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terça-feira, 25 de outubro de 2011
Chegamos agora à quarta tendência, que é o desafio do narcisismo. Narciso, na mitologia grega, foi um jovem que viu seu reflexo em um lago, apaixonou-se por sua própria imagem, caiu dentro d’água e se afogou. Assim, “narcisismo” é um amor excessivo, uma admiração desmedida por si mesmo.

Nos anos 70, o narcisismo se expressou por meio do Movimento Potencial Humano, que enfatizava a necessidade da autorrealização. Nos anos 80 e 90, o Movimento da Nova Era imitou o Movimento Potencial Humano. Shirley MacLaine pode ser considerada símbolo do movimento, pois era cega de paixão por si mesma. De acordo com ela, a boa notícia é essa:

Sei que existo; portanto, eu sou.
Sei que a força divina existe; portanto, ela é.
Já que sou parte dessa força, sou o que sou.

Parece uma paródia deliberada da revelação que Deus faz de si mesmo a Moisés: “Eu sou o que sou” (Êx 3.14). Assim, o Movimento da Nova Era nos convida a olhar para dentro de nós mesmos e nos explorar, pois a solução para os nossos problemas está em nosso interior. Não precisamos que um salvador surja em algum lugar e venha até nós; podemos ser o nosso próprio salvador.

Infelizmente, uma parte desse ensinamento tem permeado a igreja e há cristãos recomendando que devemos não somente amar a Deus e ao próximo, mas também a nós mesmos. No entanto, isso é um erro por três razões. Em primeiro lugar, Jesus falou do “primeiro e grande mandamento” e do “segundo”, mas não mencionou um terceiro. Em segundo lugar, amor próprio é um dos sinais dos últimos tempos (2Tm 3.2). Em terceiro lugar, o significado do amor ágape é o sacrifício próprio em benefício de outros. Sacrificar-se a serviço de si mesmo é, nitidamente, um contrassenso. Então, qual deve ser a atitude para conosco? Um misto de autoafirmação e autonegação — afirmar tudo em nós que vem da nossa criação e redenção, e negar tudo que pode ser ligado à queda.

É aliviador se livrar de uma preocupação doentia consigo mesmo e voltar-se para os saudáveis mandamentos de Deus (incorporados e reforçados por Jesus): amar a Deus de todo o coração e ao nosso próximo como a nós mesmos. Pois a intenção de Deus para a sua igreja é que ela seja uma comunidade de amor, de adoração e de serviço. Todos sabem que o amor é a maior virtude do mundo, e os cristãos sabem o motivo: é porque Deus é amor.

O cortesão espanhol do século 13, Raimundo Lúlio (missionário entre os muçulmanos no Norte da África), escreveu que “aquele que não ama, não vive”. Pois viver é amar, e sem amor a personalidade humana se desintegra. É por isso que todos procuram autênticos relacionamentos de amor.

John Stott

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