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segunda-feira, 3 de maio de 2010
Que é o homem mortal para que te lembres dele?
e o filho do homem, para que o visites? Sl 8:4

O conhecimento correto da natureza humana só é possível depois de se olhar para Deus. A teologia moderna comete erro referencial ao olhar para o homem para compreender a divindade. Como o homem é criação de Deus, que lhe comunicou alguns de Seus atributos mas não outros, conhecer a Deus como revelado nas Escrituras nos ajuda a ter um compreensão mais preciso do que o homem é, e do que não é.

As tentativas da biologia, filosofia e psicologia em definir o homem sempre resultam em distorções que, quando não enfatizam um aspecto de sua natureza em detrimento de outro, corrompem a totalidade do homem. Igualmente erradas e talvez mais danosas que as visões atéias são as concepções religiosas sobre a humanidade que não derivam do que Deus revelou em Sua Palavra. Para saber o que o homem é, devemos perguntar a quem o criou.

Físico e espiritual

O relato do Gênesis dá conta de que "formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente" (Gn 2:7). O homem é tanto um ser natural, biológico e mortal como também é espiritual, supranatural e feito imortal. Apesar de sua natureza dual, o homem apresenta uma unidade. O homem não é um corpo com alma, nem uma alma num corpo, mas a união de corpo e alma é que o faz homem. As ações do homem não são apresentadas como atos do espírito, alma ou corpo humano, mas da pessoa como um todo.

A ênfase da filosofia moderna é numa antropologia naturalista, que nega o elemento espiritual do homem, quando muito reduzindo-o ao que se chama de mente. Esta visão da natureza humana fundamenta-se nos princípios humanistas do anti-sobrenaturalismo, na ética centrada no homem, no compromisso com a razão crítica e preocupações humanitárias. Há uma confiança exagerada nos seres humanos, em cuja experiência e necessidades encontra-se a base para a moralidade. E tudo o que a ciência tem para dizer do homem não o descreve por completo, fica faltando o elemento humano. Não vai além de classificar o homem como sendo um mamífero do gênero homo e espécie sapiens. Ou de descreve-lo como um amontoado de órgãos, tecidos e células, composto de carbono,  água e minerais com uma mente consciente, com poder mental, emocional e volitivo.

Apesar de todo esforço da filosofia humanista e dos defensores da evolução biológica em libertar o homem do sobrenatural, a humanidade experimenta um florescimento do espiritualismo, onde uma ênfase distorcida do elemento não físico do homem é supervalorizada como sendo uma centelha divina. Na verdade, o que se apregoa é que os homens são deuses ou pelo menos possuem uma identidade com a divindade. Esta antropologia não é nova, no início da igreja já se fez presente pelo gnosticismo, cujo melhor representante moderno é o Movimento da Nova Era. O espírito do homem é uma emanação de Deus, e portanto bom, aprisionado num corpo material, que como toda matéria, é mau.

Os dois pontos de vista apresentado são danosos, o primeiro excluir Deus da história do homem, ou pelo menos torná-lo sem significado. Além de promover uma ética hedonista e utilitarista, que quando infiltrada na igreja resulta no pragmatismo religioso, onde Deus é o servo e o homem é servido. O segundo, porém, é mais prejudicial ainda, pois espiritualismo é facilmente confundido com espiritualidade, oração é confundida com magia e atos proféticos tornam-se meios de liberação de energia cósmica, mesmo se chamada de poder espiritual. Curiosamente, este espiritualismo acaba a serviço do materialismo próprio da filosofia humanista.

Imagem de Deus

A Bíblia nos relata ainda que "disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra" (Gn 1:26). Discussões à parte do que seja a imagem e semelhança de Deus, ou mesmo se imagem e semelhança referem-se a aspectos distintos, o fato é que a Bíblia afirma que de alguma forma o homem espelha a Deus.

O fato de que Deus criou o homem à sua imagem e semelhança aponta para arealidade de que originalmente o homem era essencialmente bom. Aliás, esta é a conclusão do próprio Deus ao contemplar Sua obra concluída. Contrariando o postulado gnóstico de que a matéria é essencialmente má, do homem feito do pó da terra se diz que "pouco menor o fizeste do que os anjos, e de glória e de honra o coroaste" (Sl 8:5). Não é desprovido de motivos que se diz do homem ser ele a coroa e glória da criação, pois Deus o trouxe à existência de maneira especial, colocou nele sua imagem, soprando-lhe o espírito para que vivesse e dominasse sobre a criação.

Pecador

Uma antropologia nunca seria bíblica se não considerasse no homem os terríveis efeitos da queda. Deus havia ordenado ao homem "da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás" (Gn 2:17), porém ele desobedeceu, comeu do fruto proibido e "o SENHOR Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado" (Gn 3:23). Esta morte experimentada pelo homem foi primeiramente espiritual, mas leva à morte física e o sujeita ao dano da segunda morte.

Não devemos diminuir as trágicas consequências do pecado na natureza humana. Antes da queda o homem era essencialmente bom, depois porém, tornou-se completamente depravada. Isto não significa que a imagem de Deus no homem foi perdida, mas que todas as suas faculdades estão tão arruinadas que nada nele o recomenda para Deus. Aliás, em sua condição de alienação, o homem sequer deseja ser aceito por Deus, embora condicionado por uma cultura cristã e motivado por um hedonismo mais que egoísta, deseje "ir para o céu" e tema "ir para o inferno". Mas não pode desejar e deleitar-se em Deus na sua condição arruinada.

A situação descrita anterioriormente não é própria de algumas pessoas, mas refere-se a todos os filhos de Adão. Existe o que podemos chamar de pecaminosidade universal, na medida em que todos nascemos com uma natureza corrompida e herdamos a culpa de nossos pais. Nós não apenas somos pecadores porque pecamos, mas sobretudo pecamos porque somos pecadores. E a justiça de um Deus santo requer que nosso pecado seja castigado e a culpa expiada. Sendo o salário do pecado a morte, todos morremos em Adão e todos somos culpados diante de Deus.

A condição do homem caído é trágica, haja vista que ele encontra-se num estado de depravação total. Porém isto não significa que ele seja tão mau quanto poderia, mas que não é bom como deveria ser. E o que limita o pecado humano é a graça comum de Deus, pela qual a verdade e a moral são preservadas entre a raça caída. Existe um senso comum do que seja verdadeiro, bom e belo, e isso se deve à graça geral de Deus. Essa mesma graça, contudo, torna os homens indesculpáveis diante de Deus, na medida que testemunha de Sua existência, bondade e poder.

Remido

Todo o que foi dito anteriormente sobre a natureza pecaminosa aplica-se a todos os homens, sem exceção outra a não ser Jesus. Este, além de viver uma vida impecável em dos eleitos, por estes também morreu na cruz, cumprindo a promessa feita no dia da Queda: "porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar" (Gn 3:15). Deus lançou sobre Jesus nossas dívidas e em nossa conta a justiça perfeita de Seu Filho. Não apenas isso, mas pelo Seu Espírito regenera a todos os que são chamados pelo poder do evangelho, fazendo-os novas criaturas, dando-lhe uma natureza renovada. A imagem de Deus outrora quase totalmente apagada, agora passa a ser recuperada até refletir de forma mais perfeita a imagem de Seu Filho, o que se completará na volta dEle para Sua igreja. Então entraremos na glória, onde não sabemos como seremos, mas sabemos que como Ele é, seremos nós também.

Soli Deo Gloria

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