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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
Entrai pela porta estreita (larga é a porta, e espaçoso, o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela), porque estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela. Mt 7:13-14

O texto acima apresenta um quadro bem nítido. São duas portas, uma estreita e outra larga. São também dois caminhos, um espaçoso e outro muito apertado. E também, são dois destinos, a vida eterna e a perdição eterna.

Agora note que os dois caminhos estão separados, não se cruzam. O único jeito de alguém caminhar por um deles é ter entrado por sua respectiva porta. E uma vez estando a trilhar num desses caminhos, a chegada no destino é certa. Não se concebe que alguém ande no caminho apertado e chegue no lago de fogo, nem que alguém, tendo percorrido o caminho espaçoso se depare com a vida eterna.

Logo, tudo se decide pela porta por onde se entra, pois ela dá para um único caminho e que conduz a um único destino. Não há atalhos que permita corrigir a rota ou sair da estrada em que se está. Pode-se até parar ao longo do caminho, mas nunca pular para o outro lado, sem passar pela porta. Acertando a porta, tudo se resolve. Por isso, Jesus disse "esforçai-vos por entrar pela porta estreita" (Lc 13:24).

Jesus é a porta. Ele disse "Eu sou a porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á, e entrará, e sairá, e achará pastagens" (Jo 10:9. Nenhuma possibilidade de entrar por ele e encontrar a perdição no outro lado. Ele também é o caminho. "Disse-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim" (Jo 14:6). E Ele também é a vida. "E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17:3).

Você já entrou pela porta estreita, que é Jesus? Se sim, está no caminho apertado, que é Ele próprio.  E chegará com segurança na vida eterna.

Soli Deo Gloria
domingo, 30 de janeiro de 2011
A Escritura testemunha com frequência que o homem é escravo do pecado; o que quer dizer que seu espírito é tão estranho à justiça de Deus que não concebe, deseja ou empreende coisa alguma que não seja má, perversa, iníqua e suja; pois o coração, completamente cheio do veneno do pecado, não pode produzir senão os frutos do pecado.

Não pensemos, porém, que o homem peca como impelido por uma necessidade iniludível, pois peca com o consentimento de sua própria vontade, continuamente e segundo sua inclinação. Mas como a causa da corrupção de seu coração odeia profundamente a justiça de Deus, e por outro lado lhe atrai toda sorte de maldade, por isso se diz que não tem o livre poder de escolher o bem e o mal — que é o que chamamos de livre arbítrio.

João Calvino
In: Breve Instrução Cristã
sábado, 29 de janeiro de 2011
A objeção arminiana contra a predestinação também igualmente vai de encontro à presciência de Deus. O que Deus sabe e conhece antecipadamente deve, na própria natureza do caso, ser tão fixo e certo como o que seja pré-ordenado; e se a pré-ordenação for inconsistente com o livre arbítrio do homem, assim também o será a presciência de Deus (e vice e versa). Pré-ordenação resulta em eventos certos, enquanto presciência pressupõe que eles sejam certos.

Mas, se os eventos futuros são pré-conhecidos por Deus, eles não podem, qualquer que seja a possibilidade, ocorrerem de forma diversa do Seu conhecimento. Se o curso dos eventos futuros é pré-conhecido, a história seguirá um curso que é tão definitivo e certo quanto uma locomotiva se desloca pelos trilhos entre uma cidade e outra. A doutrina Arminiana, por rejeitar a predestinação, rejeita também a base teísta da presciência. O senso comum nos diz que nenhum evento pode ser previamente conhecido a menos que, por alguma maneira, seja física ou mental, tenha sido pré-determinado. Nossa escolha quanto ao que determina a certeza de eventos futuros afunila-se então em duas alternativas - a pré-ordenação do sábio e misericordioso Pai celeste; ou a obra do acaso, físico e cego.

Os socinianos e unitarianos, enquanto não tão evangélicos como os arminianos, são neste ponto mais consistentes, pois após rejeitar a predestinação de Deus, eles também negam que Ele possa conhecer antecipadamente os atos de agentes livres. Eles sustentam que, na própria natureza do caso, pode ser antecipadamente sabido como a pessoa agirá, até que chegue a hora em que a escolha seja feita. Esta visão, é claro, transforma as profecias das Escrituras - na melhor das hipóteses - em adivinhações e palpites perigosos, irresponsáveis, abusivos e obsoletos; e destrói a visão cristã da inspiração das Escrituras. É um ponto de vista que nunca foi aceito por nenhuma Igreja cristã reconhecida. Alguns dos socinianos e unitarianos têm sido intrépidos o bastante para reconhecer que a razão que os levou a negar certa presciência de Deus quanto aos atos futuros dos homens, é que, se assim fosse admitido, seria impossível refutar a teoria calvinista da Predestinação.

Muitos arminianos sentiram a força deste argumento, e enquanto não tenham seguido os Unitarianos na negação da presciência de Deus, deixaram claro que tranqüilamente o negariam, se assim pudessem ou se atrevessem. Alguns falaram depreciativamente da doutrina da presciência, sugerindo que, em sua opinião, era de pouca importância se alguém cresse ou não. Alguns foram mais longe, ao ponto de afirmar claramente que os homens melhor fariam rejeitando a presciência do que admitir a Predestinação. Outros sugeriram que Deus pode voluntariamente negligenciar o conhecimento de alguns dos atos dos homens de maneira a deixá-los livres; mas isso, é claro, destrói a onisciência de Deus. Ainda outros sugeriram que a onisciência de Deus pode implicar somente que Ele sabe todas as coisas, se Ele assim escolher, justamente como a Sua onipotência implica que ele pode todas as coisas, caso Ele assim opte. Mas a comparação não é sustentável, pois aqueles certos atos [dos homens] não são meras possibilidades, mas sim realidades, embora ainda futura; e imputar ignorância daqueles aspectos a Deus é negar-Lhe o atributo da onisciência. Esta explicação resultaria no absurdo de uma onisciência que não é onisciente.

Quando confrontado com o argumento da presciência de Deus, o arminiano admite que eventos futuros estão certos ou fixos. Mas quando lhe é apresentada a questão do livre-arbítrio, ele tende a desejar manter que os atos livres são incertos e em última instância dependentes da escolha da pessoa - o que é uma posição plenamente inconsistente. Um ponto de vista que sustente que os atos livres de homens sejam incertos, sacrifica a soberania de Deus de modo a preservar a liberdade dos homens.

