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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Se alguém ensina uma doutrina diferente (1 Tm 6.3,4). A palavra no grego é um verbo composto e pode ser traduzido: "ensinar outras coisas". Mas não há dúvida sobre o seu significado; o apóstolo está condenando todos os que não aceitam esse tipo de ensino, mesmo que não se oponham aberta e irrestritamente à sã doutrina. E possível não professar um erro ímpio e público, e no entanto corromper a doutrina da piedade através de sofismas ostentosos. Porque, quando não há progresso ou edificação procedente de algum ensino, o afastamento da instituição de Cristo já está concretizado. Mas ainda que Paulo não esteja falando dos confessos originadores de doutrinas ímpias, e, sim, acerca de mestres fúteis e destituídos de religião, que do egoísmo ou avareza deformam a simples e genuína doutrina da piedade, não obstante percebemos quão aguda e veementemente ele os ataca.

E não é de estranhar, pois é quase impossível exagerar o volume de prejuízo causado pela pregação hipócrita, cujo único alvo é a ostentação e o espetáculo vazio de conteúdo. Torna-se, porém, ainda mais evidente, à luz do que segue, a quem precisamente ele está responsabilizando aqui. Pois a próxima cláusula - e não consente com as sãs palavras - é tencionada como uma descrição de homens desse tipo, desviados por tola curiosidade, comumente desprezam tudo o que é benéfico e sólido e se entregam a excentricidades extravagantes, à semelhança de cavalos obstinados. E o que é isso senão a rejeição das sãs palavras de Cristo? São chamadas sãs em virtude de seu efeito de conferir-nos solidez, ou porque são qualificadas para promover a solidez.

E com a doutrina da piedade tem o mesmo sentido. Pois ela só será consistente com a piedade se nos estabelecer no temor e no culto divino, se edificar nossa fé, se nos exercitar na paciência e na humildade e em todos os deveres do amor. Portanto, aquele que não tenta ensinar com o intuito de beneficiar, não pode ensinar corretamente; por mais que faça boa apresentação, a doutrinação não será sã, a menos que cuide para que seja proveitosa a seus ouvintes. Paulo acusa a esses infrutíferos mestres, primeiro de insensatez e de fútil orgulho. Em segundo lugar, visto que o melhor castigo para os interesseiros é condenar todas as coisas nas quais, em sua ignorância, se deleitam, o apóstolo diz que eles nada sabem, embora estejam inchados com argumentos inúmeros e sutis. Não têm nada sólido senão só vácuo. Ao mesmo tempo, o apóstolo adverte a todos os piedosos a não se permitirem que se desviem por esse gênero de exibição fútil, mas que, ao contrário, permaneçam firmes na simplicidade do evangelho.


João Calvino

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