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domingo, 29 de abril de 2012

Este sacerdócio não era temporário nem tampouco legal, senão segundo a ordem de Melquisedeque; e é estável e perfeito, não só por um tempo, senão para sempre. E vem a Cristo como a alguém que vive para sempre. Cristo foi ao mesmo tempo, sacerdote, sacrifício e altar. Era o sacerdote de acordo com as suas duas naturezas. Era o sacrifício segundo a sua natureza humana, por isso este sacrifício está atribuído a seu corpo e sangue. Mas a efetividade deste sacrifício dependeu de sua natureza divina e por isso é chamado o sangue de Deus. Ele era o altar segundo sua natureza divina, sendo do altar a santificação de tudo o que é sacrificado sobre ele, e por isso teria que ser mais digno o altar do que o sacrifício mesmo.

Artigo 18
Primeira Confissão Londrina, 1642/44
sábado, 28 de abril de 2012

Quatro frases de estrutura análoga atestam admiradas como Deus procede de modo objetivo e conseqüente, longe de qualquer capricho. A primeira concatenação refere-se a dois atos antes dos tempos. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou (de antemão). O termo “reconhecer” não possui aqui seu sentido corrente, mas está marcado pelo AT: Descobrir alguém, reconhecendo-o para si, ou seja, separar para uma relação de confiança pessoal, em suma, eleger. Os que se acercaram uma vez, nesse sentido, do campo de visão de Deus, também chegam ao seu campo de força: São determinados por ele, ou seja, “programados” por ele.

Neste ponto Paulo interrompe a seqüência, a fim de delinear brevemente esse programa: para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. As passagens do NT que falam de uma conformação com a imagem de Cristo pertencem à esfera de Gn 1.27. Giram em torno da destinação do ser humano para ser imagem e semelhança de Deus. O primeiro Adão falhou em ser essa imagem, Cristo a cumpriu. É por isso que ele também recebe a designação de Filho: O Filho espelha o Pai (Jo 14.9). Cristo é, portanto, o novo Adão (1Co 15.47), o cabeça de uma nova família humana, primogênito entre muitos irmãos. Na Bíblia a primogenitura inclui igualdade com os nascidos depois, mas igualmente superioridade no grau e na dignidade. Por conseqüência, a igreja cristã se considera incluída nesse projeto para a humanidade.

Passemos à segunda concatenação: E aos que (de antemão) predestinou, a esses também chamou (vocacionou). A atuação de Deus ultrapassa agora o limiar da história e aparece em biografias terrenas como vocação. Ela é recebida pela pregação do evangelho e na obediência da fé. A terceira concatenação: aos que chamou (vocacionou), a esses também justificou. Por causa de Jesus, Deus os declara santos (Rm 1.7; 8.27). De acordo com Rm 4.17 trata-se de um agir criador: “(Deus) chama à existência as coisas que não existem” (Rm 4.17). Por fim, a quarta concatenação: aos que justificou, a esses também glorificou. Em outras unidades textuais, Paulo também fala da glória que já atua em nós no presente (2Co 3.18). Aqui, porém, a linha de pensamento desde os v. 17,18 leva a uma glorificação ainda esperada para o fim. O fato de trazer algo vindouro na forma do pretérito perfeito explica-se pelo estilo profético. Nessa forma lingüística ele expressa o grau máximo de certeza. “Diante de Deus também a última glorificação já é 'perfeita'” (Werner de Boor).

Adolf Pohl
In: Carta aos Romanos - Comentário Esperança
sexta-feira, 27 de abril de 2012

Que nenhum leitor pense que é o suficiente ser salvo e deixe de buscar a recompensa da mesma forma. Para qualquer pessoa verdadeiramente nascida de novo, o Senhor a está chamando para perseguir a excelência espiritual – para obter recompensa. E deveria ser para ele uma coisa natural persegui-la e obtê-la. Ainda que não para seu próprio benefício, mas para ganhar o coração e a alegria de Deus. Pois qualquer que é recompensado pelo Senhor tem alegrado o Seu coração. 

Assim como um pecador deve ser salvo, também um crente deve ser recompensado. A recompensa para um crente é tão importante como a salvação para um pecador. Se um santo fracassa em alcançar a recompensa, não significa que ele sacrificou o seu lucro, mas apenas indica que a sua vida não é santa, seu labor não é fiel e que ele não tem manifestado o Senhor Jesus durante os seus dias de peregrino.

Ensinamentos recentes têm oscilado entre dois extremos. Alguns julgam a salvação como sendo algo tão difícil que demande muito das pessoas. Dessa forma, eles anulam a morte substitutiva e a obra da redenção do nosso Senhor Jesus. Tal ensinamento põe toda a responsabilidade no homem e ignora aquilo que a Bíblia diz sobre nós sermos salvos pela graça através da fé. Alguns outros pensam que, já que tudo é de graça, então todos os que crêem no Senhor Jesus serão não apenas salvos mas também recompensados com glória e reinarão no futuro com o Senhor Jesus. E assim eles lançam toda a responsabilidade sobre Deus e negligenciam o que é observado nas Escrituras: que alguns crentes – apesar de serem salvos – sofrerão perda, todavia pelo fogo. (1 Cor. 3.15).

Watchman Nee
In: Ajuda ao Apocalipse


quinta-feira, 26 de abril de 2012

É preciso reconhecer o senhorio de Deus na área do pensamento, bem como em todos os aspectos da vida humana. Devemos confessar que os pensamentos de Deus são totalmente soberanos e, portanto, agudamente diferentes dos nossos, já que os nossos são pensamentos de servos. Também, o ser de Deus está completamente além da nossa compreensão, mas não devemos interpretar a incompreensibilidade de Deus de um modo tal que comprometa a cognoscibilidade de Deus ou o envolvimento de Deus conosco no processo de pensar e de conhecer. Deus é revelado, e nós o conhecemos verdadeiramente, mas é nessa revelação e por causa dessa revelação que nos erguemos maravilhados.

John M. Frame
In: A doutrina do conhecimento de Deus
terça-feira, 24 de abril de 2012
1. Divinização do homem. A partir de uma interpretação equivocada de Salmos 82.6, os teólogos da prosperidade criaram a doutrina dos “pequenos deuses”. Kenneth Kopeland, pregador da Teologia da Prosperidade, afirmou certa feita: “Cachorros geram cachorros, gatos geram gatos e Deus gera deuses”. A intenção dessa doutrina é ensinar a “teologia do domínio”. Sendo deus, o crente agora pode tudo. A Bíblia, porém diz que o homem é estruturalmente pó (Gn 2.7; 3.19).