Além do mais, se os atos livres são eles próprios incertos, Deus precisa então esperar até que o evento tenha ocorrido antes de fazer os Seus planos. Na tentativa de converter uma alma, seria esperado que Ele agisse da mesma maneira que se diz sobre Napoleão ao marchar para batalha - com três ou quatro planos diferentes em mente, de modo que se o primeiro falhasse, ele poderia recorrer ao segundo, e se aquele falhasse, ele moveria sua tática para o terceiro e assim por diante - um ponto de vista que é, no geral, inconsistente com a verdadeira visão de Sua natureza. Ele então ignoraria muito do futuro e estaria ganhando diariamente vastas quantidades de conhecimento. Seu governo do mundo também, naquele caso, seria muito incerto e mutável, dependente quanto fosse da conduta imprevista dos homens.

Negar a Deus as perfeições da presciência e da imutabilidade é representá-Lo como um ser desapontado e infeliz, que é freqüentemente colocado em cheque e derrotado por Suas criaturas. Mas quem pode realmente crer que na presença do homem o Grande Jeová deva permanecer sentado, questionando, “O que ele fará?”. Todavia, a menos que o arminianismo negue a presciência de Deus, ficará sem defesa ante a lógica consistência do Calvinismo; pois a presciência implica em certeza e certeza implica em predestinação.

Loraine Boettner
In: A doutrina reformada da predestinação
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Cada pardal é um indivíduo diferente de todos os outros. O algo especial criado por Deus naquele pardar é produto de todas as circunstâncias especiais que entraram na produção dele. A maioria de nós quase não percebe a singularidade dos pardais. Saímo-nos melhor no caso dos seres humanos. O fato de você ser o que é envolve um universo. E se o fato de você ser o que é for obra de deus, então uma infinidade de eventos passou pelas suas mãos.  Foi a habilidade dEle que formou você a partir do padrão genético de seus ancestrais, a cultura do seu tempo e o conjunto de relacionamentos que o cercam. Isso não significa negar que se seus ancestrais tivessem sido mais temperados, seus mais mais sábios, seus professores mais conscientes e seus colegas de escola mais gente, você teria sido uma pessoa melhor do que é. No entanto, do jeito que você é, Deus fez você. E a suprema perrogativa da arte divina é tirar o bem do mal. Não um bem maior, não. Nós não ajudamos a Deus para que Ele produza coisas melhores oferecendo-lhe materiais piores. Mas aquilo que Ele cria é sempre um bem único. Você é você, e não há uma pessoa exatamente igual a você. Os defeitos, assim como as vantagens do seu contexto, entraram na composição da mistura.

Austin Farrel
In: A biblioteca de C. S. Lewis
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
Os dois conceitos parecem diametralmente opostos e contrários: a presciência universal de Deus e o livre-arbítrio. Se Deus prevê tudo e não pode estar errado, o que a Providência previu como evento futuro deve acontecer. De modo que, se desde toda a eternidade a Providência conhece previamente não apenas as ações dos homens, mas também seus pensamentos e desejos, não haverá nenhum livre-arbítrio. Nenhum desejo ou ação poderá existir e divergir daquilo que a Providência infalível de Deus previu. Pois se podem ser mudados e tornados diferentes de como foram previstos, não existirá nenhuma presciência certa do futuro, mas apenas uma opinião incerta, o que julgo não se poder acreditar acerca de Deus.

O que estou tentando mostrar é que, qualquer que seja a natureza das causas, o acontecimento de coisas previstas é necessário, mesmo se o conhecimento prévio de eventos futuros não parece impor-lhes a necessidade.

Boécio
In: A consolação da filosofia
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
A luz da igreja dos Estados Unidos[1] está trêmula, quase se apagando. Já se rendeu demais aos reinos e valores deste mundo. Enquanto a maioria das pessoas percebe que há um problema, poucas fazem alguma coisa a respeito, e, das que fazem, muitas optam pelas soluções erradas. Em vez de falar de uma maneira relevante e profunda à cultura atual, temos capitulado e, em muitos casos, pouca ou nenhuma diferença em relação ao mundo (...)

O Espírito Santo é um elemento absolutamente vital para nossa atual situação. É claro que Ele é sempre vital, mas talvez de maneira ainda mais especial hoje em dia. Afinal de contas, se o Espírito Santo age, nada pode impedi-lo. Se Ele não age, não conseguiremos produzir frutos genuínos, não importa quanto esforço façamos ou quanto dinheiro gastemos. A igreja se torna irrelevante quando ela não passa de uma simples criação humana. Não temos condições de ser tudo o que fomos criados para ser quando tudo em nossa vida e em nossa igreja se explica sem a obra e a presença do Espírito de Deus.

[1] Embora o autor se refira à situação da igreja norte americana, a situação descrita aplica-se à realidade brasileira (Nota do Editor do Cinco Solas).

Francis Chan
In: O Deus esquecido: revertendo nossa trágica negligência para com o Espírito Santo.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
William Perkins (1558-1602) – sua teologia foi o primeiro grande exemplo de uma síntese da teologia reformada aplicada à transformação da sociedade, igreja e indivíduos da Inglaterra elizabetana. Em sua obra mais famosa, Armilla Aurea (A corrente de ouro – 1590), ele expôs a tradição reformada em torno do tema da teologia como “a arte de viver bem”. Deu ênfase à majestade da ordem de Deus e sua implicações sociais e pessoais. Foi o primeiro teólogo elizabetano com uma reputação internacional. Também destacou-se extraordinariamente como pregador.

William Ames (1576-1633) – discípulo mais destacado de Perkins e prolífico escritor. Sua críticas contra a Igreja da Inglaterra causaram o seu exílio na Holanda (onde foi professor) e a proibição dos seus livros na Inglaterra. Suas obras mais famosas são: A Medula da Teologia (1623) e Casos de Consciência (1630). Morreu poucos antes de uma planejada mudança para Massachusetts, onde sua influência, bem como na Holanda, persistiu até o século 18. Sua teologia prática acentuou como cada aspecto da vida devia ser dedicado à glória de Deus.

Richard Sibbes (1577-1635) – foi estudante e professor em Cambridge. Exemplificou a síntese entre profundidade bíblica e sensibilidade pastoral que caracterizou a teologia puritana no que tinha de melhor. Seus escritos são práticos antes que sistemáticos e mostram claramente porque as ênfases puritanas foram assimiladas tão plenamente pelos leigos. Escritos seus como A Porção do Cristão e A Exaltação de Cristo Comprada por sua Humilhação revelam não só uma rica soteriologia, mas profundas percepções sobre a criação e a encarnação.

