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sexta-feira, 21 de março de 2008
"Livre-arbítrio é o direito que se tem de não ter boa vontade" (Livro sobre a inveja, Nilton Bonder)
segunda-feira, 17 de março de 2008
domingo, 16 de março de 2008
Continuação da Parte 1:

De que maneiras podemos fazer isto? Deixe-me sugerir alguns pontos específicos. Primeiro, há lições para nós na integração das suas vidas diárias. Como seu cristianismo era totalmente abrangente, assim o seu viver era uma unidade. Hoje, chamaríamos o seu estilo de vida de “holístico”: toda conscientização, atividade e prazer, todo “emprego das criaturas” e desenvolvimento de poderes pessoais e criatividade, integravam-se na única finalidade de honrar a Deus, apreciando todos os seus dons e tomando tudo em “santidade ao Senhor’’. Para eles não havia disjunção entre o sagrado e o secular; toda a criação, até onde conheciam, era sagrada, e todas as atividades, de qualquer tipo, deviam ser santificadas, ou seja, feitas para a glória de Deus. Assim, no seu ardor elevado aos céus, os Puritanos tornaram-se homens e mulheres de ordem, sóbrios e simples, de oração, decididos, práticos. Viam a vida como um todo, integravam a contemplação com a ação, culto com trabalho, labor com descanso, amor a Deus com amor ao próximo e a si mesmo, a identidade pessoal com a social e um amplo espectro de responsabilidades relacionadas umas com as outras, de forma totalmente consciente e pensada.

Nessa minuciosidade eram extremos, diga-se, muito mais rigorosos do que somos, mas ao misturar toda a variedade de deveres cristãos expostos na Escritura eram extremamente equilibrados. Viviam com “método” (diríamos, com uma regra de vida), planejando e dividindo seu tempo com cuidado, nem tanto para afastar as coisas ruins como para ter certeza de incluir todas as coisas boas e importantes — sabedoria necessária, tanto naquela época como agora, para pessoas ocupadas! Nós hoje que tendemos a viver vidas sem planejamento, ao acaso, em uma série de compartimentos incomunicantes e que, portanto, nos sentimos sufocados e distraídos a maior parte do tempo, poderíamos aprender muito com os Puritanos nesse ponto.

Em segundo lugar, há lições para nós na qualidade de sua experiência espiritual. Na comunhão dos Puritanos com Deus, assim como Jesus era central, a Sagrada Escritura era suprema. Pela Escritura, como a Palavra de instrução de Deus sobre relacionamento divino-humano, buscavam viver, e aqui também eram conscienciosamente metódicos. Reconhecendo-se como criaturas de pensamento, afeição e vontade, e sabendo que o caminho de Deus até o coração (a vontade) é via cabeça humana (a mente), os Puritanos praticavam meditação, discursiva e sistemática, em toda a amplitude da verdade bíblica, conforme a viam aplicando-se a eles mesmos. A meditação Puritana na Escritura se modelava pelo sermão Puritano; na meditação o Puritano buscaria sondar e desafiar seu coração, guiar suas afeições para odiar o pecado, amar a justiça e encorajar a si mesmo com as promessas de Deus, assim como pregadores Puritanos o fariam do púlpito.

Esta piedade racional, resoluta e apaixonada era consciente sem tomar-se obsessiva, dirigida pela lei sem cair no legalismo, e expressiva da liberdade cristã sem vergonhosos deslizes para a licenciosidade. Os Puritanos sabiam que a Escritura é a regra inalterada da santidade, e eles nunca se permitiram esquecer disto. Conhecendo também a desonestidade e a falsidade dos corações humanos decaídos, cultivavam humildade e auto-suspeita como atitudes constantes, examinando-se regularmente em busca dos pontos ocultos e males internos furtivos. Por isso não poderiam ser chamados de mórbidos ou introspectivos; pelo contrário, descobriram a disciplina do autoexame pela Escritura (não é o mesmo que introspecção, notemos), seguida da disciplina da confissão e do abandono do pecado e renovação da gratidão a Cristo pela sua misericórdia perdoadora como fonte de grande gozo e paz interiores. Hoje nós que sabemos à nossa custa que temos mentes não esclarecidas, afeições incontroladas e vontades instáveis no que se refere a servir a Deus e que freqüentemente nos vemos subjugados por um romanticismo emocional, irracional, disfarçado de superespiritualidade, nos beneficiaríamos muito do exemplo dos Puritanos neste ponto também.