2. Demonização da salvação. Esse ensino chega ao extremo de afirmar que, ao morrer na cruz, Cristo teria assumido a natureza de Satanás e que o Filho de Deus teve de nascer de novo no inferno a fim de conquistar a salvação. Assim, os proponentes da Teologia da Prosperidade colocam o Diabo como coautor da salvação. Pois esta não aconteceu na cruz quando Cristo bradou “Está consumado!”, mas somente quando Ele voltou do inferno onde teria derrotado Satanás em seu próprio terreno. Hagin disse que o grito de Jesus referia-se ao fim da Antiga Aliança e não ao cumprimento do processo da salvação. A Bíblia, porém, diz que a salvação foi conquistada na cruz e que o maligno não tem parte com o Senhor (Mt 27.51; Jo 14.30).

3. Negação do sofrimento. Os crentes não precisam mais sofrer. Todo sofrimento já foi levado na cruz do Calvário e o Diabo deve ser responsabilizado por toda e qualquer situação de desconforto entre os crentes. Aqui há uma clara influência da Ciência Cristã que também não admite o sofrimento. A Bíblia diz que o cristão não deve temer o sofrimento e tampouco negá-lo (Cl 1.24; Tg 5.10)

Josué Gonçalves
In: Lições Bíblicas CPAD, Primeiro Trimestre 2012
segunda-feira, 23 de abril de 2012

“Porque o que fala língua estranha não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios” (1Co 14:2).
O professor Leandro Quadros foi bastante gentil em me enviar um exemplar, com dedicatória, do seu livro Na Mira da Verdade, pelo que me senti honrado. Não posso fazer uma avaliação da obra, uma vez que ainda não tive a oportunidade de ler, já que junto com ele veio um presente da querida Grace Ferrari, o livro O Incomparável Cristo, o qual furou minha fila de leitura. Mas passando o dedo pelo índice, no capítulo Respostas a Perguntas Frequentes, uma pergunta chamou minha atenção a ponto de inspirar este post. Ei-la: “Paulo diz em 1Co 14:2 que a pessoa que fala em língua estranha não fala aos homens, mas, a Deus. Por que então vocês não acreditam no dom de línguas?”.

Na resposta oferecida, Leandro diz que “existem duas interpretações” para o versículo que ele julga serem as mais corretas. Na primeira delas, Paulo estaria reprovando o uso do falar em línguas pois o mesmo seria uma importação do falar extático dos cultos pagãos de Corinto. Na segunda, que é a pessoalmente esposada por Leandro, as línguas referidas por Paulo são apenas “idiomas usados para pregar o evangelho” e que “o dom de línguas tem um propósito puramente evangelístico”. Ele fundamenta sua posição argumentando que “glossa significa idiomas”, que “laleo está relacionado com a palavra língua, indicando a linguagem é a do dia a dia” e ainda que “a expressão ‘língua estranha’ não se encontra no original grego”

Quanto à primeira interpretação, é certo que falar línguas não se trata de uma importação de práticas pagãs, uma vez que embora Paulo repreenda a desordem no culto, especialmente quanto aos exageros ao falar em línguas, ele não reprova o dom em si. Pelo contrário. Ele inclui o falar línguas entre os “dons espirituais” (v.1), diz que falar em línguas é “falar a Deus” e “falar em Espírito” (v.2), que o crente que fala em língua “edifica a si mesmo” (v.4) e que por isso desejava que “todos falassem em línguas” (v.5), ainda mais se houvesse interpretação, pois então seria comparável ao dom de profecia (v.5). É inconcebível que Paulo qualificasse dessa forma uma prática pagã introduzida no culto. Na verdade, uma leitura dos primeiros cinco versos mostra que Paulo estava monstrando que o dom de profecia era superior ao dom de línguas, quando este não fosse interpretado na igreja.

A segunda possibilidade é a de que o dom de línguas refere-se a idiomas humanos, hipótese que ele defende apoiado principalmente nos termos utilizados no original. Quanto ao termos “estranha” não constar do original, concordo com ele, mas isso não influi na conclusão. Já os termos glossa e laleo são importantes para elucidar a questão e temos que analisar não apenas o sentido etimológico delas, mas principalmente o uso teológico que os escritores bíblicos fazem da associação desses dois termos. O termo glossa ocorre 50 vezes no NT, sendo que em 17 vezes a referência é ao órgão da fala e 7 vezes a um sentido étnico, estas todas no Apocalipse. Na maioria das vezes, mais precisamente em 25 das ocorrências, tem-se em mente o fenômeno sobrenatural de falar em línguas. Que me lembre, não existe nenhuma ocorrência de “falar em línguas” que se refira a idiomas terrenos. Para se referir a língua ou linguagem própria de cada povo, o Novo Testamento usa o termo dialektos (At 1:19; 2:6,8; 21:40; 22:2; 26:14), o qual por sua vez jamais é utilizado para se referir ao dom espiritual de línguas. Portanto, uma análise abrangente dos termos glossa e laleo desfavorece decisivamente a conclusão de que Paulo estava se referindo a idiomas humanos.

Cabem outras considerações ao tema. O professor disse que o dom de línguas tem “um propósito puramente evangelístico”, o que não é verdade. No texto em questão, Paulo não tem em vista a evangelização de perdidos, mas a edificação da igreja, à qual se refere diretamente seis vezes em 1Co 14 (versos 3, 4, 5, 12, 17, 26). Quanto à sua utilidade para evangelização, o que podemos inferir das seguintes palavras? “Se, pois, toda a igreja se reunir num mesmo lugar, e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou incrédulos, não dirão porventura que estais loucos?” (1Co 14:23). Em nenhum lugar do Novo Testamento vemos o dom de línguas sendo utilizados para evangelização, exceto talvez como sinal. O professor Leandro cita como evidência do propósito evangelístico do dom de línguas At 10:44 e 19:10. A primeira passagem diz “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra”. Note que Pedro não usou o dom de línguas para pregar, pelo contrário, os evangelizados é que falaram em línguas, e depois de receberem o evangelho. A segunda passagem citada diz “E durou isto por espaço de dois anos, de tal maneira que todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, tanto judeus como gregos”. Não há uma referência direta ao falar em línguas aqui, mas nos versos 5 e 6 lemos “E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas e profetizavam”. Novamente, o dom de línguas não foi utilizado para evangelizar, mas depois de terem sido evangelizados e batizados é que receberam o dom de falar em línguas. E a duração referida no verso 10 não é a do dom de línguas, mas às disputas diárias na Escola de Tirano.

