" (Provérbios 8:15-16).

No livro dos Salmos, os chama deuses, pois fazem sua obra. Em outro lugar se nos diz que eles exercem sua justiça por delegação de Deus e não dos homens.

E são Paulo cita, entre os dons de Deus, os superiores. Não obstante, no capítulo 13 da Epístola aos Romanos, são Paulo expõe mais claramente que a autoridade dos magistrados provém de Deus, e que são ministros de Deus para aprovar os que realizam o bem e para exercer a vingança de Deus sobre aqueles que fazem o mal.

Os príncipes e os magistrados devem, pois, lembrar de Quem são servidores quando cumprem seu ofício, e não fazer nada que seja indigno de ministros e lugar-tenentes de Deus. a primeira de suas preocupações deve ser a de conservar, em sua verdadeira pureza, a forma pública da religião, conduzir a vida do povo com boas leis, procurar o bem, a tranqüilidade pública e doméstica de seus súbditos.

E tudo isto o poderá conseguir somente pelos meios que o Profeta recomenda em primeiro lugar: a justiça e o juízo. A justiça consiste em proteger o inocentes, mantê-los, guardá-los e libertá-los.

O juízo consiste em resistir a audácia dos maus, reprimir a violência e castigar os crimes.

Em troca, o dever dos súbditos consiste não só em honrar e reverenciar seus superiores, senão em pedir ao Senhor, através da oração, sua salvação e sua prosperidade; submeter-se também de boa vontade a sua autoridade, obedecer suas leis e constituições, e não recusar as cargas que lhes forem impostas: direitos, contribuições, impostos, serviços civis, vitórias e outras.

Não só devemos obediência aos magistrados que exercem sua autoridade segundo direito e conforme a suas obrigações, senão que temos também que suportar os que abusam tiranicamente de seu poder, até que sejamos livrados de seu jugo. Pois se um bom príncipe é um testemunho da bondade divina em ordem à salvação dos homens, um mal e perverso príncipe é um açoite de Deus para castigar os pecados do povo. Do resto, devemos ter como certo, em geral, que Deus dá a autoridade a uns e outros, e que não podemos opor-nos a eles sem opor-nos à ordem de Deus.

Contudo deve fazer-se sempre uma exceção, quando se fala da obediência devida às autoridades, a saber: que esta obediência não deve afastar-nos da obediência dAquele cujos mandados devem antepor-se aos de todos os reis. O Senhor é o Rei de reis e todos devem escutar a Ele sozinho, pois Ele falou por sua santa boca, e a Ele se deve ouvir antes que ninguém.

Enfim, tão só em Deus estamos submetidos aos homens que foram colocados sobre nós. E se nos mandam algo contra o Senhor, não devemos fazer nenhum caso, senão antes bem pôr em prática esta máxima da Escritura: "Importa antes obedecer a Deus que aos homens" (Atos 5:29).

João Calvino
Breve Instrução Cristã
sábado, 24 de dezembro de 2011
Jó e seus amigos
Devemos lembrar que nosso entendimento da prosperidade nas páginas do AT seria totalmente equivocado se não levássemos em conta dois princípios fundamentais para uma correta compreensão da mesma. 

O primeiro deles é o da retribuição divina pelos nossos atos. Deus abençoa os obedientes e pune os desobedientes. É o que chamamos normalmente de lei de causa e efeito. Todavia, essa lei de causa e efeito não acontece de forma mecânica, ela leva em conte o relacionamento que o crente tem com Deus.

Por outro lado, outro princípio bem nítido no AT é o da soberania divina. Deus abençoa a quem ele quer, assim como enriquece ou empobrece da mesma forma a quem quiser. Não adianta criar leis sobre a prosperidade financeira e deixarmos de fora a soberania divina. Deus é Deus e continuará sendo Deus. Ele faz o que quer fazer. O sofrimento de Jó mostra de forma clara que a soberania de Deus permitiu que ele fosse provado, mesmo sendo um homem piedoso e irrepreensível (Jó l e 2).

Josué Gonçalves
In: Revista Ensinador Cristão, Ano 13, Nr. 49, Jan-Mar 2012.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
O filósofo cristão Gordon H. Clark certa vez definiu um paradoxo como "uma cãibra entre as orelhas’. Seu comentário espirituoso destina-se a destacar que aquilo que às vezes é chamado de paradoxo frequentemente nada mais é do que preguiça mental. Clark, entretanto, reconhecia claramente o papel legítimo e a função do paradoxo. 

