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sábado, 22 de setembro de 2007
O conhecido pregador Silas Malafaia, ao oferecer a Bíblia de estudo de Batalha Espiritual e Vitória Financeira, chega ao ponto de chamar de trouxa aqueles que ofertam apenas por amor, sem esperar com isso colher prosperidade financeira. Quanto aos que discordam dele neste ponto ele rotula de hipócritas. Veja o vídeo do pastor Malafaia:



Numa resposta lúcida e tranquila, o professor Leandro Villela aponta os erros do Pr. Malafia e esclarece o assunto à luz da Bíblia. Veja o vídeo:

terça-feira, 18 de setembro de 2007

"E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho" Jo 14:13

Em seu livro "Exija seus direitos" RR Soares, líder da Igreja Internacional da Graça ensina que o crente não deve pedir a bênção, mas determiná-la ou exigir como um direito. A suposta base bíblica para essa sua doutrina nefasta é Jo 14:13, muito embora ele a credite a Kenneth Hagin. Ambos afirmam que "a palavra pedirdes foi mal traduzida" e que aiteo "deveria ter sido traduzido pro exigirdes ou determinardes" (p. 42). Segundo ele "continuar orando, pedindo, suplicando por algo que já é seu é declarar que a Palavra do Senhor pode não ser a verdade" (p. 45). Chega ao extremo de dizer que ser paciente e suportar a provação é dar lugar ao Diabo (p. 78).

No livro ele afirma que não é versado em grego. Mas acreditou piamente no que Hagin lhe disse. Depois disse que conferiu no dicionário de Strong e que de fato a palavra aiteo também pode significar exigir, determinar. A propósito, ele define determinar como "a nossa ação com base na Palavra de Deus, o que nada mais é do que tomar posse da bênção e exigir os nossos direitos" (p. 27).

O significado de um termo deve ser buscado no uso que os autores fizeram dele nas escrituras. E quando examinamos o uso de aiteo nas Escritura descobrimos que ele jamais é utilizada com o sentido que RR Soares e Hagin lhe emprestam. E também descobrimos que as palavras determinar, ordenar, exigir, etc. jamais são utilizadas pelo homem para obter algo de Deus. Portanto, se Soares valoriza a Palavra de Deus como diz valorizar, deveria ter o mínimo cuidado para utilizá-la sem distorcer o seu significado, semeando o erro no meio do povo de Deus.

O significado bíblico de aiteo

As principais traduções e versões bíblicas traduzem aiteo como pedir. Tomando Jo 14:13 como exemplo, já vimos que a Almeida Revista e Atualizada a traduz assim, assim como a Almeida Revista e Corrigida. A Tradução Brasileira também fez essa tradução, bem como a Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Estariam todos os tradudores enganados ou mal intencionados ao esconderem o sentido de ordenar em suas traduções? Veremos que não.

Antigo Testamento

O termo aiteo e seus cognatos são utilizados no Antigo Testamento 65 vezes na Septuaginta. O sentido é sempre de pedir, implorar, suplicar, e nunca de ordenar ou determinar. Assim, temos Elias dizendo a Eliseu "pede-me o que queres" (2Re 2:9); Jabez invocou a Deus dizendo "Oh! Tomara que me abenções" e Deus lhe deu "o que lhe tinha pedido" (1Cr 4:10); a Salomão Deus disse "pede-me o que queres que eu te dê" (2Cr 1:7) e o próprio Salomão deu à rainha de Sabá "tudo o que ela desejou e pediu" (2Cr 9:12). Vemos também Esdras dizendo que teve "vergonha de pedir ao rei" (Ed 8:22), enquanto que Neemias diz "pedi licença ao rei" (Ne 13:6) para voltar a Jerusalém. Davi não determinou, mas orou "uma coisa peço ao Senhor" (Sl 27:4), Salomão, mesmo sendo mais ousado disse "duas coisas te peço" (Pv 30:7). Isaías disse a Acaz "pede ao Senhor, teu Deus, um sinal" (Is 7:11) e Jeremias observou que durante o cerco de Jerusalém "os meninos pedem pão" (Lm 4:4). Para que seus três amigos fossem constituídos sobre os negócios da Babilônia, Daniel não determinou ao rei, mas fez um pedido (Dn 2:49). Finalmente, Zacarias disse "pedi ao Senhor chuva no tempo das chuvas serôdias" (Zc 10:1).