Concluímos pois que o professor Leandro não respondeu corretamente à pergunta feita. A resposta correta seria a que um pentecostal daria, primeiro afirmando a atualidade do dom de línguas, uma vez que nada na Bíblia indica a sua cessação antes da volta do Senhor. E em seguida, indicando sua real natureza, não um idioma humano, mas um dom sobrenatural do Espírito que capacita falar em uma língua não aprendida por quem fala, nem entendida por que ouve, exceto se interpretada também por um dom sobrenatural.

Soli Deo Gloria
domingo, 22 de abril de 2012

Quanto ao seu sacerdócio, Cristo, havendo se santificado, apareceu uma só vez para tirar o pecado, e por este ato terminou de sofrer todos os ritos e sombras, etc., e agora tem entrado por trás do véu, até no Lugar Santíssimo, donde está a presença de Deus. Também fez de seu povo uma casa espiritual, um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por meio dele. E o Pai não aceita outros adoradores além destes e Cristo não lhe oferece outros.

Artigo 17
Primeira Confissão Londrina, 1642/44
sexta-feira, 20 de abril de 2012

De vez em quando leio comentários de cristãos nas mídias sociais dizendo, "eu sou mais a Bíblia, eu só quero Jesus, esse negócio de discussão doutrinária só divide a igreja, é coisa de homem e do diabo".

É claro que eles estão certos se a discussão doutrinária for movida por interesse mercenários e pela luta pelo poder. Todavia, este tipo de juízo generalizado revela uma falsa piedade enorme e uma ignorância ainda maior.

Se hoje estes queridos têm a Bíblia no Brasil para ler em português e conhecem o Jesus que ela ensina é por que:
  • A Igreja reconheceu os 66 livros somente depois de muita polêmica contra Marcião e Montano no séc. II a III; sem isto, nem Bíblia teríamos ou então, uma mutilada; 
  • Os Reformadores quebraram o pau na Idade Média para dizer que a Bíblia é a revelação final de Deus e com isto conseguir que ela voltasse para as mãos do povo;  sem isto, estaríamos escutando missa em latim até hoje e sem uma Bíblia em nossa língua para conferir;
  • Comitês de tradução brigam e disputam teologia para saber qual a melhor tradução do grego e hebraico para o português; imagino que estes irmãos "piedosos" não lêem nem grego e nem hebraico e que dependem do português para ler a Bíblia;
  • Teólogos e mestres crentes lutaram e brigaram contra os liberais para que as igrejas ficassem com o Evangelho puro acerca de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Sem estas disputas teológicas, estaríamos reverenciando um Jesus diferente daquela da Bíblia.

Portanto, acho que estes irmãos estão simplesmente cuspindo no prato em que comem todo dia, ao condenar as disputas teológicas ao mesmo tempo que lêem sua Bíblia em português.

Augustus Nicodemus Lopes
quarta-feira, 18 de abril de 2012

Tenho pelo ministro Marco Aurélio pessoal admiração, pela coragem de suas decisões e pelo acentuado amor ao Direito, à Justiça e à cidadania que sempre demonstrou nutrir. Por essa razão, é com imenso desconforto que escrevo este artigo discordando da decisão favorável à morte de nascituros, que proferiu nos estertores do primeiro semestre.

Estou convencido - apesar de ser eu um modesto advogado de província e ele, brilhante guardião da Constituição - de que a decisão é manifestamente inconstitucional. Macula o artigo 5º da lei suprema, que considera inviolável o direito à vida. Fere o § 2º do mesmo artigo, que oferta aos tratados internacionais que cuidam de direitos humanos a condição de cláusula imodificável da Constituição. Viola o artigo 4º do Pacto de São José, tratado internacional sobre direitos fundamentais a que o Brasil aderiu, e que declara que a vida começa na concepção.

Juridicamente, a antecipação, pelo aborto, da morte do anencéfalo é vedada pelo texto maior brasileiro.

O argumento de que o anencéfalo pode ser abortado porque está condenado à morte escancara o caminho para a eutanásia de todos os doentes terminais ou afetados por doenças incuráveis. Possibilita a cultura do eugenismo, no melhor estilo do nacional-socialismo, que propugnava uma raça pura, eliminando os imperfeitos ou socialmente inconvenientes. Fortalece a hipocrisia dos que defendem o aborto de seres humanos, embora considerem crime hediondo provocar o aborto em uma ursa panda ou eliminar baleias. Os animais merecem, de alguns - e tenho a certeza de que meu prezado amigo ministro Marco Aurélio não está entre eles -, mais proteção do que o ser humano, no ventre materno. Enfim, a decisão do antigo presidente da suprema corte abre uma enorme avenida para os cultores da morte, os homicidas uterinos, os que pretendem transformar o ser humano em lixo hospitalar.

Nos Estados Unidos, a Suprema Corte americana, no caso Dred Scott, em 1857, defendeu a escravidão e o direito de matar o escravo negro, à luz dos seguintes argumentos: 1) o negro não é uma pessoa humana e pertence a seu dono; 2) não é pessoa perante a lei, mesmo que seja tido por ser humano; 3) só adquire personalidade perante a lei ao nascer, não havendo qualquer preocupação com sua vida; 4) quem julgar a escravidão um mal, que não tenha escravos, mas não deve impor essa maneira de pensar aos outros, pois a escravidão é legal; 5) o homem tem o direito de fazer o que quiser com o que lhe pertence, inclusive com seu escravo; 6) a escravidão é melhor do que deixar o negro enfrentar o mundo.