A palavra paradoxo vem de uma raiz grega que significa "parecer ou aparentar". Paradoxos são difíceis de entender porque à primeira vista "parecem" contradições, mas quando são sujeitos a um exame minucioso, frequentemente pode-se encontrar as soluções. Por exemplo, Jesus disse: "Quem perde a vida por minha causa achá-la-á" (Mt.10.39). Aparentemente, isso soa semelhante à declaração de que "Deus é uma mão batendo palmas". Soa como vida em um sentido, irá encontrá-la em outro sentido. Já que a perda e a salvação têm sentidos diferentes, não há contradição. Eu sou pai e filho ao mesmo tempo, mas obviamente não há contradição. Eu sou pai e filho ao mesmo tempo, mas obviamente não no mesmo relacionamento com a mesma pessoa.

O termo paradoxo é frequentemente mal-interpretado como sendo sinônimo de contradição; agora, inclusive, aparece em alguns dicionários como um significado secundário desse termo. Uma contradição é uma afirmação que viola a lei clássica da não contradição. A Lei da não-contradição declara que A não pode ser A e não-A ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Quer dizer, algo não pode ser o que é e não ser o que é ao mesmo tempo e no mesmo contexto. Essa é a mais fundamental de todas as leis da lógica.

R. C. Sproul
In: 1º Caderno Verdades Essenciais da Fé Cristã
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
As Escrituras dizem que é melhor descer à casa do luto do que à casa do riso (Eclesiastes 7.2). A razão dada nessa passagem é que isso permite que os vivos “apliquem isso ao coração”. A morte de Christopher Hitchens [1] deve, em primeiro lugar, nos lembrar da nosssa própria mortalidade. Nós devemos aplicar isso ao coração. Como Donne [2] tão memoravelmente disse: “pergunte, mas não a alguém por quem os sinos dobrem”. Todo funeral é o nosso próprio funeral. Essas questões devem afetar a cada um de nós.

Aqueles que defendem o Evangelho de Jesus Cristo, devem sempre lembrar que as boas novas de Cristo são colocadas em contraste com as más noticias — todos somos pecadores, e todos nós precisamos de purificação e perdão. Christopher Hitchens não precisava vir a Cristo para ter seus argumentos refutados (embora isso fosse acontecer). Ele precisava vir a Cristo para ter os seus pecados perdoados.

Aqui temos um pequeno video* onde eu previno os cristãos contra dois erros — e ambos sãos erros de especulação. A possibilidade de conversãos de última hora nunca devem se tornar em reais conversões de última hora. Ninguém vai para o Paraíso porque os outros querem. Muitos incrédulos têm sido colocados no Paraíso durante funerais, mas não devemos dar lugar à falsa ternura desse impulso. Ao mesmo tempo, a probabilidade de que Christopher nunca aceitou a Cristo não deve se tornar em uma declaração dogmática, linha dura, seguida por “um suspiro de alívio”. E ninguém vai para o inferno porque os outros querem. Não devemos receber a notícia da morte de Christopher da mesma maneira que ele recebeu a morte de Jerry Falwell, [3] por exemplo.

A má notícia é que nós todos estamos debaixo de julgamento. A boa noticia é que aquele que tem fé em Jesus pode ser perdoado. Nós devemos anunciar abertamente esses termos para o mundo inteiro — mas anunciar os termos do julgamento (que as Escrituras nos manda fazer) não é a mesma coisa que brincar de ser Juiz. Deixemos a alma de Christopher Hitchens (e ele tinha uma alma, apesar de todos seus argumentos) na mãos de Deus, que fará nada mais que o certo.

Naturalmente, tudo isso é consistente com o carinho que eu tinha por Christopher. Nossas orações e condolências estão com sua família e amigos.

