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domingo, 31 de março de 2013
Deus criou todas as coisas. Este Deus bom e onipotente criou todas as coisas, visíveis e invisíveis, pela sua Palavra co-eterna, e as preserva pelo seu Espírito co-eterno, como Davi testificou, quando disse: “Os céus por sua palavra se fizeram, e pelo sopro de sua boca o exército deles” (Sal 33.6). E, como diz a Escritura, tudo o que Deus fez era muito bom, e foi feito para proveito e uso do homem. Ora, afirmamos que todas aquelas coisas partiram de um princípio.

Maniqueus e Marcionitas. Portanto, condenamos os maniqueus e os marcionitas que impiamente imaginaram duas substâncias e duas naturezas, a do bem e a do mal; também dois princípios e dois deuses, um contrário ao outro, um bom e um mau.
sábado, 30 de março de 2013

Primeiro, existe o fato da Igreja Cristã. Ela tem um alcance mundial. Sua história pode ser traçada desde a Palestina, lá pelo ano 32 d.C. Ela simplesmente surgiu, ou existiu uma causa para isso? Essa gente que foi chamada de cristãos pela primeira vez em Antioquia virou de cabeça para baixo o mundo do seu tempo. Eles se referiam constantemente à Ressurreição como a base do seu ensino, da sua pregação, da sua vida e — o que é mais significativo — da sua morte.

Em seguida vem o fato do Dia Cristão. O domingo é o dia de culto para os cristãos. Sua história também pode remontar ao ano 32 d.C. Esta alteração no calendário foi monumental, e algo semelhante a um cataclismo deve ter acontecido para mudar o dia de culto do sábado judaico, o sétima dia da semana, para o domingo, o primeiro. Os cristãos diziam que esta alteração ocorreu por causa do seu desejo de comemorar a ressurreição de Jesus dentre os mortos. Esta mudança é tanto mais notável quanto nos lembramos de que os primeiros cristãos eram judeus. Se a Ressurreição não explica esta monumental reviravolta, que é o que a explica, então?

Vem depois o Livro Cristão, o Novo Testamento. Suas páginas encerram seis testemunhas independentes do fato da Ressurreição. Três deles são de testemunhas oculares: João, Pedro e Mateus. Paulo, escrevendo às igrejas numa data antiga, refere-se à Ressurreição de tal maneira que se torna óbvio que, tanto para ele como para seus leitores, o acontecimento era bem conhecido e aceito sem discussão. Esses homens, que contribuíram para transformar a estrutura moral da sociedade, são mentirosos consumados, ou tolos enganados? Estas alternativas são mais difíceis de crer do que o fato da Ressurreição, e não há nem uma sombra de prova para apoiá-las.

Litlle, Paul 
In: Você pode explicar sua fé?
sexta-feira, 29 de março de 2013
Pode ser útil responder a essa pergunta em quatro estágios, começando com o claro e não controverso, e, passo a passo, ir penetrando mais profundamente no mistério.

Primeiro, Cristo morreu por nós. Além de ser necessária e voluntária, sua morte foi altruísta e benéfica. Ele a empreendeu por nossa causa, não pela sua, e cria que através dela nos garantia um bem que não poderia ser garantido de nenhum outro modo. O Bom Pastor, disse ele, ia dar a sua vida pelas ovelhas, em benefício delas. Similarmente, as palavras que ele proferiu no cenáculo, ao dar o pão aos seus discípulos, foram: "Isto é o meu corpo oferecido por vós". Os apóstolos pegaram esse simples conceito e o repetiram, às vezes tornando-o mais pessoal, trocando a segunda pessoa pela primeira: "Cristo morreu por nós". Ainda não há nenhuma explicação e nenhuma identificação da bênção que ele nos assegurou mediante a sua morte, mas pelo menos concordamos quanto às expressões "por vós" e "por nós".

Segundo, Cristo morreu para conduzir-nos a Deus (1 Pedro 3:18). O foco do propósito benéfico da sua morte é a nossa reconciliação. Como diz o Credo Niceno: "por nós (geral) e por nossa salvação (particular) ele desceu do céu. . ." A salvação que ele conseguiu para nós mediante sua morte é retratada de vários modos. Às vezes é concebida negativamente como redenção, perdão ou libertação. Outras vezes é positiva — vida nova ou eterna, ou paz com Deus no gozo de seu favor e comunhão. No presente, o vocabulário preciso não importa. O ponto importante é que, em conseqüência da sua morte, Jesus é capaz de conferir-nos a grande bênção da salvação.

Terceiro, Cristo morreu por nossos pecados. Nossos pecados eram o obstáculo que nos impedia de receber o dom que ele desejava darnos. De modo que eles tinham de ser removidos antes que a salvação nos fosse outorgada. E ele ocupou-se dos nossos pecados, ou os levou, na sua morte. A expressão: "por nossos pecados" (ou fraseado muito similar) é usada pela maioria dos escritores do Novo Testamento; parece que eles tinham certeza de que — de um modo ainda não determinado — a morte de Cristo e nossos pecados se relacionavam. Eis uma amostra de citações: "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras" (Paulo); "Cristo morreu pelos pecados uma vez por todas" (Pedro); "ele apareceu de uma vez por todas. . . para desfazer o pecado mediante o sacrifício de si mesmo", e ele "ofereceu de uma vez por todas um sacrifício pelos pecados" (Hebreus); "o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (João); "àquele que nos ama e nos libertou de nossos pecados através do seu sangue. . . seja a glória" (Apocalipse). Todos estes versículos (e muitos mais) ligam a morte de Jesus aos nossos pecados. Que elo é esse?

Quarto, Cristo sofreu a nossa morte, ao morrer por nossos pecados. Isso quer dizer que se a sua morte e os nossos pecados estão ligados, esse elo não é efeito de mera conseqüência (ele foi vítima de nossa brutalidade humana), mas de penalidade (ele suportou em sua pessoa inocente a pena que nossos pecados mereciam). Pois segundo a Escritura, a morte se relaciona com o pecado como sua justa recompensa: "o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23). A Bíblia toda vê a morte humana não como um evento natural, mas penal. E uma invasão alienígena do bom mundo de Deus, e não faz parte de sua intenção original para a humanidade. É certo que o registro fóssil indica que a pilhagem e a morte existiam no reino animal antes da criação do homem. Porém parece que Deus tinha em mente um fim mais nobre para os seres humanos portadores de sua imagem, fim talvez semelhante ao traslado que Enoque e Elias experimentaram, e à "transformação" que ocorrerá com aqueles que estiverem vivos na volta de Jesus. Através de toda a Escritura, pois, a morte (tanto física como espiritual) é vista como juízo divino sobre a desobediência humana. Daí as expressões de horror com relação à morte, a sensação de anomalia de que o homem se tivesse tornado como as bestas que perecem, uma vez que o mesmo destino aguarda a todos. Daí também a violenta indignação de que Jesus foi alvo em seu confronto com a morte ao lado do túmulo de Lázaro. A morte era um corpo estranho. Jesus resistiu-lhe; ele não pôde aceitá-la.

Se, pois, a morte é a pena do pecado, e se Jesus não tinha pecado próprio em sua natureza, caráter e conduta, não devemos dizer que ele não precisava ter morrido? Não poderia ele, em vez de morrer, ter sido trasladado? Quando o seu corpo se tornou translúcido durante a transfiguração no monte, não tiveram os apóstolos uma previsão do seu corpo da ressurreição (daí a instrução de a ninguém contarem acerca desse acontecimento até que ele ressurgisse dentre os mortos, Marcos 9:9)? Não podia ele naquele momento ter entrado no céu e escapado à morte? Mas ele voltou ao nosso mundo a fim de ir voluntariamente à cruz. Ninguém lhe tiraria a vida, insistia ele; ele ia dá-la de sua própria vontade. De modo que quando o momento da morte chegou, Lucas a representou como um ato autodeterminado do Senhor. "Pai", disse ele, "nas tuas mãos entrego o meu espírito". Tudo isso significa que a simples afirmativa do Novo Testamento: "ele morreu por nossos pecados" diz muito mais do que aparenta na superfície. Afirma que Jesus Cristo, sendo sem pecado e não tendo necessidade de morrer, sofreu a nossa morte, a morte que nossos pecados mereciam.