Em 1973, no caso Roe y Wae, os argumentos utilizados, naquele país, para hospedar o aborto foram os seguintes: 1) o nascituro não é pessoa e pertence à sua mãe; 2) não é pessoa perante a lei, mesmo que seja tido por ser humano; 3) só adquire personalidade ao nascer; 4) quem julgar o aborto mau, não o faça, mas não deve impor essa maneira de pensar aos outros; 5) toda mulher tem o direito de fazer o que quiser com o seu corpo; 6) é melhor o aborto, do que deixar uma criança malformada enfrentar a vida (Roberto Martins, Aborto no Direito Comparado , in A Vida dos Direitos Humanos, Sérgio Antonio Fabris Editor, 1999).

Como se percebe, a corte americana usou os mesmos argumentos para justificar a escravidão e o aborto.

Meu caro amigo ministro Marco Aurélio - de quem divergir no episódio causa-me profundo desconforto --, ao justificar o aborto, que é a pena de morte, no caso do nascituro anencéfalo, por ser ele um condenado à morte, está, também, justificando a pena de morte a todos os doentes terminais, pela eutanásia, e abrindo a porta para o culto à raça pura, inclusive às manipulações genéticas para que sejam produzidos somente seres humanos perfeitos e saudáveis, e - o que é pior - valorizando a cultura da morte e não a defesa da vida. Uma vez aberto o caminho, por ele passarão todas as teses antivida.

Espero - pois a Constituição garante a todos os seres humanos, bem ou malformados, sadios ou doentes, o direito à vida desde a concepção, sendo a morte apenas a decorrência natural de sua condição e não a decorrência antecipada de convicções ideológicas - que venha a rever seu voto, quando a questão for levada ao plenário. Espero, também, que seus pares homenageiem a vida, proscrevendo a morte antecipada.

__________________
Ives Gandra Martins
Advogado do escritório Advocacia Gandra Martins
Artigo publicado no Jornal do Brasil de 15/7/04
terça-feira, 17 de abril de 2012
segunda-feira, 16 de abril de 2012

Dos elementos do culto, o louvor recebe especial destaque. É como se a Bíblia ordenasse "cantai sem cessar" e "cante quer seja oportuno, quer não". Infelizmente, o problema não é apenas de quantidade, nem só de ênfase, mas principalmente de qualidade. Embora muitos discordem de que os louvores cantados na igreja sofram de uma pobreza espartana, isto se dá porque não pensaram o bastante sob qual prisma os louvores devem ser avaliados. Este texto é um convite à reflexão, a partir de três perguntas básicas.

1. A quem o louvor é dirigido? Todos concordam que louvor é adoração, como o são os demais elementos do culto. E sendo adoração, tem Deus como objeto, uma vez que louvar outro ser é idolatria. Assim, todos os cânticos são oferecidos a Deus, mesmo aqueles que visam edificar a igreja, pois diz a Bíblia "instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus" (Cl 3:16). Acredito também que todos concordam que sendo oferecido a Deus, o nosso louvor deve ser o melhor que podermos oferecer. Não podemos oferecer animais cegos, doentes ou aleijados ao Senhor, esperando que Ele seja menos exigente que um governador. "Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E, quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao teu governador; acaso, terá ele agrado em ti e te será favorável? —diz o SENHOR dos Exércitos" (Ml 1:8). Somente o nosso melhor é aceitável.

2. Mas quem define o que é melhor em matéria de louvor? Na antiga dispensação, Deus definia como deveria ser o sacrifício oferecido a Ele. "Quando alguém oferecer sacrifício pacífico ao SENHOR, quer em cumprimento de voto ou como oferta voluntária, do gado ou do rebanho, o animal deve ser sem defeito para ser aceitável; nele, não haverá defeito nenhum" (Lv 22:21). Na Nova aliança, o sacrifício de animais foi substituído pelo perfeito sacrifício de Jesus, porém ainda é ordenado aos crentes "que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rm 12:1). Como uma oferta a Deus, nosso louvor deve ser "como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus" (Fp 4:18). O Senhor nosso Deus é que decide o louvor que Lhe é agradável.

3. Como podemos saber qual é o louvor que agrada a Deus? Deus não nos abandonou à sorte, para descobrirmos por tentativa e erro, que tipo de louvor lhe é agradável. Temos na Sua Palavra, instruções claras e exemplos práticos de como deve ser o cântico que entoamos no culto. Basta-nos salientar neste artigo o seguinte ponto: a quem o louvor que cantamos exalta, a Deus ou ao homem? "Eu sou o SENHOR, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem" (Is 42:8) é a reivindicação de Jeová. "Não a nós, SENHOR, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da tua misericórdia e da tua fidelidade" (Sl 115:1) deve ser nossa resposta. Acima de qualquer qualidade técnica ou melódica, nosso louvor deve refletir esse princípio.

É possível, triste mas possível, que você acredite que apesar do que a Bíblia diz, você pode cantar louvores que sejam clara ou sutilmente anti-bíblicos. Talvez você pense que seus gostos musicais vem antes da glória de Deus ou quem sabe Deus prefira o seu prazer ao dEle. Se este for o caso, permita-se ouvir o que Deus diz através de Isaías: "Parem de trazer ofertas inúteis! O incenso de vocês é repugnante para mim. Luas novas, sábados e reuniões! Não consigo suportar suas assembléias cheias de iniqüidade. Suas festas da lua nova e suas festas fixas, eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais!" (Is 1:13-14, NVI)

Soli Deo Gloria
domingo, 15 de abril de 2012

Era imprescindível que Ele fosse Deus e homem para poder ser um Profeta em todo sentido da palavra, porque si não fosse Deus então não poderia compreender perfeitamente a vontade de Deus; e se não fosse feito homem, não poderia esclarecer a vontade de Deus aos homens em sua própria pessoa.

Nota:

Que Cristo é Deus está expresso esplendidamente nas Escrituras:

  • É chamado o Deus Todo-poderoso (Is 9.6).
  • Que o Verbo era Deus (Jo 1.1).
  • Cristo, o qual é Deus que reina sobre tudo (Rm 9.5).
  • Deus manifestado em carne (1Tm 3.16).
  • É o mesmo Deus (1Jo 5.20).
  • É o primeiro (Ap 1.8).
  • Dá a existência a todas as coisas, e sem Ele nada foi feito (Jo 1.2).
  • Perdoa o pecado (Mt 9.6).
  • Era antes de Abraão (Jo 8.58).
  • Era e é e para sempre será o mesmo (Hb 13.8).
  • Sempre está com os seus até o fim do mundo (Mt 28.20).
  • E tudo isto não poderia ser dito de Cristo se Ele não fosse Deus. E ao Filho o Pai tem dito que seu trono está estabelecido para sempre (Hb 1.8; Jo 1.18).

