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quarta-feira, 29 de maio de 2013
Embora não seja fácil, à primeira consideração, perceber uma real diferença entre a graça e a misericórdia de Deus, podemos compreendê-la se ponderarmos cuidadosamente os Seus procedimentos para com os anjos que não caíram. Ele nunca exerceu misericórdia para com eles, pois jamais tiveram qualquer necessidade dela, pois não pecaram, nem ficaram debaixo dos efeitos da maldição. Todavia, eles são objetos da livre e soberana graça de Deus. Primeiro, porque Deus os elegeu do seio de toda a raça angélica (1 Timóteo 5:21), Segundo, e em conseqüência da sua eleição, porque foram preservados da apostasia, quando Satanás se rebelou e arrastou consigo um terço das hostes celestiais (Apocalipse 12:4), Terceiro, tornando Cristo a Cabeça deles (Colossenses 2:10; 1 Pedro 3:22), meio pelo qual eles permanecem eternamente seguros na santa condição em que foram criados. Quarto, devido à exaltada posição que lhes foi atribuída: viver na presença imediata de Deus (Daniel 7:10), servi-1O constantemente em Seu templo celestial, receber dEle honrosas missões (Hebreus 1:14). Isso é graça abundante para com eles, mas "misericórdia" não é.

A. W. Pink
In: Os Atributos de Deus.
segunda-feira, 27 de maio de 2013
É admirável o esforço que alguns teólogos do livre-arbítrio fazem para tentar desacreditar a doutrina da predestinação. Como argumentar a partir de uma exegese bem feita e de uma hermenêutica sadia é arriscado para tal propósito, a estratégia geralmente adotada é de levantar objeções humanistas, que embora padeçam de falta de substância, esbanjam apoio popular. Eventualmente surge alguma “novidade” que parece vai quebrar a mesmice dos argumentos anti-predestinação. Mas no fundo, é mais do mesmo, exceto talvez pelo apelo a uma autoridade diferente.

Penso ser o caso da citação das palavras do psiquiatra adventista Timothy Jennings, que motivou o professor Leandro Quadros a escrever o artigo, cuja manchete sensacionalista diz “Para psiquiatra, doutrina da “dupla predestinação” prejudica a mente”. As palavras do psiquiatra, citadas por um empolgado professor são:
“Um dos métodos que Satanás usa para destruir a razão é convencer as pessoas a crer em antíteses e em coisas que não fazem sentido. Para atingir esse alvo, ele as influencia a desconsiderar a razão, para que aceitem duas coisas que não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Por exemplo, Satanás contraria a verdade que Deus é amor, levando-nos a crer que Ele escolhe quem se salvará e quem se perderá, insistindo em que não temos livre-arbítrio nessa questão. Como já vimos, o amor não pode existir sem liberdade. Portanto, as duas crenças se excluem mutuamente. As duas não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, e a única maneira de acreditar em ambas é renunciando à razão. Numa situação como essa, racionalizamos a contradição, dizendo: ‘Aceito isso pela fé’, o que, conforme já vimos simplesmente não é fé”.
Sinceramente, não acho que seja o caso dos calvinistas renovarem seu estoque de anti-depressivos, nem dos anti-calvinistas ficarem eufóricos. Em que pese a formação do autor da declaração, ela se desmancha como papel em água quando analisadas com alguma atenção, e isto sob vários aspectos, como veremos. A resposta será postada em partes, visando textos curtos, sendo este o primeiro.

1. Resposta científica

Que fique bem claro que não sou qualificado para me pronunciar sobre os aspectos médicos da questão. Mas como a citação do Dr. Timothy Jennings veio somente com o endosso dele próprio, escrevi a ele fazendo duas perguntas: em quais pesquisas científicas ele baseou a relação causal entre crença na doutrina da predestinação e distúrbios mentais e se ele, pessoalmente, já havia atendido algum paciente cujo diagnóstico foi apontado como tendo como causa a crença na predestinação. Até a publicação deste artigo não obtive resposta, e pesquisei nos artigos de sua autoria e não encontrei tais referências. Contudo, isto não pode ser interpretado como significando que tais estudos não existem, apenas que se existentes, não foram indicados.

Por outro lado, pesquisei publicações científicas sobre o tema e cito três artigos técnicos, de publicações especializadas que sugerem que a realidade pode não ser bem assim. Por exemplo, um estudo realizado por uma equipe de psiquiatras comparou setenta pacientes calvinistas com pacientes sem afiliação religiosa. O resultado apresentado foi que calvinistas estritos apresentaram níveis mais baixos de depressão no teste BDI-II (Back Depression Invetory II), especialmente no grupo de sintomas relacionados ao suicídio (A. A. de Lely, W. W. van den Broek, P. G. H. Mulder, T. K. Birkenhäger W. W. van den Broek, P. G. H. Mulder, T. K. Birkenhäger. Symptoms of depression in strict Calvinist patients and in patients without religious affiliations: a comparison). 

Um outro estudo fez o cruzamento dos sintomas de depressão com a filiação denominacional de 3020 cidadãos idosos da Holanda. Calvinistas reformados tiveram o menor índice entre todos os grupos religiosos. Os liberais tiveram os índices mais altos e católicos romanos, outras igrejas e os sem igrejas ficaram na média (Arjan W. Braam, Aartjan T. F. Beekman, Cees P. M. Knipscheer, Dorly J. H. Deeg, Pieter Van Den Eeden, and Willem Van Tilburg. Religious Denomination and Depression in Older Dutch Citizens: Patterns and Models. Journal Aging Health November 1998.). 

