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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Um amado irmão apresentou o que ele considerou uma incoerência de Deus no tocante à eleição:

"A cruel incoerência é Deus colocar a salvação à disposição de todos, sendo que ELE já salvou e escolheu quem seria salvo."

O que segue é minha resposta a ele. Claro que meu entendimento está sujeito a críticas e correções, as quais serão bem recebidas.

1. A mesma objeção aplica-se à presciência de Deus

Creio que você, como eu, crê que Deus sempre soube quem aceitaria e quem rejeitaria a oferta da salvação. Então, poderíamos perguntar: "como a oferta da salvação pode ser feita sinceramente àqueles que Deus já sabe que a desprezarão e a rejeitarão, especialmente quando a sua culpa e condenação somente aumentarão como resultado da sua recusa?", ou parafraseando você "A cruel incoerência é Deus colocar a salvação à disposição de todos, sendo que ELE já sabe quem aceitaria e quem seria salvo".

A dificuldade, tanto num caso como no outro, é que não compreendemos perfeitamente como Deus cumpre os Seus propósitos, mas em todo o caso, devemos confiar que se Ele faz alguma coisa é porque é correto que Ele o faça. Veremos a seguir, que Ele de fato oferece a salvação a todos, mesmos tendo escolhido alguns (minha posição) ou sabendo que alguns rejeitariam (sua posição).

2. A Bíblia declara que Deus oferta a todos, mesmo sendo certo que apenas alguns aceitarão.

Analisemos rapidamente algumas passagens, de onde podemos concluir a afirmação acima:

"E ouvirão a tua voz; e irás, com os anciãos de Israel, ao rei do Egito e lhe dirás: O Senhor, o Deus dos hebreus, nos encontrou. Agora, pois, deixa-nos ir caminho de três dias para o deserto, a fim de que sacrifiquemos ao Senhor, nosso Deus. Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte."

Embora Deus já soubesse que Faraó não deixaria o povo sair, ordenou que Moisés e os anciãos fossem até ele e comandassem, em nome do Senhor, que deixasse Seu povo ir embora do Egito.

"A isto ele respondeu: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo." Lc 10:27

É certo que nem todos amarão a Deus, pois todos aqueles que não foram reconciliados por Cristo são inimigos dEle. No entando, Deus ordena a que todos o amem com todo o seu ser. Se esta ordem não for sincera, ninguém pode ser julgado por não amar a Deus.

"Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste." Mt 5:48

Da mesma forma, nós nunca chegaremos a ser perfeito no sentido em que Deus é. No entando, somos comandados à perfeição tendo Deus como padrão.

"Vinde, pois, e arrazoemos, diz o Senhor; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra." Is 1:18-19

"Então, disse ele: Vai e dize a este povo: Ouvi, ouvi e não entendais; vede, vede, mas não percebais. Torna insensível o coração deste povo, endurece-lhe os ouvidos e fecha-lhe os olhos, para que não venha ele a ver com os olhos, a ouvir com os ouvidos e a entender com o coração, e se converta, e seja salvo." Is 6:9-10

Isaias é primeiro comissionado a pregar a todo o povo uma oferta graciosa e depois é informado que sua pregação causa um endurecimento do povo. O fato do povo vir a rejeitar, o que Deus sabia que faria, não torna falsa a oferta da primeira passagem.

"Disse-me ainda: Filho do homem, vai, entra na casa de Israel e dize-lhe as minhas palavras. Porque tu não és enviado a um povo de estranho falar nem de língua difícil, mas à casa de Israel; nem a muitos povos de estranho falar e de língua difícil, cujas palavras não possas entender; se eu aos tais te enviasse, certamente, te dariam ouvidos. Mas a casa de Israel não te dará ouvidos, porque não me quer dar ouvidos a mim; pois toda a casa de Israel é de fronte obstinada e dura de coração." Ez 3:4-7

Ezequiel foi comissionado a pregar a casa de Israel, mas mesmo assim Deus já lhe disse que rejeitariam o alerta para se converterem ao Senhor.

