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domingo, 21 de julho de 2013
Que é propriamente o Evangelho? E, embora nossos pais tivessem dessa maneira, nos escritos dos profetas, o Evangelho, pelo qual alcançaram a salvação em Cristo pela fé, contudo, o que se chama propriamente “Evangelho” são as notícias alegres e felizes pelas quais, primeiro por João Baptista, depois por Cristo, o Senhor, e depois pelos apóstolos e seus sucessores, se anunciou aos homens que Deus já realizou o que ele prometera, desde o princípio do mundo, e nos mandou, ou melhor nos deu o seu único Filho e nele a reconciliação com o Pai, a remissão dos pecados, toda a plenitude e a vida eterna. Portanto, a história apresentada pelos quatro evangelistas, explicando como isso foi realizado ou cumprido por Cristo, o que Cristo ensinou e praticou, e que aqueles que crêem nele têm toda a plenitude, e exatamente o que se chama “Evangelho”. A Pregação e os escritos apostólicos, nos quais os apóstolos nos expõem como o Filho nos foi dado pelo Pai, e nele tudo o que diz respeito à vida e à salvação, são também o que se chama corretamente “doutrina evangélica”, de modo que ainda hoje, se sinceramente pregada, não perde o direito a tão preclara designação.

Do espírito e da letra. Essa mesma pregação do Evangelho é também chamada pelo apóstolo “o espírito” e “o ministério do espírito”, porque pela fé ela se torna eficaz e viva nos ouvidos, ou melhor, nos corações dos crentes iluminados pelo Espírito Santo (II Co 3.6). A letra, que se opõe ao Espírito, significa tudo o que é externo, mas especialmente a doutrina da Lei, que, sem o Espírito e a fé, produz ira e excita o pecado nas mentes daqueles que não têm uma fé viva. Por isso o apóstolo chama a isso «o ministério da morte». Aqui é pertinente a palavra do apóstolo: “A letra mata, mas o Espírito vivifica”. Falsos apóstolos também pregavam um Evangelho corrompido, misturando-lhe a Lei, como se sem a Lei Cristo não pudesse salvar.

As seitas. Assim, afirmavam os ebionitas, descendentes espirituais do herege Ébion, e os nazaritas, que anteriormente eram chamados mineus. A todos estes nós condenamos, e pregamos ao mesmo tempo o puro Evangelho, ensinando que os crentes são justificados só pelo Espírito, e não pela Lei. Uma exposição mais detalhada deste assunto virá sob o título de “justificação”.

O ensino do Evangelho não é novo, mas muito antigo. Embora o ensino do Evangelho, comparado com o dos fariseus sobre a Lei, tenha parecido ser uma nova doutrina quando pregado por Cristo a primeira vez, o que também Jeremias profetizou a respeito do Novo Testamento, contudo, ele, na realidade não só era como ainda é, uma velha doutrina (que hoje ela é chamada nova pelos papistas, quando comparada com a doutrina agora recebida entre eles), mas na verdade é a mais antiga de todas no mundo. Com efeito Deus predestinou desde a eternidade salvar o mundo por Cristo, e manifestou ao mundo, através do Evangelho, esta sua predestinação e o seu conselho eterno (II Tim 2.9 ss). Disso é evidente que a religião e a doutrina evangélica, entre quantas já existiram, existem e virão a existir, é a mais antiga de todas. Por isso, afirmamos que todos os que dizem que a religião e a doutrina evangélica é uma fé surgida recentemente, e que não tem mais que trinta anos de existência, erram vergonhosamente e falam coisas indignas do conselho eterno de Deus. A eles se aplica a palavra de Isaías, o profeta: “Ai dos que ao mal chamam bem, que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade; põem o amargo por doce, e o doce por amargo!” (Is 5.20).

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