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sexta-feira, 23 de setembro de 2011
A terceira tendência contemporânea que nos ameaça e à qual não devemos nos render é o espírito pérfido do relativismo ético. Todos os padrões morais que nos cercam estão se desfazendo. Isso é verdade especialmente no Ocidente. As pessoas se confundem diante da existência de quaisquer absolutos. O relativismo permeou a cultura e tem se infiltrado na igreja.
Em nenhuma esfera esse relativismo é mais óbvio do que na da ética sexual e na revolução sexual vivenciada desde os anos 60. Pelo menos onde a ética judaico-cristã era levada a sério, o casamento era universalmente aceito como uma união monogâmica, heterossexual, amorosa e vitalícia, e como o único contexto dado por Deus para a intimidade sexual. Atualmente, porém, mesmo em algumas igrejas, a relação sexual fora do casamento é largamente praticada, dispensando o compromisso essencial com um casamento autêntico. Além disso, relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo são vistos como alternativas legítimas ao casamento heterossexual.
Para combater tais tendências, Jesus Cristo chama seus discípulos à obediência e a se conformarem aos seus padrões. Alguns dizem que Jesus não falou a respeito disso. Mas ele o fez. Citou Gênesis 1.27 (“homem e mulher os criou”) e Gênesis 2.24 (“deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”), dando a definição bíblica de casamento. E depois de citar esses versículos, Jesus deu-lhes seu próprio endosso pessoal, dizendo: “o que Deus ajuntou não o separe o homem” (Mt 19.4-6).
Esse ponto de vista foi avaliado criticamente pelo distinto filósofo moral e social, o americano Abraham Edel (1908–2007), cujo principal livro chama-se Ethical Judgment. “A moralidade é basicamente arbitrária”, escreve ele, complementando em versos livres:
Tudo depende de onde você está,
Tudo depende de quem você é,
Tudo depende do que você sente,
Tudo depende de como você se sente.
Tudo depende de como você foi educado,
Tudo depende do que é admirado,
O que é correto hoje será errado amanhã,
Alegria na França, lamento na Inglaterra.
Tudo depende do seu ponto de vista,
Austrália ou Tombuctu,
Em Roma faça como os romanos.
Se os gostos acabam coincidindo
Então você tem moralidade.
Mas onde existem tendências conflitantes,
Tudo depende, tudo depende...
Os discípulos cristãos radicais devem discordar disso. Certamente não devemos ser totalmente inflexíveis em nossas decisões éticas, mas devemos procurar, com sensibilidade, aplicar princípios bíblicos em cada situação. O senhorio de Jesus Cristo é fundamental para o comportamento cristão. “Jesus é Senhor” continua sendo a base da nossa vida.
Assim, a pergunta fundamental para a igreja é: Quem é Senhor? Será que a igreja exerce o senhorio sobre Jesus Cristo, tornando-se livre para alterar e manipular ao aceitar o que gosta e rejeitar o que não gosta? Ou Jesus Cristo é o nosso Mestre e Senhor, de maneira que cremos nele e obedecemos ao seu ensinamento?
Ele nos diz também: “Por que me chamais Senhor, Senhor, e não fazeis o que vos mando?” (Lc 6.46). Confessar Jesus como Senhor, mas não obedecer a ele, é como construir a vida sobre a areia. Novamente: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama”, disse ele no Cenáculo (Jo 14.21).
Aqui estão duas culturas e dois sistemas de valores; dois padrões e dois estilos de vida. Por um lado, há o estilo do mundo ao nosso redor; por outro, a vontade revelada, boa e agradável de Deus. Discípulos radicais têm pouca dificuldade de fazer suas escolhas.
John Stott
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