Uma terceira pesquisa, realizada com adultos em Nebraska, procurou relacionar o efeito da frequência à igreja na redução dos sintomas de depressão, considerando três grupos: protestantes tradicionais, protestantes evangélicos e católicos romanos. Os três grupos diferiram entre si, mas apenas os protestantes tradicionais apresentaram uma significativa redução dos sintomas de depressão com uma maior frequência à igreja (Philip Schwadel and Christina D. Falci. Interactive Effects of Church Attendance and Religious Tradition on Depressive Symptoms and Positive Affect. Society and Mental Health March 2012 2: 21-34, first published on April 13, 2012).

Portanto, até prova em contrário, devemos considerar que as palavras do referido psiquiatra são no mínimo questionáveis.

Leia a segunda parte de "A doutrina da predestinação prejudica a mente?"

Soli Deo Gloria
domingo, 26 de maio de 2013
Devemos bem esperar acerca de todos. E, embora Deus conheça os que são seus, e nalgum lugar se faça menção do reduzido número dos eleitos, devemos, contudo, bem esperar acerca de todos, e não julgar apressadamente nenhum homem como rejeitado. São Paulo diz aos filipenses: “Dou graças ao meu Deus por tudo que recordo de vós” (ora, ele fala de toda a Igreja dos filipenses), “pela vossa cooperação no Evangelho... Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o dia de Cristo Jesus” (Fil 1.3-7).

Sobre se são poucos os eleitos. E, quando perguntaram ao Senhor se eram poucos os que seriam salvos, ele não respondeu que poucos ou muitos seriam salvos ou condenados, mas antes exortou todo homem a “esforçar-se por entrar pela porta estreita” (Luc 13.24). É como se dissesse: “Não vos compete inquirir com muita curiosidade acerca dessas questões, mas antes esforçar-vos por entrar no céu pelo caminho estreito”.

O que deve ser condenado nesse caso. Por isso, não aprovamos as afirmações ímpias de alguns que dizem: “Poucos são os eleitos, e, como eu não sei se estou no número desses poucos, não me privarei dos prazeres”. Outros dizem: “Se sou predestinado ou eleito por Deus, nada me impedirá da salvação, já certamente determinada, seja o que for que eu fizer. Mas, se estou no número dos rejeitados, nenhuma fé ou arrependimento poderá valer-me, visto que a determinação de Deus não pode ser mudada. Portanto, todas as doutrinas e advertências são inúteis”. Mas o ensino do apóstolo contradiz estes homens: “O servo do Senhor deve ser apto para instruir... disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento ... livrando-se eles dos laços do diabo, tendo sido feitos cativos por ele, para cumprirem a sua vontade” (II Tm 2.24-26).
sábado, 25 de maio de 2013

Segundo Calvino, nós devemos estas coisas preciosas da vida natural originalmente ao Espírito Santo. Em todas as Artes Liberais, tanto nas mais como nas menos importantes, o louvor e a glória de Deus devem ser acentuadas. As artes, diz ele, foram dadas para nosso conforto, nesse nosso estado deprimido de vida. Elas reagem contra a corrupção da vida e da natureza pela maldição. 

Quando seu colega, o Prof. Cop, levantou armas em Genebra contra a arte, Calvino propositadamente instituiu medidas, como ele escreve, para restaurar esse homem louco ao bom senso e a razão. Calvino declara ser indigno de refutação o preconceito cego contra a escultura com base no Segundo Mandamento. Ele exalta a música como um poder maravilhoso para comover corações e para dignificar tendências e princípios morais. Entre os excelentes favores de Deus para nossa recreação e prazer, ela ocupa em sua mente o posto mais alto. E mesmo quando a arte se rebaixa para tornar-se o instrumento de mero entretenimento para o povo, afirma que este tipo de prazer não lhe deveria ser negado. 

Em vista de tudo isto, podemos dizer que Calvino apreciava a arte em todas as suas ramificações como um dom de Deus, ou mais especialmente, como um dom do Espírito Santo; que ele entendeu plenamente os profundos efeitos produzidos pela arte sobre a vida das emoções; que ele apreciava o fim pelo qual a arte fora dada, a saber, que por ela poderíamos glorificar a Deus, dignificar a vida humana, e beber na mais alta fonte de prazeres, sim até mesmo no esporte comum; e, finalmente, que longe considerar a arte como simples imitação da natureza, ele lhe atribuiu a nobre vocação de desvendar para o homem uma realidade mais alta do que foi oferecida a nós pelo mundo pecaminoso e corrupto.

Kuyper, Abraham
In: Calvinismo.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Cristo nos fala que Deus quer que Seus seguidores sejam servos, não senhores. As pessoas mais próximas de Cristo durante o período em que Ele estava aqui na terra foram aqueles homens que Ele escolheu para serem Seus discípulos. Eles foram privilegiados pelo fato de estarem com Ele enquanto Ele exercia Seu ministério. Eles o ouviam ensinar. Eles viam Seus milagres, Eles eram testemunhas oculares dos encontros de Jesus com os líderes religiosos. Eles o viram socorrer ao próspero, ao pobre, ao deficiente físico e ao espiritualmente desesperado. Eles estavam numa posição invejável — eles andaram com o Senhor Jesus. 

Apesar da posição de seguidores e aprendizes de Jesus, os discípulos muitas vezes evidenciaram -se como sendo fanáticos, servidores de si mesmos e com dolorosa falta de visão. Eles precisavam aprender que, o que Deus pensa de Seus seguidores é mais importante que o que eles pensam de si mesmos. 

