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quinta-feira, 8 de abril de 2010
O reformadores e o batismo infantil

Martinho Lutero, no auge da Reforma em 1523, escreveu "no futuro, tenciono não permitir que qualquer pessoa tome a comunhão, salvo aqueles que tiverem sido entrevistados e corretamente respondido acerca de sua fé pessoal. O resto será excluído", o que não era outra coisa senão o que os emergentes anabatistas pediam que ele fizesse. Uma igreja de crentes, porém, pedia batismo de crentes. Por isso Lutero cedeu à advertência de seu amigo Melâncton: "pense no rompimento se tivéssemos em nosso meio duas categorias: os batizados e os não batizados. Se o batismo fosse suspenso, veríamos o surgimento de uma forma de vida abertamente pagã para a maioria das pessoas". Na época, parecia certo estabelecer igrejas por força de lei e o batismo de crentes ameaçava isto. "Eles não permitem o batismo de crianças. Dessa forma, põem um fim à autoridade secular", era a acusação contra os anabatistas.

Zwinglio, por sua vez, chegou a confessar: "nada me entristece mais que ter, no presente, que batizar crianças, pois sei que isto não deve ser feito". Romper com o batismo infantil, porém, significava rebelar-se contra as autoridades civis, pois implicava separação entre Igreja e Estado. Por isso Zwinglio ponderava "se eu parasse de praticar o batismo infantil, perderia o meu gabinete". Ele avaliava que ainda não era o momento, pois "se fosse para batizar conforme as determinações de Cristo, não batizaria antes da idade de discernimento, pois não vejo o batismo infantil descrito ou praticado em parte alguma. Mas, hoje em dia, precisamos praticá-lo, para não ofender nossos companheiros". Mais tarde, pressionado, disse que se confundiu nessa questão, substituiu os argumentos bíblicos que usava em favor do batismo de crentes por    analogias teológicas e como acusador de Félix Manz chegou a recomendar "deixe ele, que fala em afundar na água, que afunde". Manz foi executado por afogamento.

Foi Calvino quem apresentou a melhor defesa do batismo infantil, fundamentando-a na prioridade da graça, argumentando que a graça precede tanto o ato como o sinal do batismo. Para ele, o pedobatismo não coloca o homem numa posição errada, mas coloca Deus na posição certa, a de soberano doador da graça. Casado com a viúva de um ministro anabatista, Calvino compreendia os seus argumentos e se dispôs não só a refutá-los mas a recuperar os seus adeptos ao seus sistema eclesiástico. Defendeu a continuidade da aliança, com a mudança do sinal externo da circuncisão para o batismo e assim como bebês eram circuncidados, bebês deviam ser batizados. Também disse que a mudança de vida sucede o batismo, e não o contrário. Em termos de resultados práticos, Calvino foi muito bem sucedido, pois milhares de anabatistas adotaram o pedobatismo na suíça.

Apesar disso, no ano em que Calvino publicou as suas Institutas Meno Simons, ex-sacerdote católico, era batizado por Obbe Phillips. Tudo começou quando Meno assistiu a execução de um anabatista, "decapitado por renovar o seu batismo". Até então, jamais tinha pensado em "rebatismo". Consultou o seu bispo, depois alguns luteranos e até o próprio Martinho Lutero, e todos reconheciam a ausência do batismo infantil nas Escrituras, mas apresentavam razões diferentes para praticá-lo. Finalmente, Meno deixou-se batizar, registrando em sua autobiografia: "Fui iluminado pelo Senhor; fui convertido. Escapei da Babilônia e cheguei a Jerusalém. Rendendo meu corpo e alma ao Senhor, entreguei-me em suas graciosas mãos". Com seu trabalho subsequente, do qual resultaram as igrejas menonitas e muitos dos ensinos batistas, Meno Simons provou na prática, contra os temores de Lutero e Zwinglio e a dúvida de Calvino, que uma "igreja espiritual" pode ser expressa na prática e que o princípio unificador do batismo e da ceia, refletindo o estado íntimo do crente, é uma alternativa melhor que uma igreja estatal ou sacramental.

Apesar dos reformadores magisteriais serem pedobatistas, isto não pode ser visto como prova de que o batismo infantil é a forma correta. Primeiro porque a ênfase deles era a soteriologia, não eclesiologia. Segundo que o batismo era ligado ao Estado mais que a igreja. Renunciar o batismo era renunciar a cidadania e tanto Lutero como Zwinglio não achavam oportuno romper com isso, pois a Reforma era apoiada pelas autoridades civis. Terceiro, embora os expoentes máximos da Reforma mantivessem a prática do batismo como era na igreja romana, havia antes e durante o tempo deles, os que discordavam disso e praticavam o batismo de crentes. Quem sabe se o que passou para a história como sendo a Reforma Radical não tenha sido a reforma necessária?

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