Stott, John
In: A Cruz de Cristo.
terça-feira, 26 de março de 2013
Cristo nos fala que Deus julgará aqueles que confiam em si mesmos e estejam obcecados por riquezas. Um segundo grupo representativo de pessoas que Jesus encontrou enquanto andava na terra, confiava em sua habilidade de acumular riquezas e assegurar seu futuro. Em uma ocasião Ele contou uma parábola para revelar o que Deus pensa daqueles que são auto-suficientes e orgulhosos. Lê-se: 

O campo de um homem rico produziu com abundância. E arrazoava consigo mesmo, dizendo: “Que farei, pois não tenho onde recolher os meus frutos?" E disse: "Farei isto: Destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens. Então direi à minha alma: Tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come e bebe e regala-te". Mas Deus lhe disse: "Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?" Assim é o que entesoura para si mesmo e não é rico para com Deus (Lucas 12: 16-21). 

O homem rico pensava somente em suas riquezas e na vida fácil que poderia levar. Ele representa todos os que são obcecados por dinheiro e pensam ter o controle sobre o seu próprio destino. Mas eles não podem controlar Deus. Naquela mesma noite o homem rico morreria. Ele enfrentaria as conseqüências de confiar em si mesmo e nos seus bens. 

O que eles pensavam. As declarações seguintes sumariam o pensamento dos materialistas auto-suficientes. Eles pensam ser: 
  • Mais dotados que outros por terem habilidade de fazer dinheiro. 
  • Especialmente favorecidos por Deus por serem bem sucedidos. 
  • Controladores do seu destino porque estão no comando de suas circunstâncias. 
  • Alguém com um futuro seguro porque têm segurança no momento. 
  • Capazes de resolver seus próprios problemas. 
  • Capazes de satisfazer suas próprias necessidades. 
Freqüentemente ouve-se homens e mulheres assim dizerem: "Deus ajuda aqueles que ajudam a si mesmos". Eles são orgulhosos e independentes. O que eles precisam ver, no entanto, e o que Jesus veio lhe mostrar, é que o que Deus pensa a respeito dos materialistas auto-suficientes é mais importante que o que eles pensam de si mesmos. 

Como Deus os vê. Em três cenas do Novo Testamento o Senhor Jesus revelou como o caráter de Deus reage àqueles que confiam em suas riquezas e habilidades. Estas são: a parábola do rico tolo (Lucas 12:16-21, citada acima), a história de Lázaro e o homem rico (Lucas 16:19-31) e o encontro de Cristo com o jovem rico (Lucas 18: 18-30). O que o Senhor pensa sobre aqueles que confiam em suas próprias habilidades e riquezas pode ser expressado nestas declarações: 
  • Porque Deus é onipotente, Ele mostra aos auto-suficientes que suas vidas não estão sob seu controle realmente. 
  • Porque Deus é onisciente, Ele lhes mostra o verdadeiro valor das coisas por eles adquiridas. 
  • Porque Deus é verdade, Ele lhes mostra que sua confiança é colocada sobre um fundamento falso. 
  • Porque Deus é santo, Ele os faz saber que suas boas intenções são corrompidas pelo seu orgulho. 
O que Cristo revelou sobre Deus através de Sua reação a esses grupos não foi nada de novo. O Antigo Testamento nos fala que Deus odeia o orgulho (Provérbios 8:13). Ele sempre apelava para homens e mulheres, em todo lugar, confiarem somente nEle (Salmos 62:8). Ele sempre ensinou que as coisas materiais passam, mas que as riquezas espirituais durarão para sempre (Salmos 52:7,8). E Ele sempre mostrou ao homem que este não está sobre o controle do seu destino — Deus é quem está (Jó 12: 10). O caráter de Deus não mudou. Cristo veio para mostrar-nos que Sua atitude para com aqueles que confiam em si mesmos é a mesma de sempre. Para o rico colocar sua confiança em outro alguém que não seja nele mesmo é tão difícil nos dias de hoje como nos dias de Cristo. Seria ainda mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha (Lucas 18:25).

Martin R. Haan
Cristo, a Palavra Viva
segunda-feira, 25 de março de 2013

Meu irmão Rick,

Esta é a terceira carta que lhe escrevo (leia a primeira e a segunda) sobre o assunto que lhe causa inquietação. Espero que a demora em dar continuidade no assunto não aparente descaso. Na verdade, ao mesmo tempo que desejo lhe dar tempo para refletir e orar sobre o assunto, não quero que pense que estou afoito para convencê-lo. Você já crê em Jesus Cristo, e isto é o que há de mais urgente. Quanto ao nosso assunto, podemos ir com prudente vagar.

Lembra-se que na sua segunda carta você disse que predestinação “não era bem assim” e apresentou algumas razões que, segundo você, mostrava que a predestinação não poderia ser entendida como um decreto eterno de Deus, que implica na salvação dos objetos de sua eleição soberana. Vou procurar responder rapidamente às suas objeções. Espero conseguir transferir para as letras o amor com que lhe escrevo mais esta resposta.

Você disse que não é justo Deus escolher alguns e não todos. Ao falar da eleição, Paulo antecipou essa objeção: “Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão” (Rm 9:14-15). Basicamente, o apóstolo está dizendo que a eleição está baseada na misericórdia, e esta não pode ser injusta, uma vez que não é devida a ninguém. Assim, se Ele não salvasse nenhuma pessoa, não seria injusto, se salvasse a todos, não seria mais justo por isso. Logo, salvar a uns e não a todos não o torna injusto.

A este argumento você emendou que Deus não faz acepção de pessoas. Na verdade, há algumas passagens que afirmam isso textualmente. Por outro lado, Deus diz “Amei Jacó, porém me aborreci de Esaú” (Rm 9:13). E esse amor discriminador não dependeu do que eles fizeram, pois está registrado que isso se deu quando “ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o bem ou o mal” (Rm 9.11). Como resolver a aparente contradição? Deus realmente não faz acepção baseado naquilo que as pessoas são, tem ou na posição que ocupam, uma vez que as razões de Sua escolha encontram-se Nele mesmo e não nos escolhidos.

Outros questionamentos seus tem a ver com a redenção e a aplicação da salvação. Você diz que se Deus já escolheu a quem salvar, não tinha porque Jesus morrer na cruz. Na verdade, não há dificuldade aqui. A eleição tem a ver com o propósito divino, a morte de Jesus é o meio para isso. Em outras palavras, na eleição decide salvar, na expiação Deus torna isso possível. Deus tanto “nos predestinou para ele” (Ef 1:5) e enviou seu Filho “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados” (Ef 1.7). Também questiona a necessidade de pregar o evangelho, se já existem pessoas escolhidas para a salvação. A resposta vai na mesma linha. Deus escolheu a quem salvar e determinou o meio pelo qual eles serão salvos: a pregação do evangelho. Primeiro vem “nele, digo, no qual fomos também feitos herança, predestinados...” (Ef 1.11) e em seguida “em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa” (Ef 1.13).

Como você pode ver, suas objeções foram antecipadas e respondidas pela própria Escritura. Assim temos que a Bíblia firma textualmente que Deus predestina soberana e graciosamente para a salvação, e isto não o torna injusto ou arbitrário, nem anula a necessidade da morte de Jesus, nem a pregação do evangelho. Pelo contrário, Jesus morreu porque Deus havia determinado salvar os seus eleitos e a pregação visa alcançar tais eleitos com os benefícios da morte de Jesus. Pense nisso, leia a Bíblia e ore a respeito.

Seu irmão em Cristo,

Clóvis

SGD
domingo, 24 de março de 2013
Os meios não devem ser desprezados. Entretanto, não desprezamos como inúteis os meios pelos quais opera a providência divina, mas ensinamos que devemos acomodar-nos a eles, na medida em que nos são recomendados na Palavra de Deus. Eis por que desaprovamos as afirmações temerárias daqueles que dizem que, se todas as coisas são geridas pela providência de Deus, então nossos esforços e diligências são inúteis. Seria o bastante deixarmos tudo ao governo da divina providência e não nos preocuparmos nem fazermos coisa alguma. São Paulo reconhecia que navegava sob a providência de Deus, que lhe dissera: “...deste testemunho a meu respeito em Jerusalém, assim importa que também o faças em Roma” (At 23.11), e em adição lhe havia prometido: “Porque nenhuma vida se perderá de dentre vós... pois nenhum de vós perderá nem mesmo um fio de cabelo” (At. 27, 22.34). Todavia, quando os marinheiros estavam pensando em abandonar o navio, ele mesmo disse ao centurião e aos soldados: “Se estes não permanecerem a bordo, vós não podereis salvar-vos” (At 27.31). 

