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terça-feira, 4 de dezembro de 2012
“Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7:14)
A passagem de Rm 7:7-25 tem causado não pouca polêmica. A controvérsia gira em torno da identidade da pessoa referida por Paulo: estaria ele falando de si mesmo? Em caso afirmativo, a que período de sua vida ele se refere? Cremos que a passagem é autobiográfica, embora representativa dos crentes em geral. Quanto o estágio de sua vida, entendemos que os versos de 7-13 referem-se à sua experiência pré-conversão e os de 14-25 ao período pós-regeneração. Ou seja, Paulo apresenta sua experiência passada e a presente, sob a perspectiva do um cristão regenerado.

Creio ser essa a interpretação óbvia. Um crente simples, que leia a passagem atentamente mas sem uma carga de teoria, irá concluir que Paulo está falando de sua própria experiência. Este parece ser o sentido natural do texto, sem muita consideração das implicações teológicas do mesmo. Entretanto, sabemos que nem sempre o sentido óbvio de um texto representa com fidelidade o seu significado, mesmo porque ninguém vai a uma passagem da Escritura despido de pressupostos. Por isso não consideramos este argumento decisivo.

O segundo ponto, relacionado com o anterior, é o fato dele ter usado a primeira pessoa do singular. Em Romanos ele usa o pronome ego 16 vezes, seis delas no capítulo 7. Em todas a demais ocorrências de “eu” na carta aos Romanos em referência a Paulo, em nenhuma delas um uso metafórico ou retórico é possível. Assim, exceto se existirem elementos textuais que indiquem isso, não se deve supor que nas ocorrências do capítulo 7 “eu” não se refira ao apóstolo dos gentios.

Consideremos também os tempos verbais duas duas subseções. Em 7-13 o tempo remete para um momento anterior ao momento em que se fala. “Eu não teria conhecido”, “despertou”, “eu vivia”, “reviveu”, “eu morri”, “verifiquei”, “tornou”, “me enganou e me matou”, “causou-me a morte” (Rm 7:7-13), etc. A partir do versículo 14 o tempo referido é o presente: “sabemos”, “sou”, “compreendo”, “não faço o que prefiro, e sim o que detesto”, “consinto com a lei”, “habita”, “eu sei”, “está em mim”, “não faço o bem”, “encontro”, “tenho prazer” e “vejo” (Rm 7:14-25). Assumindo como referencial o momento em que escreve a carta, temos que os tempos verbais apontam para duas fases na experiência do apóstolo, uma anterior à sua conversão e outra no momento em que escreve, como convertido.

Além disso, especificamente na porção 14-25, algumas expressões não podem ser aplicadas a pessoas não regeneradas. Por exemplo, “não faço o que prefiro, e sim o que detesto” (Rm 7:15). Mais adiante, explica que a coisa preferida é o bem: “não faço o bem que prefiro, mas o mal que não quero, esse faço” (Rm 7:19). Enquanto deseja fazer o bem, “faço o que não quero” (Rm 7:16), diz Paulo. Além de “querer fazer o bem” (Rm 7:21), tal pessoa, no íntimo de seu ser, tem “prazer na lei de Deus” (Rm 7:22). Ora, se isso pode ser afirmado de um pecador irregenerado, então talvez o pecado não tenha afetado a vontade dos homens. A verdade porém é outra: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3:10-12).

Este ponto se torna ainda mais evidente quando consideramos os versos 24-25. Temos aqui o brado “desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm 7:24), que só faz sentido se aplicado a um cristão verdadeiro. Que pecador não regenerado tem esse anseio de libertação? E o verso seguinte tem que ser lido em conexão com os precedentes. “Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. De maneira que eu, de mim mesmo, com a mente, sou escravo da lei de Deus, mas, segundo a carne, da lei do pecado” (Rm 7:25). Como pode um pecador, sendo escravo segundo a carne do pecado, confessar ser escravo da lei de Deus e dar graças a Deus por Jesus Cristo? O todo da passagem só faz sentido como expressão da luta diária do cristão contra o pecado.

Claro que o texto apresenta dificuldades, se admitido que Paulo está falando de sua situação como cristão regenerado. Uma dessas dificuldades é a expressão “eu sou carnal, vendido à escravidão do pecado” (Rm 7:14). Isto não parece ser uma representação muito vitoriosa da vida cristã renovada. Mas será que essas dificuldades são insuperáveis, sem violência ao contexto? Creio que não.

O termo “carnal” usado por Paulo é sarkinos ou sarkikos, a depender do manuscrito utilizado. Ambas as palavras tem significados bastante parecidos, mas com ênfase moral distinta. Sarkikos refere-se ao que é controlado pelos desejos errados que dominam a carne. Denota o que é anti-espiritual. Sarkinos, por sua vez, significa “feito de carne”, referindo-se a matéria da qual é composta. Denota o não espiritual. Porém, quando carrega algum sentido ético, é similar a sarkikos. O fato é que Paulo contrasta sarkinos com pneumatikos, espiritual. Em 2Co 3:3, “tábuas de pedra” é constrastada com “tábuas de carne [sarkinos]”, reforçando a ideia de que sarkinos se refere à composição do coração. 

A questão é se um crente regenerado pode ser referido como sendo carnal. Escrevendo aos coríntios Paulo diz “Eu, porém, irmãos, não vos pude falar como a espirituais [pneumatikos), e sim como a carnais [sarkikos], como a crianças em Cristo” (1Co 3:1). Obviamente eles eram cristãos nascidos de novo, pois são chamados de “irmãos” e “crianças em Cristo”, embora “ainda carnais” (1Co 3:2). Significa que Paulo e os coríntios andavam na carne ou estavam na carne? Não, mas que a carne estava neles.

Assim, cremos que a única maneira de fazermos justiça ao texto de Paulo é mantermos juntos Rm 7:14-25 e Rm 8 como se referindo à experiência de todo cristão, desde a regeneração até a glorificação, e que Paulo representativamente expôs a sua própria experiência. O sentido mais natural da passagem é esse, não obstante as dificuldades teológicas que podem levantar, as quais não são insuperáveis.

Soli Deo Gloria

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