Cristo não é unicamente perfeito Deus, senão também perfeito homem, feito de mulher (Gl 4.4):

  • Feito da semente de Davi (Rm 1.3).
  • Veio dos lombos de Davi (At 2.30).
  • De Jessé e Judá (At 13.23).
  • Assim como os filhos eram participantes de carne e sangue, Ele também tomou parte com eles (Hb 2.14).
  • Ele não tomou a natureza dos anjos, senão da semente de Abraão (v. 16).
  • Assim somos osso de seu osso e carne de sua carne (Ef 5.30).
  • E aquele que santifica e os que são santificados são um (Hb 2.11; veja também Hb 3.22; Dt 18.15; Hb 1.1).

Artigo 16
Primeira Confissão Londrina, 1642/44

quinta-feira, 12 de abril de 2012
O que Paulo estava fazendo, ao dizer: "Se alguém ama a Deus esse é conhecido por Ele", era recordando aos orgulhosos cristãos de Corinto que amar a Deus, e não o conhecimento sem amor, é o sinal de estarem entre os eleitos. Estava recordando-lhes que tudo possuíam era resultado da espontânea e soberana iniciativa de Deus. Isso equivale ao que ele tinha dito antes: "E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se não o tiveras recebido?" (1Co 4:7). O ensino do versículo 3 [1Co 8:3, NE] é que, "se uma pessoa ama a Deus, isso é um sinal de que Deus tomou a iniciativa".

Paulo argumentou isso porque o orgulho era o problema. Os cristãos de Corinto estavam "ensoberbecidos" com seu conhecimento. O primeiro remédio de Paulo para essa doença foi dizer que o verdadeiro conhecimento e o verdadeiro pensar produzem não o orgulho, e sim amor a Deus e ao povo de Deus. Seu remédio mais profundo para a doença do orgulho foi dizer que até o nosso amor é resultado de algo anterior à nossa iniciativa. O nosso amor é o resultado do dom gratuito de Deus - a eleição de Deus. Se amamos a Deus, e assim sabemos como convém saber, isso acontece porque fomos conhecidos - escolhidos - por Deus.

John Piper
In: Pense: a vida da mente e o amor de Deus, Editora Fiel. p. 229
quarta-feira, 11 de abril de 2012

Certamente que os cristãos que lêem a Bíblia são as últimas pessoas na terra a dar lugar à histeria. Eles são redimidos de seus pecados do passado, são mantidos em suas atuais circunstâncias pelo poder de um Deus onipotente, e o seu futuro está seguro nas mãos dele. Deus prometeu sustentá-los na inundação, protegê-los em meio ao fogo, alimentá-los no tempo de fome, protegê-los de seus inimigos, escondê-los em sua câmara segura até que toda ira Passe e por fim recebê-los nos tabernáculos eternos.

Se somos chamados a sofrer, podemos estar perfeitamente seguros de que seremos recompensados por toda dor e seremos abençoados por toda lágrima. Por baixo haverá os Braços Eternos e por dentro haverá uma profunda certeza de que tudo está bem com a nossa alma. Nada pode separar-nos do amor de Deus - nem a morte, nem a vida, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura.

A. W. Tozer
In: Este mundo: lugar de lazer ou campo de batalha?
terça-feira, 10 de abril de 2012
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Já fiz parte da liderança da igreja como pastor estagiário, como pastor auxiliar responsável pelo treinamento de adultos, e agora como pastor sênior. Em cada estágio de meus dezessete anos de ministério, pude notar que o distanciamento entre pais e filhos no que diz respeito ao discipulado cresce a olhos vistos. O mais agravante é constatar que pais e mães não têm assumido a responsabilidade de discipular seus filhos, e as igrejas têm feito muito pouco — quando fazem — para mudar essa realidade. Uma olhada no meu Facebook comprova este triste fato: muitos jovens, que já foram bastante ativos no reino de Deus, abandonaram a igreja e passaram a questionar a fé. Um rapaz me escreveu no Facebook: “Só quero lhe dizer que não acredito mais na religião institucionalizada. Nem sei se acredito em Deus.”

Experiências pessoais nem sempre refletem as tendências sociais. Todavia, estudos recentes mostram que a experiência desse rapaz não é rara. Pesquisas mostram que 61% dos jovens [americanos] na faixa dos vinte anos de idade que frequentavam a igreja na adolescência se afastaram dela.

Nos últimos trinta anos, a igreja tem se voltado cada vez mais para atender a um público de consumidores. Pastores e especialistas em crescimento da igreja têm criado todos os mecanismos possíveis e imagináveis— como templos e programações atraentes — para atrair as massas a pelo menos entrar porta adentro. Muitas vezes o motivo é o desejo verdadeiro de partilhar o evangelho com quem precisa ouvi-lo — supostamente, alguém que não participaria de uma igreja em que não houvesse multimídia, um sistema de som digno de um teatro municipal ou uma excêntrica parafernália infantil incluindo brincadeiras como paintball e batistério em formato de carro de bombeiro. Os resultados desses esforços podem parecer bons 
no início, e algumas igrejas alardeiam crescimento. No entanto, os dados revelam o oposto. Alvin Reid, professor de evangelismo do Seminário Teológico Batista do Sudeste dos Estados Unidos, escreve:

Nas duas últimas décadas, o número de pastores de jovens em tempo integral teve um crescimento extraordinário, e uma profusão de revistas, música e opiniões direcionadas aos jovens nasceram ao longo do caminho. Entretanto, enquanto isso, o número de jovens levados a Cristo diminuiu no mesmo ritmo.

A lição que fica é que a ênfase da igreja em atrair os não crentes por meio de entretenimento, e de programas centrados em crianças, além de não ajudar, ainda atrapalhou. Uma espécie de cristianismo “água com açúcar”, muito popular nos anos 1980 e início dos anos 1990, levou um número crescente de jovens não só a deixar de participar de atividades evangelísticas voltadas para eles, bem como a deixar totalmente de praticar sua fé.