O que eles pensavam. Embora os discípulos crescessem progressivamente em seu entendimento no que diz respeito ao reino que Jesus tinha vindo estabelecer, seu conceito sobre si mesmos e seu papel nesse reino não eram sempre acurados. 
  • Eles viam a si mesmos como privilegiados confidentes, desfrutando dos benefícios de estarem perto do Mestre. 
  • Eles se viam como merecedores de sua posição favorável como Seus discípulos. 
  • Eles se viam como atingindo um posto onde seriam servidos ao invés de servirem. 
  • Eles se viam no direito de sentar à esquerda ou à direita de Cristo no reino. 
  • Eles viam seu trabalho com tal importância que nem podiam ser molestados por pessoas simples ou por criancinhas. 
Quando lemos os evangelhos cuidadosamente, no entanto, observamos que, na verdade, os discípulos eram tardios em aprender algumas das mais importantes verdades que Jesus veio nos ensinar. 

O que Deus pensava. O que os discípulos pensavam sobre seu lugar no reino de Cristo realmente não era tão importante quanto o que Deus pensava. Aqui estão algumas declarações que expressam Suas expectativas em relação a Seus discípulos: 
  • Porque Ele é onipotente, Deus quer que seus seguidores falem e trabalhem na autoridade de Cristo. 
  • Porque Ele é eterno, Ele quer que eles vivam em função das coisas celestiais e não das coisas terrenas. 
  • Porque Ele é justo, Ele quer que eles adotem os valores de Cristo. 
  • Porque Ele é onipresente, Ele quer que eles estejam assegurados da Sua proteção e poder. 
  • Porque Ele é juiz, Ele quer que eles saibam que obediência é mais importante do que posições. 
  • Porque Ele é amor, Ele quer que eles sirvam os membros da humanidade. 
Talvez o mais importante princípio do discipulado seja o de servir. O que faz o Cristianismo ser diferente — e o que faz funcionar — é a disposição dos seguidores de Cristo em servir uns aos outros. 

Em nenhum momento isso esteve tão evidente do que quando os discípulos de Jesus estiveram reunidos com Ele no salão da ceia, na noite anterior à sua morte. Embora tivessem estado com Ele por três anos, eles não haviam aprendido a lição de servir. Eles ainda estavam discutindo quem teria o maior posto no reino que Ele tinha vindo estabelecer. Nesta noite decisiva, nenhum deles observaria a comum cortesia de curvar-se para lavar os pés uns dos outros. E então Jesus o fez. E quando Ele se ajoelhou para lavar os pés dos discípulos, Ele estava demonstrando a atitude que Deus quer que Seus seguidores tenham: uma disposição de servirem uns aos outros. 

Já nos primórdios do Antigo Testamento, Deus fez saber que Ele odiava o orgulho arrogante e o espírito altivo, e que Ele exaltava o fraco e o humilde. Isso é ilustrado no chamado de Davi. Quando Samuel veio ungir um dos filhos de Jessé como o próximo rei de Israel, todos pensaram que seria o belo e talentoso Eliabe (veja I Samuel 16: 6). Mas foi Davi — o mais jovem e menos favorito — que recebeu essa honra. 

O princípio do servir, não era novidade. É um princípio permanente. É ainda válido para os seguidores de Cristo de hoje. Devemos procurar o último assento; o fraco entre nós será forte, o último será primeiro e o humilde será exaltado. 

Martin R. Haan
Cristo, a Palavra Viva
domingo, 19 de maio de 2013
Deus nos elegeu pela graça. Deus, desde a eternidade, livremente e movido apenas pela sua graça, sem qualquer respeito humano, predestinou ou elegeu os santos que ele quer salvar em Cristo, segundo a palavra do apóstolo: “Ele nos escolheu nele antes da fundação do mundo” (Ef 1.4); e de novo: “... que nos salvou, e nos chamou com santa vocação; não segundo as nossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos, e manifestada agora pelo aparecimento de nosso Salvador Cristo Jesus” (II Tim 1.9-10).

Somos eleitos ou predestinados em Cristo. Portanto, não foi sem medo, embora não por qualquer mérito nosso, mas em Cristo e por causa de Cristo que Deus nos elegeu, para que aqueles que agora se encontram enxertados em Cristo pela fé também sejam eleitos, mas sejam rejeitados aqueles que estão fora de Cristo, segundo a palavra do apóstolo: “Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou não reconheceis que Jesus Cristo está em vós? Se não é que já estais reprovados” (II Co 13.5).

Somos eleitos para um fim determinado. Finalmente, os santos são eleitos em Cristo por Deus para um fim determinado, que o apóstolo esclarece, quando diz: “Ele nos escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo... para o louvor da glória de sua graça” (Ef 1.4-6).
terça-feira, 14 de maio de 2013

Qualquer grupo que alegue que Jesus não tenha dito ser Deus, que alegue que as profecias não foram cumpridas Nele e que afirmem que discípulos não adoraram Jesus como Deus, trata-se de um grupo que perverteu a ortodoxia cristã e que, através dos falsos ensinos estão levando os seus seguidores por caminhos tortuosos que conduzirão a perdição eterna. Muitos destes grupos tem utilizado a Bíblia de maneira distorcida e negado algo que está mais que provado em suas páginas: a plena divindade de Jesus.

O Cristianismo tem o seu centro, o seu coração em Jesus Cristo e prega a comunhão com Ele como o único meio de alcançar a salvação. Colocar nossa fé em Jesus e entregar nossas vidas à Ele resulta em plena comunhão com Deus; resulta em vida. A fé em Jesus produz no cristão o pleno sentimento de realização, já que Ele é o tudo em quem crê Nele. Isso não é fruto de alienação, mas de uma fé muito bem fundamentada nos ensinamentos de Jesus, que leva aquele que crê a aceita-lo em plenitude como Senhor e Salvador (Cl 1.27; Jo 14.20; 15.4). Desta forma, aceitar doutrinas estranhas quanto a quem é Jesus, implica em compremeter o relacionamento com Ele.