Thomas Goodwin (1600-1680) – foi influenciado por Sibbes e outros. Estava destinado a uma promissora carreira eclesiástica, mas abriu mão da mesma ao ser convencido por John Cotton (1584-1652) da legitimidade da independência. Depois de algum tempo na Holanda, desempenhou um papel importante na Assembléia de Westminster. Teve atuação destacada no regime de Cromwell e foi presidente do Magdalen College, em Oxford. Buscou unir independentes e presbiterianos em Cristo, o Pacificador Universal (1651). Seu profundo encontro pessoal com Cristo permeou todos os seus escritos.

Richard Baxter (1615-1691) – foi ordenado em 1638 e dois anos depois rejeitou o episcopalismo. De 1641 a 1660 foi ministro de uma paróquia em Kidderminster. Após a guerra civil, apoiou a Restauração e tornou-se capelão de Carlos II. Excluído da Igreja da Inglaterra após o Ato de Uniformidade (1662), continuou a pregar e foi encarcerado em 1685 e 1686. Tomou parte na deposição de Tiago II e deu as boas-vindas ao Ato de Tolerância de Guilherme e Maria. Suas obras incluem O Repouso Eterno dos Santos (1650) e O Pastor Reformado (1656).

John Owen (1616-1683) – ao lado de Baxter, o grande pensador sistemático da tradição teológica puritana. Educado em Oxford, enfrentou uma longa luta espiritual em busca da certeza de salvação, que terminou por volta de 1642. Dedicou seus formidáveis dotes intelectuais à causa parlamentar. Inicialmente presbiteriano, converteu-se à posição independente através da leitura de John Cotton. Fez uma vigorosa exposição do calvinismo clássico em Uma Exibição do Arminianismo (1643). Em A Morte da Morte na Morte de Cristo (1647) fez uma brilhante apresentação da doutrina da expiação limitada. Até o fim da vida trabalhou por uma igreja nacional mais abrangente e pela reconciliação dos dissidentes rivais.

John Bunyan (1628-1688) – após lutar na guerra civil, em 1653 filiou-se a uma igreja independente em Bedford. Um ou dois anos depois, começou a pregar com boa aceitação. Foi aprisionado de modo intermitente entre 1660 e 1672, o que lhe permitiu escrever sua obra-prima, O Progresso do Peregrino (1678), e outros escritos. Após 1672, dedicou-se à pregação e ao evangelismo em sua região. Outras obras famosas de sua lavra são A Guerra Santa (1682) e Graça Abundante para o Principal dos Pecadores (1666). 

Alderi Souza de Matos
In: Os puritanos, sua origem e sua história
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. Rm 8:8

Introdução

A teoria do livre arbítrio pretende provar que o homem tem capacidade inerente para crer no evangelho e aceitar a Cristo. Pressupõe que o homem está numa situação de neutralidade ou equilíbrio moral e que diante da escolha proposta no evangelho o mesmo pode optar igualmente pela salvação ou condenação. Essa teoria tem ampla aceitação no meio evangélico, enquanto que a inabilidade inata do homem é vista como uma desculpa diante de Deus. Se o homem é incapaz de crer no evangelho por si mesmo, dizem, então ele não pode ser responsabilizado pela sua incredulidade. À parte e acima dessa aparente lógica, está o que a Bíblia declara a respeito da condição do homem. E o que ela declara é que é impossível que aqueles que estão na carne agradem a Deus.

1. Agradar a Deus

Agradar é fazer a vontade de alguém, acomodando-se aos desejos e interesesses de outros. Agradar a Deus é fazer aquilo que Lhe dá prazer, que lhe traz satisfação. Isso envolve disposição para abrir mão de agradar a si mesmo. Nesse sentido “Cristo não se agradou a si mesmo” (Rm 15:3), mas sempre fazia a vontade do Pai. Para os cristãos, como soldado de Cristo, “seu objetivo é satisfazer àquele que o arregimentou” (2Tm 2:4). Além disso, agradar a Deus muitas vezes implica desagradar a outras pessoas. Paulo dizia “ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo” (Gl 1:10), uma vez que “fomos aprovados por Deus, a ponto de nos confiar Ele o evangelho, assim falamos, não para que agrademos a homens, e sim a Deus” (1Ts 2:4).

Merece especial consideração o fato de que “sem fé é impossível agradar a Deus” (11:6). Dessa forma, a primeira coisa que se exige dos que se aproximam de Deus é que creiam nele. Os que estão na incredulidade não podem agradar a Deus, não importa o quanto suas obras sejam louváveis diante dos homens, pois “tudo o que não provém de fé é pecado” (Rm 14:23). Para Deus, a primeira coisa que lhe é agradável é a fé depositada em seu Filho Jesus Cristo, mediante a pregação do evangelho. Mas, os que estão na carne não podem proporcionar-lhe este prazer, pois todos os ditames da sua natureza são no sentido de agradar a si mesmos.

2. Estar na carne

O que significa estar na carne? A expressão refere-se aos não regenerados apenas ou inclui também os chamados crentes nascidos de novo? A princípio, isso é indiferente para nossa análise, pois seja um crente ou um não nascido de novo, estando na carne não pode agradar a Deus. Mas, estar na carne é diferente de andar segundo a carne, como veremos.

A palavra carne na Bíblia tem uma ampla gama de significados, mas nas epístolas refere-se com frequência à natureza pecaminosa. Um cuidado que se deve ter é diferenciar as alusões ao corpo (σωμα) e carne (σαρξ), pois esta última é que frequentemente representa aquilo no homem que intenta agir à parte e ao contrário da vontade de Deus.

Paulo diz “eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum” (Rm 7:18), João se refere “à concupiscência da carne” (1Jo 2:16) e Pedro às “concupiscências carnais que combatem contra a alma” (1Pe 2:11). Essa natureza pecaminosa, ou “inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8:7). Paulo, especialmente, usa a palavra carne como termo ético significando uma pessoa vivendo separada de Deus e sob domínio do pecado.

Há, contudo, uma diferença entre andar segundo a carne e estar na carne. Embora o crente possa “andar na carne”, não “está na carne”, pois mesmo “andando na carne, não militamos segundo a carne” (2Co 10:3). O crente não deve viver em conformidade com os instintos e pensamentos que surgem de sua natureza carnal, mas ser guiado pelo Espírito Deus. Embora possamos nos deixar levar por nossa natureza carnal, não devemos andar “segundo a carne, mas segundo o Espírito. Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito para as coisas do Espírito” (Rm 8:4-5). Aqueles “que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos em Espírito, andemos também em Espírito” (Gl 5:24-25).