[1] – Christopher Hitchens, jornalista, escritor e critico literário britânico, radicado nos Estados Unidos. Ateísta, Hitchens escreveu o livro “Deus não é grande. (1949-2011)

[2] – John Donne, poeta inglês (1572 – 1631)

[3] – Jerry Falwell, pastor americano (1933-2007). Hitchens, zomba, em um artigo, do fato de Falwell ter morrido, e não ter sido “arrebatado para fora da biosfera”(palavras suas)

*Vídeo de Doug Wilson (http://www.canonwired.com/featured/dw-hitchens/)

Douglas Wilson
Traduzido por Rafael Serqueira
In: Monergismo
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
Fico admirado que, à luz do claro registro bíblico, alguém tenha a audácia de sugerir que é errado para os aflitos de corpo ou alma expressar suas orações por libertação em termos como “Se for a tua vontade…”. Dizem-nos que quando a aflição vem, Deus sempre deseja cura, que Ele não tem nada a ver com sofrimento, e que tudo o que devemos fazer é invocar a resposta que desejamos pela fé. Somos exortados a invocar o sim de Deus antes de Ele falar.

Afaste-se dessas distorções da fé bíblica! Elas são concebidas na mente do Tentador, que nos seduz a trocar fé por magia. Nenhuma quantidade de palavreado piedoso pode transformar tamanha falsidade em sã doutrina. Devemos aceitar o fato de que Deus às vezes diz não. Às vezes, Ele nos chama para sofrer e morrer mesmo se quisermos reivindicar o contrário.

Nunca um homem orou de modo mais fervorosamente do que Cristo orou no Getsêmani. Quem vai declarar Jesus falhou ao orar com fé? Ele colocou o Seu pedido diante do Pai com suor como sangue: “Passe de mim este cálice.” Essa oração foi simples e sem ambiguidade – Jesus estava gritando por socorro. Ele pediu para o cálice horrivelmente amargo ser removido. Cada grama de Sua humanidade encolheu-se diante do cálice. Ele implorou ao Pai para livrá-lo de Seu dever.

Mas Deus disse não. O caminho do sofrimento era o plano do Pai. Era a vontade do Pai. A cruz não era ideia de Satanás. A paixão de Cristo não foi o resultado de eventualidade humana. Não foi o plano acidental de Caifás, Herodes, ou Pilatos. O cálice foi preparado, entregue, e administrado pelo Deus Todo-Poderoso.

Jesus qualificou Sua oração: “Se for a tua vontade….” Jesus não “tomou posse e reivindicou”. Ele conhecia o Pai bem o suficiente para entender que era provável não ser a Sua vontade remover o cálice. Então, a história não termina com as palavras, “E o Pai se arrependeu do mal que Ele havia planejado, removeu o cálice, e Jesus viveu feliz para sempre”. Tais palavras beiram à blasfêmia. O evangelho não é um conto de fadas. O Pai não negociaria o cálice. Jesus foi chamado para bebê-lo todo. E Ele o aceitou. “Contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua” (Lucas 22.42).

O evangelho não é um conto de fadas. O Pai não negociaria o cálice. Jesus foi chamado para bebê-lo todo.

Esse “contudo” foi a oração suprema da fé. A oração da fé não é uma exigência que apresentamos para Deus. Não é a suposição de um pedido garantido. A oração autêntica da fé é aquela que é moldada na oração de Jesus. É sempre expressada em espírito de subordinação. Em todas as nossas orações, devemos deixar Deus ser Deus. Ninguém diz ao Pai o que fazer, nem mesmo o Filho. Orações são sempre solicitações feitas em humildade e submissão à vontade do Pai.

A oração da fé é uma oração de confiança. A própria essência da fé é confiança. Confiamos que Deus sabe o que é melhor. O espírito de confiança inclui uma disposição de fazer o que o Pai quer que façamos. Cristo encarnou esse tipo de confiança no Getsêmani. Embora o texto não seja explícito, é claro que Jesus saiu do jardim com a resposta do Pai à Sua declaração. Não houve maldição ou amargura. Sua comida e Sua bebida foram a vontade do Pai. Uma vez que o Pai disse não, estava feito. Jesus se preparou para a cruz.

R. C. Sproul
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
A revelação de Deus é uma expressão da graça divina. Deus jamais sentira-se constrangido por qualquer necessidade a revelar-se. A perfeita comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo não carecia de nenhuma suplementação externa. Pelo contrário: Deus se deu a conhecer aos seres humanos, visando o próprio bem destes. O maior privilégio do ser humano é poder conhecer a Deus, glorificá-lo e desfrutar para sempre de sua presença. Essa comunicação privilegiada reflete o amor e a bondade de Deus que, graciosamente, deu-se a conhecer. Emil Brunner considera maravilhoso e estupendo que "o próprio Deus haja dado de si mesmo pessoalmente a mim; somente dessa maneira, posso entregar-me a Ele ao aceitar a doação de si mesmo a mim".

