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quinta-feira, 29 de março de 2012

Estimado Irmão Acir,

Recebi sua carta datada de 17 de fevereiro que levou nove dias para chegar. Mando esta resposta com uma cópia. Também vou enviar uma cópia para Júlio.

1. Muito obrigado por ter promovido meus interesses com a Editora Hagnos. Prometeram publicar a Odisseia “no segundo semestre” de 2012 que poderia ser julho – ou qualquer mês até dezembro. Mauro e Marilene, sua esposa, têm sido muito energéticos com sua Editora e as vendas da Trilogia (comentários sobre o AT e o NT e a Enciclopédia) têm sido espetáculares, felizmente.

2. Tenho uma obsessão no assunto Experiências Perto da Morte (e sob este título a Enciclopédia conta com um artigo). Também são chamadas de Experiências Quase-Morte (EQMs). Nestas histórias temos uma valiosa confirmação científica da existência da alma e sua sobrevivência da morte biológica. Muitos evangélicos as rejeitam porque o amor de Deus brilha mais fortemente do que eles pensam ser possível considerando certas Escrituras que parecem falar o oposto. Eles estão apostando na vitória do fogo. Aqui eu, alegremente, fico com a luz da ciência. Se quiser tentar promover publicação desse material, faça o que pode. Sem dúvida, neste caso, qualquer publicador quereria um número menor, talvez selecionando algumas dentre as que enviei.

3. A doutrina do fogo eterno se originou na teologia helenista dos judeus (o período entre o AT e o NT) e é um reflexo da obsessão dos judeus daquele tempo de ver o fogo de Deus destruir seus inimigos. Os primeiros textos que contém essa diabólica doutrina se encontram no livro pseudepígrafo de I Enoque (em diversos lugares). Daí no livro apócrifo que se chama II Esdras, esta ideia de um Deus destruidor aparece nos capítulos 7 e 8. Infelizmente, esta doutrina irracional e brutal entrou no NT em alguns lugares como no primeiro capitulo de II Tes e no Apocalipse. Esta incorporação fora muito infeliz e enganadora. É uma distorção de qualquer um que pára para pensar um pouco, e demonstra o uso indevido de textos prova (das Escrituras) para comprovar qualquer coisa. Não me sinto responsável por defender essa doutrina a despeito de qualquer número de textos de prova que poderiam ser encontrados. Textos como I Pedro 3.18-4.6 e Efésios 1.9,10 e 4.8-10 olham além dessa doutrina horrível.

4. Sobre a inspiração das Escrituras. Qualquer um que estudou o AT e o NT., versículo por versículo como eu, não acredita que estes documentos não contenham erros e contradições. Estou trabalhando em outro comentário, e tenho passado de novo através do AT e quase todo o NT. Estou, atualmente, na exposição de Hebreus. Em quatro meses, entro de novo no Apocalipse. Este comentário é conciso, mas além das exposições ele apresenta 3.000 ilustrações (histórias, contos). Este Comentário Conciso terá um total de 5.000 páginas sobre o AT e o NT combinado em comparação com as 40.000 páginas dos comentários versículo por versículo. Estas páginas são de computador – fonte 12, não de páginas imprimidas. Será uma publicação inédita neste mundo. E de novo visto opiniões contraditórias sobre algumas doutrinas quando comparando um escritor com outro. De fato, a maior contradição é justamente como o Novo, em pontos críticos, contradiz o AT. Salvação no AT tem uma ideia totalmente diferente. Nesta coleção, a salvação vem através da graça, pela fé. E a lei agora somente mostra claramente a natureza do pecado e, de fato, fica ao lado do pecado para nos condenar – e não tem nada a ver com salvação. Eis uma tremenda contradição e esta contradição se encontra na sua Bíblia. É interessante observar que, numericamente, a maior parte da Igreja ficou com Moisés, especialmente se alinhando com Tiago, capítulo 2, no lugar de Paulo. A Igreja Católica Romana (que tem mais do que um bilhão de membros) se alinha com Tiago (portanto com o AT).

A Reforma Protestante era, essencialmente, uma volta para Paulo. A Igreja Católica além de alinhar com Tiago, preserva, em espírito, os sacramentos e ritos do AT. No NT, existem quatro estágios do Evangelho:

1. Dos Evangelho Sinóticos e Atos
2. Os avanços no Evangelho de João
3. Outros avanços nos livros de Paulo
4. Existe uma situação de contradição em Efésios 1.9-10 e 4.8-10 onde através da missão tridimensional de Cristo (na terra, no hades e nos céus) o Evangelho é universalizado e agora aplica a todas as almas humanas, sem exceção. Tudo será unificado ao redor do Logos-Cristo. 

O fogo do inferno foi apagado; as almas no hades subiram e agora fazem parte da unificação. Todavia, os elementos da unificação são diversos e não se encontram no mesmo nível de glória. Ver ponto 8, a seguir, para explicações desta diversidade unificada. Assim, o ensino do universalismo é evitado. Existirão remidos e restaurados, categorias de glória diferentes. Ver na Enciclopédia o artigo sobre o Ministério da Vontade de Deus.