Mas no caso do não regenerado a situação é diferente, ele “está na carne”. Eles seguem a lei de sua própria natureza que “não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8:7). Sua natureza é hostil a Deus e àquilo que Deus exige na sua Santa Palavra. Por isso, em seu estado natural, o homem caído não tem prazer em Deus e não faz aquilo que agrada a Deus.

3. Não podem

O espírito denota poder. No Antigo Testamento o Senhor já havia dito “não por força nem por violência, mas sim pelo meu Espírito” (Zc 4:6). Prometendo o Consolador, Jesus disse “ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder” (Lc 24:49) e “mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo” (At 1:8). Por outro lado, “a carne é fraca” (Mc 14:38), identificada com enfermidade incapacitante, haja vista que “o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne” (Rm 8:3) teve que ser feito por Deus. Porque “o espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita” (Jo 6:63), só podemos agradar ao Senhor quando “servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3:3).

Portanto, quem está na carne, não pode agradar a Deus. Não podemos atenuar essa declaração, fazendo parecer que é difícil ao não convertido agradar a Deus. A escritura está falando de uma impossibilidade absoluta, pois “a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser” (Rm 8:7). O termodunamis” refere-se a “ser capaz, ter poder quer pela virtude da habilidade e recursos próprios de alguém, ou de um estado de mente, ou através de circunstâncias favoráveis, ou pela permissão de lei ou costume; ser apto para fazer alguma coisa” (Strong). Essa palavra é precedida pela partícula de negação absoluta “ou” e não pela partícula de negação qualificada “me”. Portanto, quem não nasceu de novo é absolutamente incapaz de agradar a Deus.

Somente pelo Espírito Santo alguém pode vir agradar a Deus. “Ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo” (1Co 12:3). Mas, ao contrário do que pensam alguns, o Espírito não é dado indiscriminadamente, pois é “o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber” (Jo 3:27). O Senhor Espírito Santo age soberanamente no coração de Seus eleitos.

Conclusão

Aceitar a Jesus é, seguramente, algo que agrada a Deus. A teoria do livre-arbítrio declara que todo homem tem a capacidade, ante a oferta do evangelho, de igualmente aceitar ou rejeitar a Cristo. Porém, a declaração de Paulo em Rm 8:8 colide frontalmente com tal teoria, reduzindo-a a pó. Todo homem natural é absolutamente incapaz, de si e por si, de aceitar a Cristo, do que concluímos que o livre-arbítrio é uma quimera, algo puramente imaginário. Por outro lado, o Espírito Santo, operando pela Palavra de Deus, é o poder vivificante, que ressuscita o homem e o leva a viver uma nova vida em Cristo. E nisto o Senhor é glorificado.

Soli Deo Gloria
domingo, 23 de janeiro de 2011
O homem foi, no princípio, formado a imagem e semelhança de Deus para que, pela dignidade que tão nobremente tinha-lhe Deus investido, admirasse a seu Autor e o honrasse com o agradecimento que se devia.

Mas o homem, confiando na excelência tão grande de sua natureza, esqueceu de onde procedia e quem o fazia subsistir, e pretendeu alçar-se contra seu Senhor. Foi, pois, necessário que se despojasse de todos os dons de Deus, dos quais se orgulhava loucamente, para que assim, privado e desprovido de toda glória, conhecesse o Deus que o havia enriquecido com generosidade e a quem tinha-se atrevido a desprezar.

Pelo qual, todos nós, que procedemos de Adão, uma vez que esta semelhança de Deus tem desaparecido de nós, nascemos carne da carne. Pois, ainda que estejamos compostos de alma e corpo, sentimos sempre e unicamente a carne, de modo que seja qual for a parte do homem sobre a qual fizemos nossos olhos, só podemos ver coisas impuras, profanas e abomináveis para Deus. pois a sabedoria do homem, cegada e assediada por inúmeros erros, se opõe continuamente à sabedoria de Deus; a vontade perversa e cheia de afetos corrompidos a nada professa mais ódio que a sua justiça; as forças humanas, incapazes de qualquer obra boa, se inclinam furiosamente para a iniquidade.

João Calvino
In: Breve Instrução Cristã
sábado, 22 de janeiro de 2011
Nos últimos tempos, percebi que alguns comentadores reclamaram de erro ou exclusão de comentário. Estranhei, pois de fato não excluo comentário, exceto se forem muito ofensivos ou utilizarem termos inadequados. O que não é o caso da maioria que aqui comenta.

Hoje, casualmente vi uma aba no Blogger, com quase uma centena, na verdade 96 comentários, retidos por suspeita de spam. Não sei qual o critério que o blogger usa para esse enquadramento.

Peço perdão àqueles que tiveram seus comentários retidos sem o meu conhecimento. Tomarei duas providências. Verei se tem como desativar essa funcionalidade e caso contrário, consultarei mais frequentemente esta aba para ver se tem algum retido. E irei liberando aos poucos os comentários retidos. O "aos poucos" é porque desconfio que um dos critérios blogger seja a quantidade de comentários num curto espaço de tempo. Os que estiverem duplicados, publicarei apenas o último.

Qualquer dúvida estou à disposição.

Clóvis
Editor Cinco Solas
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Não trago para o âmbito de nossa conversa o argumento moral, pois há muitos espíritas que são cristãos de atitude, por causa dos valores que regem suas vidas, valores derivados dos ensinos de Jesus Cristo. Mas isso não faz deles cristãos. O argumento moral aprovaria o espiritismo, ao mesmo tempo em que reprovaria muitos cristãos, que não são cristãos de modo completo, pois, mesmo tendo sido aprovados no plano teológico (por crerem nas verdades bíblicas), são reprovados no plano moral, porque suas atitudes tristemente não condizem com os valores propostos por Jesus Cristo.

Cristão é, portanto, aquele que passa por dois testes: o ético (moral) e o teológico. Teologicamente falando, o cristianismo tem suas bases fincadas exclusivamente na Bíblia, que traz não só os ensinos de Jesus Cristo para uma vida reta, mas também os ensinos dele sobre si mesmo e sobre o presente e o futuro. No teste teológico, infelizmente o espiritismo não passa, a começar pelo modo como vê a Bíblia. A dificuldade maior, contudo, está no papel que Jesus Cristo ocupa na história e na vida, pois ele é visto pelo espiritismo como um mestre, o que é muito pouco para aquele que disse que quem o via via o Pai.

Israel Belo de Azevedo
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
Acabei a leitura de "Santo Agostinho: o problema do mal", Ivan de Oliveira Silva, publicado pela editora Pilares. Trata-se do TCC do autor, para o curso graduação em Filosofia, da Universidade Mackenzie. Confesso que muita coisa me escapou, por minha deficiência em filosofia em geral, mas especialmente quanto alguns conceitos e terminologia.

