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terça-feira, 16 de abril de 2013
Em primeiro lugar, Bonhoeffer é de opinião que a religião estabelece uma divisão do mundo em duas esferas, a sagrada e a secular, ou a santa e a profana. A religião costuma entender que certas pessoas, certas profissões, certos atos e certos livros são sagrados, enquanto os demais são profanos. As pessoas e as atividades dedicadas ao que seja sagrado serão mais elevadas do que as pessoas e as atividades associadas ao que seja profano. A vida que mais interessa ao religioso constitui-se num cenário de tensões e conflitos entre situações religiosas e profanas. Quanto mais religioso se presuma uma pessoa qualquer, tanto maior tempo e energia devotará ao que lhe pareça sagrado e tanto menos se disporá a gastar com o que lhe pareça profano.
Durante toda sua vida, Bonhoeffer empenhou-se na luta contra o estabelecimento dessa divisão do mundo em esferas sagrada e secular. Já pudemos ver como, mediante sua análise do discipulado que custa, ele insistiu em salientar que temos de servir a Cristo no ambiente do mundo (isto é, na esfera do que se tem geralmente como sendo profano), e não num mosteiro (isto é, num lugar tido como sagrado). Já em 1932, Bonhoeffer escreveu, dizendo que a Igreja não se destinava a comportar-se como se fosse um santuário, mas, sim, seria ela “o mundo vocacionado por Deus para Deus mesmo”. Assim sendo, a Igreja não deve se retirar do ambiente do mundo, para fixar-se em ambiente que lhe proporcione uma existência sagrada, pois ela deve, na verdade, sair para o mundo levando-lhe a presença de Deus.
Em sua Ética, Bonhoeffer escreveu algumas linhas nas quais procura mostrar o erro da tendência da Igreja de pensar em termos do estabelecimento das “duas esferas” referidas. Quando a Igreja se deixa impressionar pelo pensamento de que haja duas esferas, a sagrada e a profana, ela logo revela a intenção de situar-se como instituição sagrada, de modo que lhe acontece tornar-se como se não passasse de mera “sociedade religiosa”. Em vez de um tal procedimento, entende Bonhoeffer que a Igreja deve procurar integrar-se no mundo, onde lhe será possível lutar visando à salvação do mundo pela importância da insistência em dizer aos homens que Deus ama este mundo. A responsabilidade própria do cristão não consiste em manter uma vida de piedade (isto é, uma vida cuja ênfase recaia no que se considere como sendo sagrado), mas, sim, no empenho por demonstrar-se fiel testemunha de Cristo no mundo através da maneira de viver e das atividades que desempenha. A pessoa que presume dedicar-se a um tipo de vida piedosa comporta-se como a zombar de Deus. Teria sido por esse motivo que Lutero se sentiu em condições de poder dizer que Deus preferiria ouvir as blasfêmias dos ímpios do que as expressões de Aleluia dos que se têm como piedosos. Bonhoeffer afirma que a Igreja vive numa “infeliz impiedade” quando, mostrando-se desobediente para com Deus, não obstante, continua invocando-lhe o sublime Nome. Por outro lado, há uma “feliz impiedade” no mundo, que é como um protesto levantado contra essa impiedade da falsa santidade, que tanto tem concorrido para a corrupção da Igreja.
W. E. Hordern
In: Teologia Contemporânea
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