Deus, que destinou a cada coisa o seu fim, ordenou o começo e os meios pelos quais a coisa atinge seu alvo. Os pagãos atribuem as coisas à fortuna cega e ao acaso incerto. No entanto, São Tiago não deseja que digamos: “Hoje, ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos e teremos lucros”, mas aconselha: “Em vez disso, deveis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como faremos isto ou aquilo” (Tiago 4, 13.15). E Santo Agostinho diz: “Tudo o que para os homens vãos, na natureza parece acontecer por acidente, realiza simplesmente a sua Palavra, porque não acontece senão por sua ordem” (Enarrationes in Psalmos, 148). Assim, parecia acontecer por mero acaso quando Saul, enquanto procurava as jumentas de seu pai, inesperadamente se encontrou com o profeta Samuel. Mas previamente o Senhor dissera ao profeta: “Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de Benjamim” (I Sam 9.16).
sábado, 23 de março de 2013
A Segunda Vinda de Cristo está no centro de nossas considerações sobre a “Escatologia Cósmica”. Cristo veio para inaugurar seu Reino, mas ele vem novamente para introduzir a consumação daquele Reino. Embora, como vimos, o Reino de Deus esteja presente em um sentido, ele é futuro em outro. Vivemos agora entre duas vindas. Olhamos cheios de alegria, no passado, para a primeira vinda de Cristo, e aguardamos com ansiedade por seu retorno prometido.

A expectação do Segundo Advento de Cristo é um dos aspectos mais importantes da Escatologia neotestamentária - tanto o é, na verdade, que a fé na Igreja do Novo Testamento é dominada por esta expectação. Todo livro do Novo Testamento nos indica o retorno de Cristo e nos conclama a viver de modo tal a sempre estar pronto para essa volta. Esta nota é repetida diversas vezes nos Evangelhos. Somos ensinados que o Filho do Homem virá com seus anjos na glória de seu Pai (Mateus 16.27); Jesus falou ao sumo-sacerdote que este veria o Filho do Homem sentado à destra poderosa de Deus e vindo com as nuvens do céu (Marcos 14.62). Freqüentemente Jesus falou aos seus ouvintes para vigiar por sua volta, uma vez que ele viria numa hora em que eles não esperavam (Mateus 24.42,44; Lucas 12.40). ele falou da felicidade daqueles servos a quem ele encontraria fiéis quando de sua vinda (Lucas 12.37,43). Após ter descrito alguns dos sinais que precederiam sua vinda, o Senhor disse: “Ora, ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei as vossas cabeças; porque a vossa redenção se aproxima” (Lucas 21.28). e em seu discurso de despedida Jesus contou a seus discípulos que, após ter deixado a terra, ele viria novamente e os levaria consigo (João 14.3).

Uma nota similar ressoa no livro de atos. Os anjos disseram aos discípulos que assistiam à ascensão de Jesus aos céus: “Esse Jesus, que dentre vós foi assunto ao céu, assim virá do modo como o vistes subir” (At 1.11). E Paulo disse aos atenienses que um dia Deus julgará o mundo pelo homem a quem levantou dos mortos, o Senhor Jesus Cristo (Atos 17.31).

As epístolas paulinas revelam uma consciência vívida da proximidade e certeza da volta do Senhor: “pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o dia do Senhor vem como ladrão de noite” (1 Ts 5.2); “Perto está o Senhor” (Fp 4.5). Paulo insta com os Coríntios para serem cautelosos em fazer julgamentos, uma vez que o Senhor está vindo: “Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz das coisas ocultas das trevas...” (1 Co 4.5) Em Tito 2.13 ele descreve os cristãos como aqueles que estão “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”. E em Romanos 8.19 ele nos fala de que a “ardente expectativa da criação aguarda, a revelação dos filhos de Deus”

Este senso agudo da expectação do Segundo Advento de Cristo, entretanto, é também encontrado nas epístolas católicas. O autor de hebreus diz que “assim também Cristo, tendo se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação” (Hb 9.28). Tiago fala de modo semelhante quando diz: “fortalecei os vossos corações, pois a vinda do Senhor está próxima” (Tg 5.8). Pedro enfatiza tanto a certeza da volta do Senhor como a incerteza sobre sua hora: “Ora, logo que o Supremo Pastor se manifestar, recebereis [os anciãos] a imarcescível coroa da glória” (1 Pe 5.4); “Virá, entretanto, como ladrão, o dia do Senhor” (2 Pe 3.10). João insta com seus leitores a permanecerem em Cristo a fim de que, quando ele se manifestar, eles possam ter confiança (1 João 2.28); mais adiante, ele afirma que quando Cristo efetivamente aparecer de novo, seremos como ele, uma vez que o veremos como ele é (1 João 3.2).

Um sentido similarmente forte da expectação da volta do Senhor ressoa através do livro do Apocalipse: “Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá” (Ap 1.7). “Venho sem demora”, diz Jesus à Igreja em Filadélfia; “Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa”. (3.11). E em Apocalipse 22.20, o penúltimo verso do Novo Testamento, lemos: “Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente venho sem demora. Amém. Vem, Senhor Jesus!”

Esta mesma expectação vivida pela volta de Cristo deveria marcar a Igreja de Jesus Cristo nos dias de hoje. Se esta expectação não mais estiver presente, há algo radicalmente errado. É o servo infiel da parábola de Jesus que diz em seu coração: “Meu senhor tarda em vir” (Lucas 12.45). Pode haver várias razões para a perda deste senso de expectação. É possível que a Igreja hodierna esteja tão envolvida em assuntos materiais e seculares que o interesse pela Segunda Vinda esteja se desvanecendo no segundo plano. É possível que muitos cristãos não mais creiam numa volta literal de Cristo. É também possível que muitos dos que crêem numa volta literal empurram este evento para tão longe, no futuro distante, que não vivem mais na espera dessa volta. Quaisquer que sejam as razões, a perda de uma expectativa vívida e vital da Segunda Vinda de Cristo é um sinal de uma enfermidade espiritual das mais sérias na Igreja. embora possa haver diferenças entre nós acerca dos diversos aspectos da Escatologia, todos os cristãos deveriam aguardar ansiosamente pela volta de Cristo e deveriam viver à luz desta expectação renovada a cada dia.

Anthony Hoekema
In: A Bíblia e o Futuro.
sexta-feira, 22 de março de 2013

Passando da descrição de adoração em Atos para Romanos e 1 Coríntios, descobrimos que o exercício dos dons do Espírito deve ser encarado como uma expressão de culto a Deus. Somente no caso dos dons serem motivados por amor genuíno pelos irmãos e por Deus é que podemos encaixá-los no quadro de um culto genuíno, "em Espírito e em verdade".

Paulo lembra aos romanos que a oferta de seus corpos a Deus é um ato de adoração espiritual, se, contudo, esses mesmos corpos estiverem sujeitos ao Cabeça para sentir, profetizar, ensinar, exortar, contribuir, presidir e exercer misericórdia (Rm 12.1-8). Certamente a lista pode ser estendida para incluir todo e qualquer ministério. A vida do cristão, se não se isolar da família de Deus, nem se separar do próprio Senhor, expressará adoração nas reuniões ou nas atividades do dia-a-dia.

A significação dos cultos nos quais a congregação se reunia alcançou relevância particular na concentração de vozes louvando e ensinando juntas, com corações sedentos, aprendendo e aplicando a Palavra. Era uma ocasião apropriada para o treinamento (katartismon, Ef 4.12) dos santos para servirem a Deus dentro e fora das reuniões. Os dons de apóstolo, profeta evangelista, pastor e mestre cooperam e fecundam no centro do culto para encorajar o bom ajustamento, o auxílio de toda junta e a cooperação de cada parte, o que "efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor" (Ef 4.16).

Edificação seria um dos termos chaves em 1 Coríntios 14 (vv.3, 4, 5, 12, 17, 26), onde o apóstolo avalia os dons de profecia e línguas. Profetizar quer dizer "edificar, exortar e consolar" (v.3), enquanto que quem fala em outra língua, edifica a si mesmo (v.4). O dom de línguas implica, segundo a orientação apostólica, dar bem as graças (v.17), "pois o que fala em outra língua, não fala a homens, senão a Deus... em espírito fala mistérios" (v.2).

Os visitantes vindos de terras distantes no dia de Pentecoste ouviram os cento e vinte membros da igreja de Jerusalém falando em suas "próprias línguas as grandezas de Deus". Sem entender o que falavam, o significado de suas palavras incompreensíveis visava a exaltação do Senhor e o louvor a Deus. "Pelo exercício dos dons, o culto é transformado numa experiência alegre e responde ao Deus vivente. Neste sentido, a adoração pode ser um testemunho poderoso ao mundo". Esta foi uma das conclusões expressas pela consulta sobre a Obra do Espírito Santo e a Evangelização, patrocinada pela Aliança Evangélica Mundial e pelo Comitê de Lausanne, em 1985, em Oslo, Noruega. 