O livro, como anuncia o título, trata da visão agostiniana sobre o problema do mal. O que segue, não é uma resenha do livro, mas uma síntese do que ele diz, sem entrar no mérito se concordo ou não, pois como disse, falta-me pré-requisitos para isso. Algumas afirmações do autor me pareceram não muito agostinianas.

O tratamento que Agostinho dá ao problema do mal é motivado pela sua rejeição ao maniqueísmo, que ele havia professado no passado. Segundo os seguidores de Mani, o mal coexiste eternamente em oposição ao bem, sendo os dois "poderes" iguais em força. No universo, o bem e o mal estão intermesclados e procuram vencer um ao outro. Pularei as implicações disto.

Em resposta, Agostinho afirma que o mal não existe ontologicamente, sendo mero distanciamento do bem. Não tendo existência real, o mal não foi criado e nenhuma criatura carrega a substância do mal, pois como alguém portaria o nada? E sendo nada, o mal sob o ponto de vista ontológico não pode ser evitado, pois o nada não pode se aproximar do bem.

Por outro lado, em sua relação com o homem, o mal existe como mal moral, que consiste no comportamento humano de afastar-se do Sumo Bem. Neste sentido, o mal é o pecado, sendo este tanto a causa como o efeito do mal. E esse afastar-se do bem se dá em função da vontade caída do homem, do uso que o homem faz de seu livre-arbítrio. Quanto mais se afasta do Criador, mais o homem piora a sua condição moral, o que vem acontecendo desde a queda.

Ao contrário do mal ontológico, o mal moral carece e tem antídoto. O remédio para o mal moral é a graça. Assim como o homem pela sua própria vontade pode somente afastar-se do bem, com o concurso da graça, pode aproximar-se do bem, o que pode ser entendido de Agostinho como sendo a salvação.

A graça não é imprescindível apenas para aproximar-se do bem, mas para a permanência nele também. Como a vontade do homem é tendenciosa ao mal moral, a perseverança no bem, é devida somente à graça. Para Agostinho, eis "que a perseverança final no bem seja um excelente dom de Deus e que sua procedência seja aquele do qual está escrito: 'todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto, descendo do pai das luzes' Tg 1:17".

Soli Deo Gloria
domingo, 16 de janeiro de 2011
Como a Majestade de Deus ultrapassa em si a capacidade do entendimento humano e inclusive é incompreensível para este, devemos adorar sua grandeza antes que examiná-la para não sermos completamente abrumados com tão grande claridade.


Por isso devemos buscar e considerar a Deus em suas obras, às quais a Escritura chama, por esta razão, "manifestações das coisas invisíveis", pois nos manifestam o que, de outro modo, não podemos conhecer do Senhor.



Não se trata agora de especulações vãs e frívolas para manter nosso espírito em suspense, senão de algo que necessitamos saber, que é alimento e que confirma em nós uma autêntica e sólida piedade, quer dizer, a fé unida ao temor. Contemplemos, pois, neste universo a imortalidade de nosso Deus, de quem procede o princípio e origem de tudo o que existe; seu poder que criou num tão grande conjunto e agora o sustenta; sua sabedoria que compôs e governa uma variedade tão grande e tão diversa segundo uma ordem deliciosa; sua bondade que tem sido em si mesma causa de que tenham sido criadas todas estas coisas e de que agora subsistam; sua justiça que se manifesta de um modo maravilhoso na proteção dos bons e no castigo dos maus; sua misericórdia que, para mover-nos ao arrependimento, suporta nossas iniqüidades com grande doçura.


Certamente que este universo nos ensinaria, na medida que o necessitamos, e com abundantes testemunhos, como é Deus; mas somos tão rudes que estamos cegos ante uma luz tão brilhante. e nisto não pecamos só pela nossa cegueira, senão que nossa perversidade é tão grande que, ao considerar as obras de Deus, tudo o entende mal e erradamente , tergiversando por completo toda a sabedoria celestial que, muito pelo contrário, resplandece nelas com grande clareza.


Temos, pois, que deter-nos na Palavra de Deus que nos descreve a Deus de um modo perfeito pelas suas obras. Nela se julgam suas obras não segundo a perversidade de nosso juízo, senão segundo a regra da eterna verdade. Ali aprendemos que nosso único e eterno Deus é a origem e fonte de toda vida, justiça, sabedoria, poder, bondade e clemência; que dEle procede, sem exceção alguma, todo bem; e que, portanto, a Ele se deve com justiça todo louvor.


E embora todas estas coisas aparecem claramente em qualquer parte do céu e da terra, em definitiva só a Palavra de Deus nos fará compreender sempre e com toda verdade o fim principal para o qual tendem, qual é seu valor, e em que sentido devemos interpretá-las. Então aprofundaremos em nós mesmos e aprenderemos como manifesta o Senhor em nós sua vida, sua sabedoria, seu poder; e como operam em nós sua justiça, sua clemência e sua bondade.

João Calvino
In: Breve Instrução Cristã
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
No ato evangelizador da Igreja, ela prega a palavra de Deus conforme a ordem divina expressa nas Escrituras; fala da salvação eterna oferecida por Cristo, conforme as Escrituras proclama as perfeições de Deus, conforme as Escrituras... Ora, se a Igreja não tem certeza da fidedignidade do que ensina, como então, poderá testemunhar de forma honesta?


