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quinta-feira, 3 de novembro de 2011
1 – Esse não é o único caso em que os crentes deveriam ser pacientes e temerosos de Deus, pois é necessário viver dessa forma em todas as circunstâncias da vida. Não há ninguém que tenha se negado a si mesmo de forma correta, a menos que esteja rendido totalmente ao Senhor e queira deixar cada detalhe de sua existência em Suas mãos. Se temos essa predisposição mental, as coisas que nos sucedem jamais farão sentir-nos abandonados nem tampouco acusaremos a Deus por nossa sorte.

2 – Se considerarmos a enorme quantidade de acidentes aos quais estamos sujeitos, veremos o quão necessário é exercitarmos nossa mente dessa maneira. Enfermidades de todos os tipos tocam nossos débeis corpos, uma atrás da outra: ou a pestilência nos enclausura, ou os desastres da guerra nos atormentam. Em outra ocasião, as geadas e os granizos destroem nossas colheitas, e ainda somos ameaçados pela escassez e pobreza. Em vista desse acontecimentos, as pessoa maldizem suas vidas e até o dia em que nasceram; culpam o sol e as estrelas e ainda censuram e blasfemam do próprio Deus, como se Ele fosse cruel e injusto.

3 – Porém, o crente fiel, ainda que em meio a essas circunstâncias, meditará nas misericórdias e nas bondades paternais de Deus. Se vê que seus amados lhe são arrebatados e seu lar se encontra solitário, não cessará de bendizer a Deus e considerará que a graça de Seu Pai celestial não o deixará desolado. Se vê que suas terras de cultivo e seus vinhedos destroçados pela geada ou pelo granizo e ele e sua família ameaçados pela fome, não se desanimará nem estará insatisfeito; antes, persistirá em sua firme confiança: estando sob o cuidado protetor de nosso Deus, somos “as ovelhas de seu pasto”, pelo que Ele nos suprirá de tudo aquilo que necessitamos. Se alguém está acometido de enfermidade, não se deprimirá com amargura, nem se impacientará e se queixará contra Deus; antes,  considerará a justiça e a bondade de seu Pai Eterno e crescerá na paciência, enquanto é castigado e corrigido.

4 – Resumindo, se sabemos que qualquer coisa que nos ocorre é ordenada por Deus, a recebemos com um coração pacífico e agradecido, não sendo culpáveis de resistir orgulhosamente aos desígnios do Senhor, a quem uma vez nos temos encomendados juntamente com tudo o que possuímos. Longe estará do coração dos cristãos aceitar o tolo e distorcido consolo dos filósofos pagãos, que tentam endurecer-se contra as adversidades, culpando a si mesmo da sorte e do destino. Eles consideram que estar desgostoso com a porção que nos toca é uma loucura, porque existe um poder cego e cruel no mundo que afeta a todos, dignos e indignos. Todavia, o princípio da devoção é que só Deus é o Guia e Governador Supremo, tanto na prosperidade como na adversidade, e que nunca se precipita; antes, distribui todo bem e todo mal com a máxima justiça e equidade (ver Salmos 79.13). Para quem leu alguma biografia do reformador de Genebra, sabe que de todas as amarguras listadas, ele passou, não sendo portanto, uma declaração vaga, mas algo que Calvino experimentou, e que encontra sustentação bíblica.
 
João Calvino
In: As Bem-Aventuranças. Fonte Editorial, p. 45-46.

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