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segunda-feira, 25 de abril de 2011
"Como está escrito: Amei a Jacó, e odiei a Esaú. Que diremos pois? que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei; para em ti mostrar o meu poder, e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer." Rm 9:13-18

No artigo Romanos 9:13-18 e a Predestinação o professor reafirma sua tese de que "todos são predestinados para a salvação", sobre a qual eu disse que a implicação lógica é o universalismo. Como defender uma eleição universal sem cair na salvação universal? Só vejo uma saída: deturpar o sentido de predestinação, reduzindo-a de um decreto eterno, imutável e infalível a mero anseio, um simples almejar que pode ser frustrado pela vontade soberana do homem. Este é o caminho trilhado por Leandro Quadros, que afirma "só se perderá quem assim o escolher", ou seja, "na cruz, Cristo devolveu o livre-arbítrio do ser humano para poder decidir" se continuará predestinado ou não.

O professor baseia a predestinação universal em Efésios 1:5, que como já tive a oportunidade de demonstrar, não se refere à humanidade como um todo, mas apenas aos eleitos.

Ele recomenda uma abordagem que inclui:

  • análise da perícope (9-11);

  • atentar para as palavras-chave "eleição" e "coração endurecido"; e

  • relacionar os fatos de que Paulo fala do povo de Israel, a Palavra de Deus não falhou, Israel errou, era rebelde e desobediente, mas Deus não o rejeitou, a justiça não procede das obras, mas de Deus, não há distinção entre judeus e gentios, Deus conheceu de antemão o seu povo e alguns de Israel foram cortados.

Suponho que o professor tenha seguido esse esquema para concluir que "Deus não faz ninguém ser vaso de ira", mas "as pessoas se tornam vasos de ira" e que Deus permitiu "que todos, judeus e gentios fossem pecadores para que todos recebessem misericórdia".

Sem entrar no mérito do método proposto, o fato é que as premissas do professor Leandro não apoiam, necessariamente, as suas conclusões. Um típico caso de non sequitur (falácia na qual as conclusões não seguem as premissas). O mais grave, no entanto, é que ele sequer toca nas questões levantadas por Paulo. O que ele faz, na verdade, é evitar a passagem bíblica de Rm 9:13-18, as quais só aparecem no título do artigo! Ao invés de usar o contexto para lançar luz sobre a passagem em análise, ele o usou como cortina de fumaça, para desviar a atenção das verdades ali expressas.

Num próximo artigo seguirei a primeira recomendação do professor, que é analisar Romanos 9 à luz da perícope, agora vou me deter na segunda: prestar atenção nas palavras "eleição" e "coração endurecido".

A palavra eleger/escolher e seus cognatos são recorrentes na Bíblia. Na passagem em questão aparece na expressão "para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme" (Rm 9:11). A palavra traduzida eleição é εκλογην (eklogen), derivada do verbo εκλεγομαι (eklegomai) que significa basicamente selecionar. A palavra em si já pressupõe "tomar uma parte do todo", o que é confirmado pelo seu uso no Novo Testamento.

Na eleição dos doze a Bíblia diz que Jesus "chamou seus discípulos, e escolheu doze dentre eles, aos quais deu também o nome de apóstolos" (Lc 6:13) e mais tarde Jesus diria "não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi" (Jo 13:18). Jesus também disse "eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia" (Jo 19:19) e Pedro ressaltou "irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre vós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho e cressem" (At 15:7). Lucas registra que "Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada" (Lc 10:42) e que "os convidados escolhiam os primeiros lugares" (Lc 14:7). Paulo diz aos coríntios que "Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes" (1Co 1:27). 

Os negritos (meus) em todas essas passagens e em muitas outras que poderíamos citar, chama a atenção para o fato de que a escolha de uns implica rejeição de outros. Portanto, afirmar que a eleição é universal é corromper o significado da palavra eleição, além de requerer a invenção de um livre-arbítrio mais forte que a vontade de Deus para evitar a salvação universal.

O irmão Leandro chama nossa atenção também para a expressão coração endurecido, creio que ele estava se referindo à frase "a quem quer endurece" (Rm 9:18). A palavra endurecer é σκληρυνει (sklerunei) derivado de σκληρoς (skleros), de onde vem nossa palavra esclerosado. A tradução em português é fiel ao texto grego, pois o verbo está na voz ativa do presente do indicativo. Portanto, o grego afirma que Deus age ativamente para endurecer o coração de Faraó.

Além disso, essa verdade concorda com o testemunho das Escrituras, que afirmam tanto que Deus endurece a Faraó (Ex 4:21; 7:3; 9:12; 10:20,27 e 11:10), quanto que Faraó endurece a si mesmo (Ex 8:15; 8:32 e 9:34). Os calvinistas convivem bem com paradoxos, assim afirmamos tanto que Faraó endureceu a si mesmo quanto que Deus endureceu a Faraó, pois é isso que a Bíblia diz. A compreensão exata de como se dá essa concorrência é que nos escapa, mas não justifica a rejeição da doutrina.

De qualquer modo, analisando o sentido neotestamentário de eleição e a forma verbal de endurecer, não podemos fugir da conclusão de que Deus escolhe muitos dentre a totalidade de perdidos e ativamente decide condenar justamente o demais pelas suas más obras.

Soli Deo Gloria

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