Uma Igreja que não aceite a inspiração e a inerrância bíblica, não poderá ser uma igreja missionária. Como poderemos pregar a Palavra se não estivermos confiantes do sentido exato do que está sendo dito? Como evangelizar se nós mesmos não temos certeza, se o que falamos procede da Palavra de Deus ou, está embasado numa falácia? Paulo dá testemunho de que a Escritura é fiel; por isso, ele a ensinava com autoridade (1 Tm 1.15; 4.9 compare com 2 Tm 4.6-8).
Satanás objetando esmorecer o ímpeto evangelístico da Igreja, tem usado deste artifício: minar a doutrina da inspiração e inerrância das Escrituras, a fim de que a Igreja perca a compreensão de sua própria natureza e, assim, substitua a pregação evangélica por discursos éticos, políticos e propaganda pessoal. Aliás, A Escritura sempre foi um dos alvos  prediletos de Satanás (Vd. Gn 3.1-5; Mt 4.3,6,8,9; 2 Co 4.3,4). Entretanto, a Igreja é chamada a proclamar com firmeza o Evangelho, conforme registrado na Bíblia e preservado pelo Espírito através dos séculos (2 Tm 4.2).
A Igreja prega o Evangelho, consciente de que ele é o poder de Deus para salvação do pecador (Rm 1.16); por isso, recusar o Evangelho significa rejeitar o próprio Deus que nos fala (1 Ts 4.8). Calvino, comentado Romanos 1.16, diz que aqueles que “se retraem de ouvir a Palavra proclamada estão premeditadamente rejeitando o poder de Deus e repelindo de si a mão divina que pode libertá-los.” [4] A Igreja proclama a Palavra, não as suas opiniões a respeito da Palavra, consciente que Deus age através das Escrituras, produzindo frutos de vida eterna (Rm 10.8-17; 1 Co 1.21; 1 Co 15.11; Cl 1.3-6; 1 Ts 2.13,14). A Igreja por si só não produz vida, todavia ela recebeu a vida em Cristo (Jo 10.10), através da sua Palavra vivificadora; deste modo, ela ensina a Palavra, para que pelo Espírito de Cristo, que atua mediante as Escrituras, os homens creiam e recebam vida abundante e eterna. 
Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa
In: Revista Palavra Viva, lição 04 - Sola Scriptura, pg 13-16, Editora Cultura Cristã.
Via: e-mail de Marcio Melânia
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
Deus é cheio de graça e não irá regatear-me conhecimento; é cheio de verdade e não irá decepcionar-me. Nunca estarei muito errado, desde que acredite, não apenas em Deus, Pai onipotente e criador de todas as coisas visíveis e invisíveis, mas em um único Senhor Jesus Cristo, Seu Filho unigênito, luz de luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, por quem todas as coisas foram criadas, que por nós homens e para nossa salvação desceu dos céus, morreu e ressuscitou dos mortos; cujo reino não terá fim; que domina todas as estrelas e planetas, todas as chuvas e raios de sol, todas as plantas, animais e pedras, todos os corpos e todos os homens; que ensinará aos homens, a seu tempo e modo, tudo o que eles precisam saber, a fim de multiplicar-se e encher a terra e subjugá-la nesta vida e conseguir a vida eterna no mundo futuro. Quanto ao resto, por mais confuso que eu fique, não deverei confiar nEle que não apenas criou este mundo, mas tanto o amou que se humilhou e morreu por ele na cruz?

Charles Kingsley
In: Disciplina e outros sermões
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
mas, como está escrito: nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. (1 Coríntios 2:9)

Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus além de ti, que trabalha para aquele que nele espera. (Isaías 64:4)
Um dos versículos mais populares da Bíblia, citado até mesmo em canções é 1 Coríntios 2:9. Pregadores da Teologia da Prosperidade encorajam seus ouvintes a sonharem com coisas que eles jamais sonharam...porque é isso o que Deus preparou para aqueles que o amam...e, nessa visão, pode ser desde um BMW até uma mansão na Riviera Francesa. Outros pregadores, mais tradicionais, usam o versículo acima para se referir ao céu e às bênçãos pós-morte. O texto, dizem, nos mostra que não sabemos que tipo de bênçãos receberemos no céu.

Porém, será que é isso mesmo o que 1 Coríntios 2:9, citando Isaías 64:4, quer dizer? Bom, uma regra simples da interpretação bíblica nos diz que devemos ler o texto dentro do contexto. Em outras palavras, devemos, no mínimo, ler o versículo dentro de uma unidade textual maior que faça sentido: a perícope. E, vendo o contexto, o que descobrimos?

1) Já sabemos aquilo que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Ahn, como...mas o texto não diz que nós não sabemos o que Deus preparou...que nem olhos viram e nem ouvidos ouviram? Sim...isso é o que diz 1 Co 2:9. Mas, você já leu o versículo 10?
Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.
Ou seja, por meio do Espírito Santo, sabemos que tipo de coisas "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram". Isso não está oculto, foi revelado. Mais precisamente na Bíblia, que é a Palavra de Deus.

Claro que isso não significa que saibamos de todos os detalhes. Por exemplo, não sabemos exatamente como será a vida em novos céus e na nova terra...mas temos o quadro geral.

2) 1 Coríntios 2:9 refere-se ao Evangelho, à salvação de Cristo na cruz. Agora que lemos 1 Coríntios 2:10, é hora de ler 1 Coríntios 2:1-8:
Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus. Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada; mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória; sabedoria essa que nenhum dos poderosos deste século conheceu; porque, se a tivessem conhecido, jamais teriam crucificado o Senhor da glória.
O que Paulo está dizendo? Ele contrasta dois tipos de sabedoria. A deste século e a dos poderosos desta época acabou crucificando a Jesus. Paulo não ostentou esse tipo de sabedoria quando pregou o Evangelho...e ela não deve ser a base da fé da Igreja. A fé deve se basear no poder de Deus...em Jesus Cristo e neste crucificado. O Cristo crucificado é a pregação paulina, é a sabedoria de Deus em mistério, preordenada desde a eternidade, para a glória dos eleitos, mas que estava oculta. Veja bem...estava...outrora oculta. Mas, agora, ela foi revelada pelo Espírito.

Que Paulo fala do Evangelho, fica mais claro quando lemos o contexto remoto, o que está escrito em outros textos, como Efésios 3:8-9:
A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo e manifestar qual seja a dispensação do mistério, desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas... (Efésios 3:8-9)
Portanto, agora, quando você cantar, pregar ou falar sobre aquilo que "nem olhos viram, nem ouvidos ouviram", você saberá como entender corretamente o ensino de 1 Coríntios 2:9.
 
 Helder Nozima
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
Na queda de Adão, perdemos não só nosso interesse em Deus e no desfrutar real dele, mas também todo nosso conhecimento espiritual a respeito dele e a verdadeira disposição a tal felicidade. O homem tem agora um coração muito adequado a sua condição atual: estado degradado e espírito vil. E quando o Filho de Deus vem com a graça regeneradora, e descobertas, e propostas de alegria e de glória eternas e espirituais, ele não encontra fé no homem capaz de acreditar nisso. Mas, assim como o homem pobre é incapaz de acreditar que alguém seria capaz de ter a soma de dez mil reais, também os homens dificilmente acreditariam agora que haja tal felicidade como a que outrora tivera, e muito menos que Cristo agora nos busca.