Tad Thompson

segunda-feira, 9 de abril de 2012

"Ele os manterá firmes até o fim, de modo que vocês serão irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo." 1Co 1:8

No dia da volta do Senhor, devemos comparecer irrepreensíveis diante Dele. Isto significa que devemos estar "livres de qualquer acusação" (Cl 1:22), que não pode haver "nada contra" (1Tm 3:10) nós. Sermos irrepreensível significa que nenhuma acusação pode ser legitimamente levantada contra nós. É assim que devemos estar na volta do Senhor, pois Ele virá para uma noiva "gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito" (Ef 5:27). Mas quem de nós poderá pensar de si mesmo que é capaz de comparecer diante de Jesus em Sua glória dessa maneira? Quem pode olhar para as próprias mãos e vê-las limpas, examinar o seu coração e o encontrar puro, considerar as próprias palavras e achar seus lábios sem engano?

No entanto, o apóstolo expressa uma certeza: "vocês serão irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo"! E isto foi dito a uma igreja que questionava seu apostolado e da qual havia recebido informações de que estava cheia de problemas, que iam exageros à mesa a incesto, passando por orgulho faccioso. Sobre essa igreja Paulo declara, "sempre dou graças a meu Deus por vocês, por causa da graça que lhes foi dada por ele em Cristo Jesus" (1Co 1:4) e afirma que "o testemunho de Cristo foi confirmado entre vocês" (1Co 1:6). A certeza apostólica não estava ancorada na capacidade dos coríntios de se tornarem irrepreensíveis, mas no fato de que  "Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor" (1Co 1:9). Nós devemos nos desesperar de nossa própria capacidade, e nos confiarmos à graça de Deus.

Paulo atribui à livre graça de Deus que sejamos preservados até a volta do Senhor. Ele afirmava  "Ele os manterá firmes até o fim" (1Co 1:8), pois estava "convencido de que aquele que começou boa obra em vocês, vai completá-la até o dia de Cristo Jesus" (Fp 1:6). Repito, ele não via motivos para elogiar os coríntios, mas tinha certeza que eles seriam levados irrepreensíveis à presença de Deus. "Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica" (Rm 8:33). Esta pode ser a certeza de todos aqueles que foram escolhidos, chamados e justificados por Deus, mediante a fé em Jesus Cristo.

Soli Deo Gloria
domingo, 8 de abril de 2012

Em relação a profecia de Cristo, é por este ofício que Ele revelou a vontade de Deus, tudo o que é necessário que seus servos devam saber e obedecer. E por isto, Ele é chamado não tão somente Profeta e Mestre, e o Apóstolo de nossa confissão, e o Anjo [mensageiro] do pacto, senão de que assim mesmo, é a sabedoria de Deus, em quem estão escondidos todos os tesouros de sabedoria e ciência, que sempre segue revelando a mesma verdade do Evangelho a seu povo.

Artigo 15
Primeira Confissão Londrina 1642/44
sábado, 7 de abril de 2012
"Abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei aquele que te amaldiçoar; por meio de ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gn 12:3).
Na chamada de Abrão Deus promete retribuir com bênçãos e maldição o indivíduo que abençoasse ou amaldiçoasse, respectivamente, o patriarca da fé. E diz que por meio dele todas as famílias da terra seriam benditas. De fato, com a chamada de Abrão Deus começou a formar a nação da qual viria o Salvador, Jesus Cristo. A passagem não apoia a predestinação universal nem faz referência ao livre-arbítrio. O fato de dizer que em Abrão seriam benditas todas as famílias da terra o Senhor deixa explícito que embora estivesse formando uma nação da qual viria o Salvador, a salvação não seria restrita a este povo. O termo família não significa "todos os indivíduos de uma família" como bem o demonstra a história de Israel, pois o termo pode se referir tanto a famílias de indivíduos e de espécies como de povos. A passagem não se refere a capacidade humana, eleição para salvação, expiação, chamada ou preservação, portanto não contradiz em nada os pontos calvinistas.

Posts da Série: [Gn 3:15] [Gn 12:3
sexta-feira, 6 de abril de 2012
Pode ser útil responder a essa pergunta em quatro estágios, começando com o claro e não controverso, e, passo a passo, ir penetrando mais profundamente no mistério.

Primeiro, Cristo morreu por nós. Além de ser necessária e voluntária, sua morte foi altruísta e benéfica. Ele a empreendeu por nossa causa, não pela sua, e cria que através dela nos garantia um bem que não poderia ser garantido de nenhum outro modo. O Bom Pastor, disse ele, ia dar a sua vida pelas ovelhas, em benefício delas. Similarmente, as palavras que ele proferiu no cenáculo, ao dar o pão aos seus discípulos, foram: "Isto é o meu corpo oferecido por vós". Os apóstolos pegaram esse simples conceito e o repetiram, às vezes tornando-o mais pessoal, trocando a segunda pessoa pela primeira: "Cristo morreu por nós". Ainda não há nenhuma explicação e nenhuma identificação da bênção que ele nos assegurou mediante a sua morte, mas pelo menos concordamos quanto às expressões "por vós" e "por nós".

Segundo, Cristo morreu para conduzir-nos a Deus (1Pe 3:18). O foco do propósito benéfico da sua morte é a nossa reconciliação. Como diz o Credo Niceno: "por nós (geral) e por nossa salvação (particular) ele desceu do céu... "A salvação que ele conseguiu para nós mediante sua morte é retratada de vários modos. Às vezes é concebida negativamente como redenção, perdão ou libertação. Outras vezes é positiva — vida nova ou eterna, ou paz com Deus no gozo de seu favor e comunhão. No presente, o vocabulário preciso não importa. O ponto importante é que, em conseqüência da sua morte, Jesus é capaz de conferir-nos a grande bênção da salvação.

Terceiro, Cristo morreu por nossos pecados. Nossos pecados eram o obstáculo que nos impedia de receber o dom que ele desejava dar¬nos. De modo que eles tinham de ser removidos antes que a salvação nos fosse outorgada. E ele ocupou-se dos nossos pecados, ou os levou, na sua morte. A expressão: "por nossos pecados" (ou fraseado muito similar) é usada pela maioria dos escritores do Novo Testamento; parece que eles tinham certeza de que — de um modo ainda não determinado — a morte de Cristo e nossos pecados se relacionavam. Eis uma amostra de citações: "Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras" (Paulo); "Cristo morreu pelos pecados uma vez por todas" (Pedro); "ele apareceu de uma vez por todas. . . para desfazer o pecado mediante o sacrifício de si mesmo", e ele "ofereceu de uma vez por todas um sacrifício pelos pecados" (Hebreus); "o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado" (João); "àquele que nos ama e nos libertou de nossos pecados através do seu sangue. . . seja a glória" (Apocalipse). Todos estes versículos (e muitos mais) ligam a morte de Jesus aos nossos pecados. Que elo é esse?