Em todas as passagens acima a Septuaginta utiliza aiteo, e em nenhuma delas a tradução determinar é cabível. Imagine Eliseu exigindo de Elias a porção dobrada, Jabez ordenando a Deus que alargasse os seus limites, Salomão determinando que Deus lhe desse sabedoria e a rainha, em sua visita de cortesia a Salomão ordenasse que este lhe desse o que ela desejasse! Seria absurdo. Como seria despropositado também que Esdras, Neemias e Daniel exigissem seus direitos junto ao rei, que Davi, Salomão e Acaz dessem ordens a Deus e meninos famintos exigissem seus direitos! Portanto, o uso que os setenta fizeram de aiteo na tradução do Antigo Testamento para o grego não deixa dúvida que pedir, rogar, suplicar, etc. é a tradução mais adequada e que qualquer termo que denote autoridade não é apropriada.

Novo Testamento

Já vimos que no uso que os tradutores da Septuaginta fizeram de aiteo não cabe o sentido de ordenar, determinar, mandar, exigir ou qualquer outro que Hagin e seu aprendiz queiram dar. Mas sei que Hagin principalmente despreza o Antigo Testamento, então vejamos se o Novo lhe dá algum apoio às suas idéias. A palavra aiteo aparece diversas vezes nos evangelhos e nos demais escritos do Novo Testamento. Jesus diz que o Pai sabe o que seus filhos precisam "antes que o peçais" (Mt 6:8), mesmo assim orienta "pedi, e dar-se-vos-á" (Mt 7:7), pois "qual pai se porventura seu filho lhe pedir pão lhe dará uma pedra?" (Mt 7:9). Vemos que a mulher de Zebedeu se aproximou dEle, o adorou e "pediu-lhe um favor" (Mt 20:20). No verso seguinte ao utilizado como cavalo de batalha por Soares Jesus diz "se me pedirdes alguma coisa coisa em meu nome eu vos darei" (Jo 14:14). À porta Formosa, o coxo de nascença pedia esmola (At 3:2) e Paulo escreveu aos Colossenses "não cessamos de orar por vós e de pedir" (Cl 1:9). Aos faltos de sabedoria Tiago preceitua "peça-a a Deus" (Tg 1:5) e João anima com o testemunho de que "aquilo que pedimos, dEle recebemos" (1Jo 3:22).

Em todas essas passagens e outras não mencionadas, aiteo é utilizada para mostrar alguém pedindo encarecidamente a alguém que tem autoridade maior e que poderia conceder o pedido ou não, de acordo com sua vontade. É um contra-senso pensar que um filho pode determinar o que seu pai deve lhe dar, que a mãe de Tiago e João poderia adorar a Jesus e em seguida lhe dar ordem ou fazer exigências ou que um aleijado de nascença pudesse exigir direito a esmolas, que por isso deixaria de ser esmola. A esta altura RR Soares diria "exigir ou determinar a bênção não é dar ordens ao Senhor" (p. 46). Porém, se aiteo significa determinar, ordenar, exigir e se aiteo refere-se àquilo que queremos receber de Deus, então forçosamente a ordem é dada a Deus. Jesus disse "se me pedirdes" e Tiago escreveu "peça a Deus". No mínimo RR Soares deverá explicar porque aiteo em Jo 14:13 significa ordenar, exigir e no verso seguinte significa pedir, suplicar, etc. O emaranhado que ele se meteu é tal que a conseqüência lógica de seu raciocínio beira à blasfêmia, pois ou faz do Diabo a fonte de bênção do crente ou a criatura mete-se a mandar no Criador!

Jesus e nós

RR Soares afirma que não devemos pedir, pois Jesus não pedia nada ao Pai, apenas determinava, ordenava, exigia. Escapou-lhe um detalhe que faz toda diferença: não somos Jesus e embora ele tenha participado de nossa humanidade nós não participamos de sua divindade. Ele é Senhor, e nós servos. Jesus não era apenas um homem, era verdadeiro Deus. Mas há outro detalhe que Soares não percebeu e seu mestre não lhe alertou. Jesus nunca se referiu a si mesmo como pedindo ao Pai utilizando o termo aiteo. Por quê? Porque aiteo se refere a um inferior pedindo a um superior, e Jesus é igual ao Pai. Assim, quando refere-se a um pedido ao Pai ou quando ora, Jesus utiliza o termo erotao, que é mais usado para um pedido entre iguais. Na mesma passagem que nos manda pedir (aiteo) Jesus disse "eu rogarei ao Pai" (Jo 14:16), utilizando erotao. Numa outra passagem Jesus diz "naquele dia, pedireis (aiteo) em meu nome; e não vos digo que rogarei (erotao) ao Pai por vós" (Jo 16:26). Mesmo quando a tradução é pedir, o termo utilizado por Jesus é erotao, como em Jo 17:15. Então, se aiteo é determinar, temos que Jesus nunca determinava, enquanto que os discípulos deveriam fazer isso, o que só faz sentido na mente de Hagin e Soares.