Benefícios imediatos e de longo alcance são alcançados pela igreja que desata as cordas tradicionais que inibem a liberdade do Espírito Santo (2 Co 3.17). Deus criou os dons, e deu-os para Sua igreja, para edificá-la; mas o exercício dos carismas deve ser sempre subordinado ao amor (agapē) (1 Co 13.1-3). Somente o amor edifica (1 Co 8.1), amor que opera por intermédio de pessoas espirituais, dotadas de capacidades específicas para fortalecer a igreja e fazê-la crescer. Nós herdamos alguns rígidos moldes da Igreja Católica Romana que formam a imagem do bom funcionamento de uma igreja. Destaca-se a hierarquia. O líder consagrado dispensa os benefícios para a comunidade como mediador de Deus. Sua posição privilegiada e de poder dentro da organização eclesiástica nem sempre reflete os interesses divinos. Tornou-se desnecessário e impossível Deus dispensar seus dons como Lhe apraz {1 Co 12.11). O sacerdote adora, os membros da equipe observam e aplaudem ou criticam o desempenho do chefe espiritual.

Creio que podemos confiar que o ensinamento inspirado acerca dos dons foi-nos dado para continuamente rebuscar a verdadeira adoração que agrada a Deus. Como Pai, Deus valoriza a contribuição de todos os Seus filhos, não apenas a do pastor titular. Por isso, "ser membros uns dos outros" (Rm 12.5) envolve o serviço a Deus, com os irmãos servindo-se mutuamente. O culto racional (logikēn, "espiritual, genuíno, verdadeiro") agrada a Deus (Rm 12.1), porque corresponde à figura do corpo humano cheio de saúde e vigor. 

Shedd, Russel. 
In: Adoração Bíblica.
quinta-feira, 21 de março de 2013
A doutrina de João Calvino não foi criada por ele; foi ensinada por santo Agostinho, o grande teólogo do quarto século. Nem tampouco foi criada por Agostinho, que afirmava estar interpretando a doutrina de Paulo sobre a livre graça.

A doutrina de Calvino é como segue: A salvação é inteiramente de Deus; o homem absolutamente nada tem a ver com sua salvação. Se ele, o homem, se arrepender, crer e for a Cristo, é inteiramente por causa do poder atrativo do Espírito de Deus. Isso se deve ao fato de que a vontade do homem se corrompeu tanto desde a queda, que, sem a ajuda de Deus, não pode nem se arrepender, nem crer, nem escolher corretamente. Esse foi o ponto de partida de Calvino — a completa servidão da vontade do homem ao mal. A salvação, por conseguinte, não pode ser outra coisa senão a execução dum decreto divino que fixa sua extensão e suas condições.

Naturalmente surge esta pergunta: Se a salvação é inteiramente obra de Deus, e o homem não tem nada a ver com ela, e está desamparado, amenos que o Espírito de Deus opere nele, então, por que Deus não salva a todos os homens, posto que todos estão perdidos e desamparados? A resposta de Calvino era: Deus predestinou alguns para serem salvos e outros para serem perdidos. "A predestinação é o eterno decreto de Deus, pelo qual ele decidiu o que será de cada um e de todos os indivíduos. Pois nem todos são criados na mesma condição; mas a vida eterna está preordenada para alguns, e a condenação eterna para outros." Ao agir dessa maneira Deus não é injusto, pois ele não é obrigado a salvar a ninguém; a responsabilidade do homem permanece, pois a queda de Adão foi sua própria falta, e o homem sempre é responsável por seus pecados.

Posto que Deus predestinou certos indivíduos para a salvação, Cristo morreu unicamente pelos "eleitos"; a expiação fracassaria se alguns pelos quais Cristo morreu se perdessem.

Dessa doutrina da predestinação segue-se o ensino de "uma vez salvo sempre salvo"; porque se Deus predestinou um homem para a salvação, e unicamente pode ser salvo e guardado pela graça de Deus, que é irresistível, então, nunca pode perder-se.

Os defensores da doutrina da "segurança eterna" apresentam as seguintes referências para sustentar sua posição: João 10:28,29; Rom. 11:29; Fil. 1:6; 1 Ped. 1:5; Rom. 8:35; João 17:6.

Pearlman, Myer
In: Conhecendo as doutrinas da Bíblia.

NE: Myer Pearlman é arminiano e sua posição não é necessariamente a adotada pelo Cinco Solas.
domingo, 17 de março de 2013
Todas as coisas são governadas pela providência de Deus. Cremos que tudo o que há no céu e na terra, e em todas as criaturas, é preservado e governado pela providência deste Deus sábio, eterno e onipotente. Davi o testifica e diz: “Excelso é o Senhor acima de todas as nações, e a sua glória acima dos céus. Quem há semelhante ao Senhor nosso Deus, cujo trono está nas alturas; que se inclina para ver o que se passa no céu e sobre a terra?” (Sal 113,4 ss). Outra vez: “Esquadrinhas... todos os meus caminhos. Ainda a palavra me não chegou à língua, e tu, Senhor, já a conheces toda” (Sal 139, 3 ss). São Paulo também testifica e declara: “Nele vivemos, e nos movemos, e existimos” (At 17, 28), e “dele e por meio dele e para ele são todas as cousas” (Rom 11, 36). Portanto Santo Agostinho, muito acertadamente e segundo a Escritura, declarou em seu livro De Agone Christi, cap. 8: “O Senhor disse: ‘Não se vendem dois pardais por um asse? e nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai’” (Mat 10.29). Assim falando, ele quis mostrar que aquilo que os homens consideram de valor insignificante é governado pela onipotência de Deus. Porquanto aquele que é a verdade diz que as aves do céu são alimentadas por ele e os lírios do campo são vestidos por ele; e diz também, que os cabelos de nossa cabeça estão contados (Mat 6.26 ss).

Os Epicureus. Condenamos, portanto, os epicureus que negam a providência de Deus e todos quantos blasfemem dizendo que Deus está ocupado com os céus e nem nos vê, nem vê nossos interesses, nem cuida de nós. Davi, o rei-profeta, também os condenou, quando disse: “Senhor, até quando exultarão os perversos? Dizem: O Senhor não vê; nem disso faz caso o Deus de Jacob. Atendei, ó estúpidos dentre o povo; e vós insensatos, quando sereis prudentes? O que fez o ouvido, acaso não ouvirá? e o que formou os olhos, será que não enxerga?” (Sal 94, 3.7-9).
sábado, 16 de março de 2013

O amor-próprio tem uma posição curiosa no pensamento do pai dinamarquês do existencialista. A pessoa deve amar a si mesma, segundo Kierkegaard, mas deve amar a si mesmo de modo altruísta. Em e por si mesmo, o amor-próprio é egoísta, e o mandamento bíblico no sentido de amar aos outros como a ti mesmo realmente visa a eliminar o amor-próprio.

1. Amando a Si Mesmo da Maneira Errada — Kierkegaard reconhece que o mandamento: " 'Amarás a teu próximo como a ti mesmo'... contém a pressuposição de que cada homem ama a si mesmo." Realmente, a própria razão para incluir "como a ti mesmo" no mandamento é para arrancar da nossa mão todo o egoísmo. Quando o mandamento é corretamente entendido, diz: "'Amarás a ti mesmo do modo certo'. Se alguém, portanto, não aprender do cristianismo a amar a si mesmo da maneira certa, nem sabe amar seu próximo". Porque "amar a si mesmo da maneira certa e amar ao próximo são conceitos absolutamente análogos, e no fundo são a mesmíssima coisa. E "quando o 'como a ti mesmo' do mandamento tirou de você o egoísmo que o cristianismo, é triste dizer, deve pressupor como existente em todo ser humano, então você aprendeu a amar a si mesmo corretamente." Logo, a lei é esta: "Amarás a ti mesmo conforme amares a teu próximo, quando tu o amares como a ti mesmo."