Quarto, Cristo sofreu a nossa morte, ao morrer por nossos pecados. Isso quer dizer que se a sua morte e os nossos pecados estão ligados, esse elo não é efeito de mera conseqüência (ele foi vítima de nossa brutalidade humana), mas de penalidade (ele suportou em sua pessoa inocente a pena que nossos pecados mereciam). Pois segundo a Escritura, a morte se relaciona com o pecado como sua justa recompensa: "o salário do pecado é a morte" (Rm 6:23). A Bíblia toda vê a morte humana não como um evento natural, mas penal. E uma invasão alienígena do bom mundo de Deus, e não faz parte de sua intenção original para a humanidade. É certo que o registro fóssil indica que a pilhagem e a morte existiam no reino animal antes da criação do homem. Porém parece que Deus tinha em mente um fim mais nobre para os seres humanos portadores de sua imagem, fim talvez semelhante ao traslado que Enoque e Elias experimentaram, e à "transformação" que ocorrerá com aqueles que estiverem vivos na volta de Jesus. Através de toda a Escritura, pois, a morte (tanto física como espiritual) é vista como juízo divino sobre a desobediência humana. Daí as expressões de horror com relação à morte, a sensação de anomalia de que o homem se tivesse tornado como as bestas que perecem, uma vez que o mesmo destino aguarda a todos. Daí também a violenta indignação de que Jesus foi alvo em seu confronto com a morte ao lado do túmulo de Lázaro. A morte era um corpo estranho. Jesus resistiu-lhe; ele não pôde aceitá-la.

Se, pois, a morte é a pena do pecado, e se Jesus não tinha pecado próprio em sua natureza, caráter e conduta, não devemos dizer que ele não precisava ter morrido? Não poderia ele, em vez de morrer, ter sido trasladado? Quando o seu corpo se tornou translúcido durante a transfiguração no monte, não tiveram os apóstolos uma previsão do seu corpo da ressurreição (daí a instrução de a ninguém contarem acerca desse acontecimento até que ele ressurgisse dentre os mortos, Marcos 9:9)? Não podia ele naquele momento ter entrado no céu e escapado à morte? Mas ele voltou ao nosso mundo a fim de ir voluntariamente à cruz. Ninguém lhe tiraria a vida, insistia ele; ele ia dá-la de sua própria vontade. De modo que quando o momento da morte chegou, Lucas a representou como um ato autodeterminado do Senhor. "Pai", disse ele, "nas tuas mãos entrego o meu espírito". Tudo isso significa que a simples afirmativa do Novo Testamento: "ele morreu por nossos pecados" diz muito mais do que aparenta na superfície. Afirma que Jesus Cristo, sendo sem pecado e não tendo necessidade de morrer, sofreu a nossa morte, a morte que nossos pecados mereciam.

John Stott
In: A cruz de Cristo
quinta-feira, 5 de abril de 2012

Quão invencível é a graça de Jeová! Nenhuma criatura tem o poder de atrair o homem a Cristo. Exibições, evidências miraculosas, ameaças, inovações são usadas em vão. Somente Jeová pode trazer a alma a Cristo. Ele derrama seu Espírito com a Palavra, e a alma sente-se alegre e poderosamente inclinada a vir a Jesus. “Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder” (Sl 110.3). “Acaso, para o SENHOR há coisa demasiadamente difícil?” (Gn 18.14.) “Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu querer, o inclina” (Pv 21.1). 

Considere um exemplo: um judeu estava assentado na coletoria, próxima à porta de Cafarnaum. Sua testa estava enrugada com as marcas da cobiça, e seus olhos invejosos exibiam a astúcia de um publicano. Provavelmente, ele ouvira falar de Jesus; talvez O ouvira pregando nas praias do mar da Galiléia. Mas seu coração mundano ainda permanecia inalterado, visto que ele continuava em seu negócio ímpio, assentado na coletoria. O Salvador passou por ali e, quando olhou para o atarefado Levi, disse-lhe: “Segue- me!” Jesus não disse mais nada. Não usou qualquer argumento, nenhuma ameaça, nenhuma promessa. Mas o Deus de toda graça soprou no coração do publicano, e este se tornou disposto. “Ele se levantou e o seguiu” (Mt 9.9). 

Agradou a Deus, que opera todas as coisas de acordo com o conselho da sua vontade, dar a Mateus um vislumbre salvador da excelência de Jesus; a graça caiu do céu no coração de Mateus e o transformou. Ele sentiu o aroma da Rosa de Sarom. O que significava o mundo agora para ele? Mateus não se importava mais com os lucros, os prazeres e os louvores do mundo. Em Cristo, ele viu aquilo que é mais agradável e melhor do que todas essas coisas do mundo. Mateus se levantou e seguiu a Jesus. 

Aprendamos que uma simples palavra pode ser abençoadora à salvação de almas preciosas. Freqüentemente, somos tentados a pensar que tem de haver algum argumento profundo e lógico, para trazer as pessoas a Cristo. Na maioria das vezes, colocamos nossa confiança em palavras altissonantes. No entanto, a simples exposição de Cristo aplicada ao coração pelo Espírito Santo vivifica, ilumina e salva. “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o SENHOR dos Exércitos” (Zc 4.6). Se o Espírito age nas pessoas, estas simples palavras: “Segue a Jesus”, faladas em amor, podem ser abençoadas e salvar todos os ouvintes. 

Aprendamos a tributar todo o louvor e glória de nossa salvação à graça soberana, eficaz e gratuita de Jeová. Um falecido teólogo disse: “Deus ficou tão irado por Herodes não lhe haver dado glória, que o anjo do Senhor feriu imediatamente a Herodes, que teve uma morte horrível. Ele foi comido por vermes e expirou. Ora, se é pecaminoso um homem tomar para si mesmo a glória de uma graça tal como a eloqüência, quão mais pecaminoso é um homem tomar para si a glória da graça divina, a própria imagem de Deus, que é o dom mais glorioso, excelente e precioso de Deus?” Quantas vezes o apóstolo Paulo insiste, em Efésios 1, que somos salvos pela graça imerecida e gratuita? E como João atribui toda a glória da salvação à graça gratuita do Senhor Jesus — “Àquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados... a ele a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” (Ap 1.5, 6). 

