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terça-feira, 17 de novembro de 2009
Ao amanhecer do dia seguinte, o Sr. Bienvenu estava andando pelo seu quintal. A sra. Magloire correu até ele, totalmente fora de si.
"Monsenhor, Monsenhor", gritou ela, "Vossa Senhoria sabe onde estaria o cesto da prataria?"
"Sei", respondeu o bispo.
"Deus seja louvado!" disse ela. "Não sabia o que havia acontecido com ele".
O bispo havia achado o cesto há pouco no canteiro de flores. Deu-o à sra. Magloire e disse: "Aqui está".
"Sim", disse ela, "mas não há nada nele. Onde está a prataria?"
"Ah!", disse o bispo. "É a prata que lhe preocupa. Não sei onde está".
"Santo Deus! Foi roubado. Aquele homem que veio aqui ontem à noite a roubou!" E em um piscar de olhos, a sra. Magloire, com toda a agilidade que a idade permitia, correu ao oratório, foi à sacada e voltou até onde estava o bispo, encurvado, com alguma tristeza, sobre a cocleária de Guíllons que fora quebrada pelo cesto, ao cair. Ergueu os olhos ao escutar o grito da sra. Magloire:
"Monsenhor, o homem se foi! A prata foi roubada!"
Enquanto exclamava, seus olhos caíram sobre um canto do jardim onde havia sinais da fuga. A pedra superior do muro fora deslocada.
"Vês? Foi por aqui que escapou; saltou para a viela Cochefilet. Que patife! Roubou nossa prata"!
Por um momento, o bispo ficou silencioso após o que levantou os olhos sérios e se dirigiu, com brandura, à sra. Magloire: "Em primeiro lugar, essa prata nos pertencia?".
A sra. Magloire estava boquiaberta. Após alguns momentos, o bispo continuou: "Sra. Magloire, fiquei com essa prataria por muito tempo. Ela pertencia aos pobres. Quem era esse homem? Com certeza, um homem pobre".
"Alas! Alas!", replicou a sra. Magloire, "não é para mim ou para a senhorita; para nós é tudo a mesma coisa. Mas para o senhor, monsenhor. Com o que o senhor vai comer agora"?
O bispo olhou espantado para ela: "Mas, será que não dispomos de travessas de estanho?". A sra. Magloire encolheu os ombros e disse: "Estanho fede".
"Bem, então algo de ferro". A sra. Magloire fez uma careta. "Ferro tem um gosto esquisito."
"Bem, então", argumentou o bispo, "utensílios de madeira".
Em poucos minutos estava à mesa, em que João Valjean sentara-se na noite anterior, tomando seu café da manhã. Enquanto fazia seu desjejum, monsenhor Bienvenu comentou, amavelmente, com sua irmã, que não disse nada, e a sra. Magloire, que murmurava, dizendo que realmente não havia necessidade nem mesmo de uma colher ou um garfo de madeira para mergulhar um pedaço de pão no copo de leite.
"Que idéia"!, disse consigo mesma a sra. Magloire enquanto andava de lá pra cá. "Hospedar esse tipo de gente e dar uma cama ao seu lado; e o que ganhamos em troca? Que maldição, pois ele não fez nada a não ser roubar! Oh, bom Deus! Arrepio-me toda só de pensar!"
Quando o irmão e a irmã levantam-se da mesa alguém bateu à porta.
"Entre", disse o bispo.
A porta se abriu. Um grupo estranho e vigoroso apareceu à porta. Três homens segurando um quarto pela gola. Os três homens eram guardas; o quarto, João Valjean. O tenente dos guardas, que estava na liderança do grupo, estava perto da porta. Ele se aproximou do bispo com uma continência militar.
"Monsenhor", disse ele.
João Valjean, ao ouvir isso, sombrio e parecendo totalmente abatido, ergueu a cabeça, com ar estupefato. Murmurou: "Monsenhor! Então, não é o vigário!".
"Silêncio!", disse o guarda. "E Vossa Excelência. O bispo."
Enquanto isso, monsenhor Bienvenu aproximou-se tão rápido quanto sua idade avançada permitia: "Ah, aí está você!", disse ele enquanto olhava para João Valjean. "Feliz em vê-lo. Mas também lhe dei os castiçais, eles também são de prata como o resto. Valem duzentos francos. Porque não os levou juntamente com os talheres?".
João Valjean abriu os olhos e olhou para o bispo com uma expressão indescritível. "Monsenhor", disse o tenente, "então o que esse homem contou é verdade? Nós o encontramos. Ele agia como um fugitivo e o prendemos para verificação. Ele estava com essa prataria".
"E ele lhes contou", interrompeu o bispo com um sorriso no rosto, "que isso lhe fora dado por um bispo idoso e bom, em cuja casa se hospedara. Entendi. E vocês o trouxeram de volta para cá? Pois foi apenas um engano".
"Se for assim", disse o tenente, "podemos deixá-lo ir".