2. Amando a Si Mesmo da Maneira Certa — Mas qual é a maneira certa de amar a si mesmo? Depois de todas as sutilezas dialéticas da reformulação do mandamento feita por Kierkegaard terem sido desembaraçadas, a resposta, numa só palavra, é "altruisticamente". O homem egoísta desperdiça tempo em projetos vãos e sem importância. Abandona-se, de modo frívolo, à estultícia de um momento. A pessoa egoísta pode até mesmo querer, num momento de melancolia, acabar com sua vida. Alguns homens egoístas até mesmo se tormentam, pensando que sua tortura é um serviço divino. Em síntese, o homem deve amar a si mesmo, porque este mandamento está inexplicavelmente ligado com o mandamento no sentido de amar aos outros (há somente um "tu" e dois objetos no mandamento). Mas o homem deve amar, e não arrumar a si mesmo. Ou seja: deve ter um amor apropriado a si mesmo.

Mas este amar aos outros como a pessoa deve amar a si mesma é, realmente, a forma mais sublime do amor? "Não seria possível amar a um homem melhor do que a si mesmo?" pergunta Kierkegaard. A resposta é Não. O desejo no sentido de amar aos outros mais do que a si mesmo é mero entusiasmo poético. Os homens cantam acerca de tal amor, mas não somos ordenados a praticá-lo. Realmente, este grande amor que louvam é, secretamente, o amor-próprio, porque "esta tolice agrada ao poeta além de toda medida, é deliciosa aos seus ouvidos, inspira-o a cantar." Mas "o cristianismo ensina que é blasfêmia." Porque "há somente Um a quem um homem, com a veracidade do eterno, pode amar melhor do que a si mesmo, e este é Deus." É por isso que as Escrituras mandam amar aos outros como a si mesmo mas amar a Deus com todo o coração, e alma, e mente. "O homem deve amar a Deus em obediência incondicional e amá-Lo com adoração." E "seria impiedade se qualquer homem ousasse amar a si mesmo desta maneira, ou ousasse amar a outro homem desta maneira, ou ousasse permitir que outro homem o amasse desta maneira."

Amar a si mesmo e aos outros homens, conforme se deve amar, significa amar a si mesmo e aos outros como criaturas de Deus, não como seres ulteriores. Além disto, importa em querer o melhor para eles, quer seja isto que queiram, quer não. Porque "se você pode perceber melhor do que ele, aquilo que é melhor para ele, você não poderá desculpar-se pelo fato de que a coisa danosa era a própria vontade dele, era aquilo que ele mesmo pedira." Realmente, dar a um homem aquilo que lhe é danoso simplesmente porque ele o deseja é uma maneira perversa de amar a ele mais do que a si mesmo. É "fazê-lo obedientemente porque ele pediu, ou com adoração, porque ele desejou. Mas quanto a isto. você não tem direito algum de fazê-lo."

Como consequência, Kierkegaard conclui que "como a ti mesmo" é um golpe fatal ao amor falso a si mesmo e aos outros. Impediria a pessoa de amar a si mesma mais do que às outras, e de amar as outras mais do que a Deus. É projetado de modo muito engenhoso para ensinar os homens a amarem da maneira que devem amar.

Norman Geisler
In: Ética Cristã, Vida Nova
quinta-feira, 14 de março de 2013
Esses dias eu estava lendo algumas cartas que C. S. Lewis trocou com uma mulher que ele não conhecia que são muito instrutivas para a realidade e visão distorcida dos nossos dias. Eis alguns trechos:

Essa mulher escreveu a C. S. Lewis e lhe disse: “Eu não posso aceitar esse dinheiro que você quer me dar. Eu simplesmente não posso fazer isso”.

C. S. Lewis então disse: “Não seja tola. Você precisa neste momento disso, eu tenho como realizar isso, pegue, eu agradeço a Deus por poder fazer isso neste momento”.

A resposta da mulher foi: “Bem, eu vou aceitar então, e muito obrigada. Não me admira que Deus tenha te abençoado tanto lhe dando tanto dinheiro”.

C. S. Lewis respondeu a carta daquela mulher dizendo: “Cuidado com seus pensamentos em relação a isso. Em nenhum lugar no meu Novo Testamento eu vejo o dinheiro descrito como uma benção. Na verdade Jesus diz algo completamente diferente. Ele fala sobre o engano das riquezas: ‘Mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera.”’-  Marcos 4:19 – Cristo diz que é quase impossível para um homem rico entrar no reino dos céus: “E, outra vez vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus.”  - Mateus 19:24 – O que você chama de benção, tem um poder muito maior para destruir. Na verdade eu preciso te dar este dinheiro, ou ele provavelmente me destruiria. Não olhe para homens com recursos vendo nisso a prova de serem abençoados, provavelmente, isto é a marca de sua maldição eterna.”

Josemar Bessa
quarta-feira, 13 de março de 2013
Cirilo de Alexandria

Esta doutrina está baseada nos ensinos de Nestório, que fora um pregador famoso em Antioquia, e desde 428 d.C., Bispo de Constantinopla. Seus ensinos foram refutados no Concílio de Éfeso, em 431. O nestorianismo ensinava que a pessoa divina de Cristo e sua pessoa humana estavam divididas e com vontades divididas, mas residindo no mesmo corpo. Cirilo de Alexandria refutou os falsos ensinos do Nestorianismo.

João R. Weronka
In: Apologia da divindade de Cristo
terça-feira, 12 de março de 2013
Talvez o maior teste para a vida cristã hoje é crer que Deus é bom. Há tanta coisa que, isoladamente considerada, sugeriria o contrário. Helmut Thielecke de Hamburgo indica que um pedaço de tecido visto através duma lente seria nítido no meio e borrado na circunferência da lente. Mas sabemos da nitidez daquelas partes por causa daquilo que estamos vendo corretamente no meio. 

A vida, segundo ele, é como este tecido. Há muitas zonas periféricas borradas, muitos eventos e circunstâncias que não podemos entender. Mas devem ser interpretados pela nitidez que estamos vendo no centro — à luz da cruz de Cristo. Não ficamos incumbidos de adivinhar sobre a bondade de Deus, através de fragmentos isolados de verdade. Ele claramente revelou Seu caráter e o demonstrou dramaticamente para nós na Cruz. “Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nos o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?” (Romanos 8.32).

Deus nunca pede de nós a nossa compreensão; só precisamos confiar n’Ele assim como nós pedimos que nosso filho confie em nós, em nosso amor, mesmo quando não pode compreender nem sentir apreço quando o levamos para o médico.

A paz chega a nós quando chegamos à compreensão que só podemos ver alguns fios na tapeçaria da vida e da vontade de Deus, reconhecendo que aqui não possuímos o quadro total. Assim chegaremos a afirmar, com calmo alívio e gozo, que “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8.28).

Paul Little
In: Você pode explicar sua fé?
segunda-feira, 11 de março de 2013
No livro O Grande Conflito, existe uma declaração que Leandro Quadros considera a síntese do pensamento de Ellen White sobre a predestinação calvinista. Ei-la:
Estas monstruosas doutrinas são essencialmente as mesmas que o ensino posterior dos educadores e teólogos populares, de que não há lei divina imutável como norma do que é reto, mas que o padrão da moralidade é indicado pela própria sociedade, e tem estado constantemente sujeito a mudança. Todas estas idéias são inspiradas pelo mesmo espírito superior, sim, por aquele que mesmo entre os habitantes celestiais, sem pecado, iniciou sua obra de procurar derruir as justas restrições da lei de Deus.
Sai daí a base de Quadros para afirmar que a doutrina calvinista é satânica. Essa afirmação encontra-se no capítulo 14, o mesmo em que White menciona com aprovação o nome e as doutrinas de eminentes predestinistas, entre os quais Martinho Lutero, Ulrich Zwinglio, John Knox, John Bunyan, Richard Baxter, John Flavel, Joseph Alleine e George Whitefield: “O grande princípio mantido por aqueles reformadores... foi a autoridade infalível das Escrituras Sagradas como regra de fé e prática... A Bíblia era a sua autoridade, e por seus ensinos provavam todas as doutrinas e reivindicações”, disse ela sobre todos eles. Soa incoerente ela em seguida classificar a predestinação, juntamente com o antinomianismo, como “monstruosas doutrinas”, inspiradas por Lúcifer? Soa, mas coerência não é a característica principal dos adventistas.