Quão solenes foram as palavras de Jonathan Edwards, em sua obra Personal Narrative (Narrativa Pessoal)! “A absoluta soberania e graça gratuita de Deus, em demonstrar misericórdia àquele para quem Ele quer expressar misericórdia, e a absoluta dependência do homem quanto às operações do Espírito Santo têm sido para mim, freqüentemente, doutrinas gloriosas e agradáveis. Estas doutrinas têm sido o meu grande deleite. A soberania de Deus parece-me uma enorme parte de sua glória. Tenho sentido deleite constante em aproximar-me de Deus e adorá-Lo como um Deus soberano, rogando-Lhe misericórdia soberana”.

Robert Murray McCheyne

quarta-feira, 4 de abril de 2012
Quão surpreendente é a depravação do homem natural! As Escrituras nos ensinam isso abundantemente. Todo pastor fiel levanta a sua voz como uma trombeta, para mostrar isto às pessoas. E a primeira obra do Espírito Santo, no coração, é convencer do pecado. Na Palavra de Deus, não existe uma descoberta mais terrível sobre a depravação do homem natural do que estas palavras do evangelho de João. Davi afirmou: “Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5). Deus falou por meio do profeta Isaías (48.8): “Eu sabia que procederias mui perfidamente e eras chamado de transgressor desde o ventre materno”. E Paulo disse: “Éramos, por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef 2.3). 

Mas nesta passagem de João somos informados de que a incapacidade do homem natural e sua aversão por Cristo são tão grandes, que não podem ser vencidas por qualquer outro poder, exceto o poder de Deus. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6.44). Nunca houve um mestre como Cristo. “Jamais alguém falou como este homem” (Jo 7.46). Ele falava com muita autoridade, não como os escribas, mas com dignidade e poder celestial. Ele falava com grande sabedoria. Falava a verdade sem qualquer imperfeição. Seus ensinos eram a própria luz proveniente da Fonte de Luz. Ele falava com bastante amor, com o amor dAquele que estava prestes a dar a sua vida em favor de seus seguidores. Falava com mansidão, suportando a ofensa contra Ele mesmo vinda dos pecadores, não ultrajando quando era ultrajado. Jesus falava com santidade, porque era Deus “manifestado na carne”. Mas tudo isso não atraía os seus ouvintes. 

Nunca houve um dom mais precioso oferecido aos homens. “O verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá... Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” (Jo 6.32, 35). O Salvador de que as pessoas condenadas necessitavam estava diante delas. Sua mão lhes foi estendida. Ele estava ao alcance delas. O Salvador ofereceu-lhes a Si mesmo. Oh! que cegueira, dureza de coração, morte espiritual e impiedade desesperadora existem na pessoa não-convertida! Nada pode mudá-la, exceto a graça do Todo-Poderoso. Oh! homem destituído da graça de Deus, seus amigos o advertem, os pastores clamam em voz alta, a Bíblia toda o exorta. Cristo, com todos os seus benefícios, é colocado diante de você. Todavia, a menos que o Espírito Santo seja derramado em seu coração, você permanecerá um inimigo da cruz de Cristo e destruidor de sua própria alma. “Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer”.

Robert Murray McCheyne
terça-feira, 3 de abril de 2012

"Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho; o qual não é outro, senão que há alguns que vos perturbam e querem perverter o evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós, ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema. Assim como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema" Gl 1.6-9

Esse "outro evangelho" denunciado por Paulo, e que estava cativando o coração dos crentes da Galácia era o "evangelho da justificação pela guarda da lei", incluindo a necessidade da circuncisão dos gentios, tornando-os assim parte do povo de Israel. Não é exatamente o que hoje estão pregando os adeptos da "teologia da prosperidade", mas Paulo deixou em aberto que qualquer "outro evangelho" que fosse pregado deveria ser anatematizado. 

Qual foi o evangelho que Paulo apresentou aos Gálatas? Seguramente o "Evangelho do Reino"', ou seja, do governo de Jesus sobre todas as áreas da vida. Na pregação do Evangelho do Reino fica evidente o "negar-se a si mesmo", o "tomar a cruz", o "buscar em primeiro lugar o Reino de Deus", o "abrir mão dos seus direitos", o "servir ao invés de ser servido". Nesse "outro evangelho" o que se percebe claramente é a busca dos seus interesses egoístas, a defesa e reivindicação dos seus direitos, a cura e a prosperidade material como direitos adquiridos dos filhos do Rei, ou seja, as benesses do Reino já. Daí a fala estranha: "Eu exijo", "Eu reivindico", "Eu ordeno", etc.

Agora, é muito importante perceber que fomos nós mesmo os pregadores do evangelho, que criamos tal excrescência, pois fomos nós que geramos esse "falso evangelho".

Como foi que ele nasceu? Certamente como resultado das nossas famosas "séries de conferências evangelísticas". A maior parte das igrejas evangélicas desenvolveu, durante muito tempo, como sua principal estratégia evangelística, eventos em que os crentes esforçavam-se para trazer convidados a fim de ouvirem o evangelho através de um renomado pregador. Durante muitos anos de minha vida participei de conferências deste tipo. Numa conferência evangelística o pregador será avaliado pela quantidade de pessoas que conseguir trazer à frente no apelo. Daí é que começou a surgir o barateamento do evangelho. O apelo virou apelação.

Ivênio dos Santos
In: Alma nua
domingo, 1 de abril de 2012

Este ofício para o qual Jesus foi chamado, é de três aspectos: Profeta, Sacerdote e Rei, e o fato de que são três é necessário: por causa de nossa ignorância precisamos dele como profeta; quanto ao nosso distanciamento de Deus, precisamos de seu ofício de Sacerdote para nos reconciliar com Ele; e quanto a nossa adversidade e inabilidade para retornarmos a Deus, precisamos de seu ofício de Rei para nos convencer, subjugar, atrair e preservar para seu reino celestial.

Artigo 14
Primeira Confissão Londrina 1642/44