Determinar e ordenar

Apesar de aiteo não significar determinar, ordenar ou exigir, estas são palavras que ocorrem na Bíblia. Mas não estão relacionadas ao recebimento de bênçãos de Deus através da oração. Uma das palavras utilizadas para traduzir determinar é keleuo, traduzida também por comandar, ordenar. Assim, Jesus "ordenou que passassem para a outra margem" (Mt 8:18) e Herodes "ordenou que lha desse [a cabeça de João Batista]" (Mt 14:19). Quando José de Arimatéia pediu (aiteo) o corpo de Jesus, Pilatos "mandou que lho fosse entregue" (Mt 14:19). Em nenhuma ocasião keleuo é utilizado para que crentes tomassem posse da bênção. Outra palavra grega utilizada como determinar é prostasso. Das sete vezes em que ocorre, em nenhuma refere-se a crente usando de autoridade para receber bênçãos (Mt 1:24; 8:4; 21:6; Mc 1:44; Lc 5:14; At 10:33,48). Outra palavra às vezes traduzida determinar é paraggello, como usado em "Jesus ordenara ao espírito imundo que saísse do homem" (Lc 8:29). Esta mesma autoridade usou Paulo para expulsar demônios (At 16:18), mas isto está longe de ordenar anjos que nos tragam a bênção. Horizo também pode é traduzido como determinar, como por exemplo em Hb 4:7, porém em nenhuma de suas oito ocorrências refere-se a crentes determinando a bênção. Como essas, há outras palavras que transmitem a idéia de determinar, porém não se aplicam a crentes obtendo bênçãos de Deus.

A palavra normalmente traduzida como ordenar, mandar é epitasso. Jesus mandou que espíritos fossem para o abismo (Lc 8:31), Herodes mandou que trouxessem a cabeça de João Batista (Mc 6:27), o sumo sacerdote mandou que batessem na boca de Paulo (At 23:2) e o próprio Paulo reconehceu que poderia ordenar o que quisesse a Filemon, mas nenhuma dessas pessoas estavam determinando a bênção para suas vidas!

Conclusão

O autor de "Exija seus direitos" confessou não ser versado em grego. Eu também não sou. Porém, mesmo para quem falta erudição é patente a falta de sustentação bíblica para a idéia de que o crente não deve pedir, e sim determinar, exigir sua bênção. RR Soares semeia um ensino pernicioso à fé, e como veremos em outros artigos, essa não é apenas uma filosofia cristã inocente, pois chega ao ponto de tornar Deus obsoleto. Se eu pudesse determinar alguma coisa, determinaria que ele percebesse o erro a que está induzindo muitas pessoas, se retratasse e deixasse a Bíblia dizer o que diz.

Soli Deo Gloria

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Obrigado pela postagem do texto do Vilson Ferro Martins. Permita-me uns poucos comentários a respeito.

Primeiro os pontos positivos. Ele acerta em cheio ao dizer que Deus não tinha "obrigação nenhuma de eleger ninguém" e que a eleição "é um ato soberano de Deus em graça". Nestes pontos, seu texto é irretocável.

Porém, à pergunta "quem são os eleitos de Deus?", o irmão afirma que são "TODOS aqueles que [Ele viu] de antemão viessem a Ele" e "não existem pessoas "marcadas" para a salvação", mas que "a reação do homem à revelação de Deus, serve de base para a sua eleição" , ou seja, "reação positiva ou negativa ao chamado de Deus é que vai determinar a eleição ou não". Assim, "todos são predestinados à salvação" , pois "pois TODOS têm o mesmos direitos" e eleição "baseia-se na presciência dEle", ou seja, no pré-conhecimento de Deus de nossa reação à sua chamada, uma vez que "todos são chamados".