"Serpentes, raça de víboras! Como escapareis da condenação do inferno? Por isso, eis que eu vos envio profetas, sábios e escribas. A uns matareis e crucificareis; a outros açoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade; para que sobre vós recaia todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justo Abel até ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o santuário e o altar. Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre a presente geração. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!" Mt 23:33-37

Deus sabia não apenas que Jerusalém rejeitaria o ministério de Seu Filho, mas também que matariam e crucificariam os profetas e sábios que lhe seriam enviados. No entanto, ainda assim Deus enviou e cada conclamação ao arrependimento era sincera, ainda que fosse certo que rejeitariam.

"Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora." Jo 6:37

"Contudo, não quereis vir a mim para terdes vida." Jo 5:40

A oferta de Jesus ("o que vem a mim não lançarei fora") é sincera e por isto é absolutamente certo que todo aquele que for a Ele será salvo. Mas também é certo que o homem, sem a graça de Deus, não irá ao Senhor ("não quereis vir a mim"). Mesmo se um não eleito fosse a Cristo, seria recebido alegremente, tal como o filho pródigo o foi pelo Pai, mas somente os eleitos vão. E não vão por que tem algo em si que os diferencia dos demais, mas porque são levados pelo Pai.

Somos comandados a pregar a todos, a convidar a todos e a instar com todos para que creiam no Evangelho e aceitem a salvação oferecida. Mas sabemos que, independente da escolha ser do homem ou de Deus, nem todos aceitarão. Mesmo assim, a pregação é genuína, a oração pelas almas fervorosa e a oferta sincera.

3. Os homens são sinceros em oferecer algo que sabem que não será aceito.

Em minha região, tomar chimarrão é um hábito fortemente arraigado. Minha esposa toma chimarrão e quando vamos visitar alguns irmãos mais íntimos, eles já sabem que não tomo chimarrão. Mesmo assim, eles me oferecem "uma cuia" a cada rodada, mesmo sabendo que recusarei e que minha recusa se fará acompanhar de uma piadinha infame, do tipo "só tomo chá quando estou com dor de barriga". A oferta deles é sincera? Obviamente que sim, pois se tão somente eu disser "vou experimentar" (nada a ver com comercial de cerveja) eles encherão uma cuia de água quase fervendo e me darão. Mas, aos 36 anos, nunca aceitei o tal "mate amargo". E eles continuam me oferecendo...

Assim também, mesmo sabendo que só os eleitos aceitarão, o Evangelho é oferecido sinceramente a todos e qualquer um que o aceitar recebe todos os benefícios reservado aos eleitos. Mas o fato é que não "ouvirão a voz do pastor e não o seguirão".

4. O porque da chamada geral?

O decreto eletivo de Deus é secreto, assim ninguém pode saber quem são os seus eleitos. E o método que Deus escolheu para chamar os Seus eleitos à salvação é a pregação do Evangelho, feita indistintamente.

"Porque: Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas! Mas nem todos obedeceram ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem acreditou na nossa pregação? E, assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo." Rm 10:13-17

5. A pregação geral é proveitosa mesmo aos não eleitos

Mesmo que nem todos cheguem à salvação pela chamada geral do Evangelho, este não é vão, pois pode levar as pessoas a não pecarem como poderiam pecar se não estivessem sob influência da mensagem do Evangelho.

Como ressaltado, não pretendo convencê-lo, assim, não me estenderei mais em minha argumentação, pois pouco poderia acrescentar, talvez apenas aprofundando um pouco mais cada argumento, mas não expandindo-o. Mas creio que isto seja suficiente para você entender que a oferta geral do Evangelho não invalida a eleição nem é incoerente com a sinceridade de qualquer oferta divina.

Soli Deo Gloria
(Postado no Fórum Evangelho em 15/12/2003)

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