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segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Porque tenho para mim, que Deus a nós, apóstolos, nos pôs por últimos, como condenados à morte; pois somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens. 1Co 4:9

No programa Na Mira da Verdade, de 15 de julho de 2009, Leandro Quadros afirma que “a Bíblia menciona claramente que há vida em outros mundos”, concluindo ainda que “realmente existe vida em outros planetas, que não conheceram o pecado, a desobediência à lei de Deus”. Ele fundamenta sua assertiva em 1Co 4:9, justificando que “a palavra mundo aqui, vem da palavra kosmos, que se refere ao universo”. Esse é mais um exemplo que como o professor Leandro Quadros trata a Escritura com descuido e como seus alunos se contentam com tão pouco quando se trata de temas bíblicos.

Uma análise da palavra κοσμω no Novo Testamento revela uma variedade de sentidos, sendo que o sentido específico deve ser dado pelo contexto. De acordo com o léxico grego de Strong, κοσμω pode significar “a terra”, “o arranjo das estrelas”, “os habitantes da terra”, “os incrédulos”, “as coisas terrenas”, “os gentios em contraste com os judeus”, “os crentes unicamente” e, inclusive, “o universo”. Porém, assumir simplesmente que em 1Co 4:9 mundo significa “universo” e que isso mostra “claramente que há vida em outros planetas” é de uma irresponsabilidade exegética enorme.

Voltando ao Léxico de Strong, o termo κοσμω (kosmos) “tem com freqüência um sentido desfavorável, que denota os habitantes do mundo, a humanidade em geral, como oposta a Deus” e este é o sentido com que o termo deve ser utilizado, na falta de elementos textuais que sugiram outro sentido. Mesmo porque, quando a Bíblia quer se referir especificamente ao universo, utiliza o termo αιωνας (plural de aion), como em Hebreus 1:2 “mas nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo e “pela fé entendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que o que se vê não foi feito do que é visível” (Hb 11:3).

Vejamos aonde a prática leandrina nos leva, se aplicada a outros textos das escrituras. Tomemos um verso bem conhecido. "Porque Deus tanto amou o mundo (kosmos) que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16). Se mundo aqui significa universo, então decorre que Jesus foi enviado para salvar não apenas o homem, mas habitantes de outros planetas também. Noutro lugar diz “Se o mundo (kosmos) os odeia, tenham em mente que antes odiou a mim” (Jo 15:18). Se mundo significa universo, então os habitantes de outros planetas odeiam a Jesus, como pois Leandro diz que eles não conhecem o pecado?

Como dissemos, uma palavra que pode assumir mais de um sentido deve ter o sentido pretendido pelo autor determinado à luz do contexto. Vejamos pois como Paulo usa a palavra mundo nas 20 vezes que a utiliza na primeira carta aos Coríntios. Ele se refere à “sabedoria do mundo” (1:20, 2:6, 3:19), pela qual “o mundo não o conheceu” (1.21), pelo que Deus escolheu “as coisas fracas do mundo”, “as coisas loucas do mundo” (1:27; cf. 7:31,33,34) e “as coisas insignificantes do mundo” (1:28) para reduzir a nada a sabedoria mundana. Ele faz referência ainda aos “poderosos deste mundo” (2:8), ao “espírito do mundo” (2:12), aos “padrões deste mundo” (3:18), aos “imorais deste mundo” (5:10), “ídolos do mundo” (8:4) e aos “idiomas no mundo” (14:10). Quanto ao “mundo” em si (3:22), Paulo diz que os crentes “hão de julgar o mundo” (1Co 6:2) e que são disciplinados para não serem “condenados com o mundo” (11:32). Nenhuma dessas referências sugere, nem de longe, que Paulo tinha em mente outros planetas, seus habitantes e suas coisas quando as escreveu.

Isto bastaria para considerarmos mundo em 1Co 4:9 como sendo os habitantes da terra e não supostos extraterrestres imaculados. Mas leiamos o texto mais uma vez e notemos como Paulo qualifica o mundo como sendo o palco onde os apóstolos são expostos como espetáculo “tanto diante de anjos como de homens” (1Co 4:9). Isto fica mais claro ainda quando lemos no verso 13, logo adiante, que Paulo considera os apóstolos “a escória da terra, o lixo do mundo” (1Co 4:13). Terra e mundo são colocados em paralelo, como sendo a mesma coisa. Portanto, inferir a partir desse versículo que existem aliens sem pecado em outros planetas é fantasiar sobre o que a Bíblia diz, ao invés de ficar apenas com o que ela diz.

Infelizmente, este é apenas um exemplo de como a Palavra de Deus sofre nas mãos do assim chamado professor Leandro Quadros que se enquadra bem na descrição dos que “querendo ser mestres da lei, quando não compreendem nem o que dizem nem as coisas acerca das quais fazem afirmações tão categóricas” (1Tm 1:7).

Soli Deo Gloria

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