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segunda-feira, 11 de agosto de 2014
O dom de línguas seguramente é o mais controvertido dos dons do Espírito Santo. Discute-se sua atualidade, sua natureza e seu propósito. Neste breve artigo, trataremos deste último aspecto da polêmica, a finalidade que os dons de línguas tiveram ou ainda tem.

Nada que Deus faça é destituído de propósito. Assim, penso que não devemos questionar a utilidade do dom de línguas ou a sua necessidade, pelo menos na sua origem. Porém, podemos nos perguntar se tinha um propósito único ou se servia a finalidades diversas. O primeiro ponto é assumido especialmente por aqueles interessados em demonstrar que o dom cessou, pois uma vez que o propósito foi alcançado, o meio que se utilizou para seu alcance torna-se obsoleto. Mas, se o propósito que se tinha em mente não foi cabalmente alcançado, então o dom ainda é necessário, e por isso os interessados em defender a continuidade do dom de línguas também podem enfatizar um aspecto único dos dons. Mas como veremos, os dons serviam a mais de um propósito.

1. Um dos propósitos do dom de línguas é louvar a Deus, exaltando as suas maravilhas. Quando em Jerusalém os discípulos “foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2:4) eles estavam a “falar das grandezas de Deus” (At 2:11). Paulo diz que “o que fala em língua desconhecida não fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala mistérios” (1Co 14:2) e mais adiante acrescenta, ainda falando do dom de línguas, “cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento” (1Co 14:15).

2. Outro propósito do dom de línguas é a edificação. O apóstolo instrui a igreja quanto ao culto dizendo “quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1Co 14:26). Para que o propósito de edificação da igreja seja alcançado, é imprescindível que haja interpretação das línguas: “se alguém falar em língua desconhecida, faça-se isso por dois, ou quando muito três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não houver intérprete, esteja calado na igreja, e fale consigo mesmo, e com Deus” (1Co 14:27-28). Mesmo neste caso, de uso particular do dom de línguas, há edificação pessoal, pois “o que fala em língua desconhecida edifica-se a si mesmo” (1Co 14:4). Mesmo assim, a edificação da igreja deve ser priorizada à edificação pessoal, sendo assim, “o que fala em língua desconhecida, ore para que a possa interpretar” (1Co 14:13).

3. Línguas foram dadas também como sinal. Isto é declarado pelo apóstolo quando afirma “de sorte que as línguas são um sinal, não para os fiéis, mas para os infiéis” (1Co 14:22). Como todo sinal aponta para uma realidade, a questão é: línguas é sinal de que? O verso anterior citado por Paulo sugere que se trata de um sinal de juízo: “Está escrito na lei: Por gente de outras línguas, e por outros lábios, falarei a este povo; e ainda assim me não ouvirão, diz o Senhor” (1Co 14:21). Alguns conseguem ver uma conexão entre o dom de línguas e a destruição do templo dos judeus, ocorrida em 70 d.C. Foge ao escopo deste artigo analisar este particular. Outros veem o dom de línguas como um sinal de bênção, apontando para a inclusão de judeus e gentios na igreja, pois no milagre de Atos 2 “todos pasmavam e se maravilhavam, dizendo uns aos outros: Pois quê! não são galileus todos esses homens que estão falando? Como, pois, os ouvimos, cada um, na nossa própria língua em que somos nascidos? Partos e medos, elamitas e os que habitam na Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Asia, e Frígia e Panfília, Egito e partes da Líbia, junto a Cirene, e forasteiros romanos, tanto judeus como prosélitos, cretenses e árabes, todos nós temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus. E todos se maravilhavam e estavam suspensos, dizendo uns para os outros: Que quer isto dizer?” (At 2:7-12). E ainda há os que entendem serem as línguas um sinal ou evidência física do batismo com o Espírito Santo, também baseados nos relatos de Atos, como este: “E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem” (At 2:4). Seja como for, o fato é que línguas servem ao propósito de serem um sinal.

Como vimos, línguas não tem um propósito único e isolado. Isto traz implicações para os outros aspectos da discussão em torno dos dons, isto é, quanto à sua natureza e atualidade. Deixamos a cargo do leitor analisar essas implicações. À guisa de conclusão, contudo, fazemos um comentário adicional, prevendo que alguém note que evangelização não foi mencionada como propósito do dom de línguas. A razão disso é que o falar em outras línguas nunca foi referido como tendo essa finalidade e não temos exemplo de uso desse dom para evangelização. E nos propusemos escrever o artigo de uma perspectiva puramente bíblica, ainda que não aprofundada.

Soli Deo Gloria

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