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terça-feira, 15 de janeiro de 2008
John Pipper
Aos 71 anos de idade, quatro anos antes de morrer no dia 28 de agosto de 430, Aurélio Agostinho passou ao seu assistente Eraclius os deveres administrativos da Igreja de Hipona, localizada na costa norte da África. Em sua época, Agostinho já era um gigante no mundo cristão. Na cerimônia, Eraclius levantou-se para pregar, tendo atrás de si o velho Agostinho assentado em seu trono de bispo. Tomado por um forte sentimento de inadequação na presença de Agostinho, Eraclius disse: “O grilo canta, o cisne está silencioso”.
Se Eraclius pudesse imaginar a enorme influência de Agostinho dezesseis séculos depois, entenderia por que esta série de livros, começando com O legado da alegria soberana, é intitulada Os cisnes não estão silenciosos. Por 1.600 anos, Agostinho não tem se mantido silencioso. Nos anos de 1500, sua voz cresceu e ecoou fortemente nos ouvidos de Martinho Lutero e João Calvino. Lutero era monge agostiniano, e Calvino citava as palavras de Agostinho mais do que qualquer outro pai da Igreja.
A influência de Agostinho na Reforma protestante foi extraordinária. Nem mil anos tiveram o poder de abafar sua canção de graça exultante. Mais de um historiador tem declarado: “A Reforma testemunhou o triunfo final da doutrina da graça de Agostinho sobre o legado da perspectiva pelagiana sobre o homem” – que defende o conceito de que o homem é capaz de triunfar sobre sua escravidão ao pecado.
O cisne também cantou na voz de Martinho Lutero em mais de um sentido. Em toda a Alemanha, encontraremos cisnes nas torres das igrejas e, durante séculos, Lutero é retratado nas obras de arte com cisnes aos seus pés. Qual a razão disso? A razão se encontra em John Hus um século antes de Lutero. John Hus foi professor e, mais tarde, presidente da Universidade de Praga. Faleceu no ano de 1415, cerca de cem anos antes de Lutero afixar suas 95 Teses na porta de Wittenberg (1517). Hus nasceu numa família camponesa e pregava na linguagem do povo em vez de usar o latim. Traduziu o Novo Testamento para o tcheco e protestou contra os abusos que ocorriam na Igreja Católica.
“Em 1412, uma bula papal foi decretada contra Hus e seus seguidores. Qualquer um podia matar o reformador tcheco onde quer que fosse encontrado, e aqueles que o abrigavam e alimentavam sofreriam a mesma pena. Ao falarem publicamente contra a venda de indulgências, três dos seguidores de Hus foram capturados e degolados”. Em dezembro de 1414, o próprio Hus foi preso e mantido na prisão até 1415. Foi acorrentado e torturado por causa dos seus conceitos. Isso antecipou a Reforma em cem anos.
No dia 6 de Julho de 1415, Hus foi queimado vivo junto com seus livros. Uma tradição reza que em sua cela, pouco antes de morrer, Hus escreveu: “Hoje, vocês irão queimar um ganso (o significado de “Hus” na língua tcheca); porém, daqui a cem anos, vocês irão escutar um cisne cantando. Vocês não irão queimá-lo, mas terão de ouvi-lo”.
PIPPER, John. O legado da alegria soberana. São Paulo: Editora Vida Nova.
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