As implicações da nossa crença em Jesus são eternas. Portanto, fica aqui o desafio aos que professam a fé em Jesus para que não desfaleçam de sua crença Naquele que é o Verbo encarnado, que examinem as Escrituras e estejam preparados para defender a sua fé. E para aqueles que tem abraçado um Jesus alternativo, fica o apelo de rever os conceitos de suas crenças.

Abraçar um outro Jesus pode trazer consequências que não são meramente temporais, mas sim eternas. Conheça o verdadeiro Jesus e tenha sua vida transformada.

João R. Weronka
In: Apologia da divindade de Cristo
domingo, 12 de maio de 2013
Quais são os poderes dos regenerados, e de que modo é livre o seu arbítrio. Finalmente, devemos ver se os regenerados têm e até que ponto têm livre arbítrio. Na regeneração, o entendimento é iluminado pelo Espírito Santo, para que compreenda os mistérios e a vontade de Deus. E a própria vontade não é somente mudada pelo Espírito, mas é também equipado com poderes, de modo, que ela espontaneamente deseje o bem e seja capaz de praticá-la (Rom 8.1 ss). Se não concedermos isso, negaremos a liberdade cristã e introduziremos uma servidão geral. Mas também o profeta registra o que Deus diz: “Na mente lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei” (Jer 31.33; Ez 36.26 ss). E o Senhor também diz no Evangelho: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8.36). E São Paulo também escreve aos filipenses: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo, e não somente de crerdes nele” (Fil 1.29). E outra vez: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao dia de Cristo Jesus” (v. 6). E ainda: “Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (2.13).

Os regenerados operam não só passiva, mas ativamente. Entretanto, ensinamos que há duas coisas a serem observadas: Primeiro, que os regenerados, na sua eleição e operação, não agem só passiva mas ativamente. São levados por Deus a fazer por si mesmos o que fazem. Santo Agostinho muito bem afirma que “Deus é nosso ajudador. Mas ninguém pode ser ajudado, se não aquele que faz alguma coisa”. Os maniqueus despojavam o homem de toda ação e o faziam semelhante a uma pedra ou a um pedaço de pau.

O livre arbítrio é fraco nos regenerados. Segundo, nos regenerados permanece a fraqueza. Desde que o pecado permanece em nós, e nos regenerados a carne luta contra o espírito até o fim de nossa vida, eles não conseguem realizar livremente tudo o que planejaram. Isso é confirmado pelo apóstolo em Rom 7 e Gal 5. Portanto, é fraco em nós o livre arbítrio por causa dos remanescentes do velho Adão e da corrupção humana inata, que permanece em nós até o fim de nossa vida. Entretanto, desde que os poderes da carne e os remanescentes do velho homem não são tão eficazes que extingam totalmente a operação do Espírito, os fiéis são por isso considerados livres, mas de modo tal que reconhecem a própria fraqueza e não se gloriam de modo algum em seu livre arbítrio. Os fiéis devem ter sempre em mente o que Santo Agostinho tantas vezes inculca, segundo o apóstolo: “o que tendes que não recebestes? Se, pois, o recebestes, por que vos vangloriais, como se não fosse um dom?” A isso ele acrescenta que aquilo que planejamos não acontece imediatamente, pois os resultados das coisas estão nas mãos de Deus. Esta a razão por que São Paulo ora ao Senhor para promover sua viagem (Rom 1.10). E esta é também a razão pela qual o livre arbítrio é fraco.

Nas coisas externas há liberdade. Todavia, ninguém nega que nas coisas externas tanto os regenerados como os não-regenerados gozam de livre arbítrio. O homem tem em comum com os outros animais (aos quais ele não é inferior) esta natureza de querer umas coisas e não querer outras. Assim, ele pode falar ou ficar calado, sair de sua casa ou nela permanecer, etc. Contudo, mesmo aqui deve-se ver sempre o poder de Deus, pois essa foi a causa por que Balaão não pôde ir tão longe quanto desejava (Num, cap. 24), e Zacarias, ao voltar do templo, não podia falar como era seu desejo (Luc, cap. 1).

Heresias. Nesta questão, condenamos os maniqueus, os quais afirmam que o início do mal, para o homem bom, não foi de seu livre arbítrio. Condenamos, também, os pelagianos, que afirmam que um homem mau tem suficiente livre arbítrio para praticar o bem que lhe é ordenado. Ambos são refutados pela Santa Escritura, que diz aos primeiros: “Deus fez o homem reto”; e aos segundos: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (João 8.36).
sábado, 11 de maio de 2013
Educada assim na modéstia e na temperança, mais sujeita a seus pais pela tua mão que por seus pais a ti, logo que chegou à idade núbil, foi dada em matrimônio a um homem, a quem serviu como a senhor. Procurou conquistá-lo para ti, falando-lhe de ti com suas virtudes, com as quais tu a tornavas bela e reverentemente amável e admirável ante seus olhos. Suportou suas infidelidades conjugais com tanta paciência, que jamais teve com ele a menor briga por isso, pois esperava que tua misericórdia viria sobre ele, e que lhe trouxesse, com a fé, a castidade.

Seu marido, se de um lado era sumamente afetuoso, por outro era extremamente colérico, mas ela tinha o cuidado de não contrariá-lo nem com ações, nem com palavras, se o visse irado. Logo que o via calmo e sossegado, oportunamente, mostrava-lhe o que havia feito, se por acaso se tivesse irritado desmedidamente.

