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sábado, 29 de janeiro de 2011
A objeção arminiana contra a predestinação também igualmente vai de encontro à presciência de Deus. O que Deus sabe e conhece antecipadamente deve, na própria natureza do caso, ser tão fixo e certo como o que seja pré-ordenado; e se a pré-ordenação for inconsistente com o livre arbítrio do homem, assim também o será a presciência de Deus (e vice e versa). Pré-ordenação resulta em eventos certos, enquanto presciência pressupõe que eles sejam certos.
Mas, se os eventos futuros são pré-conhecidos por Deus, eles não podem, qualquer que seja a possibilidade, ocorrerem de forma diversa do Seu conhecimento. Se o curso dos eventos futuros é pré-conhecido, a história seguirá um curso que é tão definitivo e certo quanto uma locomotiva se desloca pelos trilhos entre uma cidade e outra. A doutrina Arminiana, por rejeitar a predestinação, rejeita também a base teísta da presciência. O senso comum nos diz que nenhum evento pode ser previamente conhecido a menos que, por alguma maneira, seja física ou mental, tenha sido pré-determinado. Nossa escolha quanto ao que determina a certeza de eventos futuros afunila-se então em duas alternativas - a pré-ordenação do sábio e misericordioso Pai celeste; ou a obra do acaso, físico e cego.
Os socinianos e unitarianos, enquanto não tão evangélicos como os arminianos, são neste ponto mais consistentes, pois após rejeitar a predestinação de Deus, eles também negam que Ele possa conhecer antecipadamente os atos de agentes livres. Eles sustentam que, na própria natureza do caso, pode ser antecipadamente sabido como a pessoa agirá, até que chegue a hora em que a escolha seja feita. Esta visão, é claro, transforma as profecias das Escrituras - na melhor das hipóteses - em adivinhações e palpites perigosos, irresponsáveis, abusivos e obsoletos; e destrói a visão cristã da inspiração das Escrituras. É um ponto de vista que nunca foi aceito por nenhuma Igreja cristã reconhecida. Alguns dos socinianos e unitarianos têm sido intrépidos o bastante para reconhecer que a razão que os levou a negar certa presciência de Deus quanto aos atos futuros dos homens, é que, se assim fosse admitido, seria impossível refutar a teoria calvinista da Predestinação.
Muitos arminianos sentiram a força deste argumento, e enquanto não tenham seguido os Unitarianos na negação da presciência de Deus, deixaram claro que tranqüilamente o negariam, se assim pudessem ou se atrevessem. Alguns falaram depreciativamente da doutrina da presciência, sugerindo que, em sua opinião, era de pouca importância se alguém cresse ou não. Alguns foram mais longe, ao ponto de afirmar claramente que os homens melhor fariam rejeitando a presciência do que admitir a Predestinação. Outros sugeriram que Deus pode voluntariamente negligenciar o conhecimento de alguns dos atos dos homens de maneira a deixá-los livres; mas isso, é claro, destrói a onisciência de Deus. Ainda outros sugeriram que a onisciência de Deus pode implicar somente que Ele sabe todas as coisas, se Ele assim escolher, justamente como a Sua onipotência implica que ele pode todas as coisas, caso Ele assim opte. Mas a comparação não é sustentável, pois aqueles certos atos [dos homens] não são meras possibilidades, mas sim realidades, embora ainda futura; e imputar ignorância daqueles aspectos a Deus é negar-Lhe o atributo da onisciência. Esta explicação resultaria no absurdo de uma onisciência que não é onisciente.
Quando confrontado com o argumento da presciência de Deus, o arminiano admite que eventos futuros estão certos ou fixos. Mas quando lhe é apresentada a questão do livre-arbítrio, ele tende a desejar manter que os atos livres são incertos e em última instância dependentes da escolha da pessoa - o que é uma posição plenamente inconsistente. Um ponto de vista que sustente que os atos livres de homens sejam incertos, sacrifica a soberania de Deus de modo a preservar a liberdade dos homens.
Além do mais, se os atos livres são eles próprios incertos, Deus precisa então esperar até que o evento tenha ocorrido antes de fazer os Seus planos. Na tentativa de converter uma alma, seria esperado que Ele agisse da mesma maneira que se diz sobre Napoleão ao marchar para batalha - com três ou quatro planos diferentes em mente, de modo que se o primeiro falhasse, ele poderia recorrer ao segundo, e se aquele falhasse, ele moveria sua tática para o terceiro e assim por diante - um ponto de vista que é, no geral, inconsistente com a verdadeira visão de Sua natureza. Ele então ignoraria muito do futuro e estaria ganhando diariamente vastas quantidades de conhecimento. Seu governo do mundo também, naquele caso, seria muito incerto e mutável, dependente quanto fosse da conduta imprevista dos homens.
Negar a Deus as perfeições da presciência e da imutabilidade é representá-Lo como um ser desapontado e infeliz, que é freqüentemente colocado em cheque e derrotado por Suas criaturas. Mas quem pode realmente crer que na presença do homem o Grande Jeová deva permanecer sentado, questionando, “O que ele fará?”. Todavia, a menos que o arminianismo negue a presciência de Deus, ficará sem defesa ante a lógica consistência do Calvinismo; pois a presciência implica em certeza e certeza implica em predestinação.
Loraine Boettner
In: A doutrina reformada da predestinação
Marcadores:
Calvinismo,
Incapacidade humana,
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