5. Vamos voltar para o assunto da inspiração das Escrituras. Acredito que todos os livros do cânon foram inspirados pelo Espírito Santo, mas certamente, algumas partes desses livro não foram inspiradas, mas se originaram das mentes dos homens e das suas tentativas de explicar diversas coisas. Mas, note bem: alguns conceitos nestes livros, às vezes, contradizem outros. Isto qualquer pessoa que estuda versículo por versículo vai ser demonstrado amplamente. Considere a contradição óbvia entre Tiago (cap. 2) quando comparado com o evangelho de Paulo. Obviamente, procurando conforto mental, as denominações evangélicas oferecem harmonias que se mostram absurdas. Há do que 20 trechos em Gênesis que refletem tempos depois da vida de Moisés, uma observação que faço só para jogar na mistura um fato curioso. Estou interessado na verdade não em conforto mental. É equisito ser confortável com seus erros. Considere este fato: A inspiração se manifesta em diversos níveis e maneiras:

1. Passagens ditadas: O Espírito controla a mente do profeta totalmente e coloca até as palavras certas na mente dele. Mas esta forma é somente um dos possíveis modos de inspiração. É um erro gigantesco declarar que todas as Escrituras foram inspiradas desta maneira. A investigação comprova que isto é equivocado. O AT, em alguns lugares, apresenta um Deus violento que promove a mais desgraçada violência que, dificilmente pode ser atribuida a Deus. Por causa deste fato, Orígenes inventou a interpretação alegórica justamente para tirar lições daquelas Escrituras violentas sem atribuí-las a Deus.

Considere este fato: O grego do evangelho de Marcos é o “grego da rua” não um grego de um estudioso. Este grego contém um grande número de erros gramaticais. As traduções escondem este fato já apresentando uma gramática correta na língua portuguesa. O “nois vai” do autor fica corrigido para “nós vamos”, só para dar um exemplo. Mas o do evangelho de Lucas já é um grego de um erudito médico. O grego das cartas de Paulo é um grego nativo embora incorpore algumas construções desajeitadas. O grego de Hebreus é um grego quase clássico, erudito e poético que Platão podia ter escrito. Mas o do Apocalipse é um grego de alguém que falou aramaico como sua linguagem nativa. O escritor ignora em muitos lugares a concordância gramatical, assim corrompendo o grego. Então imagine este cenário: O Espírito Santo inspirando o evangelho de Marcos vai para a rua emprestar a linguagem falada aí e coloca neste evangelho. Daí inspirando o evangelho de Lucas ele pára para receber sugestões do médico erudito. Inspirando Hebreus ele tem uma conferência com Platão para emprestar o grego dele para escrever este livro. Algum dia eu vou mandar para você um carta minha escrita em português sem ser revisada e você vai dizer que o Champlin estava me enganando com aquele bom português nas suas cartas que não é representante da linguagem dele. Assim você pode dizer que eu tenho perpetuado uma fraude. O meu português é mais ou menos comparável ao grego do Apocalipse. Falando tudo isto, eu não estou atacando o conteúdo destes livros. De fato, eles representam uma literatura extraordinária a despeito da linguagem utilizada. Agora fala para mim como estes livros foram ditados pelo Espírito Santo palavra por palavra, inspiração verbal e plena.

2. Ideias Gerais: O escritor recebe uma ideia inspirada que ele desenvolve de maneira melhor possível. O resultado depende de suas capacidades intelectuais e espirituais. Alguns destes desenvolvimentos demonstram as capacidades literárias dos escritores. Por exemplo, é claro que o apóstolo Paulo era um gênio e sua capacidade literária era excepecional (sic).

3. Através do Estudo: Anos de estudo dedicado produzem inspirações válidas, embora sujeitas a equívocos. Por outro lado, grandes passagens foram produzidas desta maneira. As cartas de Paulo demonstram o que um homem estudioso pode produzir.

4. Tradições: Não são inúteis e têm contribuido com alguns finos entendimentos. Existem tradições na Igreja que seguiram depois, especialmente, para interpretar as Escrituras. Mas tradições são sujeitas a exagero e equívocos. Considere Atos 7 – a defesa de Estevão que vem das tradições judaicas e não somente das Escrituras do próprio AT. De fato, sua defesa em alguns dos escritores e/ou seus raciocínios.

5. Interpretações inspiradas: A mente recebe intuições e raciocínios que ajudam o intérprete a entender melhor os assuntos espirituais. Sem dúvida, alguns trechos da Bíblia se resultaram das instituições dos escritores e/ou seus raciocínios.

6. Inspirações além do texto: Sendo um dom do Espírito Santo, como o dom do conhecimento (I Cor 12.8). O intérprete pode ser inspirado de vez em quando. Até pode, às vezes, receber inspirações separadas dos textos sagrados, como nas visões e nos sonhos espirituais. Sonhos fazem parte da tradição profética. A inspiração é uma função complexa que incorpora diversas modalidades. Nenhuma explicação isolada é adequada, mas algumas pessoas ficam somente com modalidades. As pessoas que promovem somente este meio de inspiração ou revelação são patéticas, porque agindo assim se mostram crianças intelectuais. É parte da minha missão declarar estas verdades.

