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terça-feira, 18 de outubro de 2011
Há algo que vem me intrigando ao longo destes anos. Ao observar vários ministérios com um carisma atuante, especialmente no que se refere à cura e expulsão de demônios, noto que estes não demonstram profundidade no conhecimento e no ensino da Palavra. As mensagens que expõem são sempre as mesmas e em torno da prática de seu próprio ministério, cuja ênfase é a salvação e não raramente inclui o dinheiro como um assunto central. Na mesma proporção, os que expõem a palavra demonstrando deter um conteúdo profundo são, por vezes, vazios quanto a agir em favor de cura de enfermidades e de expulsão de demônios.

Sei que devo aceitar de antemão que o Espírito Santo distribui de maneira diferente seus dons, conforme lhe apraz e, evidentemente, não seria benéfico ao corpo que uma só pessoa acumulasse todos os dons. Daí a necessidade de os ministérios agirem de maneira complementar. No entanto ambos caminham com uma atitude de menosprezo ao outro e agem como se se bastassem a si mesmos. Por não compreenderem a falta que têm um do outro, evidencia-se o prejuízo dessa caminhada dicotômica, pois os praticantes do ministério de cura e libertação estão, de uma maneira geral, resvalando em exageros, apelando ao sincretismo religioso brasileiro, em detrimento do embasamento bíblico. Já aqueles que exercem o “ministério da Palavra” tornam-se tão acadêmicos que a fé parece ser absolutamente teórica, alimentando-se apenas de discursos (perfeitamente alicerçados na Bíblia), fazendo parecer que o Reino de Deus é algo dissociado dos eventos terrenos.

Não bastasse o desprezo de um pelo outro, não são raras as vezes em que se digladiam em acusações mútuas e públicas, criticando, de um lado, o show e, de outro, o discurso vazio, sem qualquer contribuição para o Reino de Deus, além de lançar ainda mais confusão entre os não convertidos.

Minhas reservas aumentam na medida em que assisto na televisão aos espetáculos de cura e libertação, mas não ouso cerrar fileira com os críticos, por uma simples razão: não possuo uma alternativa para resolver os problemas daqueles pobres angustiados que, depois de muito peregrinarem em busca de uma solução, encontram no sobrenatural um alívio para suas aflições e, pelo que me parece, de forma satisfatória a eles. Imagino o que deve significar alguém se livrar de um demônio que por anos a fio se apossou de seu corpo. Em minha perplexidade, não poucas vezes senti-me tentado a buscar explicação teológica na psicologia ou parapsicologia para aquilo que eles chamam de fenômenos. Afinal não há como negar que os mesmos ministros que são usados para operar sinais e maravilhas também cometem desvios grosseiros à sã doutrina.

Fico embevecido quando leio ou ouço pessoas, igualmente cheias do Espírito Santo, discorrerem sobre o propósito eterno de Deus, apresentando sua atuação na história e conduzindo a explanação com segurança, tornando compreensível o papel que nos cabe cumprir em dado momento. Se o assunto é comunhão com Deus, as palavras ficam ecoando em meu coração e me acompanham aonde quer que eu esteja. Mas, de repente, encontro, como ocorreu com Pedro e João na porta do Templo chamada Formosa, alguém que necessite da manifestação do Reino de Deus não apenas em palavras, mas também em poder; a frustração, então, toma conta, e fico perguntando a Deus: até quando sofreremos?

Quando João Batista mandou perguntar a Jesus se era ele mesmo que haveria de vir ou se deveria esperar outro, Jesus respondeu que os doentes eram curados, demônios expulsos e o evangelho pregado. Tanto em Jesus como nos apóstolos havia uma integralidade entre o ministério da Palavra e a cura e expulsão de demônios. Não se tratava de escolher entre isto ou aquilo, mas de um e outro juntos: pregação e sinais, andando de mãos dadas.

Não há dúvidas de que o ministério da palavra precisa, novamente, andar junto com o de cura e libertação. Isso tanto evitará desvios aos que praticam a cura e a libertação como também fará com que o ensino da palavra deixe de ser insosso. Mas, para isso acontecer, será necessária uma dose de humildade, sabendo que a teologia não explica tudo e que, ao mesmo tempo, se não houver visão, o poder se corrompe.

O desprezo e o combate de um ao outro só tem exacerbado ainda mais as deficiências e os erros. Alguém precisa dar o primeiro passo ao encontro do outro. Isso será mais proveitoso do que tentarmos estigmatizar a ênfase oposta, com atitudes como proibir alguém de atuar no ministério porque não anda conosco ou porque não pensa como nós. Que maravilhoso seria ver os cristãos realmente sentindo necessidade uns dos outros e tendo a oportunidade de usar dons tão diferentes, mas tão importantes, para se complementarem e não para competirem! Seria demais sonhar e orar para isso acontecer?

Pedro Arruda

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