Em terceiro lugar, há lições para nós na sua paixão pela ação eficaz. Embora os Puritanos, como o resto da raça humana, tivessem seus sonhos do que poderiam e deveriam ser, não eram definitivamente o tipo de gente que denominaríamos “sonhadores”! Não tinham tempo para o ócio do preguiçoso ou da pessoa passiva que deixa para os outros o mudar o mundo. Foram homens de ação no modelo puro reformado — ativistas de cruzada sem qualquer autoconfiança; trabalhadores para Deus que dependiam sumamente de que Deus trabalhasse neles e através deles e que sempre davam a Deus a glória por qualquer coisa que faziam, e que em retrospecto lhes parecia correta; homens bem dotados que oravam com afinco para que Deus os capacitasse a usar seus poderes, não para a auto-exibição, mas para a glória dEle. Nenhum deles queria ser revolucionário na igreja ou no Estado, embora alguns relutantemente tenham-se tornado tal; todos eles, entretanto, desejavam ser agentes eficazes de mudança para Deus onde quer que se exigisse mudança. Assim Cromwell e seu exército fizeram longas e fortes orações antes de cada batalha, e pregadores pronunciaram extensas e fortes orações particulares sempre antes de se aventurarem no púlpito, e leigos proferiram longas e fortes orações antes de enfrentarem qualquer assunto de importância (casamento, negócios, investimentos maiores ou qualquer outra coisa).

Hoje, porém, os cristãos ocidentais se vêem em geral sem paixão, passivos, e, teme-se, sem oração. Cultivando um sistema que envolve a piedade pessoal num casulo pietista, deixam os assuntos públicos seguirem seu próprio curso e nem esperam, nem, na maioria, buscam influenciar além do seu próprio círculo cristão. Enquanto os Puritanos oraram e lutaram por uma Inglaterra e uma Nova Inglaterra santas — sentindo que onde o privilégio é negligenciado e a infidelidade reina, o juízo nacional está sob ameaça — os cristãos modernos alegremente se acomodam com a convencional respeitabilidade social e, tendo feito assim, não olham além. Claro, é óbvio que a esta altura também os Puritanos têm muita coisa para nos ensinar.

Continua...
J. I. Packer
Extraído de RYKEN, Leland. Santos no mundo. Editora Fiel, 1992
domingo, 2 de março de 2008


"Ora, o Deus de toda a graça, que em Cristo vos chamou à sua eterna glória, depois de terdes sofrido por um pouco, ele mesmo vos há de aperfeiçoar, firmar, fortificar e fundamentar" 1Pe 5:10

Tudo o que recebemos e que experimentamos resulta da graça de Deus. Por isso Ele é chamado de Deus de toda graça, pois do começo ao fim, nossa salvação é devida à Sua soberana graça. Eis o que recebemos:

A graça da chamada. Se fôssemos deixados por nossa conta, por mais atraente que fosse a oferta do evangelho, jamais iríamos a Cristo. Jesus diz que "ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer" (Jo 6:44). É pela graça de Deus que somos chamados de forma irresistível a Ele.

A graça da santificação. Deus não apenas nos chama eficazmente, mas nos aperfeiçoa para Ele. Paulo escreveu "o mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1Ts 5:23). Antes de ser atos externos, a santificação é uma operação do Espírito Santo em nossos corações.

A graça da confirmação. Da mesma forma que não somos capazes de obter a salvação, somos incapazes de segurá-la em nossas mãos. Dependemos da graça de Deus para isso. A palavra traduzida por firmar significa "tornar estável, colocar firmemente, pôr a salvo, fixar". De fato, "os que confiam no Senhor são como o monte Sião, que não se abala, firme para sempre" (Sl 125:1).

A graça da fortificação. A nossa jornada na fé é marcada por dificuldades e muitas vezes temos a impressão que não conseguiremos resistir em pé. Porém, pela graça de Deus sempre saímos vencedores e confessamos "tudo posso naquele que me fortalece" (Fp 4:13). Esse vigor da alma não é inerente ao homem, mas resulta da graça de Deus.

A graça da segurança. Sendo chamados, santificados, confirmados e fortalecidos pela graça de Deus, temos segurança nEle. Não tememos o que nos possa fazer o homem, pois estamos fundamentados na fidelidade de Deus. Temos segurança "semelhante a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída" (Lc 6:48). Podemos estremecer sobre a Rocha, mas a Rocha permanece firme!

Sendo nosso Senhor o Deus de toda graça, quanta glória Ele merece receber de nós? Toda! Pois Ele não é apenas o Deus de toda graça, mas também "o Deus da glória" (At 7:2). Assim, tudo o que fizermos, devemos fazer "na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!" (1Pe 4:11).

Soli Deo Gloria