Muitas senhoras, embora tendo maridos mais calmos, traziam no rosto as marcas das pancadas que as desfiguravam. Conversando entre amigas, lamentavam a conduta dos maridos. Minha mãe reprovava-lhes a língua e, como por gracejo, lembrava-lhes que, desde a leitura do contrato matrimonial, deviam considerá-lo como documento que as tornava servas, e portanto proibia-lhes de serem altivas com seus senhores. Essas senhoras, que conheciam o mau gênio de seu marido, admiravam-se de que jamais ninguém tivesse ouvido ou percebido qualquer indício que Patrício maltratasse a mulher, nem sequer que algum dia tivessem brigado por questões domésticas. E como lhe pedissem confidencialmente a razão disso, minha mãe expunha-lhes seu agir habitual, como acima mencionei. Algumas, após experimentar, punham-no em prática e davam-lhe graças; as que não a imitavam continuavam a sofrer humilhações e violências.

Sua sogra, a princípio irritara-se contra ela por causa dos mexericos de criadas malévolas. Mas conseguiu conquistá-la com respeito, contínua tolerância e mansidão, que ela mesma, espontaneamente, denunciou ao filho as línguas intrigantes das criadas, que perturbavam a paz doméstica entre ela e a nora, e pediu que as castigasse. Ele, em obediência à mãe, para manter a disciplina familiar e a harmonia entre os seus, mandou açoitar as acusadas, segundo a vontade da acusante; e esta prometeu-lhes ainda que esse era o prêmio que devia esperar quem, querendo agradá-la, lhe dissesse mal da nora. E ninguém mais se atreveu a fazê-lo, e viveram as duas em doce e memorável harmonia.

A esta tua boa serva, em cujo seio me criaste, ó meu deus, minha misericórdia, dotaste de outra grande virtude: a de intervir como pacificadora, sempre que podia, nas discórdias e querelas. Daquilo que ouvia de queixas amargas, vomitadas com animosidade ressentida, quando na presença de uma amiga os ódios mal digeridos se desafogam em amargas confidencias a respeito de uma amiga ausente, ela nada referia uma à outra, senão o que poderia servir para a reconciliação.

Este dom me pareceria de pouca monta se uma triste experiência não me houvesse mostrado grande número de pessoas – por não sei que horrível contagio de pecados, espalhados por toda parte – que não só revelam as palavras pesadas de inimigos irados, mas que ainda acrescentam coisas que não foram ditas. Quem fosse realmente humano, deveria ter em pouca conta ou não excitar nem fomentar as inimizades dos homens, e melhor ainda procurar extingui-las com boas palavras. 

Assim era minha mãe, ensinada por ti, mestre interior, na escola de seu coração. Por fim, conquistou para ti o seu marido, já no fim da vida, não tendo que lamentar no cristão o que havia tolerado no infiel.

Ela era verdadeiramente a serva de teus servos, e todos os que a conheciam te louvavam, honravam, te amavam em sua pessoa, porque percebiam tua presença em seu coração, confirmada pelos frutos de uma vida santa. Havia sido mulher de um só homem, cumprira sua dívida de gratidão com os pais, governara sua casa piedosamente e dava testemunho com suas boas obras. Educara os filhos, dando-os à luz tantas vezes quantas os via apartarem-se de ti.

E de nós, que nos chamamos teus servos por liberalidade tua, nós que vivemos em comum na graça de teu batismo, antes de adormecer em tua paz, ela cuidou de nós como se todos fôssemos seus filhos, e de tal modo nos serviu como se fosse filha de cada um de nós.

Aurélio Agostinho
In: Confissões
quarta-feira, 8 de maio de 2013

É claro que algo vai acontecer. Abandonaremos o nosso corpo atual em determinado momento, e a nossa partida e o que deixaremos para trás não parecerão agradáveis àqueles que gostam de nós. Mas esse momento, como Paulo também afirma, simplesmente será uma questão de "deixar o corpo e habitar com o Senhor" (2Co 5:8).

Os primeiros cristãos diziam que os que passavam pela morte física "dormiam". Nessa condição estamos, como dizemos ainda hoje de uma pessoa adormecida, "mortos para este mundo". Para aqueles que ficam existe uma semelhança óbvia, embora superficial, entre o corpo daquele que dorme e o corpo de outro que passou ao mundo pleno. Mas nesse modo de falar não havia intenção de dizer que estaríamos inconscientes. A consciência persiste enquanto dormimos, e do mesmo modo quando "dormimos em Jesus" (1Ts 4:14; At 7:60). A diferença é simplesmente uma questão daquilo de que estamos conscientes. Na verdade, na morte "física" nós nos tornamos conscientes e desfrutamos de uma riqueza de experiência que jamais conhecemos antes.

O evangelizador americano Dwight Moody observou já perto do fim da vida: "Um dia, breve, vocês vão ouvir dizer que eu morri. Não acreditem nisso. Eu então estarei mais vivo do que nunca". Quando os dois guardas chegaram para levar Dietrich Bonhoeffer ao cadafalso, ele puxou de lado um amigo e brevemente lhe disse: "Isso é o fim, mas para mim é o princípio da vida".

Como então deveríamos conceber a transição? O não termos uma forma de concebê-la é uma das coisas que a torna persistentemente aterrorizadora mesmo para aqueles que têm plena confiança em Jesus. O inimaginável é para nós naturalmente assustador. Mas há duas metáforas que creio serem corretas e também úteis. Elas podem nos ajudar a saber o que devemos esperar no momento em que deixarmos o nosso "tabernáculo", o nosso corpo (2Co 5:1-6).

