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quinta-feira, 23 de agosto de 2012
A necessidade de direção divina nunca é mais profundamente sentida do que quando uma pessoa assume a tarefa de dar instrução sobre a obra do Espírito Santo — o assunto é tão indizivelmente delicado que toca os segredos mais íntimos de Deus e os mistérios mais profundos da alma.
Nós instintivamente protegemos a intimidade de nossos parentes e amigos do escrutínio inoportuno, e nada fere mais o coração sensível do que a exposição impertinente daquilo que não é para ser revelado, sendo bonito apenas no círculo familiar. Muito maior delicadeza condiz com nossa aproximação ao santo mistério da intimidade de nossa alma com o Deus vivo. Na verdade, nós dificilmente podemos encontrar palavras para expressá-la, pois ela toca um domínio muito além da vida social onde a linguagem é formada e o uso determina o signifi cado das palavras.
Lampejos dessa vida foram revelados, mas a maior parte está oculta. É como a vida daquele que não clamou, nem gritou nem fez ouvir sua voz na praça. E o que se ouviu foi sussurrado, mais do que propriamente falado — um sopro da alma, suave, mas silente, ou mais uma irradiação do calor da própria alma. Algumas vezes a quietude foi quebrada por um brado ou um grito extasiado, mas houve principalmente um trabalho silencioso, uma ministração de repreensão severa ou de um doce conforto por aquele maravilhoso Ser da Santa Trindade que, com língua balbuciante, nós adoramos como o Espírito Santo.
A experiência espiritual não pode fornecer nenhuma base para instrução, pois tal experiência repousa sobre o que se passou em nossa própria alma. Certamente que isso tem valor, infl uência, voz no assunto. Mas o que garante a precisão e a fi delidade ao interpretarmos tal experiência? E, novamente, como podemos distinguir suas várias fontes — de nós mesmos, de fora ou do Espírito Santo? A dupla questão será sempre pertinente: Nossa experiência é compartilhada por outras pessoas? Ela pode ser adulterada pelo que é em nós pecaminoso e espiritualmente anormal?
Embora não haja nenhum assunto em cujo tratamento a alma se incline mais para extrair sua própria experiência, não há nenhum que demande mais que nossa única fonte de conhecimento seja a Palavra dada a nós pelo Espírito Santo. Em decorrência disso, a experiência humana pode ser ouvida, atestando o que os lábios confessaram, até mesmo dando uma passada de olhos nos abençoados mistérios do Espírito, que são indizíveis, e dos quais as Escrituras, portanto, não falam. Mas não podemos nos basear nela para dar instrução a outros.
A Igreja de Cristo certamente apresenta abundante pronunciamento espiritual em hinos e cânticos espirituais; em homílias exortatórias e consoladoras; em confissão sóbria ou explosões de almas quase submersas pelas enchentes de perseguição e martírio. Mas nem mesmo isso pode ser a base do conhecimento da obra do Espírito Santo.
Abraham Kuyper
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