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quinta-feira, 1 de maio de 2014
Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Romanos 3.24).
A figura da redenção é muito simples e é de forma frequente utilizada nas Escrituras. Quando um prisioneiro é preso e feito escravo por um governo bárbaro, antes de ser libertado, é comum que um preço de resgate deva ser pago. Ora, nós, sendo, pela queda de Adão, inclinados para a culpabilidade e sendo, de fato, virtualmente culpados, fomos pelo irrepreensível julgamento de Deus deixados à vingança da Lei. Fomos dados às mãos da Justiça – Justiça que nos reivindicou para sermos seus escravos cativos para sempre – a menos que pagássemos um resgate que possibilitasse a redenção de nossas almas. Éramos, de fato, pobres como pequenas corujas e não tínhamos nada com que nos abençoar a nós mesmos. Éramos, como nosso hino tem dito, “devedores falidos”. Tudo o que tínhamos antes foi vendido. Fomos deixados nus, pobres e miseráveis e não podíamos, por meio algum, encontrar um resgate. Foi só então que Cristo entrou em cena, levantou-se como nosso Fiador e, no lugar de todos os crentes, pagou o preço do resgate para que fôssemos, naquele momento, libertados da maldição da Lei e livrados da vingança de Deus! Podemos, então, tomar nosso caminho, purificados, livres e justificados pelo Seu sangue!

Deixem que me esforce para mostrar-lhes algumas qualidades da Redenção que está em Cristo Jesus. Vocês se lembrarão da multidão que Ele redimiu. Não somente eu, nem somente vocês, mas “uma multidão que homem algum pode numerar”. Um número que excederá todas as estrelas do céu, como ultrapassará todas as contas mortais. Cristo comprou para si próprio alguns dentre cada reino, nação e língua sob o céu! Ele redimiu dentre os homens alguns de cada classe – do maior ao menor; alguns de cada cor – brancos ou negros; alguns de cada posição na sociedade – o melhor e o pior. Para homens de todos os tipos Cristo Jesus se deu como resgate, a fim de que fossem redimidos para Ele mesmo.

Ora, concernente a este Resgate, devemos observar que ele foi totalmente quitado, e de uma só vez. Quando Cristo redimiu Seu povo, Ele o fez de forma completa. Ele não deixou uma única dívida a ser paga, nem ainda um centavo para quitar mais tarde. Deus exigiu de Cristo o pagamento pelos pecados de todo o Seu povo. Cristo se levantou para pagar toda a dívida que seu povo devia, qualquer que fosse. O Sacrifício do Calvário não foi um pagamento parcial – não foi uma exoneração parcial; ele foi um pagamento completo e perfeito e obteve uma remissão completa e perfeita de cada débito de todos os cristãos – tanto dos que já viveram, os que vivem e os que viverão, até o fim dos tempos. Naquele dia, quando Cristo foi pendurado na cruz, Ele não deixou nem mesmo um centavo para que pagássemos, a fim de satisfazer a Deus. Ele não deixou nada que não tivesse satisfeito. Todas as exigências da Lei foram então, ali, pagas por Jeová Jesus, o grande Sumo Sacerdote de todo o Seu povo! E, bendito seja o Seu nome, Ele também pagou tudo de uma vez! Tão inestimável era o Resgate, tão esplêndido e magnífico era o preço exigido por nossas almas, que alguém poderia imaginar que seria maravilhoso se Cristo o tivesse pagado em prestações – uma parte agora e outra depois. As dívidas dos reis eram, algumas vezes, pagas desta forma, uma parte imediatamente e a outra em prestações, ao longo dos anos. Mas não foi assim com nosso Senhor – Ele se deu como Sacrifício uma vez por todas. De uma vez Ele pagou o preço e disse: “Está consumado”, não deixando nada para ser concluído depois, por nós ou por Ele mesmo. Ele não tagarelou um pagamento parcial e então declarou que viria novamente para morrer, ou que sofreria novamente, ou que obedeceria novamente. Mas, sobre os pregos, até o último centavo, o Resgate de todos os Seus eleitos foi pago e um recibo da dívida inteira foi dado a eles. Cristo cravou a cédula em Sua cruz e disse: “Está feito, está feito. Tenho tirado a cédula das ordenanças e a cravei na cruz. Quem é que condenará Meu povo, ou quem é que o acusará? Pois eu, como uma nuvem, apaguei suas transgressões e, como uma densa nuvem, os seus pecados!

