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segunda-feira, 25 de novembro de 2013
Porquanto a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens” (Tito 2.11)  
Um dos recursos bíblicos mais utilizados contra o calvinismo é Tito 2:11. É tido como inexplicável à luz da soteriologia calvinista. Por isso é citado contra a doutrina da eleição incondicional, da graça irresistível e da expiação limitada. Mas será que é isso mesmo ou existe alguma explicação que harmonize esse versículo com as doutrinas da graça como entendidas pelos reformados? Comecemos considerando as palavras e expressões isoladas, depois as implicações da declaração como um todo e, finalmente, a interpretação à luz do contexto.

“Graça de Deus” refere a tudo aquilo que o Senhor faz para redimir o homem do pecado e leva-lo para o céu. Ela é livre - não devida a ninguém, e incondicional - não havendo nenhuma condição prévia e nenhum pagamento posterior. Essa graça se manifestou (apareceu, brilhou) na vinda de Jesus, pois se diz que “a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo 1:17). Sem dúvida, essa graça é salvífica, pois é qualificada como salvadora, no sentido de meio ou instrumento que produz a salvação. Nas outras quatro ocorrência do termo é traduzida simplesmente como salvação. “Todos os homens” é uma expressão comum na Bíblia, ora significando todos os homens sem exceção, ora todos os tipos ou classes de homens. Em cada caso, o sentido deve ser buscado no contexto.

A relação entre “a graça de Deus se manifestou salvadora” e “todos os homens” apresenta dificuldades, exceto que se advogue o universalismo. Em geral, tanto calvinistas como não calvinistas negam o universalismo, e para harmonizar “graça que salva” com “todos os homens” precisam ponderar os lados da equação. Os não calvinistas atacam a graça, seja tornando-a insuficiente e requerendo uma ação do homem para completa-la, seja diminuindo a sua eficácia, tornando-a apenas potencialmente salvadora, podendo ser resistida e frustrada pela vontade do homem. Os calvinistas, por sua vez, interpretam “todos os homens” à luz do contexto e chegam à conclusão que se refere a toda classe de homens, e não a todos os homens sem exceção.

Notemos, primeiramente, que o versículo começa com a palavra “porquanto”, que é uma conjunção exploratória lógica, ou seja, indica que o que segue é uma justificativa do que precede. Em Tt 2:11-14 Paulo está justificando os imperativos éticos dos primeiros versículos. Sendo assim, “porquanto” indica que devemos ler o que vem antes, no caso, Tito 2:1-10. Ao ler esses versos, notamos algumas coisas. Primeiro, que Paulo está se referindo a pessoas crentes, pois proclama uma ética que deriva da sã doutrina. Segundo, que se trata de pessoas de diversas classes (homens, mulheres, idosos, jovens, escravos). Terceiro, que são gentios, em sua maioria, pelo menos. Se fossem judeus, estariam familiarizados com uma ética derivada da doutrina e não precisariam da justificativa de Paulo. Portanto, “todos os homens” é uma referência à toda classe de homens salvos pela graça, ou seja, independente de etnia, sexo, idade, classe social, todos os que são salvos pela graça devem adornar à sã doutrina com um modo de vida digno.

Mas não são apenas os versos anteriores a Tt 2:11 que limitam a referência paulina aos crentes de diversas classes. O verso 12 continua dizendo que a graça se manifestou “educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente” (Tt 2.12). A graça não se manifesta passivamente, potencialmente salvadora apenas. Tampouco vem, nos salva e vai embora. Mas permanece conosco e efetivamente nos educa quanto à maneira de viver neste mundo. A referência aqui, é óbviamente às classes de crentes referida na parte inicial do capítulo, como os pronomes indicam. O verso 13, “aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tt 2.13), também limita a referência de Paulo aos crentes, únicos para os quais a volta de Cristo se constitui numa “bendita esperança”. E, finalmente, o verso 14 declara “o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade e purificar, para si mesmo, um povo exclusivamente seu, zeloso de boas obras” (Tt 2.14). O pronome “nos” e a expressão “um povo exclusivamente seu” deixam claro que Paulo tem em mente os crentes, tão somente.

Como vimos, advogar que “todos os homens” refere-se a todos os homens que viveram em todos os tempos e lugares implica numa graça “salvadora que não salva” todos aqueles a quem é manifestada. Por outro lado, o capítulo inteiro está falando de crentes, primeiro prescrevendo um comportamento ético como resultado da sã doutrina, depois justificando esse comportamento frente à manifestação da graça salvadora e finalmente apontando para os resultados presentes e futuros de se viver de acordo com esses mandamentos. Tomar “todos os homens” no sentido da humanidade inteira, sem excluir nenhuma pessoa, é tirar a frase do contexto em que está inserida e dar-lhe um sentido baseado em nossos pressupostos.

Resta-nos observar o que diz o verso 15: “Dize estas coisas; exorta e repreende também com toda a autoridade. Ninguém te despreze.” (Tt 2.15)

Soli Deo Gloria

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