John R. Higgins
In: Teologia Sistemática: uma perspectiva pentecostal
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. Jo 4:23-24

Deus coloca a Sua glória acima de tudo e é motivado por ela. Através de Isaías Ele disse que “por amor de mim mesmo, por amor de mim mesmo, eu faço isso. Como posso permitir que eu mesmo seja difamado? Não darei minha glória a um outro” (Is 48:11). Deus é extremamente zeloso por Sua glória e jamais permite que alguém a roube ou diminua. Tudo o que existe e acontece tem o propósito último de glorificar o nome do Senhor, “pois dele, por ele e para ele são todas as coisas. A ele seja a glória para sempre! Amém” (Rm 11:36).

Assim, o homem foi criado para glória de Deus. O propósito final e o dever principal de todo homem é glorificar a Deus todos os dias de sua vida e em cada detalhe dela. “Assim, quer vocês comam, bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1Co 10:31). O pecado pelo qual todos os “homens são indesculpáveis” é que “tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus” (Rm 1:20-21). Em se tratando de pecadores entregues a uma disposição mental errada, é até compreensível que usurpem a glória devida ao nome de Deus, mas e na igreja? Tanto quanto no céu, o normal é que “a ele seja a glória na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre! Amém!” (Ef 3:21). É na busca pela glória de Deus que o propósito divino e o dever e deleite humanos se encontram. Vemos isso ilustrado no episódio conhecido como o encontro de Jesus com a samaritana junto ao poço.

A adoração se dá num encontro. O evangelista registra que, indo Jesus da Judéia para a Galiléia, “era-lhe necessário passar por Samaria” (Jo 4:4). Na época, a Palestina era dividida em três províncias, Judéia, Galiléia e Samaria bem no meio delas. Havia, então, uma necessidade geográfica de que Jesus passasse por Samaria. Mas essa necessidade era evitável, e de fato muitos judeus atravessam o Jordão e contornavam Samaria, por motivos religiosos. Entendemos que a necessidade era mais que apenas de geografia. Havia alguém ali com quem Jesus queria se encontrar. E quando chegou a Sicar, uma cidade da província de Samaria, sentou-se junto a um poço. “Nisso veio uma mulher samaritana tirar água” (Jo 4:7) e o encontro se deu. Jesus planejou esse encontro e a conversa que se seguiu.

Nem sempre percebemos quantas barreiras Jesus quebrou nesse contato. A mulher ficou surpresa por Jesus lhe dirigir a palavra, assim como seus discípulos depois dela. “A mulher samaritana lhe perguntou: como o senhor, sendo judeu, pede a mim, uma samaritana, água para beber? (Pois os judeus não se dão bem com os samaritanos)” (Jo 4:9). A primeira delas é a que separava judeus e samaritanos. Os dois povos não se comunicavam e um judeu comer ou beber em qualquer utensílio samaritano o tornava cerimonialmente impuro. Além disso, um homem daquela época não falava com uma mulher em público. E como Mestre, serial algo desonroso ter mulher como aluna. Mas Jesus não era dado a convenções sociais quando se tratada de buscar quem estava perdido.

Outro ponto marcante desse encontro é que foi um encontro do Santo de Deus com uma mulher pecadora. O narrador registra que o encontro “se deu por volta do meio-dia” (Jo 4:6). O horário usual de tirar água era pela manhã ou à tardinha, não sob o sol escaldante do meio-dia. Provavelmente por causa de sua má fama, queria evitar os olhares de reprovação. Mas Jesus conhecia detalhes da vida dela. “O fato é que você já teve cinco; e o homem com quem agora vive não é seu marido" (Jo 4:18). Encontrar-se com Deus sempre nos leva ao reconhecimento de nossa própria indignidade, como Isaías confessa: “Então gritei: Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!" (Is 6:5).

Jesus não conhecia apenas os pecados dela, sabia o que ela mulher precisava. “Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe teria dado água viva” (Jo 4:10). Jesus é o melhor que Deus já deu ao homem, apesar daquele música dizer que "o melhor de Deus ainda está por vir". A água viva aqui é uma referência ao Espírito Santo, que vivifica o que crê em Jesus. “Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Ele estava se referindo ao Espírito, que mais tarde receberiam os que nele cressem. Até então o Espírito ainda não tinha sido dado, pois Jesus ainda não fora glorificado” (Jo 7:38-39).