E, quando Cristo pagou este Resgate, vocês notarão que Ele fez tudo sozinho! Ele era singular para este fim. Simão, o cireneu, poderia carregar a cruz, mas Simão, o cireneu, não poderia ser pregado nela. Aquele sagrado ciclo do Calvário foi guardado para Cristo somente. Havia dois ladrões com Ele ali, homens injustos, a fim de que ninguém pudesse dizer que a morte de dois justos ajudaram o Salvador. Dois ladrões foram pendurados ali com Ele, para que os homens pudessem ver que havia majestade em Sua miséria e que Ele podia perdoar homens e mostrá-los a Sua Soberania até mesmo enquanto morria! Não havia um justo sequer para sofrer. Nenhum discípulo participou de sua morte. Pedro não foi ali arrastado para ser decapitado. João não foi pregado na cruz lado a lado com Ele. Ele foi deixado ali sozinho! Ele diz: “Eu pisei o lagar sozinho. E não havia ninguém do povo comigo”. Toda a terrível culpa foi colocada sobre Seus ombros! Todo o peso dos pecados do Seu povo foi posto sobre Ele. Quando Cristo parecia cambalear sob esse peso – “Pai, se possível”. Mas, novamente endireitado – “Todavia, não a minha, mas a Tua vontade seja feita”. Toda a punição do Seu povo foi destilada em um cálice – nenhum lábio mortal poderia tomar dele mais do que um único gole. Quando Ele o levou a Seus próprios lábios, esse era tão amargo, que Ele esteve perto de rejeitá-lo. “Passe de mim este cálice”. Mas Seu amor pelo Seu povo era tão forte que ele o segurou em ambas as mãos e —

“Em uma espantosa síntese de amor
A aridez da condenação Ele tomou”

Por todo o Seu povo! Ele o tomou completamente, a tudo suportou, tudo sofreu – de modo que agora e para sempre não há chamas do Inferno para os eleitos, nem um mínimo tormento! Eles não possuem aflições eternas – Cristo sofreu tudo o que eles deveriam sofrer e, agora, eles devem e avançarão livres! Todo o trabalho foi inteiramente completado por Ele, sem o auxílio de ninguém!

E notem, novamente, que isso foi aceito. Na verdade, foi um Resgate considerável. O que poderia ser a ele igualado? Uma alma “profundamente triste até a morte”. Um corpo despedaçado pela tortura, uma morte do tipo mais desumano. E uma agonia de um caráter tal que lábio algum pode descrever, nem pode a mente humana imaginar seu horror! Foi um preço considerável. Mas, digam: ele foi aceito? Houveram preços pagos, algumas vezes, ou ainda propostos, que nunca foram aceitos pela parte a quem foram oferecidos e, portanto, o escravo não foi libertado. No entanto, este foi aceito. Mostrarei a vocês a evidência. Quando Cristo declarou que Ele pagaria a dívida de todo o Seu povo, Deus enviou um oficial para prendê-Lo, a fim de encaminhá-Lo para isso. O oficial o prendeu no Jardim do Getsêmani e, prendendo-O, ele O encaminhou ao tribunal de Pilatos, ao tribunal de Herodes e ao tribunal de Caifás – o pagamento foi feito e Cristo foi sepultado! Ele foi trancado ali em uma vil resistência até que o recebimento do pagamento fosse ratificado no Céu. Ele ali repousou, em seu túmulo, durante uma porção de três dias. Foi declarado que a aceitação seria assim: o Fiador seguiria Seu caminho assim que os compromissos da Sua fiança estivessem cumpridos. Agora, imaginem suas mentes o Cristo sepultado. Ele está no sepulcro. É verdade que Ele pagou toda a dívida, mas o recibo ainda não foi dado. Ele está adormecido naquele túmulo apertado. Preso com um selo em uma enorme pedra, ele dorme ainda em Seu sepulcro. Não foi ainda a aceitação dada por Deus. Os anjos ainda não desceram do céu para dizer: “O trabalho está cumprido. Deus aceitou Teu sacrifício”. Agora é a crise deste mundo! Ele está suspenso, trêmulo, na balança. Aceitará Deus o resgate, ou não? Veremos. Um anjo vem do céu com um colossal esplendor. Ele faz com que a pedra deslize de sua frente. E sai o Cativo, sem nenhuma algema em Suas mãos, com os trajes sepulcrais deixados para trás! Ele está livre, para nunca mais sofrer, nunca mais morrer. Agora —