Richard Baxter
In: O repouso eterno dos santos
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta. Fm 18

Numa forma bastante simplificada, imputar significa “colocar na conta de”, “atribuir a”. Nas Escrituras, o termo imputar denota atribuir alguma coisa a uma pessoa ou encarregar alguém de algo ou, ainda, lançar alguma coisa na conta de alguém. Num sentido judicial, a imputação pode ser a base para recompensa e punição. O termo imputar e seus cognatos são utilizados várias vezes para traduzir o verbo hebraico chashabh e o verbo grego logizomai (ISBE). 

O conceito está intimamente relacionado a três grandes verdades teológicas: o pecado original (a culpa de Adão é imputada a todos os seus descendentes), a expiação (nossos pecados são imputados a Cristo) e a justificação (a justiça de Cristo é imputada a nós). Ou seja, a imputação está fortemente ligada à reconciliação entre Deus e o homem. Na carta de Paulo a Filemon a idéia é belamente exemplificada. Paulo pede a Filemon  que se reconcilie com Onésimo e para isso aceita que a dívida deste seja lançada em sua própria conta.

A imputação da culpa de Adão à sua descendência

O pecado original é um defeito da natureza humana causada pela Queda e consiste na perda e, consequentemente, na ausência da retidão original. O pecado original consiste na culpa hereditária, imputada a toda descendência de Adão e na corrupção hereditária, transmitida a todos os descendentes de Adão e Eva por geração. 

No que se refere à imputação do pecado original, os teólogos constumam distinguir, e discordar quanto, a imputação mediata e imediata. Imputação mediata refere-se à divina atribuição da culpa pelo pecado por causa da corrupção hereditária de todas as pessoas. Assim, a imputação mediata é dependente da corrupção individual dos seres humanos. Por outro lado, a imputação imediata refere-se à divina atribuição de culpa a todas as pessoas por causa da Queda, isto é, a culpa pela Queda é atribuída a toda descendência de Adão e Eva à parte de sua corrupção hereditária. Os luteranos tendem a reconhecer tanto a imputação mediata quanto a imediata, os reformados, seguindo a teologia dos pactos e sua visão de Adão como representante federal, tendem a aceitar a imputação imediata apenas, excluindo a imputação mediata. A escola de Saumur vai na direção contrária, ensinando a imputação mediata apenas, o que é rejeitado pelos calvinistas, pois é prejudicial à imputação da satisfação de Cristo. Os socianianos e alguns arminianos negam qualquer tipo de imputação do pecado. Pelágio, acreditava que Deus criava todas as almas diretamente, por isso cada pessoa nascia inocente e imaculada. Para Armínio, a culpa pelo pecado de Adão não era imputada diretamente, mas apenas quando o homem aliava-se a esse pecado pelos seus próprio. Embora não considerasse que o homem nasce com a retidão original, entendia que “Deus concede a cada indivíduo, desde a primeira aurora da consciência, luz que é suficiente para anular a influência da depravação herdada”.

Paulo escreve que “por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Rm 5:12). Esclarece o apóstolo que “pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores”, ou seja, o pecado de um foi imputado a toda a raça, haja vista ser este homem representante de todos, por isso que “todos morrem em Adão” (1Co 15:22).

A imputação dos nossos pecado a Cristo

Além da culpa herdada pelo pecado de Adão, cada pessoa é culpada pelos seus próprios pecados. Quanto ao Senhor Jesus, devido à sua concepção sobrenatural, nasceu livre da culpa pelo pecado de Adão e durante toda sua vida nunca pecou. Porém, quando “Aquele que não conheceu pecado” morreu como nosso substituto, Deus “O fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co 5:21). Então, Cristo estava “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (1Pe 2:24), pois “o SENHOR fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos” (Is 53:6).

Embora o termo imputação não apareça em textos bíblicos sobre a transferência de nossos pecados a Cristo, o conceito é tipificado no sistema sacrifical do Antigo Testamento. “E Arão porá ambas as suas mãos sobre a cabeça do bode vivo, e sobre ele confessará todas as iniqüidades dos filhos de Israel, e todas as suas transgressões, e todos os seus pecados; e os porá sobre a cabeça do bode, e enviá-lo-á ao deserto, pela mão de um homem designado para isso. Assim aquele bode levará sobre si todas as iniqüidades deles à terra solitária; e deixará o bode no deserto” (Lv 16:21-22). A aplicação disso a Cristo é visto, por exemplo, em Hb 2:9: “aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos”. 

A imputação da justiça de Cristo a nós

De Gênesis a Apocalipse a Bíblia ensina que a condição do pecador é a de “um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu” (Ap 3:17, cf. Gn 3:7). Diante da expectativa de encontrar-se com Deus, sua reação instintiva é de vestir-se de justiça própria, mas o Senhor considera “todas as nossas justiças como trapo da imundícia” (Is 64:6). Somente quando Deus nos veste com Sua justiça, podemos dizer “regozijar-me-ei muito no SENHOR, a minha alma se alegrará no meu Deus; porque me vestiu de roupas de salvação, cobriu-me com o manto de justiça, como um noivo se adorna com turbante sacerdotal, e como a noiva que se enfeita com as suas jóias” (Is 66:10). E este vestir de Deus vem a nós por imputação.

A imputação da satisfação de Cristo é a base da justificação pela graça mediante a fé. O pagamento de Cristo pelos pecados é imputado a nós, de forma que não precisamos mais pagar pelos nossos pecados. Os injustos são considerados justos sobre o fundamento de sua fé. E como a justa satisfação de Cristo é imputada imediatamente aos crentes, sem que nenhuma justiça esteja presente neles ou quallquer satisfação seja feita por eles antes da imputação, então a imputação do pecado também deve ser imediata.

A imputação da retidão de Cristo ao crente é o tema do quarto capítulo de Romanos, além de outras passagens. Pela Sua vida de perfeita obediência, Jesus é chamado de “o Santo e Justo” (At 3:14). Jesus viveu uma vida santa não apenas para Si, “mas também por nossa causa, posto que a nós igualmente nos será imputado, a saber, a nós que cremos naquele que ressuscitou dentre os mortos a Jesus, nosso Senhor, o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4:24-25). É somente por causa da justiça de Cristo a nós atribuída que poderemos, naquele dia, ser apresentados “imaculados diante da sua glória” (Jd 24). Aliás, em qualquer momento, nós so podemos ficar em pé na presença de Deus por causa da justiça que Cristo atribuiu a nós pela Sua morte sacrificial em nosso favor.

Implicações

É impossível referir todas as implicações que podemos derivar da doutrina da imputação. Refiro-me a três delas, apenas. A primeira, é que sendo descendência de Adão, não nascemos inocentes e somos culpados diante de Deus. Considerar isso injusto é também insurgir-se contra a justificação pela fé, pois o mecanismo, por assim dizer, é o mesmo. Somos culpados diante de um Deus tr6es vezes santo.