Infelizmente, a mulher buscava algo mais terreno e imediato. “Senhor, dê-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem precise voltar aqui para tirar água” (Jo 4:15), pediu ela. Alguma semelhança com os que se dirigem à reunião de adoração procurando receber coisas materiais ao invés de desfrutar de Jesus e de Seu Espírito? Pois acima de nos dar coisas terrenas, necessárias e legítimas, o Senhor quer se revelar a nós. “Então Jesus declarou: Eu sou o Messias! Eu, que estou falando com você” (Jo 4:26).

Quando Jesus toca na sua poligamia, a mulher leva o assunto para a adoração. Creio que também era para onde Jesus queria dirigir a sua conversa, para instrução nossa. Então vemos, no conversa que se segue, um contraste entre a adoração samaritana e a adoração bíblica. E percebemos o quanto nossa adoração se aproxima daquela, quando deveria ser esta.

A adoração samaritana é centrada no homem. Notemos em primeiro lugar que, embora a mulher fale sobre adoração, ela jamais fala em adorar a Deus. “Nossos antepassados adoraram neste monte, mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar" (Jo 4:20). Parece que a adoração era um fim em si mesmo. É uma adoração para agradar adoradores, sem ter Deus como referência. A única pessoa mencionada pela mulher é Jacó. “Acaso o senhor é maior do que o nosso pai Jacó?” (Jo 4:12), pergunta meio que desafiadoramente. A adoração moderna também tem o homem como referência. Prova isso a sede que os envovidos na adoração tem por títulos que os distinguem dos demais. É um desfile de "apóstolos", "levitas" e "ministros de louvor" e "pastoras". Sem contar que o critério de escolha dos louvores, por exemplo, se baseia em gostos pessoais, em detrimento da verdade bíblica. E prova isso a superficialidade e a exaltação humana nas letras. 

Além de centrada no homem, a adoração samaritana dependia do local. Os samaritanos disputavam que o melhor lugar para dorar era no monte Gerizim: “Nossos antepassados adoraram neste monte...” (Jo 4:20a). Os judeus, por sua vez, teimavam que o lugar certo para adorar era no templo, em Jerusalém, “...mas vocês, judeus, dizem que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar" (Jo 4:20b). Uns e outros estavam errados, “pois onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mt 18:20), disse Jesus.

Porém, pior de tudo, é que a adoração samaritana era feita sem entendimento. “Vocês, samaritanos, adoram o que não conhecem” (Jo 4:22). Não tendo conhecimento de Deus, não há como oferecer uma adoração apropriada, pois como veremos a seguir, a adoração bíblica deriva da revelação que Deus faz de Si mesmo.

A adoração bíblica tem Deus como referência. Isso significa que tudo é feito para Deus e do jeito que o próprio Deus determina que seja feito. A adoração bíblica está fundamentada no Ser de Deus. “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4:24). Como Deus é, deve ser adorado. Além disso, a adoração é relacional, melhor dizendo, é uma adoração de filhos. Deus é Pai, e por isso “os verdadeiros adoradores adorarão o Pai” (Jo 4:23). O Deus que adoramos é um Deus majestoso, mas é também Pai, um pai amoroso. Sendo Deus único, a adoração é exclusiva: "Não terás outros deuses além de mim” (Ex 20:3). Isso inclui outras pessoas e, muito especialmente, inclui a nós mesmos. “Não a nós, Senhor, nenhuma glória para nós, mas sim ao teu nome, por teu amor e por tua fidelidade!” (Sl 115:1).

A adoração bíblica é feita em espírito. Isso significa que só pode ser oferecida de forma aceitável por quem nasceu do Espírito. “Respondeu Jesus: Digo-lhe a verdade: Ninguém pode entrar no Reino de Deus, se não nascer da água e do Espírito" (Jo 3:5). Como “o que nasce da carne é carne, mas o que nasce do Espírito é espírito” (Jo 3:6), somente quem nasceu de novo pode adorar a Deus de forma aceitável.

Além de ser oferecida por pessoas espirituais, adorar em espírito significa que a adoração não depende de meios físicos. “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor do céu e da terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas” (At 17:24). Não devemos adorar a Deus através imagens ou outros “pontos de contato”.