“Se não tivesse Cristo pagado a dívida,
Ele nunca teria sido posto em liberdade”

Se Deus não aceitasse Seu sacrifício, Ele estaria no sepulcro neste momento! Ele nunca ressurgiria dos mortos! Mas Sua Ressurreição foi a garantia da Sua aceitação por Deus – Ele disse: “Eu tinha uma reclamação sobre você para este momento. Agora, ela está paga. Tome o Teu caminho”. E a Morte entregou o seu Cativo real, a pedra foi rolada para o jardim e o Vitorioso saiu, levando cativo o cativeiro!

E, além disso, Deus deu uma segunda prova de aceitação, pois Ele tomou novamente seu Filho Primogênito aos Céus e O colocou à Sua destra, muito acima de qualquer principado ou potestade! E isso significava dizer: “Sente-se no Trono, pois tendes feito o ato eficaz. Todos os Teus trabalhos e todas as Tuas misérias foram aceitos como o Resgate dos homens”. Ó meus amados, pensem que grandiosa visão deve ter sido quando Cristo ascendeu à Glória! Que nobre comprovação da aceitação de Seu Pai deve ter sido! Vocês não acham que veem a cena na terra? É muito simples. Alguns poucos discípulos estão em pé sobre uma colina e Cristo se eleva no ar lenta e solenemente, como se um anjo apressasse o seu caminho de forma suavemente gradual, como uma névoa exalada do lago até o céu. Vocês podem imaginar o que está acontecendo mais acima? Podem, por um momento, conceber como, quando o poderoso Conquistador adentrou pelas portas do Céu, os anjos O receberam —

“Trouxeram Sua carruagem do alto,
Para ao Seu Trono carregá-Lo,
Suas asas triunfantes bateram e clamaram:
‘Está feito o glorioso trabalho!’”

Vocês podem imaginar quão alto foram os aplausos quando Ele entrou pelas portas do Céu? Vocês podem conceber como os anjos se apertavam para observar, de seu voo, como Ele vinha conquistando? Podem ver Abraão, Isaque, Jacó e todos os santos remidos virem para contemplar ao Salvador e Senhor? Eles haviam desejado vê-Lo e, agora, seus olhos o contemplam em carne e sangue, Aquele que venceu a morte e o Inferno! Vocês podem vê-Lo, com o Inferno à roda dos Seus carros, com a Morte arrastada, como um cativo, pelas ruas reais do Céu? Ó, que espetáculo ali, naquele dia! Nenhum guerreiro romano jamais teve um triunfo tal! Ninguém jamais viu uma visão tão majestosa quanto aquela! A pompa de um universo inteiro, a realeza de toda a criação – querubins, serafins e todos os poderes criados – intensificaram aquela manifestação! E o próprio Deus, o Eterno, totalmente lhe coroou quando apertou Seu Filho ao peito e disse: “Muito bem! Muito bem! Tu terminou a obra que dei-Lhe a fazer. Aqui descanse para sempre, meu Único Aceito”. Ah, mas Ele nunca teria aquele triunfo se Ele não houvesse pago toda a dívida. A menos que Seu Pai tivesse aceito o Resgate, Ele nunca teria sido tão honrado! Mas, porque ele foi aceito, por isso Ele obteve tanta honra!

Charles Spurgeon

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