"Por favor", replicou o bispo. Os guardas soltaram João Valjean que recuou.
"E verdade que estão me deixando livre?", murmurou como se falasse em sonho.
"Sim! Você pode ir. Entendeu?", disse o guarda.
"Meu amigo", disse o bispo, "antes de partir, aqui estão os seus castiçais, leve-os consigo".
Ele pegou os dois castiçais na prateleira, acima da lareira, e entregou-os para João Valjean. As duas mulheres observavam sem dizer uma só palavra, ou fazer qualquer gesto ou olhar, que pudesse perturbar o bispo.
João Valjean tremia. Pegou distraidamente os dois castiçais com expressão estupefata.
"Agora", disse o bispo, "vá em paz. A propósito, meu amigo, quando vier novamente, não precisa vir pelos fundos. Sempre pode entrar e sair pela porta da frente. Ela fica apenas fechada com um trinco, dia e noite". Depois, voltando-se para os guardas disse: "Senhores, podem ir". Os guardas se foram.
João Valjean saiu como se estivesse a ponto de desmaiar.
O bispo aproximou-se dele e disse em voz baixa: "Não se esqueça, nunca, que você me prometeu usar essa prata a fim de se tornar um homem honesto".
João Valjean, que não se lembrava de nenhuma promessa desse tipo, estava confuso. O bispo enfatizara bem as palavras ao pronunciá-las. Ele continuou solene: "João Valjean, meu irmão, você não mais pertence ao mal, mas ao bem. É sua alma que estou comprando para você. Eu a removo dos maus pensamentos e do espírito da perdição e a entrego a Deus!".
Victor Hugo
In: Os miseráveis
"Monsenhor, Monsenhor", gritou ela, "Vossa Senhoria sabe onde estaria o cesto da prataria?"
"Sei", respondeu o bispo.
"Deus seja louvado!" disse ela. "Não sabia o que havia acontecido com ele".
O bispo havia achado o cesto há pouco no canteiro de flores. Deu-o à sra. Magloire e disse: "Aqui está".
"Sim", disse ela, "mas não há nada nele. Onde está a prataria?"
"Ah!", disse o bispo. "É a prata que lhe preocupa. Não sei onde está".
"Santo Deus! Foi roubado. Aquele homem que veio aqui ontem à noite a roubou!" E em um piscar de olhos, a sra. Magloire, com toda a agilidade que a idade permitia, correu ao oratório, foi à sacada e voltou até onde estava o bispo, encurvado, com alguma tristeza, sobre a cocleária de Guíllons que fora quebrada pelo cesto, ao cair. Ergueu os olhos ao escutar o grito da sra. Magloire:
"Monsenhor, o homem se foi! A prata foi roubada!"
Enquanto exclamava, seus olhos caíram sobre um canto do jardim onde havia sinais da fuga. A pedra superior do muro fora deslocada.
"Vês? Foi por aqui que escapou; saltou para a viela Cochefilet. Que patife! Roubou nossa prata"!
Por um momento, o bispo ficou silencioso após o que levantou os olhos sérios e se dirigiu, com brandura, à sra. Magloire: "Em primeiro lugar, essa prata nos pertencia?".
A sra. Magloire estava boquiaberta. Após alguns momentos, o bispo continuou: "Sra. Magloire, fiquei com essa prataria por muito tempo. Ela pertencia aos pobres. Quem era esse homem? Com certeza, um homem pobre".
"Alas! Alas!", replicou a sra. Magloire, "não é para mim ou para a senhorita; para nós é tudo a mesma coisa. Mas para o senhor, monsenhor. Com o que o senhor vai comer agora"?
O bispo olhou espantado para ela: "Mas, será que não dispomos de travessas de estanho?". A sra. Magloire encolheu os ombros e disse: "Estanho fede".
"Bem, então algo de ferro". A sra. Magloire fez uma careta. "Ferro tem um gosto esquisito."
"Bem, então", argumentou o bispo, "utensílios de madeira".
Em poucos minutos estava à mesa, em que João Valjean sentara-se na noite anterior, tomando seu café da manhã. Enquanto fazia seu desjejum, monsenhor Bienvenu comentou, amavelmente, com sua irmã, que não disse nada, e a sra. Magloire, que murmurava, dizendo que realmente não havia necessidade nem mesmo de uma colher ou um garfo de madeira para mergulhar um pedaço de pão no copo de leite.
"Que idéia"!, disse consigo mesma a sra. Magloire enquanto andava de lá pra cá. "Hospedar esse tipo de gente e dar uma cama ao seu lado; e o que ganhamos em troca? Que maldição, pois ele não fez nada a não ser roubar! Oh, bom Deus! Arrepio-me toda só de pensar!"
Quando o irmão e a irmã levantam-se da mesa alguém bateu à porta.
"Entre", disse o bispo.