No entanto, há um fato desconhecido por muitos adventistas: a declaração não é da pena de Ellen White. Trata-se de uma alteração feita W. W. Prescott na edição de 1911 do Grande Conflito. Surpreso pelo espírito de profecia precisar ser revisado e corrigido? Mas foi, aqui e em outros 105 pontos, apenas nessa edição da obra. O que White escreveu, e que consta na edição de 1888, é: "Esta monstruosa doutrina é essencialmente a mesma coisa que a alegação dos romanistas, de que ‘o Papa pode dispensar acima da lei, e do errado fazer certo, pela correção e mudança nas leis”, e que ‘ele pode pronunciar sentenças e julgamentos em contradição... com a lei de Deus e dos homens’”. O filho de Ellen White questionou Prescott sobre a alteração e este a justificou dizendo que a afirmação da senhora White estava errada e que os adventistas se veriam em dificuldades se alguém pedisse a fonte da declaração.

Além do todo da redação ter sido alterado, na versão original, “monstruosa doutrina” está no singular e se refere ao antinomismo apenas e não ao calvinismo conjuntamente. A autora compara “esta monstruosa doutrina” com a revindicação romanista de que o Papa pode mudar as leis de Deus e dos homens, dizendo em seguida que “ambas revelam a inspiração” do Diabo. O singular, a referência ao romanismo e a palavra “ambas” tornam gramaticalmente impossível inserir ali a “predestinação calvinista”, como faz Leandro Quadros. São dois pontos a se ter em conta: as palavras não são de Ellen White e ela não fez referência direta ou indireta à doutrina da predestinação, mas unicamente ao antinomianismo e ao romanismo.

Seja como for, o fato é que Ellen White está trabalhando sobre declarações que não são, de forma alguma, expressões da doutrina da predestinação conforme entendida pelos calvinistas. Prova isso a própria fonte utilizada por ela, a Cyclopaedia of Biblical, theological, and ecclesiastical literature, de John McClintock e James Strong. Esta obra atribui a origem moderna do antinomianismo a John Agricola, um dos primeiros cooperadores de Lutero. Compreendendo erradamente algumas palavras de Lutero e Melâncton sobre a justificação sem as obras da lei, Agricola apregoou a doutrina antinomiana e foi por isso repreendido severamente por Lutero, não uma mas várias vezes, até que admitiu publicamente seu erro e se reconciliou com Lutero. Desnecessário dizer que Lutero era mais predestinista que Calvino e combateu duramente a teoria do livre-arbítrio, veja-se seu Nascido Escravo para confirmar.

Segundo a mesma obra, o antinomianismo foi defendido nos dias de Oliver Cromwell por um tal John Saltmarsh, que entre outras coisas defendia o universalismo e a justificação eterna, ou seja, que os eleitos eram justificados antes mesmo de nascerem, daí sua declaração de que “as ações ímpias que cometem não são realmente pecaminosas, nem devem considerar-se como violação da lei divina por parte deles, e que em conseqüência não têm motivo quer para confessar os pecados, quer para com os mesmos romper pelo arrependimento”, mencionada por White. Saltmarsh foi combatido por Samuel Rutherford, calvinista escocês que participou da Assembleia de Westminster. Mais tarde, o também calvinista Richard Baxter iria refutar seus ensinos.

Ao lado de Saltmarsh, os principais antinomianos da época foram Crisp, Richardson, Hussey, Eaton e Town, segundo os mesmos McClintock e Strong. E estes foram atacados e refutados com sucesso pelos calvinistas Thomas Gataker, Andrew Fuller, Richard Baxter e, principalmente, por Daniel Williams, além de outros. Embora escrita por teólogos de orientação wesleyana, a obra é cuidadosa em distinguir entre hiper-calvinismo e antinomianismo de um lado e o calvinismo dos reformadores de outro. Em nenhum lugar a obra referenciada menciona o calvinismo como responsável pelo antinomianismo, portanto, se White pretendeu dar essa impressão, agiu de má fé, se não foi o caso, seus intérpretes é que a compreendem equivocadamente ou a distorcem deliberadamente no calor do debate.

Creio que as palavras de Charles Spurgeon, extraídas de um sermão pregado em 1859, deixam clara a posição calvinista conforme definida em Wesminster e Dort: “Quantos danos tem sido causados às almas dos homens por homens que só tem pregado uma parte, e não todo o conselho de Deus! Meu coração sangra por muitas famílias sobre as quais a doutrina antinomiana conquistou domínio... Não posso imaginar instrumento mais apto, nas mãos de satanás, para arruinar almas do que o ministro que diz aos pecadores que não é dever deles arrepender-se de seus pecados ou crer em Cristo”. Em seu The History of Dissenters, no qual retrata a época referida, James Bennett diz que o antinomianismo “não resulta do genuíno calvinismo”, como aquele que “era familiar aos escritos e práticas dos grandes reformadores”, mas do “erro que tem sido enxertado por aqueles que são mais ansiosos para abraçar certas partes do que estudar para entender o todo”.

Em seu texto, Leandro Quadro menciona outras citações feitas por Ellen White no Grande Conflito, recorrendo a John Wesley. A obra de John Wesley não tão fácil de se analisar e cada citação deve ser analisada em sua ordem no tempo, além do contexto em que foi feito. Demanda tempo e requer espaço, ambos me faltam no momento, a Providência dirá se os terei no futuro. Por ora, basta-nos concluir que a citação feita por Leandro Quadro como sendo da senhora White e contra o calvinismo não é nem uma coisa, nem outra.

Soli Deo Gloria
domingo, 10 de março de 2013
Os santos não devem ser adorados, cultuados ou invocados. Por essa razão não adoramos, nem cultuamos nem invocamos os santos dos céus, nem outros deuses, nem os reconhecemos como nossos intercessores ou mediadores perante o Pai que está no céu. Deus e Cristo, o Mediador, nos são suficientes. Nem concedemos a outros a honra que é devida somente a Deus e ao seu Filho, porque ele claramente disse: “A minha glória, pois, não a darei a outrem” (Is 42.8). E porque São Pedro disse: “Porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”, a não ser o nome de Cristo (At 4,12). Nele, os que dão seu assentimento pela fé não buscam coisa alguma além de Cristo.

A honra devida aos santos. Entretanto, não desprezamos os santos nem os tratamos como seres vulgares. Reconhecemo-los como membros vivos de Cristo e amigos de Deus, que venceram gloriosamente a carne e o mundo. Por isso nós os amamos como irmãos e também os honramos; não, porém, com qualquer espécie de culto, mas os encaramos com apreciação e respeito e com justos louvores. Também os imitamos, pois com ardentíssimos anseios e súplicas desejamos ser imitadores da sua fé e das suas virtudes, partilhar com eles a salvação eterna, habitar eternamente com eles na presença de Deus e regozijar-nos com eles em Cristo. Neste ponto aprovamos o que diz Santo Agostinho: “Não seja a nossa religião um culto dos mortos. Pois, se viveram vidas santas, não devemos supor que estejam à procura de tais honras; ao contrário, querem que adoremos aquele por cuja iluminação eles se alegram de que sejamos conservos dos seus méritos. Devem, portanto, ser honrados pela imitação, e não adorados por religião”, etc. (De Vera Religione, LV, 108).

Relíquias dos santos. Muito menos cremos que as relíquias dos santos devem ser adoradas ou cultuadas. Aqueles santos antigos pareciam ter honrado suficientemente seus mortos, se de modo decente tinham entregado seus restos mortais à terra, depois que os espíritos subiram ao alto. E consideravam que as mais nobres relíquias de seus ancestrais eram suas virtudes, sua doutrina e sua fé, as quais, como eles as recomendavam pelo louvor dos seus mortos, assim se esforçavam para imitá-las enquanto viviam na terra.

Juramento só pelo nome de Deus. Aqueles homens antigos não juravam senão pelo nome do único Deus, Javé, como ordenava a lei divina. Como por ela é proibido jurar pelo nome de deuses estranhos (Êx 23.13; Deut 10.20), assim não juramos em nome dos santos, como se exige de nós. Rejeitamos, portanto, em todas estas questões, uma doutrina que atribui mais do que o devido aos santos que estão nos céus.
quinta-feira, 7 de março de 2013

Deus governa o universo pela regência direta de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo ( Mt 28. 18 cf  Cl 2. 15-17 ), a quem todo poder foi conferido nos céus e na terra. 

Cremos que o Criador, na unidade trina, governa a obra criada de maneira direta e eficiente, cuidando das mínimas e das máximas  coisas com divino zelo; conservando a ordem vital e mantendo todas as leis naturais e cósmicas sem degeneração e sem conflitos. Excepcionalmente pode intervir nos códigos e nos sistemas dos vários conjuntos universais, suprimindo funções ou alterando conseqüências tanto na ordem física como na biológica. Ele, o Criador onipotente, segundo a sua soberana vontade e inescrutáveis propósitos, pode operar normalmente tais alterações que nós, na humildade de nossos conhecimentos, chamamos "milagres". Quem criou, estabeleceu e ordenou as leis das ordens natural e cósmica, tem poder para alterá-las, suspendê-las, mesmo que seja temporariamente, ou suprimi-las, mudando o curso normal das coisas. Quando isto acontece, alistamos o fenômeno no rol do “desconhecido” ou “inusitado”. 