A primeira é de Peter Marshall, e ficou famosa alguns anos atrás. É a metáfora de uma criança brincando à noite com seus brinquedos. Pouco a pouco ela vai ficando cansada e abaixa a cabeça para repousar um pouco, continuando a brincar preguiçosamente. A próxima coisa que ela vivência ou "prova" é a luz da manhã de um novo dia inundando a cama e o quarto para onde sua mãe ou seu pai a levou. O interessante é que nunca nos lembramos do momento em que adormecemos. Não o "vemos", não o "provamos".

Outra metáfora é de uma pessoa que passa por uma porta entre dois recintos. Ainda em relação com as outras pessoas do recinto que ela está deixando, já começa a enxergar e conversar com as pessoas do outro recinto, que podem estar totalmente ocultas àqueles que ficaram para trás. Antes da disseminação do uso de pesados sedativos, era bem comum observar algo parecido com isso. A pessoa que faz a transição muitas vezes começa a falar com aqueles que partiram antes dela. Eles nos vão receber enquanto estamos ainda em contato com aqueles que ficam. As cortinas se abrem para nós pouco antes de passarmos.

Falando do esplendor dessa passagem para o mundo pleno dos "céus reabertos", John Henry Newman comenta o seguinte: "As coisas maravilhosas do novo mundo já são agora mesmo o que serão então. São imortais e eternas; e as almas que então ficarem conscientes delas as verão na sua tranqüilidade e na sua majestade, onde sempre estiveram... A vida que então começará, bem o sabemos, durará para sempre; no entanto, com toda a certeza, se a memória for então para nós o que é hoje, esse será um dia certamente a ser celebrado perante o Senhor pelos séculos dos séculos". Será o nosso nascimento num mundo pleno de Deus.

Dalla Willard, 04/09/1935 - 08/05/2013
A Conspiração Divina.
segunda-feira, 6 de maio de 2013
Uma irmã expôs-me a situação em que se encontra e que a tem feito sofrer demais. Acredito que sua experiência não é única e por isso resolvi apresentar a resposta através de um artigo no blog, no afã de ajudar outras pessoas na mesma situação. Sei que isso pode parecer impessoal, mas mesmo falando em termos gerais, escrevo tendo em mente as palavras que me dirigiu e com o coração condoído pelo que ela passa. Oro sinceramente para que Deus lhe ajude mais do que posso com minhas palavras.

Essa irmã antes de converter-se ao Senhor se divorciou de seu marido, vindo a contrair segundas núpcias dois anos depois, estando hoje casada há 12 anos com seu atual esposo, com quem tem um filho de cinco anos. Ela foi trazida à fé em 2012, sendo batizada no começo deste ano. Sua angústia se deve ao fato de que sua igreja não aceita seu casamento atual, dizendo que ela deve “pagar o preço”, ou seja, abandonar seu atual marido e viver sozinha, ou mesmo retornar para seu primeiro marido. E isso a tem consumido, levando-a às lágrimas. Eis o que devo dizer sobre casamento, divórcio e novas núpcias.

1. O casamento entre um homem é uma mulher é indissolúvel, no sentido de que Deus o estabeleceu para a vida toda. “O que Deus ajuntou não separe o homem” (Mc 10.9) é a palavra definitiva de Jesus sobre o assunto. Assim, a ordenança “aos casados” é “a mulher não se separe do marido” e “o marido não se aparte de sua mulher” (1Co 7.10–11). Este é um mandamento do Senhor e qualquer tentativa de fugir dele é rebeldia.

2. Sendo assim, o divórcio é odioso a Deus. Pelo ministério do profeta Malaquias Ele diz “Eu odeio o divórcio; eu odeio o homem que faz uma coisa tão cruel assim. Portanto, tenham cuidado, e que ninguém seja infiel à sua mulher” (Ml 2.16, NTLH). Quando disseram a Jesus que “Moisés permitiu lavrar carta de divórcio e repudiar” o Senhor explicou que “por causa da dureza do vosso coração, ele vos deixou escrito esse mandamento; porém, desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher” (Mc 10.4–6). A permissão mosaica visava proteger a mulher mais que conceder um direito ao homem. E Jesus “reinterpreta” esse permissão com as palavras “também foi dito: aquele que repudiar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete adultério” (Mt 5.31–32).

3. Chama atenção na última passagem citada a exceção feita por Jesus: relações sexuais ilícitas. Esta é uma das exceções invocadas para justificar o divórcio e o novo casamento. A outra é o abandono por parte do cônjuge, apresentada por Paulo. Porém devemos ser cuidadosos e não fazer mau uso dessas cláusulas de exceção. Na exceção apresentada por Jesus, alguns entendem que adultério justifica o divórcio, mas não é o caso. O termo traduzido “relações sexuais ilícitas” não significa “adultério”. Pela lei, a adúltera era apedrejada, não repudiada. Além disso, para o cristão, a regra é o perdão, não o divórcio. E no caso deste, o adultério não faculta “à parte inocente” novo casamento. No caso “o descrente quiser apartar-se, que se aparte; em tais casos, não fica sujeito à servidão nem o irmão, nem a irmã” (1Co 7.15), deve ser notado que a iniciativa do abandono deve ser do cônjuge incrédulo, e só neste caso o cônjuge crente está liberado para casar-se novamente. 

Do exposto concluímos que o casamento foi instituído para ser indissolúvel, que o divórcio é sempre indesejável e quando for inevitável, o novo casamento só é aceitável em caso abandono pela parte incrédula. Contrariar esses princípios bíblicos é sempre pecado e, reafirmamos, ir contra eles é rebelar-se contra a vontade de Deus expressa em Sua Palavra. Mas, como tratar pastoralmente as diversas situações práticas com as quais nos deparamos na igreja, sendo a da irmã que perguntou, apenas uma delas, talvez a mais comum?