E finalmente, adorar em espírito significa não ficar preso a cerimonialismos e rituais. A adoração samaritana era mera superstição, a dos judeus consistia de cerimonialismo sem valor em si mesmo. A adoração bíblia nem é supersticiosa, nem se baseia em rituais. “Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne" (Cl 2:16,22-23).

Além do que foi dito, a adoração bíblica deve ser verdadeira. Isso significa que não pode ser apenas de lábios. “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens" (Mt 15:8-9). É oferecer algo vão apenas pronunciar palavras de louvor sem que nasçam de um coração renovado pelo Espírito Santo.

Sinceridade e boa intenção tampouco bastam para que a adoração seja verdadeira. Pessoas sinceras que adoram de forma errada estão oferecendo um louvor inaceitável a Deus. Ignorância não é desculpa para oferecer um culto corrompido ao nosso Deus. O mesmo Jesus que diagnosticou “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!” (Mt 22:29) também prescreveu o exame das Escrituras. A Bíblia é nosso manual de culto.

Ainda, a adoração verdadeira não tem a ver com sacrifícios aceitáveis ao homem. O fato de algo nos custar caro ou requerer grande esforço não torna nosso culto aceitável. “Samuel, porém, respondeu: Acaso tem o Senhor tanto prazer em holocaustos e em sacrifícios quanto em que se obedeça à sua palavra? A obediência é melhor do que o sacrifício, e a submissão é melhor do que a gordura de carneiros” (1Sm 15:22).

Finalmente, chegamos ao ponto em que queríamos chegar: adoração verdadeira é aquela que é oferecida em conformidade com as Escrituras. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17:17). A regra que devemos seguir ao cultuar a Deus é: a adoração verdadeira é aquela feita conforme tudo o que Ele nos ordenou em Sua Palavra e que concorda inteiramente com a Bíblia em seu conteúdo. A adoração falsa é aquela que o Senhor não prescreveu ou que contraria o que a Bíblia ensina.

À luz do que foi dito, convém nos perguntarmos, perante Deus. Eu estou adorando unicamente a Deus ou estou dividindo sua glória com mais alguém, quem sabe, comigo mesmo? E se estou procurando honrar somente a Ele, será que estou fazendo de maneira agradável a Ele ou será que estou buscando uma satisfação própria, uma realização pessoal, através da adoração? Devemos tomar a firme resolução de adorar e exaltar unicamente a Deus, fazendo isso em Espírito e em Verdade, não apenas no culto público, mas também no nosso dia a dia, fazendo tudo para a glória de Deus. Para que consigamos viver dessa maneira, honrando a Deus em tudo, precisamos da ajuda do Espírito Santo. Sem Ele não podemos adorar a Deus de forma aceitável. Por isso, oremos pedindo a sua ajuda.

Soli Deo Gloria.
domingo, 18 de dezembro de 2011
Por meio da excomunhão se afasta da companhia dos fiéis, segundo o mandado de Deus, àqueles que são abertamente libertinos, adúlteros, glutões, bêbados, sediciosos ou dilapidadores, se não se corrigirem depois de terem sido admoestados.

Ao excomungá-los, não pretende a Igreja lançá-los numa ruína irremediável nem no desespero, senão que condena sua vida e seus costumes, e os adverte que certamente serão condenados se não se corrigir.

Esta disciplina é indispensável entre os fiéis, pois a Igreja é o Corpo de Cristo e não deve ser maculada e contaminada por estes membros fedorentos e podres que desonram a seu Chefe. O contato freqüente com estes malvados não deve corromper e estragar os santos, como acontece às vezes. Do resto, o castigo de sua maldade aproveita os mesmos malvados, enquanto que a tolerância os tornaria mais obstinados. Ao sentir-se confundidos por esta vergonha, aprendem a corrigir-se.

Se os maus se emendam, a Igreja os recebe de novo com doçura em sua comunhão e na participação desta unidade da qual tinham sido excluídos.

Para que ninguém menospreze obstinadamente o juízo da Igreja, nem se mostre indiferente, à condenação ditada pela sentença dos fiéis, o Senhor testemunha que o juízo dos fiéis não é senão a manifestação de sua própria sentença, e que o que eles pronunciam na terra é ratificado nos céus. É a palavra de Deus que dá o poder de condenar os perversos, do mesmo modo que dá o de receber em graça os que se corrigem.

João Calvino
In: Breve Instrução Cristã