Reconciliação com o fundamentalismo? Quando jovem, eu era um fundamentalista radical e insuportável e assim perdi alguns anos de minha vida em brigas e contendas. Abandonei este tipo de expressão religiosa como pernicioso. Minha filosofia me libertou.

7. Novas revelações? Temos o AT e o NT., magníficas coleções, mas dificilmente adequadas para sempre. Deus é maior do que coleções de livros. Podem existir outros testamentos, um terceiro, um quarto, um quinto, etc. Deus não está anulado por nossas noções piedosas. Considere: bibliolatria, a adoração de um livro. Esta idolatria rouba Deus de sua glória, colocando um ídolo no lugar de Deus. Todas as idolatrias perniciosas.

7. Revelações fora da Bíblia Hebraica e Cristã? Acredito na doutrina dos Logoi-spermatikoi, as sementes do Logos nas diversas religiões não cristãs; nas filosofias, nas ciências (exatas e sociais); na poesia, nas literaturas não especificamente religiosas; na história humana; nas instituições humanas como nos seus governos; nas culturas; na criação física, tão magnífica; até, de vez em quando, na política; nas visões e nos sonhos espirituais. Aleluia! O Espírito está em muitos lugares, plantando as sementes do Logos. Chega de limites falsos! Chega de pensamentos infantis! Chega de exclusivismos! Deixa a Luz brilhar sem interferências. Louvai o Logos-Christós, a fonte do nosso conhecimento espiritual que não se limita às nossas noções exclusivistas.

8. Universalismo? Esta doutrina ensina que todos os homens, afinal, serão salvos. Baseando-me em Efé cap. 1, acredito que os remidos serão salvos e participarão na natureza divina (II Pedro 1.4), através de sua transformação à imagem de Cristo (Rom 8.29). Acredito que o número deles será relativamente pequeno. Mas, todos os não remidos serão restaurados e todas as almas serão remidas ou restauradas.
A unidade ao redor do Logos-Cristo (Efé 1.9-10) não excluirá nenhuma alma. Os restaurados não participarão na natureza divina, mas terão uma glorificação secundárias, mas ainda gloriosa porque sera uma obra-prima do Logos.

Assim falando, valorizo a forte declaração da primeira parte de Efésios cap. 1 e a declaração generalizada dos vss 9-10. Na primeira parte deste capítulo, encontramos uma afirmação forte sobre a eleição. Eu uso a palavra remidos no lugar de eleitos porque esta palavra nos envolve em controvérsia pesada. Depois a missão de Cristo garante que existirá uma restauração generalizada (vss 9, 10). Portanto, vejo duas glórias, a primária e a secundária. Assim ensina o Mistério da Vontade de Deus que ultrapassa o resto do Novo Testamento: o que o amor de Deus fará em benefício de todas as almas. O hades mandará suas almas cativas e elas subirão para participar da unificação. Eis o Quarto Evangelho que toma o lugar dos Evangelhos inferiores, e é, de fato, uma contradição das velhas ideias que eram parciais, e parcialmente erradas. Este Quarto Evangelho é a universalização do Evangelho no qual o amor de Deus brilha sem obstáculos. Deixe esta luz brilhar. Valorizo e declaro o Amor Incondicional do Logos-Christós.

Abandonando as controvérsias, as discussões e as dúvidas, apresentadas acima, consideremos o valor intrínseco dos dois Testamentos (o AT e o NT). Obviamente, são grandiosas coleções e incorporam literatura imortal. Lendo e estudando não somente estes livros mas também aqueles de sistemas não cristãos, posso afirmar que estes dois Testamentos são mais impressionantes do que os outros, embora existam valiosas obras não cristãs. Considero o Novo Testamento a maior coleção de livros já escrita. Nosso problema não são “os problemas” mas nosso dedicado estudo do NT. Tenho dedicado minha vida a este estudo e também a outros caminhos de investigação que considero extremamentes importantes. Sumariando, considero o Novo Testamento o maior documento espiritual de todos os tempos. Esta coleção é rica, eloquente e poderosa. Quem estuda com determinação estes livros será transformados por eles.

No amor incondicional do Logos-Cristo,

Russell Norman Champlin
In: Russell Norman Champlin e o Fundamentalismo Teológico - Entrevista do Dr. Russell Norman Champlin concedida a Acir da Cruz Camargo. 05 de março de 2012

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PS.: Ao postar a entrevista do Dr. Champlin, de forma alguma estou endossando suas posições doutrinárias ou promovendo seu novo comentário a ser brevemente lançado. Muito pelo contrário. Meu intuito é alertar os que quiserem ser alertados para a teologia que subjaz em suas obras, que é incompatível com a sã doutrina.

Clóvis Gonçalves

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