1. Devemos considerar, primeiro, que tudo aquilo que o homem ou a mulher fizeram em sua antiga vida, foi perdoado pelo Senhor. Penso que aqui se aplicam as passagens que dizem que “não levou Deus em conta os tempos da ignorância” (At 17.30) e “se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17). Portanto, os erros cometidos no passado não devem ser usados para oprimir o convertido. Isto não elimina a necessidade de reparação, quando aplicável, porém fazer retroagir ao primeiro casamento, desfazendo o casamento atual, é crueldade, especialmente quando no atual há filhos, como é o caso.

2. Porém, o divórcio entre crentes é tão comum quanto entre incrédulos. Embora isso não deva jamais servir para diminuirmos o peso da verdade de que Deus odeia o divórcio, a igreja precisa tratar biblicamente, vale dizer, zelando pela verdade com amor. A igreja deve disciplinar os crentes que se divorciam e não consentir (como igreja) com novas núpcias de crentes divorciados. No entanto, o divórcio sendo doloroso como sempre é, exige que os divorciados sejam acolhidos e tratados como irmãos amados em Cristo, o que realmente são. E um cuidado especial se deve ter para com os filhos de pais separados.

3. Uma questão adicional é se os que mesmo contrariando a posição da igreja casam-se novamente podem ser aceitos na igreja e exercer ministérios ordenados. A resposta para o primeiro caso é um sonoro sim, lugar de pecador é na igreja, ouvindo a Palavra de Deus e sendo cuidados pelos crentes. Porém, a resposta para o segundo caso é um igualmente sonoro não, pois a Bíblia requer que o que ocupa cargo “seja irrepreensível, esposo de uma só mulher” (1Tm 3.2).

Uma palavra final precisa ser dito àqueles que depois de crentes cometeram o pecado do divórcio e do novo casamento e que agora temem não serem salvos. Confiem na graça de nosso Senhor, cuja justiça excede qualquer pecado que tenhamos cometido. “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presença do Senhor, venham tempos de refrigério, e que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus” (At 3.19–20).

Soli Deo Gloria
domingo, 5 de maio de 2013
Nesta questão, que sempre produziu muitos conflitos na Igreja, ensinamos que se deve considerar uma tríplice condição ou estado do homem.

Qual era o homem antes da queda. Há o estado em que o homem se encontrava no princípio, antes da queda; era certamente reto e livre, de modo que podia continuar no bem ou declinar para o mal, mas inclinou-se para o mal e se envolveu a si mesmo e a toda a raça humana em pecado e morte, como se disse acima.

Qual se tornou o homem depois da queda. Depois, importa considerar qual se tornou o homem depois da queda. Sem dúvida, seu entendimento não lhe foi retirado, nem foi ele privado de vontade, nem foi transformado inteiramente numa pedra ou árvore; mas seu entendimento e sua vontade foram de tal sorte alterados e enfraquecidos que não podem mais fazer o que podiam antes da queda. O entendimento se obscureceu, e a vontade, que era livre, tornou-se uma vontade escrava. Agora ela serve ao pecado, não involuntária mas voluntariamente. Tanto é assim que o seu nome é “vontade”; não é “não – vontade”.

O homem pratica o mal por sua própria vontade. Portanto, quanto ao mal ou ao pecado, o homem não é forçado por Deus ou pelo Diabo, mas pratica o mal espontaneamente e nesse sentido ele tem arbítrio muito livre. Mas o fato de vermos, não raro, que os piores crimes e desígnios dos homens são impedidos por Deus de atingir seus propósitos não tolhe a liberdade do homem na prática do mal, mas é Deus que pelo seu próprio poder impede aquilo que o homem livremente determinou de modo diverso. Assim, os irmãos de José livremente determinaram desfazer-se dele, mas não o puderam, porque outra coisa parecia bem ao conselho de Deus.

O homem por si só não é capaz do bem. Com referência ao bem e à virtude, o entendimento do homem, por si mesmo, não julga retamente a respeito das coisas divinas. A Escritura evangélica e apostólica requer regeneração de todos aqueles de entre nós que desejamos ser salvos. Por conseguinte, nosso primeiro nascimento de Adão em nada contribui para nossa salvação. São Paulo diz: “O homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus”, etc. (I Co 2.14). E em outra passagem ele afirma que nós, por nós mesmos, não somos capazes de pensar nada de bom (II Co 3.5). Ora, sabe-se que a mente ou entendimento é a luz da vontade, e quando o guia é cego, é óbvio até onde a vontade poderá chegar. Por isso, o homem ainda não regenerado não tem livre arbítrio para o bem e nenhum poder para realizar o que é bom. O Senhor diz no Evangelho: “Em verdade, em verdade vos digo: Todo o que comete pecado é escravo do pecado” (João 8.34). E o apóstolo São Paulo diz: “Por isso o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar” (Rom 8.7). O entendimento das coisas terrenas, porém, não é inteiramente nulo no homem decaído.

Compreensão das artes. Deus em sua misericórdia permitiu que permanecesse o talento natural, apesar de este distar muito daquele que existia no homem antes da queda. Deus manda o homem cultivar o seu talento e, ao mesmo tempo, lhe acrescenta dons e favores. E é manifesto que não fazemos nenhum progresso em todas as artes sem a bênção de Deus. Certamente, a Escritura atribui todas as artes a Deus; e, na verdade, até os pagãos atribuem a origem das artes a deuses, que seriam os seus inventores.
sábado, 4 de maio de 2013
O manto da falta de significado intelectual encobre todos os aspectos da nossa vida cotidiana. Acontecimentos, coisas e "informações" nos afogam, nos subjugam, desorientando-nos com ameaças e possibilidades acerca das quais a maioria de nós não sabe o que fazer.

