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domingo, 24 de abril de 2011
Pela distinção anterior, devemos necessariamente considerar o grande segredo do conselho de Deus; pois a semente da Palavra de Deus deita raízes e frutifica unicamente naqueles que o Senhor, pela sua eterna eleição, predestinou para serem seus filhos e os herdeiros do Reino celestial. Para todos os outros que, pelo mesmo conselho de Deus, antes da constituição do mundo foram reprovados, a clara e evidente predicação da Verdade não pode ser senão um cheiro de morte que conduz à morte.
Agora bem, a razão de que o Senhor seja misericordioso com uns e exerça o rigor de sua justiça com outros, somente Ele a conhece, já que quis ocultá-la a todos, e isto por mui justos motivos. Pois nem a dureza de nosso espírito poderia suportar tão grande claridade, nem nossa pequenez poderia compreender tão grande sabedoria. De fato, todos os que pretendem chegar até ali, e não queiram reprimir a temeridade de seu espírito, experimentarão a verdade do que diz Salomão: quem pretenda investigar a Majestade de Deus, será esmagado pela sua glória.
Baste-nos pensar em nosso interior que esta dispensação do Senhor, embora oculta para nós, é contudo santa e justa. Pois se Deus quiser perder todo o gênero humano, teria o direito de fazê-lo e nos que afasta da perdição, somente podemos admirar sua soberana bondade. Reconheçamos, pois, que os eleitos são os vasos de sua misericórdia —e bem está que assim seja!—, e que os reprovados são os vasos de sua cólera, a qual é, não obstante, justa. Dos uns e dos outros tomemos ocasião e argumento para exaltar sua glória.
Do resto, não pretendamos —como acontece a muitos—, para confirmar a certeza de nossa salvação, penetrar no céu e averiguar o que Deus, desde a eternidade, decidiu fazer por nós, pois esta indagação não servirá senão para agitar-nos angustiadamente e perturbar-nos miseravelmente. Contentemo-nos, pelo contrário, com o testemunho por meio do qual Ele nos tem confirmado suficiente e amplamente esta certeza. Pois já que em Cristo são escolhidos todos os que foram predestinados para a vida, ainda antes de ter sido estabelecidos os fundamentos do mundo, em Cristo também nos foi apresentada a prenda de nossa eleição, se é que a recebemos e a abraçamos pela fé.
E que buscamos na eleição senão ser participes da vida eterna? E nós temos esta vida em Cristo, que era a Vida desde o começo e que nos é proposto como vida para que todos os que crêem nEle não pereçam, mas tenham a vida eterna. Se, pois, possuindo a Cristo pela fé, possuímos também a vida nEle, não temos por que pesquisar por mais tempo o conselho eterno de Deus; pois Cristo não é tão só um espelho no qual nos é apresentada a vontade de Deus, senão um penhor pelo qual essa vontade de Deus nos é selada e confirmada.
João Calvino
In: Breve Instrução Cristã
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