Em segundo lugar, é que sendo justificados através da imputação da justiça de Cristo, não temos do que nos gloriar diante de Deus. Não somos menos merecedores do inferno do que aqueles que para lá vão. Se podemos comparecer diante de Deus em retidão, isso é devido unicamente, à justiça de outro, a saber, Jesus Cristo. Portanto, toda glória é devida a Ele, e nada a nós.

Finalmente, há a segurança que a doutrina da imputação nos dá. Pois se somos aceitos diante de Deus pela justiça de Cristo, e sendo esta perfeita, não há por que temer pela nossa segurança eterna. Paulo se refere a isso quando diz “agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8:1). No final do capítulo ele pergunta: “quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8:33). Portanto, se cremos na justificação por imputação a nós da justiça de Cristo, não tememos pela nossa salvação eterna.

Soli Deo Gloria
domingo, 9 de janeiro de 2011
Ninguém desejará ser considerado como absolutamente indiferente à piedade e ao conhecimento de Deus, já que está demonstrado, por consentimento geral, que se levarmos uma vida sem religião, vivemos miseravelmente e não nos distinguimos em nada das bestas.


Mas existem maneiras muito diversas de manifestar a religião de cada um; pois a maioria dos homens não operam precisamente movidos pelo temor de Deus. E já que, gostem ou não, sentem-se como ofuscados por esta idéia que continuamente lhes vem è mente: "que existe alguma outra divindade cujo poder os mantêm em pé ou os faz cair"; impressionados, de um ou de outro modo, pelo pensamento de um poder tão grande, lhe professam certa veneração por medo que se ire contra eles mesmos se o desprezam demasiado. Contudo, o viver fora de Sua lei e rejeitar toda honestidade, demonstram uma grande despreocupação, pois estão menosprezando o juízo de Deus. Do resto, como não concebem a Deus segundo sua infinita Majestade, senão segundo a louca e irrefletida vaidade de sua mente, de fato se afastam do verdadeiro Deus. Eis aqui o por quê, ainda quando realizem um esforço cuidadoso por servir a Deus, isso não lhes vale de nada, já que em vez de adorar o Deus eterno, adoram, em seu lugar, os sonhos e imaginações de seu coração.

Agora bem, a verdadeira piedade não consiste no temor, o qual muito gostosamente evitaria o juízo de Deus, pois tem tanto mais horror quanto que não pode fugir dele; senão antes bem um puro e autêntico zelo que ama a Deus como a um verdadeiro Pai e o reverencia como a verdadeiro Senhor, abraça sua justiça e tem mas horror de ofendê-lO que de morrer. E quantos possuem este zelo não tentam forjar-se um deus de acordo com seus desejos e segundo sua temeridade, senão que buscam o conhecimento do verdadeiro Deus em Deus mesmo, e não o concebem senão tal e como se manifesta e se dá a conhecer a eles.

João Calvino
In: Breve Instrução Cristã
sábado, 8 de janeiro de 2011
Com este texto estréio alguns comentários sobre alguns blogs que visito, de forma nada sistemática, quando o tempo permite.

Os autores

Sou suspeito para falar, pois sou um dos cinco colaboradores. Mas tenha em mente que estou me referindo às postagens de meus colegas Allen Porto, Helder Nozima, Leonardo Galdino e Roberto Vargas Jr. Todos com estilos próprios, mas cada um com boas idéias e competência de sobra para colocar no papel, ou na tela.

Por ser um blog colaborativo, há certa diversidade de pontos de vista, que se revelam complementares. Não raro, as postagens de uns expande, completa e melhor explica o que os outros quiseram dizer. Mas às vezes há discordâncias, o que é normal quando se mistura, por exemplo (ex)-batistas, presbiterianos e pentecostal.

A proposta

A proposta dos cinco blogueiros calvinistas é postar um texto por dia, num sistema de rodízio. Nem sempre isso é possível, então alguns dias da semana ficam sem post (mea culpa). Mas, como alguns textos merecem uma segunda e terceira leitura e outros suscitam intenso debate, o ritmo do blog acaba ficando bom.

O blog trata de atualidades (WikiLeaks: bom ou ruim?), teologia (Da suposta Teonomia dos Símbolos de Fé de Westminster), filosofia (Cheung e a metafísica), vida cristã (O que devemos guardar da Lei) entre outros temas, sob uma ótica reformada calvinista.

O melhor texto dos 5 Calvinistas

Sem dúvida, pela questão que abordou e pelo momento, o melhor texto do blog é "Onde está Deus quando a terra treme?". O artigo começa a assim:
"O dia hoje começou com o anúncio de mais uma tragédia. Um terremoto de 7 graus na escala Richter assolou o Haiti. Até o momento a estimativa é que mais de 100 mil pessoas tenham morrido, incluindo ao menos doze brasileiros, dentre eles uma das fundadoras da Pastoral da Criança, Zilda Arns. A tragédia se mostra ainda mais sinistra quando lembramos que o Haiti é um dos países mais pobres do mundo.

Esse tipo de desastre leva a uma pergunta: onde está Deus? Por que isso acontece?"
Por textos como esse é que recomendo a visita aos 5 Calvinistas. No rodapé deste blog você encontra as últimas postagens e comentários publicados.

Soli Deo Gloria
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Nada    que a natureza humana mais cobice que ser afagada de  lisonjas.  E,  por  isso, onde ouve seus predicados revestir-se  de  grande  realce,  para  esse rumo propende com demasiada credulidade. Portanto,  não  é de admirar que, neste ponto, se haja  transviado,  de  maneira profundamente danosa, a maioria esmagadora  dos homens. Ora, uma vez que é ingênito a todos os mortais  mais do que cego amor de si mesmos, de muito bom grado  se  persuadem  de  que nada neles existe que, com justiça, deva  ser  abominado.  Destarte, mesmo sem influência de fora,  por  toda  parte  obtém crédito esta opinião de todo vã: que o homem  é  a si amplamente suficiente para viver bem e venturosamente (...). Daí, porque tem sido, destarte, acolhido com o grande  aplauso de quase todos os séculos cada um que, com seu encômio,  haja mui favoravelmente exaltado a excelência da natureza  humana (...). Portanto,  se alguém dá ouvidos a tais mestres  que nos detêm  em somente mirarmos nossas boas qualidades,  não avançará no conhecimento de si próprio, ao contrário, precipitar-se-á na mais ruinosa ignorância.

João Calvino
In: Institutas da religião cristã