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segunda-feira, 27 de maio de 2013
É admirável o esforço que alguns teólogos do livre-arbítrio fazem para tentar desacreditar a doutrina da predestinação. Como argumentar a partir de uma exegese bem feita e de uma hermenêutica sadia é arriscado para tal propósito, a estratégia geralmente adotada é de levantar objeções humanistas, que embora padeçam de falta de substância, esbanjam apoio popular. Eventualmente surge alguma “novidade” que parece vai quebrar a mesmice dos argumentos anti-predestinação. Mas no fundo, é mais do mesmo, exceto talvez pelo apelo a uma autoridade diferente.

Penso ser o caso da citação das palavras do psiquiatra adventista Timothy Jennings, que motivou o professor Leandro Quadros a escrever o artigo, cuja manchete sensacionalista diz “Para psiquiatra, doutrina da “dupla predestinação” prejudica a mente”. As palavras do psiquiatra, citadas por um empolgado professor são:
“Um dos métodos que Satanás usa para destruir a razão é convencer as pessoas a crer em antíteses e em coisas que não fazem sentido. Para atingir esse alvo, ele as influencia a desconsiderar a razão, para que aceitem duas coisas que não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Por exemplo, Satanás contraria a verdade que Deus é amor, levando-nos a crer que Ele escolhe quem se salvará e quem se perderá, insistindo em que não temos livre-arbítrio nessa questão. Como já vimos, o amor não pode existir sem liberdade. Portanto, as duas crenças se excluem mutuamente. As duas não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo, e a única maneira de acreditar em ambas é renunciando à razão. Numa situação como essa, racionalizamos a contradição, dizendo: ‘Aceito isso pela fé’, o que, conforme já vimos simplesmente não é fé”.
Sinceramente, não acho que seja o caso dos calvinistas renovarem seu estoque de anti-depressivos, nem dos anti-calvinistas ficarem eufóricos. Em que pese a formação do autor da declaração, ela se desmancha como papel em água quando analisadas com alguma atenção, e isto sob vários aspectos, como veremos. A resposta será postada em partes, visando textos curtos, sendo este o primeiro.

1. Resposta científica

Que fique bem claro que não sou qualificado para me pronunciar sobre os aspectos médicos da questão. Mas como a citação do Dr. Timothy Jennings veio somente com o endosso dele próprio, escrevi a ele fazendo duas perguntas: em quais pesquisas científicas ele baseou a relação causal entre crença na doutrina da predestinação e distúrbios mentais e se ele, pessoalmente, já havia atendido algum paciente cujo diagnóstico foi apontado como tendo como causa a crença na predestinação. Até a publicação deste artigo não obtive resposta, e pesquisei nos artigos de sua autoria e não encontrei tais referências. Contudo, isto não pode ser interpretado como significando que tais estudos não existem, apenas que se existentes, não foram indicados.

Por outro lado, pesquisei publicações científicas sobre o tema e cito três artigos técnicos, de publicações especializadas que sugerem que a realidade pode não ser bem assim. Por exemplo, um estudo realizado por uma equipe de psiquiatras comparou setenta pacientes calvinistas com pacientes sem afiliação religiosa. O resultado apresentado foi que calvinistas estritos apresentaram níveis mais baixos de depressão no teste BDI-II (Back Depression Invetory II), especialmente no grupo de sintomas relacionados ao suicídio (A. A. de Lely, W. W. van den Broek, P. G. H. Mulder, T. K. Birkenhäger W. W. van den Broek, P. G. H. Mulder, T. K. Birkenhäger. Symptoms of depression in strict Calvinist patients and in patients without religious affiliations: a comparison). 

Um outro estudo fez o cruzamento dos sintomas de depressão com a filiação denominacional de 3020 cidadãos idosos da Holanda. Calvinistas reformados tiveram o menor índice entre todos os grupos religiosos. Os liberais tiveram os índices mais altos e católicos romanos, outras igrejas e os sem igrejas ficaram na média (Arjan W. Braam, Aartjan T. F. Beekman, Cees P. M. Knipscheer, Dorly J. H. Deeg, Pieter Van Den Eeden, and Willem Van Tilburg. Religious Denomination and Depression in Older Dutch Citizens: Patterns and Models. Journal Aging Health November 1998.). 

Uma terceira pesquisa, realizada com adultos em Nebraska, procurou relacionar o efeito da frequência à igreja na redução dos sintomas de depressão, considerando três grupos: protestantes tradicionais, protestantes evangélicos e católicos romanos. Os três grupos diferiram entre si, mas apenas os protestantes tradicionais apresentaram uma significativa redução dos sintomas de depressão com uma maior frequência à igreja (Philip Schwadel and Christina D. Falci. Interactive Effects of Church Attendance and Religious Tradition on Depressive Symptoms and Positive Affect. Society and Mental Health March 2012 2: 21-34, first published on April 13, 2012).

Portanto, até prova em contrário, devemos considerar que as palavras do referido psiquiatra são no mínimo questionáveis.

Leia a segunda parte de "A doutrina da predestinação prejudica a mente?"

Soli Deo Gloria

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