A porta se abriu. Um grupo estranho e vigoroso apareceu à porta. Três homens segurando um quarto pela gola. Os três homens eram guardas; o quarto, João Valjean. O tenente dos guardas, que estava na liderança do grupo, estava perto da porta. Ele se aproximou do bispo com uma continência militar.
"Monsenhor", disse ele.
João Valjean, ao ouvir isso, sombrio e parecendo totalmente abatido, ergueu a cabeça, com ar estupefato. Murmurou: "Monsenhor! Então, não é o vigário!".
"Silêncio!", disse o guarda. "E Vossa Excelência. O bispo."
Enquanto isso, monsenhor Bienvenu aproximou-se tão rápido quanto sua idade avançada permitia: "Ah, aí está você!", disse ele enquanto olhava para João Valjean. "Feliz em vê-lo. Mas também lhe dei os castiçais, eles também são de prata como o resto. Valem duzentos francos. Porque não os levou juntamente com os talheres?".
João Valjean abriu os olhos e olhou para o bispo com uma expressão indescritível. "Monsenhor", disse o tenente, "então o que esse homem contou é verdade? Nós o encontramos. Ele agia como um fugitivo e o prendemos para verificação. Ele estava com essa prataria".
"E ele lhes contou", interrompeu o bispo com um sorriso no rosto, "que isso lhe fora dado por um bispo idoso e bom, em cuja casa se hospedara. Entendi. E vocês o trouxeram de volta para cá? Pois foi apenas um engano".
"Se for assim", disse o tenente, "podemos deixá-lo ir".
"Por favor", replicou o bispo. Os guardas soltaram João Valjean que recuou.
"E verdade que estão me deixando livre?", murmurou como se falasse em sonho.
"Sim! Você pode ir. Entendeu?", disse o guarda.
"Meu amigo", disse o bispo, "antes de partir, aqui estão os seus castiçais, leve-os consigo".
Ele pegou os dois castiçais na prateleira, acima da lareira, e entregou-os para João Valjean. As duas mulheres observavam sem dizer uma só palavra, ou fazer qualquer gesto ou olhar, que pudesse perturbar o bispo.
João Valjean tremia. Pegou distraidamente os dois castiçais com expressão estupefata.
"Agora", disse o bispo, "vá em paz. A propósito, meu amigo, quando vier novamente, não precisa vir pelos fundos. Sempre pode entrar e sair pela porta da frente. Ela fica apenas fechada com um trinco, dia e noite". Depois, voltando-se para os guardas disse: "Senhores, podem ir". Os guardas se foram.
João Valjean saiu como se estivesse a ponto de desmaiar.
O bispo aproximou-se dele e disse em voz baixa: "Não se esqueça, nunca, que você me prometeu usar essa prata a fim de se tornar um homem honesto".
João Valjean, que não se lembrava de nenhuma promessa desse tipo, estava confuso. O bispo enfatizara bem as palavras ao pronunciá-las. Ele continuou solene: "João Valjean, meu irmão, você não mais pertence ao mal, mas ao bem. É sua alma que estou comprando para você. Eu a removo dos maus pensamentos e do espírito da perdição e a entrego a Deus!".
Victor Hugo
In: Os miseráveis
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6 comentários:
Sempre achei fantástico este trecho de "Os Miseráveis". Uma das melhores páginas cristãs que achamos na literatura.
Posso ter entendido errado... mas, se entendi bem, o bispo não MENTIU nesses trechos?
"Ah!", disse o bispo. "É a prata que lhe preocupa. Não sei onde está".
"Feliz em vê-lo. Mas também lhe dei os castiçais, eles também são de prata como o resto. Valem duzentos francos. Porque não os levou juntamente com os talheres?".
"E ele lhes contou", interrompeu o bispo com um sorriso no rosto, "que isso lhe fora dado por um bispo idoso e bom, em cuja casa se hospedara. Entendi. E vocês o trouxeram de volta para cá? Pois foi apenas um engano".
"Não se esqueça, nunca, que você me prometeu usar essa prata a fim de se tornar um homem honesto".
Tudo bem se ele aceitasse ou perdoasse o ladrão, até o recebendo para jantar, ou algo assim. Mas ele não MENTIU?????
Parece mais uma história de "moral católica" do que uma que se baseie na Palavra de Deus.
Como eu disse antes, posso ter entendido errado. Mas se estou certo, o que o bispo fez foi errado.
Neto,
Ele não mentiu. A prata não foi dada? E, lendo o livro, João nunca disse, mas ele foi tão tocado que se tornou um homem honesto.
Os diálogos não aconteceram, mas o bispo, de fato, com suas atitudes, confirmou tudo o que disse.
Um grande Romance (filme)!
Clóvis,
O livro eu não li, mas o filme eu gostei muito. Figura entre os meus favoritos, eu diria.
Abraços!
O texto é muito nos traz a lembrança do ladrão crucificado ao lado de Cristo, há sempre perdão para os arrependidos, mesmo quando ele não sabem que se arrependeram.
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