Comerciais, slogans, bordões políticos e pretensiosos rumores intelectuais atulham o nosso espaço mental e espiritual. As nossas mentes e os nossos corpos "pegam" essas coisas como um terno escuro pega fiapos. Elas nos decoram. Nós nos dispomos a ostentar mensagens nas camisas, nos bonés - até nos fundilhos das calças. Algum tempo atrás tivemos uma campanha nacional contra os outdoors nas estradas. Mas os outdoors não são nada se comparados àquilo que hoje exibimos por todo o corpo. Estamos imersos num "ruído" onipresente que nos acompanha do nascimento à morte - ruído silencioso e nem tão silencioso.

Pois não é de espantar que pessoas se disponham a ostentar uma marca comercial na camisa, no boné ou no sapato para dizer aos outros quem elas são? E veja o leitor que vivemos num mundo em que criancinhas pequenas cantam coisas como: "Eu queria ser uma [determinada marca de] salsicha. É isso que eu realmente quero ser. Pois, se eu fosse [essa determinada marca de] salsicha, todos se apaixonariam por mim".

Pense no que significaria ser uma salsicha ou no que significa alguém amar você como "ama" um cachorro-quente. Pense num mundo em que os adultos pagariam milhões de dólares para ter crianças cantando essa música em "comerciais" e em que centenas de milhões, bilhões até, de adultos não vêem problema nenhum nisso. Pois você está pensando no nosso mundo. Se você se dispõe a ser uma salsicha para ter amor, o que mais não faria? É de admirar que a depressão e outros distúrbios mentais e emocionais sejam epidêmicos? Quem é, afinal, que está hoje voando de cabeça para baixo?

Nos escombros das certezas despedaçadas do passado, o nosso anseio por bondade, correção e aceitação — e ainda orientação - faz que nos apeguemos a slogans de adesivos, a mensagens ostentadas nas roupas e panaceias compradas em lojinhas de presentes, coisas que nós, vivendo de cabeça para baixo, julgamos profundas, mas que de fato não fazem sentido: "Defenda os seus direitos" parece ótimo. E que dizer de: "Tudo o que eu precisava saber já aprendi no jardim de infância"? E: "Pratique boas ações aleatórias e insensatos atos de beleza"? E por aí afora.

Tais dizeres contêm um mínimo elemento de verdade. Mas, se você tentar realmente planejar a sua vida com base neles, vai se ver em sérios apuros. Eles o fazem girar 180 graus, encaminhando-o na direção errada. É o mesmo que modelar a vida com base em Bart Simpson ou Seinfeld. Em vez disso, experimente "Defenda as suas responsabilidades" ou "Eu não sei o que preciso saber e, portanto, devo hoje dedicar toda a minha atenção e todas as minhas forças a descobrir isso" (pondere Pv 3:7 ou 4:7) ou "Pratique rotineiramente boas ações deliberadas e inteligentes atos de beleza"

Colocar esses lemas em prática é algo que imediatamente infunde na vida verdade, bondade, força e beleza. Mas você jamais vai encontrá-los num cartão, num botão ou num adesivo. Não são considerados inteligentes. O que é verdadeiramente profundo é tido como idiota e banal, ou pior, chato, enquanto aquilo que é realmente idiota e banal é considerado profundo. É isso que eu quero dizer com a idéia de voar de cabeça para baixo.

Tudo o que é realmente profundo na sabedoria sagaz é a terrível necessidade da alma à qual esses lemas respondem incoerentemente. Nós percebemos a incoerência boiando pouco abaixo da superfície, e achamos a incoerência e a impropriedade vagamente agradáveis e fiéis à realidade: qual o valor de defender os direitos num mundo em que poucos defendem as suas responsabilidades? A menos que os outros sejam responsáveis, os seus direitos serão de pouca valia. E será que se aprende no jardim de infância a atrair pessoas e ganhar muito dinheiro escrevendo livros que asseguram aos outros que eles já sabem tudo o que precisam saber para viver bem? E como praticar algo que é aleatório? Logicamente é impossível. O que é aleatório pode atingir você, mas tudo o que se faz deliberadamente com certeza não é aleatório. E nenhum ato de beleza é insensato, pois o belo nunca é absurdo. Nada tem mais significado do que a beleza.

De fato, os dizeres populares atraem as pessoas só porque elas se sentem assombradas pela idéia, oriunda dos cumes intelectuais, de que a vida é na realidade absurda. Assim o único alívio aceitável é ser sagaz ou inteligente. Nos lares e nos edifícios públicos do passado, viam-se penduradas na parede ou gravadas em pedra e madeira palavras de grave e desprendida exortação, invocação e bênção. Mas esse mundo é passado. Hoje a lei é "ser sagaz ou morrer". A única sinceridade tolerável é a inteligente insinceridade. É isso que as mensagens das roupas e dos cartões realmente alardeiam. A "mensagem" específica pouco importa.

E no entanto temos de agir. O foguete da vida já foi lançado. A ação é eterna. Nós estamos nos tornando agora aquilo que seremos — para sempre. O absurdo e a sagacidade são assuntos bons para quem quer rir ou talvez cismar. Mas não valem como fundamento de vida. Não proporcionam refugio nem orientação ao ser humano.

Dalla Willard
In: A Conspiração Divina