O mundo, cremos, não está  à  deriva no espaço sideral, nem experimenta o início de um estado caótico, pois a mão do Criador repousa sobre ele; o Rei do universo governa-o direta e eficazmente. Nada acontece à revelia de nosso Deus, mesmo as catástrofes naturais, embora sejam inexplicáveis à luz de nossa lógica empírica, de nossa limitadíssima razão, ou mesmo de nossa fé, quando encaramos a misericórdia de Deus sem o contraditório do pecado e sem o confronto com sua retíssima justiça. 

Nosso planeta, criado para ser o paraíso do homem, experimenta conturbações meteorológicas e geológicas imprevisíveis, reagindo à depredação irracional do sistema ecológico e à intoxicação atmosférica por gases poluentes dos motores, das siderúrgicas e das indústrias petroquímicas; opondo-se também à radioatividade das bombas atômicas, da usinas nucleares, do lixos atômicos. Não são desprezíveis os danos dos agrotóxicos. Estamos, por outro lado, diante da imprevisibilidade dos transgênicos; esta intervenção do homem na biologia e na fisiologia da flora e da fauna. Não sabemos para onde a ciência bioquímica nos conduzirá. Matando seu meio ambiente, o homem comete suicido coletivo. 

Deus também cria civilizações, levantando impérios e abatendo domínios. Ele é o Senhor da História e dispõe dos homens como bem lhe aprouver, conforme seus propósitos. Nenhum poder surge ou cai, a não ser pelas mãos potentíssimas do Rei dos reis ( Gn 50. 20; At 2. 23; At 13. 26-39 ). A Igreja é o reino especial de Jesus Cristo, uma pequena militância neste mundo, minoria, certamente, mas se destina à consumação, quando  então não terá concorrente; reinará com o Cordeiro, sem a oposição de homens perversos e sem a tentação do maligno, no “novo céu e na nova terra”. 

Autor desconhecido
Comentário ao Catecismo de Heidelberg
quarta-feira, 6 de março de 2013

“Pois isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, o qual deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.3,4).

Isso é bom e aceitável. Havendo demonstrado que o mandamento que ele promulgara é excelente, agora apela para um argumento mais enérgico, a saber: que é agradável a Deus. Pois quando sabemos que essa é a vontade de Deus, cumpri-la é a melhor que todas as demais razões. Pelo termo, 'bom', ele tem em mente o que é certo e lícito; e, visto que a vontade de Deus é a regra pela qual devemos regulamentar todos os nossos deveres, ele prova que ela é justa, porque é aceitável a Deus.

Esta passagem merece detida atenção, pois dela podemos extrair o princípio geral de que a única norma genuína para agir bem e com propriedade é acatar a e esperar na vontade de Deus, e não empreender nada senão aquilo que ele aprova. E essa é também a regra da oração piedosa, a saber: que tomemos a Deus por nosso Líder, de modo que todas as nossas oração sejam regulamentadas por sua vontade e comando. Se essa regra não houvera sido suprimida, as orações dos papistas, hoje, não seriam tão saturadas de corrupções. Pois, como poderão provar que detêm a autoridade divina para se dedicarem à intercessão dos santos falecidos, ou eles mesmos praticarem a intercessão em favor dos mortos? Em suma, em toda a sua forma de orar, o que poderão apresentar que seja do agrado de Deus?

Daqui se deduz uma confirmação do segundo argumento, o fato de que Deus deseja que todos os homens sejam salvos.

Pois, que seria mais razoável do que todas as nossas orações se conformarem a este decreto divino? Concluindo, ele demonstra que Deus tem no coração a salvação de todos os homens, porquanto ele chama a todos os homens para o conhecimento de sua verdade. Este é um argumento que parte de um efeito observado em direção à sua causa. Pois se "o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" [Rm 1.16], então é justo que todos aqueles a quem o evangelho é proclamado sejam convidados a nutrir a esperança da vida eterna. Em suma, visto que a vocação [do evangelho] é uma prova concreta da eleição secreta, então Deus admite à posse da salvação aqueles a quem ele concedeu a bênção de participarem de seu evangelho, já que o evangelho nos revela a justiça de Deus que garante o ingresso na vida.

A luz desse fato, fica em evidência a pueril ilusão daqueles que crêem que esta passagem contradiz a predestinação. Argumentam: "Se Deus quer que todos os homens, sem distinção alguma, sejam salvos, então não pode ser verdade que, mediante seu eterno conselho, alguns hajam sido predestinados para a salvação e outros, para a perdição." Poderia haver alguma base para tal argumento, se nesta passagem Paulo estivesse preocupado com indivíduos; e mesmo que assim fosse, ainda teríamos uma boa resposta. Porque, ainda que a vontade de Deus não deva ser julgada à luz de seus decretos secretos, quando ele no-los revela por meio de sinais externos, contudo não significa que ele não haja determinado secretamente, em seu íntimo, o que se propõe fazer com cada pessoa individualmente.

Mas não acrescentarei a este tema nada mais, visto o assunto não ser relevante ao presente contexto, pois a intenção do apóstolo, aqui, é simplesmente dizer que nenhuma nação da terra e nenhuma classe social são excluídas da salvação, visto que Deus quer oferecer o evangelho a todos sem exceção. Visto que a pregação do evangelho traz vida, o apóstolo corretamente conclui que Deus considera a todos os homens como sendo igualmente dignos de participar da salvação. Ele, porém, está falando de classes, e não de indivíduos; e sua única preocupação é incluir em seu número príncipes e nações estrangeiros. Que a vontade de Deus é que eles também participem do ensinamento do evangelho é por demais óbvio à luz das passagens já citadas e de outras afins. Não é sem razão que se disse: "Pede-me, e eu te darei as nações por herança, e as extremidades da terra por tua possessão" [SI 2.8]. A intenção de Paulo era mostrar que devemos ter em consideração, não que tipo de homens são os príncipes, mas, antes, o que Deus queria o que fossem. Há um dever de amor que se preocupa com a salvação de todos aqueles a quem Deus estende seu chamamento e testifica acerca desse amor através das orações piedosas.

E nessa mesma conexão que ele chama Deus nosso Salvador, pois de qual fonte obtemos a salvação senão da imerecida munificência divina? O mesmo Deus que já nos conduziu à sua salvação pode, ao mesmo tempo, estender a mesma graça também a eles. Aquele que já nos atraiu a si pode uni-los também a nós. O apóstolo considera como um argumento indiscutível o fato de Deus agir assim entre todas as classes e todas as nações, porque isso foi predito pelos profetas.

João Calvino
terça-feira, 5 de março de 2013
"Porque eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos" Ml 3:6

Oferecerei uma exposição desse texto, dizendo primeiro, que Deus é Jeová e Ele não muda em Sua essência. Não somos capazes de lhes dizer o que a Deidade é. Não sabemos qual é a substância dAquele que chamamos Deus. É uma existência, é um ser; mas o que Ele é, nós não sabemos. Entretanto, seja o que for, chamamos isso de Sua essência e essa essência nunca muda. 

A substância das coisas mortais sempre muda. As montanhas com seus topos brancos de neve perdem seus velhos diademas no verão em rios que correm ao pé delas, enquanto nuvens de tempestade os coroam; o oceano, com suas poderosas marés, perde sua água quando os raios de sol beijam as ondas e as arrebata em evaporação para o céu; até mesmo o sol necessita de combustível novo da mão do infinito Todo-poderoso para encher o seu eterno forno ardente. Todas as criaturas mudam. O homem, especialmente em seu corpo, está sempre sofrendo revolução. Muito provavelmente, não existe uma única partícula em meu corpo que esteve nele alguns anos atrás. Este corpo tem sido gasto pela atividade, seus átomos têm sido removidos através de fricção, partículas novas de matéria têm, nesse ínterim, constantemente se acumulado em meu corpo, e assim tem sido reabastecido; mas sua substância é alterada. O material do qual este mundo é feito está em decadência; como um fluxo de água, as gotas estão caindo e outras vindo atrás, ainda que mantendo o rio cheio, porém sempre mudando os seus elementos. 