Resumindo a posição do irmão Vilson, Ele crê que a eleição é um ato soberano e gracioso, porém que se dá baseado na presciência de Deus de quem vai aceitar e quem vai rejeitar a oferta do evangelho. Todos estão predestinados à salvação, mas só são de fato salvos os que vierem a crer, e estes são os eleitos que Deus anteviu que creriam. Eu diria que essa posição é a do arminianismo clássico. Porém, ele se sustenta lógica e biblicamente? A resposta é não, e veremos por que.

Começando pelo argumento lógico, temos que se a eleição é soberana, ela é um ato livre da vontade divina, portanto não pode estar condicionada a algo fora dEle. A causa da eleição deve ser buscada, se é que se possa buscar, na pessoa de Deus e não na atitude do homem. Um ato não pode ser livre e condicionado ao mesmo tempo. Mais, se a eleição é graciosa, ela independe de algo que o homem venha fazer, seja em qualquer tempo. Se para ser eleito a pessoa precisa fazer algo, logo o que distingue o eleito do não eleito não é a graça, mas algo que um faz e que o outro deixa de fazer. Em suma, a eleição só é soberana e graciosa se resultar da vontade divina e independer da ação humana.

Bíblicamente, a eleição pela presciência de fé e obediência não se sustentam. Primeiro que a presciência diz respeito a pessoas, e não a feitos ou atitudes dessas pessoas. Em At 2:23 o termo refere-se a Jesus, em At 26:5 Paulo é que é conhecido desde o princípio, em Rm 8:29 "aos que" refere-se a pessoas, em Rm 11:2 o povo é de antemão conhecido, em 1Pe 1:2 são os eleitos e não sua fé que são conhecidos pela presciência e em 1Pe 1:20 Cristo é conhecido antes da fundação do mundo. Portanto, jamais a fé, a obediência ou a perseverança são objetos da presciência divina com vistas à eleição. Em segundo lugar, nós fomos "eleitos, segundo a presciência de Deus Pai" (1Pe 1:2) e não por causa da presciência. "Segundo" (gr. kata) é "conforme, de acordo com" e não "devido a". E em terceiro lugar, se a eleição tivesse como critério algo que o homem faz, a eleição deixaria de ser uma dádiva para ser uma recompensa e Deus seria roubado de Sua glória.

O nosso irmão também nega que hajam pessoas "marcadas para a salvação". Porém a Bíblia diz exatamente que "Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação" (2Ts 2:13). Quanto aos convertidos da igreja primitiva está registrado que "creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna" (At 13:48). Destinar aqui pode ser traduzido como "apontar", no sentido de colocar uma marca (vide At 28:23). Lembrando que predestinar significa marcar ou designar de antemão.

A agradável idéia de que "todos são predestinados" não é bíblica. Romanos 8:29-30 deixa claro que todos e somente aqueles que foram antevistos e predestinados são chamados, justificados e glorificados. As expressões "aos que" ligadas ao "também" exige que haja um número definido e inalterável do início ao fim da cadeia. Portanto, se todos são "predestinados", então todos também são "justificados" e serão finalmente "glorificados":

"Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou" Rm 8:29-30

Temos muito claramente: aos que conheceu = aos que predestinou = aos que chamou = aos que justificou = a esses também glorificou. Só há duas possibilidades: nem todos são predestinados e salvos ou todos são predestinados e salvos. A escolha é entre calvinismo e universalismo, o arminianismo não é uma alternativa bíblica aqui.

Finalmente, o autor diz que é a aceitação do homem que determina a eleição. Já vimos que isso anula a eleição pela graça e subtrai a glória de Deus. Além disso, inverte a ordem bíblica, que ensina que os eleitos é que são levados a crer e não os crentes levados à eleição. Atos 13:48 deveria bastar para firmar essa verdade, mas há outras passagens que a evidenciam. Jesus disse a um grupo de incrédulos que "vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas" (Jo 10:26). Ele disse ainda que "todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim" (Jo 6:37) e que "ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer" (Jo 6:44), pois "a fé não é de todos" (2Ts 3:2) e todos os que crêem tem "a fé que é dos eleitos de Deus" (Tt 1:1).

O claro ensino das Escrituras é que a eleição é soberana e graciosa, ou seja, Deus escolhe desde a eternidade de maneira livre e incondicional aqueles que irão crer.

Em Cristo,

Clovis