Contudo, Deus é perpetuamente o mesmo. Ele não é composto de qualquer substância ou matéria, mas é espírito - puro, essencial e etéreo espírito - e por isso é imutável. Ele permanece para sempre o mesmo. Não há nenhuma ruga em Sua eterna testa. Nenhuma época O paralisou; nenhum ano O marcou com recordações passageiras; Ele vê as eras passarem, mas com Ele está sempre o agora. Ele é o grande Eu sou - o Grande Imutável. 

Lembre-se, a essência dEle não sofreu nenhuma mudança quando se tornou unido com a natureza humana. Quando Cristo outrora cingiu-Se com barro mortal, a essência da deidade dEle não foi mudada; a carne não se tornou Deus, nem Deus Se tornou carne por uma mudança real de natureza; as duas naturezas estavam unidas numa união hipostática, entretanto a Deidade ainda era a mesma. Era a mesma quando Ele era um bebê na manjedoura, como quando Ele estendeu as cortinas do céu; era o mesmo Deus que foi pregado na cruz e cujo sangue fluiu abaixo num rio escarlate, o mesmo Deus que sustenta o mundo com Seus eternos ombros e mantém em Suas mãos as chaves da morte e do inferno. Ele nunca mudou na Sua essência, nem mesmo pela Sua encarnação; Ele permanece sempiterno, eternamente, o único Deus imutável, o Pai das luzes, em quem não há mudança, nem sombra de variação (Tg 1:18).

Charles Spurgeon
In: Deus não muda. Editora PES
domingo, 3 de março de 2013
Somente Deus deve ser adorado e cultuado. Ensinamos que somente o verdadeiro Deus deve ser adorado e cultuado. Esta honra não concedemos a nenhum outro, segundo o mandamento do Senhor: “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto” (Mat 4.10). Sem dúvida, todos os profetas censuraram severissimamente o povo de Israel todas as vezes que este adorou e cultuou deuses estranhos e não o único Deus verdadeiro. E ensinamos que Deus deve ser adorado e cultuado como ele mesmo nos ensinou a cultuá-lo, a saber, “em Espírito e em verdade” (João 4.23 ss), e não com qualquer superstição, mas com sinceridade, segundo a sua Palavra; para que, em tempo algum, não venha ele a dizer-nos: “Quem vos requereu o só pisardes os meus átrios?” (Is 1,12; Jer 6,20). São Paulo também diz: “Deus não é servido por mãos humanas, como se de alguma cousa precisasse”, etc. (At 17,25).

Só Deus deve ser invocado pela exclusiva mediação de Cristo. Em todas as crises e provações de nossa vida invocamos somente a ele e isso pela mediação de Jesus Cristo, nosso único mediador e intercessor. Eis o que nos é claramente ordenado: “Invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e tu me glorificarás” (Sal 50,15). Temos uma promessa generosíssima do Senhor, que disse: “Se pedirdes alguma cousa ao Pai, ele vo-la concederá em meu nome” (João 16,23), e: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mat 11,28). Está escrito: “Como, porém, invocarão aquele em que não creram?” (Rom 10.14). Nós cremos em um só Deus, e só a ele invocamos, e o fazemos mediante Cristo. “Porquanto há um só Deus, diz o Apóstolo, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” (I Tim 2,5). Também se diz: “Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo”, etc. (I João 2,1).
sábado, 2 de março de 2013
C. S. Lewis
Em que tipo de "buraco" caíra o homem? Ele procurara ser auto-suficiente e se comportara como se pertencesse a si mesmo. Em outras palavras, o homem decaído não é simplesmente uma criatura imperfeita que precisa ser melhorada; é um rebelde que precisa depor as armas. Depor as armas, render-se, pedir perdão, dar-se conta de que tomou o caminho errado, estar disposto a começar uma vida nova do zero — só isso pode nos "tirar do buraco". Esse processo de rendição, movimento de marcha a ré a toda velocidade, é o que o cristianismo chama de arrependimento. 

Mas, veja só, o arrependimento não é nada agradável. E bem mais difícil que simplesmente engolir um sapo. Significa desaprender toda a presunção e a obediência à vontade própria que nos foram incutidas por milhares de anos; significa matar uma parte de si mesmo e submeter-se a uma espécie de morte. Na verdade, só um homem bom pode arrepender-se. E isso nos leva a um paradoxo. Só uma pessoa má precisa do arrependimento, mas só uma pessoa boa consegue arrepender-se perfeitamente. Quanto pior você é, mais precisa do arrependimento e menos é capaz de arrepender-se. 

A única pessoa capaz de arrepender-se perfeitamente seria uma pessoa perfeita - e não precisaria fazê-lo em absoluto. Lembre que esse arrependimento, essa entrega voluntária à humilhação e a um tipo de morte não é algo que Deus exige de nós para que nos aceite de volta ou algo do qual pode nos livrar, se assim decidir. É simplesmente uma descrição de como é o próprio retorno a Deus. Se pedimos que ele nos aceite sem esse arrependimento, estamos na verdade pedindo para voltar sem voltar. Não é possível. Pois muito bem, temos de nos arrepender. Entretanto, a maldade que nos faz precisar disso nos impede de fazê-lo.

C. S. Lewis
Cristianismo puro e simples

NE: E agora José?
sexta-feira, 1 de março de 2013
Um membro de nossa igreja recentemente me encontrou numa loja de figurinhas de baseball. Sua saudação para mim foi “Então, é isso o que você faz com nosso dízimo?”. Realmente! Não foi a primeira vez que algo parecido aconteceu comigo. 

Uma vez uma mulher de nossa igreja ficou surpresa ao me ver no departamento de jardinagem do supermercado. Eu estava “com roupa suja de sábado”, mas não foi o que ela viu primeiro. “Pastor Kinnaman” deixou escapar com surpresa enquanto ficava parada à frente do meu santo lugar, “nunca tinha visto suas pernas antes!” (Acho que ela queria dizer, “Esta é a primeira vez que o vejo de bermuda.”). 

E certa vez uma amiga veio ver nossa nova casa. Quando parou em frente ao banheiro principal, gritou para mim, “Então é aqui que o homem de Deus toma banho!”. Estava apenas brincando, mas aquilo realmente passou por sua cabeça. Você pensaria nisso? Quero dizer, quando fosse à casa de um amigo, e pedisse para usar o banheiro, pensaria sobre ele usando-o? Provavelmente não. Nem pensaria duas vezes quando visse um amigo numa loja de figurinhas de baseball ou de bermuda no supermercado. Todos sabem que o homem de Deus não usa o banheiro, nem compra desodorante, nem usa bermuda em público, certo?

Aqui vai mais uma: Os membros do ministério não fazem sexo. O muito conceituado “Leadership Journal” (Jornal da Liderança) pediu que pastores contassem histórias de coisas ridículas que lhes aconteceram no ministério. Um clérigo e sua esposa tinham vários filhos adotivos. Quando esse fato chamou a atenção de uma querida anciã, ela sussurrou delicadamente ao seu pastor um dia, “É realmente melhor quando os ministros têm filhos dessa forma”

A ideia de que pastores e outros no ministério vivem de forma diferente sua rotina diária é uma das “falsas crenças espirituais” que me deixa louco: se Deus é um ser espiritual que se comunica conosco num nível espiritual, então os que representam a Deus deveriam se comunicar inicialmente com outros no nível espiritual. 

“Ah, Pastor Gary, você é tão humano!” tenho ouvido isto dúzias de vezes. Porque as pessoas dizem isso? É anormal que um pastor seja humano? Ou estão deduzindo que “espiritual” e “humano” são essencialmente incompatíveis? Em outras palavras, quanto mais espiritual eu for menos humano serei, e quanto mais humano eu for menos espiritual serei? Quando as pessoas me dizem que sou muito humano, digo-lhes que não faço ideia de como poderia ser diferente. E lhes falo sobre Jesus, que foi totalmente humano. Deus tomou a forma humana. E fazendo isso, na pessoa de Jesus, Deus se tornou humano. É a isso que nos referimos quando falamos da doutrina da Encarnação, um termo teológico derivado do latim que quer dizer “em carne”. A Encarnação foi Deus se “tornando carne”. Além do mais, quando Deus levantou Jesus da morte, não foi somente uma ressurreição espiritual. Seu corpo físico levantou-se da tumba e mais tarde subiu aos céus. Exatamente agora Jesus está assentado à direita do Pai. Deus, então, não somente se tornou carne por trinta e três anos da vida de Jesus, como teve de volta seu corpo humano para sempre. 

Gary Kinneman
Crendices de crentes